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Full text of "Boletim biológico"

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BOLETIM BIOLÓGICO. 
LABORATÓRIO DE PARASITOLOGIA 
DA FACULDADE DE MEDICINA DE 
SÃO PAULO 

(SÃO PAULO) 



1928-29 n. 11-16 




BOLETIM BIOLÓGICO. 
LABORATÓRIO DE PARASITOLOGIA 
DA FACULDADE DE MEDICINA DE 
SÃO PAULO 

(SÃO PAULO) 

1928-29 n.Il-16 








BOLETIM BIOLOGICO 



REDACTORES : 

ARTHUR NEIVA, L. TRAVASSOS, 

CESAR PINTO, FLAVIO DA FONSECA e PAULO ARTIGAS. 

Auxiliam a publicação deste Boletim as seguintes pessoas: 

Professores E. de Souza Campos, Pedro Dias da Silva, Dr. João Daudt 
D’01iveira, Prof. Aguiar Pupo, Prof. A. Carini, Dr. Julio de .Mesquita Filho, 
Dr. Jesuino Maciel, Dr. Navarro de Andrade, Dr. J. C. N. Penido, Prof. R. 

Briquet, Dr. Ayres Netto, Prof. Cantidio de Moura Campos, Dr. André 
Dreyfus, Prof. Sérgio Meira Filho, Dr. Abilio M. de Castro, Cel. Eugênio 
Artigas, Dr. Julio Schwenck, Dr. Genesio Pacheco, Dr. Paulo Galvão, 

Dr. J. Ferreira de Andrade, Eng." J. Malhado Quirino, Clemente Pereira, 
Zeferino Vaz, Francisco de Paula Rodrigues, Carlos Leoncio de Magalhães^ 
Prof. Franco da Rocha, Camillo Haddad e Dr. Itagyba Villaça. ' 



1928 — Fascículos 11-14. 



S. Paulo — Brasil 

Lab. de Parasitologia da Faculdade de Medicina. 
Rua Brigadeiro Tobias, 42. 




ADVERTÊNCIA: 0 Boletim Biologico é uma pu- 

blicação exclusivamente votada á divulgação 
de trabalhos originaes de sciencia pura, man- 
tido por iniciativa particular, sem preoccupa- 
ção commercial, não sendo, portanto, accei- 
tos annuncios ou pedidos de assignatura. Sua 
distribuição fica a critério da Redacção, que o 
remetterá aos especialistas e Institutos scien- 
tificos interessados, acceitando, entretanto, 
propostas de permuta com publicações con- 
generes. 

Não terá, outrosim, caracter de periodico, 
aparecendo lógo que haja matéria a publicar. 

A correspondência deverá ser dirigida ao 
Laboratorio de Parasitologia da Faculdade de 
Medicina de São Paulo. Caixa do correio, 
2921. Brasil. 

AVERTISSEMENT : Le “Boletim Biologico” est 

une publication vouée exclusivement à la di- 
vulgation des travaux originaux de Science 
pure, soutenue par initiative privée, sans au- 
cune préoccupation commerciale; toute de- 
mande d’annonces ou d’abonnements ne peut 
être par conséquent acceptée. 

La distribution du “Boletim” reste à la 
eharge de la Rédaction qui 1’enverra aux spé- 
cialistes et aux Instituts scientifiques intéres- 
sés. La Rédaction acceptera des permutations 
avec d’autres publications similaires. 

Le “Boletim” n’aura pas, en outre, cara- 
ctere de périodique, ne paraissant, pour ce 
motif qu’aussitôt qu’il y aura matière á publier. 

Toute correspondance devra être adressée 
au Laboratoire.de Parasitologie de la Fac. de 
Méd. de São Paulo. Brésil. Caixa postal. 2921. 



TYP. CU PULO • LAD. 3. EPHIGEN1A, 21 • S. PAUL* 



cm 1 



SciELO 



LO 11 12 13 14 15 16 





SciELC^o 



2 



3 



5 



6 



11 



12 



13 



14 



15 



16 



L. 



cm 




BOLETIM BIOLOGICO 



Fauna helminthologica dos Ophideos do Brasil . . . . 13, 50 

Fontesia n. gen. ( Trichostrongilidae . Xematodeo) .... 27 

Fontesia fontesi n. sp 27 

Formigas novas 55 

G. 

Glandium cesarpintoi n. sp. (Pisces) 16 

Gnamptogenys ypirangensis (Hymenoptera. Formicidae) n. sp. 60 
Gorgulho. Sternechus iincipennis nas vagens de Canavalia .116 

H. 

Hemipteros 

Hemoparasitos dos Ophideos do Brasil . 

Henneguya iheringi n. sp. (Myxosporideo) 

Hymenoptero novo ( Prodecatoma limai n. sp.) 

Hystrignathus politus n. sp. (Xematodeo) 

I. 

Invertebrados (Xematodeos parasitas de) 71 

Iridomyrmex riograndensis n. sp. (Hymenoptero. Formicidae) 6 1 
Isospora belli Wenyon, no Brasil 79 

L. 

Lepidonema tarda n. sp. (Xematodeo) 72 

M. 

Minutorchis sanguíneas Linton, 1928 (Trematodeo) 

Mus norwegicus ( Ei me ria carinii parasita de) 

Myxobulus noguchii n. sp. (Myxosporideo) 
stokesi n. sp. ( ” ) 

Myxosporideos novos de Peixes do Brasil .... 

N 

Xematodeos de Invertebrados 

Xeoeolobopsis n. sub. gen. (Hymenoptero. Formicidae) 



cm l 



SciELO 



11 12 13 14 15 16 17 




BOLETIM BIOLOGICO 




Nelas helminthologicas 


• 95 


O. 




Ophideos brasileiros (fauna helminthologica dos) 


13, 50 


Ophideos (Eimeridias ou Coecidias novas dos) 


. 11 


Opisthogonimus megabothrium n. sp. (Treniatodeo) 


. 50 


Ostertagia appendiculata n. sp. (Nematodeo) . 


. 20 


” khalili n. sp. (Nematodeo) 


. 25 1 


Otocinclus francirochai n. sp. (Pisees) 


• i ! 


Óvulos e desova dos peixes de agua doce do Brasil 


. 97 


Oxyrhopus trigeminus (Hemoparasitos de) 


. 92 


P. 




Peixes ( íam.Siluridae , sub fani. Auchenipterinae) 


. 40 


Peixes de agua doce (Myxosporideos parasitas de) 


. 41 


Peixes novos 


1, 40 


Peixes (Trypanosomas de) 




Peixes (desova dos) 


. 97 


Philodrias nattereri (Trypanosomas novos parasitas de) 


. 81 


Phorideos parasitas de formigas dos gen. Atta e Acromgrmex 


.119 


Pintoia n. gen. ( Trichostrongilidae . Nematodeo) 


. 23 


Pintoia inflata (Molin, 1801) Trav., 1928 


. 24 


R. 




Rhabdias vellardi n. sp. (Nematodeo) 


. 13 


Rictularia elegans n. sp. (Nematodeo) 


.129 


S. 




j Sobre a presença do CAmex foedus (Stal. 1851) no Brasil . 


. 85 


I Sobre as glandulas salivares dos Blattideos 


. 0 


Sobre o comportamento de suspensões e solue. de concentr. 


osmotica differente introduzidas no sacco lympb. crânio- 


dorsal da rã 


.110 


Sternechus uncipennis nas vagens de Canavalia . . . 


.110 


Sobre o Minutorchis sanguíneas Linton, 1928 (Treniatodeo) 


. 95 


1 T. 




Taddyella n. gen. (Pisees. Serrasalmoninae) 


. 45 



cm 1 



SciELO 



11 12 13 14 15 16 17 






BOLETIM BIOI.OGICO 




I Relação dos trabalhos originaes feitos no “Laboratorio de | 

Parasitologia” da Faculdade de Medicina de São Paulo, jjj 

durante o anno de 1928. 1 


, 39. 


PINTO, C. 1928. Synonimie de quelques espèces du 
genre Eimeria. C. R. Soc. Biol. Paris. Tomo 98. pag. 


1.564 I 


40. 


PINTO, C. 1928. Classification des Esporozoaires de la 
sous-classe Eimeridia. C. R. Soc. Riol. Paris. Tomo 98, 
Pg 


1.571 


: 4i. 


PINTO, C. 1928. Henneguya wemjoni n. sp. Myxosporide 
parasite des branchies de poisson d’eau douce du Bré- 
sil, C. R. Soe. Riol. Paris. Tomo 98, pag 


1.580 


' 42. 


v. IHERING, R. 1928. Uma nova especie do Otocinclus 
(Piares nematognatha) , “cascudinho” de São Paulo, 
Brasil. Boi. Riol., fase. 11, pag 


1 


43. 


PINTO, C. 1028. Eimeria amarali, n. sp., parasito de iio- 
throps neuwidii. Ophideo do Brasil. Boi. Riol. fase. 11 
Pag 


n 


44. 


PEREIRA, C. 1928. Fauna helminthologiea dos ophi- 
deos brasileiros (2). Rol. Biol., fase. 11, pag. 


3 


I 45. 


TRAVASSOS, E. 1928. Tricoslrongglidae do Tamandua 
tetradartyla (L.). Rol. Biol., fase. 11, pag. 


23 


1 46. 


PINTO, C. 1928. Myxobolus noguchii, M. stokesi e Hen- 
neguya iheringi, especies novas de myxosporideos de 
peixes de agua doce do Brasil. Boi. Biol., fase. 12, pag. 


41 


1 47. 


v. IHERING, R. 1928. Taddyella iwrn. nov. pr<’> Roosevel- 
tiella Eig. 1915. Boi. Biol., fase. 12, pag 


45 


1 48 


v. IHERING, R. 1928. Glanidium cesarpintoi n. sp. de 
peixe de couro (Fam. Siluridae subfam. Aucheni- 
pterinae). Boi. Biol., fase. 12, pag 


46 



cm l 



SciELO 



11 12 13 14 15 16 17 






BOLETIM BIOLOGICO 




49. 


PEREIRA, C. 1928. Fauna helminthologica dos ophi- 
deos brasileiros (3). Rol. Riol., fase. 12, pag. . . 


50 1 


50. 


ARTIGAS, P. 1928. Nematoides de invertrebados (VI). 
Rol. Riol., fase. 12, pag 


71 1 


51. 


v. IHERING, R. 1928. Os “guarás” ou ““barrigudinhos” 
brasileiros na lueta contra as larvas de culicideos. 
Sc. Med., anno VI, n.° 8, pag 


396 1 


52. 


PINTO, C. 1928. Sobre a presença do Cimex fuedus 
(Stal, 1851) no Brasil. Rol. Riol., fase. 13, pag. . . 


85 I 


53. 


PEREIRA.C. 1928. Xotas helminthologicas (I). Boi. 
Biol., fase. 13, pag 


95 1 


54. 


PINTO, C. & Vaz, Z. 1928. Pulgas da fam. Tungidae, 
observadas no Brasil. An. Fac. Med. São Paulo. 1928. 
(no prelo). 




55. 


TR WASSOS, L. 1928. Alguns Heterophgidae dos ani- 
maes domésticos no Brasil. An. Fac. Med. São Paulo, 
1928 (no prelo). 




j 56. 


PINTO C 1928. Myxosporideos e outros protozoários 
intestinaes de Peixes da America do Sul. Arch. Inst. 
Biol. de São Paulo, V. I. (no prelo). 




E 57. 


PEREIRA, C. 1923- Revisão do genero Opistogonimus 
(Trematoda). Rev. Mus. Paulista, v. XVI (no prelo). 




| 58. 


TR W VSSOS, E. 1928. Sobre o Moiwdontus seinicircu- 
laris (Molin, 1861). Rev. Mus. Paulista, vol X\T„ pags. 
865, 880, pl. E 4, fig. E H- 




1 59 . 


TRAVASSOS, E., Artigas P. e Pereira, C. 1928. Fauna 
helminthologica dos Peixes de agua doce do Brasil. 
Arch. Inst. Biol. São Paulo, vol I (no prelo). 




1 G"- 


v IHERING, R.. BARROS, J. de Camargo e PE AN ET, 
X 1928. Os ovulos e a desova dos peixes de agua doce 
do Brasil. Boi. Biol., fase. 14, pag 


97 


1 61. 


Pinto C. 1928. Eimeria carinii n. sp. parasita de Mus 
norwegicus. Boi. Biol. fase. 14, pag 


127 



cm 1 



SciELO 



11 12 13 14 15 16 17 




BOLETIM BIOLOGICO 



1 52. TRAVASSOS, L. 1928. Sobre uma especie do genero Ri- 
ctularia Froelich (N ematoda) . Boi. Biol., fase. 14, pag. 

60. TRAVASSOS, L. 1928. Duas novas especies do gen. .4s- 

cocotyle. In C. R. Soe. Biol. Paris 

61. TRAVASSOS. L. 1928. Sur la systématique de la famille 

Clinostomidae LUEHE, 1901. C. R. Soe. Biol. Paris. 

65. TRAVASSOS, L. 1928. Note sur ia sous-famille Arduen- 

ninae Railliet A Henry, 1911. C. R. Soe. Biol. Paris. 

66. TRAVASSOS, I.. 1928. Sur un nouveau trématode para- 

site de Laridae. C. R. Soe. Biol. Paris. 

67. TRAVASSOS, L. 1928. Sur le genre Leiuris Leuekart, 

1850. C. R. Soe. Biol. Paris. 

68. TRAVASSOS, I.. 1928. Sur Ies genres Eumorwdontus, 

Gaigeria et Monodontella. C. R. Soe. Biol. Paris. 



129 



— (o)— 



cm l 



SciELO 



11 12 13 14 15 16 17 




BOLETIM BIOLOGICO 



Brasil. 



São Paulo, 9 de junho de 1928. 



Fascículo 11. 



Trabalho do Laboratorio de Parasitologia da Faculdade de 
Medicina de São Paulo. Brasil. 

Prof. Cathedratico: LAURO TRAVASSOS — Assistente: — CESAR PINTO. 
.Monitores: PAULO ARTIGAS, CLEMENTE PEREIRA, ZEFER1NO VAZ e 

EDMUR WHITAKER. 



N.° 42. 









& 






iSilOTHffi^ 

Uma nova especie de OTOCINCLUS 
NEMATOGNATHA) “cascudinho” de S. Paulo. Brasil. 

(Fig. 1) 

Pelo Dr. 



R . V C N I H E R I N G 



() grupo de “Cascudinhos” {Loricariideo . s Hypoptopomi- 
neos), caracterizado pelos aciculos retrovertidos do bordo rostral, 
comprehende 1 generos. Estes facilmente se differenciam pela se- 
guinte chave: 

Caudal deprimida Oxyropsias (2 esp.) 

Caudal comprimida Hypoptopoma (5 esp.) 



Cabeça deprimida 



I 

Cabeça normal dos "“cascudos”; 
placa temporal perfurada 



Dorsal posterior á ventral; olhos supe- 
riores. Microlepidogaster (9 esp. brasi- 
leiras). 

Dorsal anterior á ventral; olhos lateraes. 
Otocinclus (14 esp. brasileiras). 



A presente especie, que 



consideramos nova. 




SciELO 



11 12 13 




15 16 1 





2 BOLETIM BIOLOGICO 

UTOCIXCLUS FRAXCIROCHAI n. sp. 

distingue-se facilmente das poucas outras congeneres que também 
têm o supra-occipital guarnecido de aculeos, pelo colorido caracte- 
rístico, de uma faixa longitudinal da cabeça á caudal e que ter- 
mina em triângulo no lobulo inferior, havendo no lobulo supe- 
rior uma mancha redonda, isolada. 

Dedicamol-a ao eminente psychiatra e scientista, Dr. Fran- 
co da Rocha associando-nos á homenagem que lhe foi prestada 
em 4 -IV -1928 com a inauguração do seu busto, como creador 
do Hospital de Juquery. 

OTOCIXCUS FR A XCIROCHA I n. sp. 

I). 1.-7; A. I. - 5; L. 1. - 22; No adipose fin; Supraoc- 
cipital posteriorly strongly spinulated. 

Depth of body 6 times in total length; length of head 

3 1 3 times. Diameter of eye 6 times in the length of head, interor- 
bital width twice, length of snout somewath less. Supraoccipital 
posteriorly elevated and strongly spinulated. Distanee from tip of 
snout to occipital process 3 times in length. Scutes spinulose, not 
carinated, 22 in a longitudinal series. Lower surface naked, ex- 
cept a narrow transverse bar between pectorals and followed on 
the lines between pectorals and ventrals by 3 scute-like granular 
patches; a rounded patcli between anais. 

Snout margined with strong recurved spincs. Pectoral spine 
bristeled, the last spines as long as those of the supraoccipital; 
pectoral extending to 2/3 of the ventral; dorsal somewath in ad- 
vance of the base of the middle of the body; Anal behind of the 
end of the base of Dorsal. No adipose fin. Caudal moderatly 
forked, the lower lobe somewhat longer. 

Olivaeeous, with preponderance of the following black co- 
Ioration: some spots on the head; a stripe from the snout pas- 
sing on the lower half of the eye and continued to the caudal; 
four indistinct transvers hars on the body, the first bcginning at 
the Dorsal. Fins plain, the Dorsal somewhat indistinetly spoted; 
caudal very caracteristicaly marked by a median strip, but which 
is emarginated inferiorly and tenninates with a triangular snot 
on the lower lobe; the upper lobe with a terminal isolated dot. 



cm l 



SciELO 



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BOLETIM BIOLOOIOO 



3 



Many specimens, the largest onc 42 mm. (incl. caudal fin), 
from kreeks by Pirangy, headwaters of the rio Turvo (into rio 
Grande of the Paraná — La Plata). R. y. Ih. leg. March,T928. 

Named after Dr. Franco da Rocha, on his jubilee at Ju- 
query, 4 - IV - 1928. 



/" Tcleac dp! 



Fig. 1 — Otocinclus francirochai, n. sp. 



cm 1 



7 SciELO, 



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BOLETIM BIOLOf.ICO 



Trabalho do Laboratorio de Microbiologia da Faculdade de 
Medicina de São Paulo. Brasil. 

Prof. Cathedratico : DR. ERNESTO DE SOUSA CAMPOS — 1." Assistente: 
DR. FLAVIO DA FONSECA — 2." Assistente: DR. FLORIANO DE ALMEIDA. 

TRYPANOSOMA FRANCIROCHAI n. sp. parasito de 
OTOCINCLUS FRANCIROCHAI Ihering, 1928 (peixe de 
agua doce do Estado de S. Paulo). 

Por 

FLAVIO DA FONSECA e ZEFERINO VAZ 

Em um esfregaço de sangue do Microplecostomus, Otocinclus 
francirochai Ihering, 1928, gentilmente offertado pelo I)r. Ftodol- 
pho von Ihering, tivemos a oeeasião de encontrar um unico exem- 
plar de um Trypanosoma ao qual provisoriamente attribuimos a? 
características abaixo, esperando que a obtenção de mais abun- 
dante material permitta uma descripção definitiva. 

Dimensões. Comprimento, sem o flagello livre, 15 micra. 
Largura 4 micra. Núcleo principal 3,5 por 2.2 micra, distando 
33 micra da extremidade posterior. Blepharoplasto 0,8 por 1 mi- 
cron. Flagello livre 28 micra. 

Aspecto geral. O exemplar por nós examinado apresenta 
a porção posterior enrodilhada, afilando-se o corpo gradualmen- 
te para as duas extremidades, das quaes a primeira se termina em 
ponta afilada, não sendo visivel a extremidade posterior, além do 
blepharoplasto. 

Protoplasma. Finamente granuloso, corado homogenea- 
mente em violeta pallida pelo corante Leishman, não apresentan- 
do descoramento na zona visinha ao blepharoplasto, como é fre- 
quente observar-se em Trypanosomas de Peixes. 

Sucleo principal. Elliptieo, de limites nitidos, tocando os 
bordos do flagellado, de coloração vermelha pouco carregada, ex- 
ceptuada a do polo posterior, onde se observa accumulo de chro- 
matina granulosa. O núcleo fica situado no limite do quarto an- 
terior com os tres quartos posteriores. 

Blepharoplasto. Volumoso, transversalmente alongado, co- 
rado em vermelho vivo. Não foi possível verificar si sua posição 
é ou não terminal. 



cm l 



SciELO 



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BOLETIM BIOLOGICO 



Membrana ondulante. Relativamente estreita, bem corada 
em violeta mais pallida que o protoplasma, atravessando o cor- 
po do Protozoário, visivel em toda a extensão. 

Flagello adherente. Intensamente corado e margeando o 
bordo externo da membrana ondulante, não se conseguindo ver 
si emerge do blepharoplasto. 

Flagello livre. Muito longo e intensamente corado. 

Consignamos o nosso agradecimento ao Dr. Rodolpho von 
Ihering pelo material fornecido. 



São Paulo, 28 de Maio de 1928. 



cm 1 



7 SciELO, 



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<! BOLETIM BIOLOGICO 

Sobre as glandulas salivares dos BLATTIDEOS. 

(Fig. 1 -5) 

Por 

S. DE TOLEDO PIZA JUNIOR 

As glandulas salivares de Leucophaea surinamensis, ainda 
não estudadas por nenhum autor, são constituidas como as de 
Periplaneta, Phyllodromia e outros Blattideos, por uma parte se- 
cretora, acinosa ou glandular e por um grande reservatório em 
fôrma de sacco, de cada lado do corpo (Fig. 1). 

Os reservatórios possuem paredes finas e transparentes e 
se acham localisados ventral e lateralmente com relação ao eso- 
phago e ao papo. As suas extremidades em fundo de sacco che- 
gam a attingir os diverticulos anteriores do estomago chylifieo 

Da extremidade anterior de cada reservatório (R) parte 
um tubo traeheifórme — o tubo de sabida (AgR), que, percor- 
rendo o esophago lateral e inferiormente, se dirige para vante, 
indo se reunir, um pouco aquém do gânglio nervoso infra-esopha- 
geano e abaixo da commissura que liga esse gânglio ao gânglio 
prothoraxico, ao seu congenere, dando origem a um tubo unico, 
de diâmetro maior, (AgC), que depois de curto percurso penetra 
pelo foramen occipital, passa pela face interna da base da gula, 
indo ter á região ventral do hypopharynge. 

Um pouco antes de se unirem, cada tubo de sahida dos re- 
servatórios recebe o canal excretor da parte acinosa (AgD). A 
distancia que vae dos pontos de reunião dos canaes excretores 
com os tubos de sahida dos reservatórios, ao ponto de reunião 
destes, é muito variavel, podendo ser egual, maior, ou menor do 
que a que vae deste ultimo ponto ao hypopharynge. 

A parte secretora (D) é constituída por aeinos reunidos em 
lobulos dispostos em cachos que se estendem, geralmente, até 
um pouco alem da região media do esophago. Os canaliculos aci- 
nosos dão origem aos canaes lobulares que se reunem para for- 
mar o canal excretor da glandula, que caminha unido á face in- 
terna do tubo de sahida do reservatório correspondente, até o 
ponto onde nelle desembocca. 

Este typo, de glandulas salivares se encontra também em 
Phyllodromia yermanica ■ Em Periplaneta ellas apresentam uma 
disposição diversa. Ao contrario do que acontece com Leuco- 



cm 1 



SciELO 



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. BISUfiTHtCA^ 



■Pa 



ÜLC- 






BOLETIM BIOLOOICO 



Tromiu, os canaes excretores reunem-se primeiro 
entre si, para depois irem desembocear no canal unico resultante 
da reunião dos tubos de sabida dos reservatórios. 

Melhor do que as palavras, a Fig. 2 mostra as relações en- 
tre as glandulas e os reservatórios nos dois casos. 

No primeiro (A), as glandulas mantêm com os reservató- 
rios respectivos uma correspondência natural, que deve, a meu 
ver, ser considerada como a primitiva. No segundo (B), não ba 
correspondência lógica entre as glandulas e os reservatórios de 
um mesmo lado. Nesse caso, os produetos da secreção da glându- 
la de um dos lados póde, perfeitamente, depositar-se no reser- 
vatório do lado opposto. Essa disposição illógica resulta, segun- 
do penso, de uma variação ontogenica, que apezar de inútil, fi- 
xou-se, conclusão a que fui levado por minhas observações em 
Leueophaea. 

De facto, nessa especie, o ponto de desemboccamento do 
canal excretor da glandula no tubo de sahida do reservatório cor- 
respondente, tem uma situação variavel, podendo estar mais 
afastado ou mais proximo do ponto de juneção desse ultimo com 
o seu congenere. 

Ora, si a variação fosse de maior amplitude, isto é, si o 
ponto de desemboccamento dos canaes excretores ultrapassasse 
o ponto de reunião dos tubos de sahida dos reservatórios, seria 
facil prever a possibilidade de uma fusão dos primeiros no de- 
curso do desenvolvimento ontogenico, o que daria origem a uma 
glandula do segundo typo. (B, Fig. 2). 

A variação extrema por mim observada e que me levou ao 
ponto de vista exposto, acha-se representada na Fig. 3. 

Como nella se vê, os canaes excretores das glandulas vem 
ter exactamente no ponto de bifurcação dos tubos de sahida dos 
reservatórios, disposição essa muito mais próxima da (pie se 
observa em Peri planeta (B, Fig. 2) do que da que se encontra 
normalmente na própria especie em estudo. De facto, nessa va- 
riação, como em Períplaneta, a saliva de uma das glandulas póde 
escoar-se para o reservatório do lado opposto. 

A variação em questão constitue bem uma fórma interme- 
diaria entre os dois typos de glandulas. 

Praticando córtes longitudinaes na cabeça de Leueophaea. 
encontrei dois pares de glandulas que não foram ainda descri- 
ptas nos Blattideos. Dei a um delles, numa “communicação” que 
fiz ao Director do Instituto de Zoologia da Escola Superior de 



cm l 



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Agricultura de Berlim, onde foi feita a observação, a denomina- 
ção de glandulas sub-linguaes. Essas glandulas se apresentam sob 
forma de pequenas massas brancaeentas, localisadas, lateralmen- 
te, na face ventral da lingua. Elias se abrem no conductor terminal 
da saliva e devem ser consideradas como glandulas salivares ac- 
cessorias. (Fig. 4). 

As glandulas do outro par acham-se localisadas interna- 
mente na região anterior e lateral da cabeça, logo abaixo do ee- 
rebro, com o qual chega, mesmo, a se pôr em contacto. Para me- 
lhor definir a sua posição variavel segundo o desenvolvimento, 
póde-se dizer que ellas estão situadas lateralmente na cabeça, 
atraz da face, abaixo do cerebro, acima do clypeos e da inserção 
das mandíbulas e adeantc do hypopharynge. (Fig. 5). 

Infelizmente, não me foi ainda possível encontrar o canal 
excretor, para o que estou trabalhando actualmente. Dei ás glan- 
dulas em questão, na “eommunicação” referida, a denominação 
de Glandulas de Heymons, em homenagem ao notável zoologo 
Prof. Dr. Richard Heymons, Director do supra citado Instituto. 

Convem não confundir as glandulas de Heymons com os 
orgãos vesiculiformes ( corpora allata) estudados e deseriptos por 
aquelle autor em Bacillus rossi Fab. e encontrados também por 
elle e por outros em representantes de diversos grupos de inse- 
ctos (Ortlwptera. Dermaptera, Hymenoptera, Rhinchota, Goleo - 
ptera). Não obstante os corpora allata de Heymons se apresenta- 
rem, em muitos casos, sob o aspecto de glandulas de secreção in- 
terna, elles têm sido apenas considerados como orgãos de funcção 
enigmática pertencentes ao systema nervoso visceral e homolo- 
gos aos ganglia allata, que differem das glandulas por apresen- 
tarem, internamente, diversas laminas chitinosas concêntricas ao 
redor de uma esphera central. 

Em Bacillus rossi, os orgãos vesiculiformes de Heymons 
acham-se dispostos asymetrieamente sobre o esophago, a peque- 
na distancia dos ganglia pharyngea, aos quaes se acham ligados 
pelos nervi pharyngeales. 

EXPLICAÇÃO DAS FIG IR AS 

Fig. 1 — Glandulas salivares. R — reservatório. D = parte secre- 
tora ou glandular propriamente dita. AgR = tubo de sabida 
do reservatório. Agí) — canal excretor principal da parte 
acinosa. AgC = canal terminal comm. td — tubo digestivo. 



cm l 



SciELO 



11 12 13 14 15 16 17 




BOLETIM BIOLOOICO 



'ig. 2 



% 

pro — pronoto. fro — fronte, cly — clypeus. hyp. — hy- 
popharynge. Is = labio superior, li — labio inferior. 

Representação comparada do modo de desemboccamen- 
to das glandulas salivares em A — Leucophaea. B — Peri- 
planeta. AgR = tubo de sabida dos reservatórios. Agl) — ca- 
nal excretor das glandulas. 

— Porção terminal dos tubos de sabida dos reservatórios, 
mostrando os pontos de desemboccamento dos canaes cx- 
cretores das glandulas. 

Fig. l — Hypopharynge (face ventral). li— ligula ou sub lingua. 
gsl. — glandula sub lingual. 

Fig. 5 Corte longitudinal da cabeça de Leucophae a. glH = Glân- 

dulas de Heymons. Ce = Cerebro. 



Fig. 3 



A • • Ví •' 



cm 1 



7 SciELO, 



11 12 13 14 15 16 17 







Fig. 5 



Fig. 3 



Fig. 1 



S. de Toledo Piza Jor. Sobre as glandulas salivares dos Blattideos. 



2 3 4 5 6 7 SClELO 11 12 13 14 15 16 17 



Fig. 1 



Fig. 2 




BOLETIM BIOLOGICO 



11 



Trabalho do Laboratorio de Parasitologia da Faculdade de 
.Medicina de São Paulo. Brasil. 

Prof. Cathedratico : LAURO TRAVASSOS — Assistente: — CESAR PINTO. 
Monitores: PAULO ARTIGAS, CLEMENTE PEREIRA, ZEFERINO YAZ e 

EDMUR WHITAKER. 



N." 43. 



EIMERIA AMARALI n. sp. 

Parasita de BOTHROPS NEUWIEDII. Ophideo do Brasil. 



(Fig. a ' c ) 

Pelo Dr. 



CESAR PINTO 



Em material de Ophidios que o Dr. Afranio do Amaral 
enviou para o Laboratorio de Parasitologia da Fac. de Med. de 
S. Paulo, verifiquei uma es])ecie nova de Eimeria, cujos oocystos 
foram encontrados nas fezes de Bothrops nemviedii pelo Prof. 
Lauro Travassos e acadêmico Francisco Salles. 

0 nome especifico é dado em homenagem ao illustre Di- 
rector do Instituto de Butantan, Dr. Afranio do Amaral, que tem 
concorrido grandemente para o desenvolvimento da Zoologia em 
nosso paiz e no exterior. 



EIMERIA AMARALI n. sp. 



Fig. a, b, c. 



Oocystos elipsoides, de colorido amarellado, medindo 27,2 mi- 
cra a 3-1 micra de comprimento por 17 micra a 18,7 micra de lar- 
gura; membrana central ou media do oocysto espessa, membranas 
externa e interna bem mais finas. No interior do oocysto maduro 
não existe reliquat. 

Quatro esporos arredondados ou ligeiramente ovaes com 
8,5 micra de diâmetro ou 9 micra de comprimento; membrana do 
esporo muito nitida; reliquat do esporo arredondado com 3 — -1 
micra de diâmetro, sob a forma de rosacea, bastante refrigente. 



cm 1 



7 SciELO, 



11 12 13 14 15 16 17 




12 



BOLETIM BIOLOGIGO 



Cada esporo possue dois esporozoitos recurvados com cerca de 5 
micra de comprimento por 2 micra de largura. Não observei mi- 
cropyla no oocysto. 

Habitat : esporos immaturos e maduros encontrados nas fezes 
de Bothrops neuwiedii, Ophidio proveniente do Instituto de Bu- 
tantan. S. Paulo- Brasil. 




a 



c 



Toledo dei. 



Fig. a oocysto immaturo de Eimeria Amarali n. sp. 

Fig. b, c == oocystos maduros de Eimeria Amarali. Todas as figuras au- 
gmentadas 900 vezes. 

Ç. Pinto. EIMERIA AMARALI n. sp. 



cm l 



SciELO 



11 12 13 14 15 16 17 




BOLETIM BIOLOGICO 



13 



Trabalho do Laboratorio de Parasitologia da Faculdade de 
.Medicina de São Paulo. Brasil. 



Prof. Cathedratico: LAURO TRAVASSOS — Assistente: — CESAR PINTO. 
Monitores: PAULO ARTIGAS, CLEMENTE PEREIRA, ZEFERINO VAZ e 

EDMUR WHITAKER. 



N.° 44. 

Fauna helminthologica dos Ophideos Brasileiros (2.°) 

(Fig. 1-13) 



Por 



CLEMENTE PEREIRA 



RHABDIAS VELLARDI n. sp. 
a) FORMA PULMONAR 



(Fig. 1-4) 



Comprimento: 3 mm. a 3.3 mm. 

Largura: 0.12 mm. a 0,2 mm. 

O corpo é menos grosso anteriormente, e termina postei ior- 
mente por curta cauda cónica. Cutícula não estriada. A extre- 
midade anterior termina em bocca provida de lábios rudimen- 
tares, não possuindo capsula buccal. Esophago clavifonne, me- 
dindo de 0,26 mm. a 0,27 mm. de comprimento por 0,053 mm. 
de largura. Annel nervoso na parte media do esophago, de 0,11 
mm. a 0,15 mm. da extremidade anterior; na região media do 
esophago vêm-se abrir duas glandulas unieellulares, medindo 
de 0,035 mm. a 0,040 mm. de comprimento. 

Anus de 0,13 mm. a 0,1 1 mm. da extremidade posterior. 

Vulva no meio do corpo; ovejeetor curto e transversal; 
úteros duplos, divergentes, com algumas dezenas de ovos; ovi- 
ductos também divergentes, na continuação dos úteros; ovários 
parallelos e em sentido opposto ao ovidueto e ao utero do mesmo 
lado, entrecruzando-se largamente; a porção mais anterior do 
ovário está de 0,26 mm. a 0,41 mm. da extremidade posterior 
do esophago, e o ramo posterior desse apparelho está de 0,61 mm. 
a 0,67 mm. da extremidade posterior. 



cm 1 



7 SciEL0, 



11 12 13 14 15 16 17 




14 



BOLETIM BIOLOGICd 



Ovos ellipsoides, com cerca de 0,069 mm. de comprimen- 
to, por 0,038 mm. a 0,046 mm. de largura. 

A presença de glandulas esophageanas nesta especie deve ser 
constante, parecendo entretanto, que devido a defeito de fixação, 
ellas nem sempre são apparentes, como verificamos no desenho 
(Fig. 1) de um exemplar colhido na Philodnjas schotti: em exem- 
plares obtidos da Orhyrropus trigeminus, como o da fig. 2, essas 
glandulas estão bem nitidas. 

b) FORMAS DE VIDA LIVRE 
(Fig. 5-13) 

As culturas foram feitas á temperatura approximada de 
21 graus C., sendo para isso approveitado material proveniente 
de duas necropsias, ambas de Philodryas schotti. A cultura que 
forneceu dados mais completos foi a n.° 12 do meu livro de ne- 
cropsias, e por isso me limito a descrever esta. 

As observações foram feitas em fins de Agosto de 1927. 

48 horas depois de iniciadas, as culturas apresentavam 
formas rhabditoides, cujas femeas tinham no máximo 5 ovos 
(fig. b)> 

Depois de 71 horas as femeas de vida livre continham de 
3 a 7 ovos, já embryonados, e os punham, especialmente sob a 
acção do calor (fig. 8). 

Apoz 96 horas, as femeas apresentavam ovos e larvas no 
utero, bem como havia muitas larvas rhabditoides soltas nas 
culturas. 

Cerca de 140 horas depois já se notavam larvas filarioides 
enkystadas, e uma grande maioria de formas rhabditoides. 

Com 170 horas, algumas femeas rhabditoides pareceram 
soffrer um verdadeiro rejuvenescimento: depois de terem cs- 
vasiado o utero, parecem ter soffrido uma segunda fecundação, 
pois foram encontrados exemplares copulando, e dessa possível 
fecundação, as femeas passaram a apresentar de 9 a 16 ovos, ovos 
esses que eram menores que os da primeira postura, sendo eli- 
minados bem menos evoluídos que aquelles (fig. 9). < 

FORMAS RHABDITOIDES DE 48 HORAS 
(Fig. 5-6) 

Comprimento: macho 0,72 mm.; femea 1,01 mm. 

Largura : macho 0,031 mm.; femea 0,05 mm. 



cm l 



SciELO 



11 12 13 14 15 16 17 




BOLETIM BIOLOGICO 



15 

Corpo menos grosso anteriormente, terminando posterior- 
mente por uma cauda cónica. Boeca com 3 lábios rudimentares. 
Ausência de capsula buccal. 

Macho: — Vestíbulo com 0,02 mm. de comprimento; eso- 
phago com 0,15 mm. de comprimento; bulbo anterior com 0,085 
mm. de comprimento; bulbo posterior com 0,02 mm. de diâmetro; 
distancia interbulbar igual a 0,015 mm.; annel nervoso na parte 
media da região interbulbar. 

Anus a 0,050 mm. da extremidade posterior. 

Alça do testículo a 0,085 mm. da extremidade posterior do 
esophago; espiculos com 0,035 mm. de comprimento; guberna- 
eulum com 0,012 mm. de comprimento. 

Femea: — Vestíbulo com 0,033 mm. de comprimento; eso- 
phago com 0,15 mm. de comprimento; bulbo anterior com 0,092 
mm. de comprimento; bulbo posterior com 0,025 mm. de dia- 
metro; distancia interbulbar igual a 0,05 mm.; annel nervoso en- 
tre os bulbos. 

Anus a 0.080 mm. da extremidade posterior. 

Vulva um tanto posterior, a 0,525 mm. da extremidade an- 
terior, e a 0,515 mm. da extremidade posterior; ovejector curto 
e transversal; úteros duplos, divergentes, com 1 ovos em media; 
oviductos também divergentes, na continuação dos úteros; ova- 
rios parallelos e em sentido opposto ao oviducto e ao útero do 
mesmo lado, não attingindo a metade da distancia que o separa 
da vulva; a porção mais anterior da alça genital está a 0,108 mm. 
da extremidade posterior do esophago, e a porção mais poste- 
rior está 0,182 mm. da extremidade da cauda. 

Ovos ellipsoides, com, approximadamentc, 0,081 mm. de 
comprimento por 0,031 mm. de largura. 



LARVA 1NFESTANTE 
Fig. 13 

Comprimento: 0,672 mm. 

Largura: 0,035 mm. 

Forma alongada, terminando-se anteriormente por uma 
bocca provida de vestíbulo com 0,013 mm. de profundidade, e 
posteriormente por uma cauda cónica. 

Esophago com 0,173 mm. de comprimento, rovido de um 
bulbo posterior, que mede 0,030 de comprimento. 

Anus a 0,065 da extremidade posterior. 




l(i 



BOLETIM BIOLOC.ICO 



FORMA LIVRE DÉ 71 HORAS. 

(Fig. 7 - 9) 

Comprimento: 1,16 mm. 

Largura : 0,059 mm. 

Corpo menos grosso anteriormente, terminado posterior- 
mente por uma cauda cônica. Bocca com 3 lábios rudimentares. 
Ausência de capsula buccal; vestíbulo com 0,019 mm. de compri- 
mento; esophago com 0,189 mm. de comprimento; bulbo anterior 
com 0,098 mm. de comprimento; bulbo posterior medindo 0,034 
mm. de comprimento por 0,021 mm. de largura; annel nervoso 
entre os bulbos. Anus a 0,090 mm. da extremidade posterior. 

Vulva um tanto posterior, situada a 0,595 mm. da extremi- 
dade anterior e a 0,565 mm. da extremidade posterior; ovejector 
curto e transversal; úteros duplos, divergentes, com 6 ovos em 
media; oviductos também divergentes, na continuação dos úte- 
ros; ovários parallelos, curtos, e em sentido opposto ao utero e 
oviducto do mesmo lado, não attingindo 1/3 da distancia que 
vae da sua terminação á vulva; a porção mais anterior da alça 
genital está a 0,075 mm. da extremidade posterior do esophago. 
e a porção mais posterior está a 0,225 mm. da extremidade 
posterior. 

Ovos ellipsoides, com approximadamente, 0,073 de com- 
primento por 0.0-10 mm. de largura. 

LARVA DE 120 HORAS 
(Fig. 10) 

Comprimento; 0,130 mm. 

Largura: 0,024 mm. 

Forma alongada, terminando posteriormente por uma boc- 
ca provida de vestíbulo, que mede 0.001 mm. de profundidade. 

Esophago com 0,126 mm. de comprimento, provido de 2 
bulbos, um anterior, com 0.057 mm. de comprimento, e outro 
posterior, medindo 0,022 mm. de comprimento por 0,01 1 mm. de 
largura. 

Anus a 0,067 mm. da extremidade posterior. 

FORMA LIVRE DE 170 HORAS 
(Fig. 11-13) 

Comprimento: 1,4 mm. 

Largura: 0,09 mm. 



cm l 



SciELO 



11 12 13 14 15 16 17 




UOLETIM lilOI.OCiICO 



Corpo menos grosso anteriormente, terminando posterior- 
mente por uma cauda cônica. Bocca com 3 lábios rudimentares. 
Ausência de capsula buccal; vestíbulo com 0,019 mm. de eom- 
primento; esophago com 0.175 mm. de comprimento; bulbo an- 
terior com 0,092 mm. de comprimento; bulbo posterior cofn 0,034 
mm. de comprimento por 0 028 mm. de largura; annel nervoso 
entre os bulbos. Anus a 0,1 mm. da extremidade posterior. 

Vulva um tanto posterior, a 0.75 mm. da extremidade an- 
terior. e a 0,65 mm. da extremidade posterior; ovejector curto e 
transversal; úteros duplos, divergentes, com cerca de 16 ovos; 
oviductos também divergentes, na continuação dos úteros; ovários 
parallelos, curtos, não attingindo 1/3 da distancia que vae da 
sua terminação ã vulva; a porção mais anterior da alça genital 
está a 0.122 mm. da extremidade posterior do esophago, e sua 
porção mais posterior está a 0,153 mm. da extremidade posterior 
do animal. 

Ovos ellipsoides, com, approximadamente, 0,060 mm. a 
0,072 mm. de comprimento por 0,041 mm. a 0,046 de largura. 



Dimensões de ovos postos pelas femeas que solTreram se- 
gunda fecundação: 



Comprimento: de 0.080 mm. a 0.082 mm. 
Largura: de 0.011 mm. a 0,058 mm. 



(Fig. 12) 



EXPLICAÇÃO DAS E1GCRAS 



Fig. 



Fig. 1 Rhubdias vellardi — Forma parasita de Philodryas 

schotti. 

„ ,, — Forma parasita de Oxhyrropus 

trigeminus. 

„ ., — Cabeça da fig. 1 augmentada. 

„ » — Cauda da fig. 1 augmentada. 

„ .. Femea de cultura de 48 horas. 

» — Macho de cultura de 48 horas. 

» — Femea de cultura de 71 horas. 

— Femea de cultura de 71 horas, 
detalhe da rabeca. 



6 — 



cm 1 



7 SciEL0, 



11 12 13 14 15 16 17 




18 



BOLETIM BIOLOGICO 



Fig. 


9 - 




,, 


- Larva, filha da femea da fig. 7. 


Fig. 


10 — 


99 


99 


Larva, filha da femea de cul- 
tura de 120 horas. 


Fig. 


11 


9? 




Femea - — Cultura de 170 horas 
(2. a fecundação). 


Fig. 


12 




95 


— Ovos de femea de 170 horas. 


Fig. 


13 


59 


99 


— Larva inf estante. 






23 



BOLETIM BIOLOGICO 

Trabalho do Laboratorio de Parasitologia da Faculdade de 
Medicina de Sáo Paulo. Brasil. 

Prof. Cathedratico: LACRO TRAVASSOS — Assistente: CESAR PINTO 

Monitores: PAULO ARTIGAS, CLEMENTE PEREIRA, ZEFERINO VAZ e 

EDMUR VVHITAKER. 

N.° 45. 

TRICHOSTRONGYLIDAE do TAMANDUÁ 
TETRADACTYLA (L.) 



LAURO 



Por 

TRAVASSOS 



Em um tamanduá mirim (7\ tetradactyla (L.), remettido de 
Rincão, Estado de São Paulo, pelos Snrs. Decio de Camargo e Au- 
gusto Freire, necropsiado no laboratorio pelo Dr. Cesar Pinto e 
monitor Clemente Pereira, foi encontrado abundante material hel- 
minthologico, cujo estudo fazemos na presente nota. 

O referido animal era parasitado por 6 espeeies differentes 
de helminthes a saber: 

Gigantorliynchus echiiiodiscus (Diesing, 1851). 

Vitinnaiu minuscula Trav., 1915. 

Pintoia inflata (Molin, 1861). 

Ostertagia appendiculata n. sp. 

Fontesia fontesi n. g., n sp. 

As duas primeiras espeeies são bem estudadas; da terceira, 
para a qual propomos um novo genero, faremos uma descripção 
detalhada, por não ser bem conhecida, bem como das outras 
tres novas. 

PINTOIA n. y. 

Triehostongylidae. Cutícula com estriação transversal; ex- 
tremidade cephalica com dilatação cuticular vesieulosa; azas la- 
teraes bem desenvolvidas; lábios nullos; femeas com a vulva na 
metade posterior do corpo, amphidelphas; cauda truncada, termi- 
nando em tres aculeos e entre os quaes existe um prolongamento 
filiforme; machos com espiculos sub-eguaes, complexos e curtos; 
gubernaculum ausente; papillas pré-bursaes presentes; raios ven- 
traes e lateraes augmentando de tamanho progressivamente de 
diante para traz; raio dorsal externo nascendo por tronco com- 
mum ao dorsal; raio dorsal muito desenvolvido e bifurcado no 



cm l 



SciELO 



11 12 13 14 15 16 17 




2 1 



BOLETIM BIOLOGICO 



terço distai; ramos secundários com um ramo externo recorrente, 
que se cruza com o dorsal externo. 

Especie typo: P. inflata (Molin, 1861). 

Este genero tem uma disposição de raios bursaes inteira- 
mente característica e que de algum modo lembra o observado no 
genero Heligmostrongyhis. 0 nome generico á dado em homena- 
gem ao Dr. César Pinto. 

PINTO IA INFLATA (Molin, 1861 ) Trav., 1928. 

(Figs. 1 a 6) 

Comprimento: femeas 12 a 12.2 mm.; machos: 9 a 9,5 mm.; 
largura: — femeas 0,15 a 0,17 mm.; machos — 0,15 mm.. Cutí- 
cula com estriação transversal e azas lateraes estriadas com 0,030 
mm. de largura; extremidade cephalica com dilatação cuticular 
vesiculosa de cerca de 0,09 a 0,10 mm. de extensão; póro excre- 
tor a cerca de 0,37 a 0,43 mm. da extremidade anterior; annel 
nervoso a cerca de 0,30 a 0,50 mm. da extremidade anterior, 
bocca sem lábios nitidos; esophago claviforme, relativamente 
longo, mede cerca de 0,61 a 0.77 mm. de comprimento. 

Femeas com a vulva a cerca de 2 a 2.2 mm. da extremidade 
posterior; ovejector forte, divergente, medindo cerca de 0.57 a 0,61 
mm. de vestíbulo a vestíbulo, vagina muito curta; úteros diver- 
gentes; ovos com cerca de 0,069 mm. de comprimento por 0.030 
a 0.040 mm. de largura maxima; cauda truncada e apresentando 
tres pontas ou espinhos eonieos, sendo 2 ventraes com cerca de 
0.023 mm. e um dorsal com cerca de 0,007 mm.; no espaço limi- 
tado pelos espinhos existe um filamento cuticular representando a 
terminação caudal com cerca de 0,030 a 0.038 mm. de comprimen- 
to; anus a 0,1 I a 0,15 mm. da extremidade posterior; alça poste- 
rior do apparelho genital a cerca de 0,33 a 0.36 mm. da extre- 
midade. 

Machos com bolsa copuladora muito desenvolvida, trilo- 
bada, sendo o lobo dorsal muito desenvolvido; raios ventraes di- 
vergentes sendo o ventro-ventral mais estreito e mais curto; raios 
lateraes também divergentes e augmentando de diante para traz 
em dimensões; raios dorsaes muito desenvolvidos e com tronco 
commum; dorsaes externos delgados e longos, com as pontas con- 
vergindo para o raio dorsal; raio dorsal bifurcado a mais ou 
menos um terço do comprimento, apresentando os ramos secun- 
dários uma ramificação lateral, ligeiramente claviforme e longa, 
que parece cruzar com o raio dorsal externo; o raio dorsal mede 



cm 1 



SciELO 



11 12 13 14 15 16 17 




BOLETIM BIOLOC.ICO 25 

de comprimento lotai cerca de 0. 10 mm., partindo os dorsaes ex- 
ternos de cerca de 0,038 mm. da base e a ramificação ficando a 
0,23 mm. da origem dos dorsaes externos; papillas pré-bursaes 
presentes e longas; espiculos complexos (com uma ponta maior 
e uma delgada e mais curta) medindo cerca de 0,231 mm. de com- 
primento; gubernaculum ausente. 

Habitat: - Intestino delgado de Tamandiia tetraclactula (L). 

Proveniência : - Rincão, São Paulo. 

Collecionado pelo Dr. Cesar Pinto e Clemente Pereira. 

OSTERTAG1A KHALIL1 n. sp. 

(Fig. 7 a 13) 

Comprimento: femea — 7,5 mm.; macho — 0,2 a 6,5 mm.; 
largura: — femea e macho 0.17 mm.; cutícula estriada; extremi- 
dade anterior com dilatação cephalica pouco saliente e com cer- 
ca de 0,05 a 0,09 mm. de extensão; poro excretor a cerca de 0,25 
a 0,30 mm. da extremidade anterior; annel nervoso a 0.12 mm. da 
extremidade anterior; bocca sem lábios nitidos; esophago clavi- 
forme, medindo cerca de 0,46 a 0,51 mm. de comprimento por 
0,06 mm. de largura niaxima. 

Femea com vulva situada a cerca de 1.15 mm. da extremi- 
dade posterior, guarnecida por uma prega euticular pouco sa- 
liente; ovejector muito desenvolvido e com vagina transversal me- 
dindo cerca de 0,63 mm. de comprimento total; ovos com cerca 
dc 0,077 mm. por 0,038 mm.; extremidade caudal aguda e termi- 
nando em ponta filiforme com cerca de 0.015 mm. de compri- 
mento; anus a cerca de 0.20 mm. da extremidade; alça posterior 
do apparelho genital a cerca de 0,46 mm. da extremidade posterior. 

Machos com bolsa ampla e trilobada; labio posterior peque- 
no; papillas pré-bursaes não foram vistas; raios ventraes separa- 
dos e longos, sendo o ventro-ventral o mais longo de todos; lateral 
anterior curto, não attingindo o rebordo bursal; raios lateral me- 
dio e posterior parallelos e attingindo a margem bursal; raios 
dorsaes nascendo por tronco eommum muito curto; dorsaes ex- 
ternos delgados; raio dorsal bifurcado dichotomicamente tres 
vezes, de modo a terminar por 6 papillas, medindo 0,09 a 0,10 de 
comprimento total; dorsal externo tendo origem a 0,007 mm. da 
base e a primeira divisão a 0,046 a 0,053 da origem do dorsal ex- 
terno; membranella bursal tetralobada e com cerca de 0,038 mm. 
de comprimento; espiculos sub-eguaes e com uma dilatação cir- 
cular na extremidade e um curto ramo dorsal, medem cerca de 



cm l 



SciELO 



11 12 13 14 15 16 17 




2 (> 



BOLETIM BIOLOGICO 



0,25 a 0,26 mm. tle comprimento; gubernaculum presente, com 
cerca de 0,115 a 0,123 mm. de comprimento. 

Habitat: — Intestino delgado de T. tetradactyla (L.) 

Prov — Rincão, Estado de São Paulo. 

Collecionado pelo Dr. Cesar Pinto e Clemente Pereira. 

O nome desta especie é dado em homenagem ao notável 
helminthologista M. Khalil. 

OSTERTAG1A APPEXDICI LATA n. sp. 

(Fig. 14 a 17) 

Comprimento: femea 6,3 mm.; macho 3 mm.; largu- 
ra: femea 0,11 mm.; macho 0,077 mm.; cutícula estriada; 
extremidade cephalica com dilatação cuticular, com cerca de 
0,077 mm. na femea e 0,046 mm. nos machos; póro excretor 
a cerca de 0,25 mm. da extremidade anterior nas femeas; eso- 
phago claviforme medindo nas femeas 0,5 mm. de comprimento 
por 0,38 de maior largura. 

Femeas com a vulva situada na porção posterior do corpo 
a cerca de 0,73 mm. de extremidade e guarnecida por um pro- 
longamento cuticular digitiforme de cerca de 0,092 mm. de com- 
primento; ovejector com ramos divergentes e vagina curta, mede 
de vestíbulo a vestíbulo cerca de 0,23 mm. de comprimento; úte- 
ros divergentes, sendo o posterior muito curto, ficando a alça do 
oviducto a cerca de 0,27 mm. da extremidade posterior. Ovos el- 
lipsoides, com cerca de 0.061 mm. a 0,069 mm. de comprimento 
por 0,030 a 0,038 mm. de maior largura; cauda cônica e aguda; 
anus a cerca de 0,10 mm. da extremidade posterior. 

Machos com a bolsa trilobada; lobo dorsal pequeno; raios 
ventraes bem desenvolvidos, sendo os maiores; raios lateraes ap- 
proximados na base, sendo o lateral anterior dirigido para fora 
e os lateraes medio e posterior parallelos e dirigidos para traz; 
dorsaes nascendo por um tronco commum; dorsal externo sinuo- 
so e curto, não attingindo a margem bursal; raio dorsal com 
um comprimento total de 0,046 mm., partindo os dorsaes exter- 
nos a cerca de 0,007 mm. da base e a primeira ramificação a 0,023 
mm. da origem do dorsal externo, apresenta 3 dichotomisações, de 
modo a terminar em 6 papillas; membranella bursal accessoria 
presente, trilobada, muito pequena; espiculos sub-eguaes, trifidos 
na base livre e com dilatações circulares; medem cerca de 0,115 
mm. de comprimento; gubernaculum presente, com uma dilatação 
basal medindo cerca de 0,069 mm. de comprimento. 



cm 1 



SciELO 



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BOLETIM BIOLOGICO 27 

Habitat: — Intestino delgado de T. tetradactyla (L.). 

Prov.: Rincão, São Paulo. 

Colleeionado pelo Dr. César Pinto e por Clemente Pereira. 

Desta espeeie examinamos um par. Não obstante a diffe- 
rença de tamanho, julgamos tratar-se de uma só espeeie, não só 
pela semelhança da extremidade anterior como por não haver 
outras especies com que se podessem confundir. Approxima-se 
da O. khalili pela bolsa do macho. 

PONT ESI A n. <j. 

Trichosti ongylidae. Cutícula estriada; cristas lateraes gran- 
des; cabeça com azas lateraes que são os prolongamentos das cris- 
tas lateraes e duas pequenas azas, uma dorsal e outra ventral; boc- 
ca ligeiramente desviada dorsalmente, bilabiada; vulva na me- 
tade posterior; ovejector e úteros divergentes; cauda truncada e 
terminada por um espinho dorsal e duas saliências papilliformes 
ventraes; machos com papillas pré-bursaes; raios dorsaes com 
tronco commum; dorsal terminando por (i pa])illas; dois espiculos 
complexos e gubernaculum. 

Espeeie typo : F. fonte si n. sp. 

Habitat: — Intestino delgado de T. tetradactyla (L.). 

Este genero approxima-se de Molineus pela formula bur- 
sal e pelos espiculos, tendo porem uma estruetura cephalica mui- 
to peculiar, alem das cristas lateraes. 0 nome do genero e da 
espeeie é dado em homenagem ao Dr. Antonio Fontes, pioneiro da 
nova orientação do estudo da tuberculose. 

FONTES IA FONTESI n. sp. 

(Fig. 18 a 28) 

Comprimento: femeas 3,5 a 1 mm.; machos 3 a 1 
mrn.; largura: femea 0,077 a 0,084 mm.; machos 0,077 a 
0,092 mm.; cutícula estriada transversalmente e com cristas lon- 
gitudinaes lateraes de cerca de 0,010 a 0,015 mm. de largura; ex- 
tremidade cephalica com azas lateraes de cerca de 0,030 a 0,046 
mm. de comprimento, mais largas que as cristas longitudinaes e 
com duas azas, uma dorsal e outra ventral, de cerca de 0,030 a 
0,038 mm. de comprimento; póro excretor a cerca de 0,16 a 0,17 
mm. da extremidade anterior, saliente; annel nervoso a cerca de 
0,11 a 0.13 mm. da extremidade anterior; bocea bivalva, sendo o 
labio ventral mais saliente que o dorsal, de modo a tornar a bocca 
ligeiramente dorsal; medem os lábios cerca de 0,007 mm. de com- 



em 1 



SciELO 



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28 



BOLETIM BIOLOC.ICO 



primento; esophago claviforme, com cerca de 0,23 a 0,30 mm. de 
comprimento por 0,023 a 0,027 mm. de maior largura. 

Femeas com vulva a cerca de 0.77 a 0.87 mm. da extremi- 
dade posterior; ovejector divergente, com vagina muito curta, me- 
dindo de vestíbulo a vestíbulo 0,23 mm.; úteros divergentes, sendo 
o posterior mais curto e com ovos em rosário; ovos com cerca de 
0,060 a 0,077 mm. por 0,034 a 0,038 mm.; cauda alongada e trunca- 
da, terminando por duas saliências ventraes, papilliformes e um es- 
pinho delgado posterior, de base cónica; este mede cerca de 0,023 
a 0,038 mm. de comprimento; anus a cerca de 0,115 mm. da ex- 
tremidade posterior; ultima alça do apparelho genital a cerca de 
0,20 a 0,30 mm. da extremidade. 

Machos com bolsa trilobada, sendo o lobo posterior pouco 
desenvolvido; papillas pré-bursaes presentes e muito longas; raios 
ventraes longos e divergentes ,são os maiores; lateral anterior cur- 
to, dirigido para fora e não attingindo a margem bursal; lateraes 
medio e posterior parallelos e dirigidos para traz; dorsal nascendo 
por um tronco commum; dorsal externo delgado e não attingindo 
a margem bursal; dorsal dichotomisado tres vezes e terminando por 
6 pontas, medindo de comprimento total 0,053 mm.; a origem do 
dorsal externo fica a 0,007 mm. da base e a primeira dichotomisação 
a 0,030 mm. da origem do dorsal externo; espiculos sub-eguaes. 
complexos, bifurcados na metade distai, medindo cerca de 0.080 a 
0,084 mm. de comprimento; gubernaculum presente com a extre- 
midade distai mais espessa e a proximal sem eortono nitido, pare- 
cendo bifurcada; mede cerca de 0,077 mm. de comprimento. 

Habitat-. — Intestino delgado de T. tetradactyla (L.). 

Prov .: — Rincão, São Paulo. 

Collecionado pelo Dr. Cesar Pinto e Clemente Pereira. 

São Paulo, 25 de Maio de 1028. 



EXPLICAÇÃO DAS FIGURAS 



Fig. 1 - 
Fig. 2 
Fig. 3 
Fig. I - 
Fig. 5 
Fig. 6 - 
Fig. 7 



Pintoia inflata — Extremidade cephaliea. 

„ — Ovejector. 

— Extremidade caudal da femea. 

” » M ** 

„ — Bolsa copuladora. 

„ — Espiculos. 

Ostertagia khalili — .Extremidade cephaliea. 



cm 1 



SciELO 



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BOLETIM BIOLOGICO 



29 



Fig. 


8 — 


Eig. 


9 — 


Fig- 


10 — 


Fig. 


11 — 


Fig. 


12 - 


Fig. 


13 — 


Fig. 


1 1 — 


Fig. 


15 — 


Fig. 


16 


Fig. 


17 — 


Fig. 


18 — 


Fig. 


19 - 


Fig. 


20 — 


Fig. 


21 — 


Fig. 


22 — 


Fig. 


23 — 


Fig. 


21 


Fig. 


25 - 


Fig. 


2(5 - 


Fig. 


27 - 


Fig. 


29 — 



„ — Ovejector. 

„ — Estrcmidade caudal da femea. 

„ — Bolsa caudal e espiculos. 

„ — Raios bursaes. 

„ — Bolsa caudal de perfil. 

„ — - Espiculos, de perfil e de face. 

appendiculata — Extremidade cephalica. 

,, — Ovejector e extremidade 

caudal. 

„ — Raios bursaes. 

„ — Espiculos, desenhados fóra 

do corpo. 

Fontesia fontesi — Extremidade cephalica. 

„ „ — „ „ , vista de perfil. 

,, „ — s) 5 í 9 99 99 face. 

„ „ — Ovejector. 

„ — Extremidade caudal. 

„ „ — „ „ , vista de perfil. 

,, ,, “ 99 99 9 99 99 fUCC. 

n „ — Bolsa caudal. 

,, — Raios dorsaes. 

„ — Espiculos de frente. 

„ „ — » » perfil. 



cm l 



SciELO 



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BOLETIM BIOLOGICO 



31 




rravassos, L. Trichostrongylidae do TAMANDUA’ TETRADACTYLA (L.). 





BOLETIM BIOLOGICO 



Travassos, L. Trichostronffvlidae do TAMANDUA’ TETRADACTYH (I ) 



2 3 4 5 6 7 SClELO 77 12 73 74 75 16 77 



0,05 HM. 




31) BOLETIM BIOLOGICO 





Travassos, L. Trichostrongylidae do TAMANDUA* TETRADACTYLA (L-). 





WH 1 /- i Q . 



38 



BOLETIM BIOLOGICO 




Travassos, L. Trichoslrongj lidae do TAMANDUA’ TETRADACTYL.A (L.), 







BOLETIM BIOLOGICO 



Brasil. 



São Paulo, 10 de Julho de 1928. 



Pasci lu lo 12. 



Trabalho do Laboratorio de Parasitologi a d a Faculdade de 
.Medicina de São Paulo. Brasil. 

I rof. (. athedratico: LAURO TRAVASSOS — Assistente: CESAR PINTO 

Monitores: PAULO ARTIGAS, CLEMENTE PEREIRA, ZEFERINO VAZ e 

EDMUR WHITAKER. 



N." 46. 

MYXOBOLUS NOGUCHII, M. STOKESI e 
HENNEGUYA IHERINGI, especies novas de 
Myxosporideos de Peixes de agua doce do Brasil. 

Pelo Dr. 

CESAR PINTO 

Em esf regaço de sangue colhido das branchias de Serrasal- 
11,0 if pilo plr ura Kner do Rio Turvo (Pirangy) colhido pelo Dr. R. 
vou Iliering e colorido pelo incthodo de Leishmann pelo Dr. Flavio 
da Fonseca e acadêmico Zeferino Yaz, verificaram estes dois ul- 
mos, a presença de esporos de Myxosporideos, entregando-me o 
referido material para a classificação. Verifiquei duas especies 
íRie considero novas: Mijxobohis noyuchii em homenagem á me- 
moria do grande sahio e martyr da sciencia, Hideyo Noguchi; a 
mitra especie dedico ao prezado amigo e eminente zoologo R. von 
Iliering (pie colheu o material e classificou as especies de Peixes 
hospcdadoras de Myxosporideos referidas no presente trabalho. 

Km um exemplar ainda joven de Pimelodella? verifiquei a pre- 
sença de uma especie de Myxobólm formando tumor sub cutâ- 
neo no focinho. Também o hospedador do M. stokesi foi co- 
lhido pelo Dr. R. von Iliering em excursão scientifica ao Rio Mogy- 
Guassti (Pirassununga) no Kstado de S. Paulo. 



cm 1 



SciELO 



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12 



BOLETIM BIOLOC.ICO 



Aos auctores acima referidos que me forneceram material, os 
meus sinceros agradecimos. 

MYXOBOLUS XOGUCHII n. sp. 

Kig. 1. 

Trophozoito desconhecido sendo apenas conhecidos os espo- 
ros que foram coloridos pelo methodo de Leishmann. Esporos 
ovalares medindo 13.(5 micra de comprimento por 8.5 micra de 
largura. Capsula do esporo sem estriação apparente. Duas capsulas 
polares ellipsoides medindo cada uma delias (5.8 micra de com- 
primento por 2,2 micra de largura. Na parte posterior de cada 
capsula polar observa-se nitidamente o núcleo da capsula polar 
sob a forma de pequenos grânulos intimamente unidos e forte- 
mente chromophilos quando coloridos pelo methodo de Leish- 
mann. O filamento da capsula polar é enrolado no sentido trans- 
versal da mesma. (íermen amoeboide colorido em azul e finamen- 
te granuloso. Núcleo do germen amoeboide de cor avermelhada 
e de forma irregular. Vacuolo iodophilo alongado transversal- 
mente e occupando a parte posterior do esporo. 

Habitai: brancias (?) de Serrasalmo s pilo pleura Kner. Peixe 
de agua doce do Rio Turvo. Pirangy. (Estado de S. Paulo) Brasil 

MYXOHOIÃ S STOKESI (1) n. sp. 

Eig. 2-3. 

Esporos ovoides medindo 8,."> micra de comprimento por ã,3 
micra de largura. Capsulas polares medindo 3.1 micra de compri- 
mento por 1,7 micra de largura. Núcleo da capsula polar arre- 
dondado medindo cerca de 1 micron de diâmetro. 

Capsula do esporo sem estriação apparente. Não logrei obser- 
var os filamentos das capsulas polares bem como o vacuolo io- 
dophilo. 

Habitat: encontrado no tecido sub cutâneo formando um tu- 
mor de cerca de um millimetro de diâmetro no focinho de forma 
joven de Peixe de couro. fam. Siluridae, sub-fam. Pimelodinae gen. 



(1) () nome da especie ê dedicado ã memória de A. Stokes, outro sábio 

e martyr da sciencia, victimado este anno na África quando fazia experiên- 
cias sobre febre amarella. 




BOLETIM BIOLOGICO 



43 



Pimeludella ? (jiiv.). Peixe de agua doce do Rio Turvo. Piraugv. Es- 
tado de S. Paulo, Brasil. 

O tumor acima referido era constituído quasi (}ue exclusiva- 
mente ])or esporos de Myxobulos stokesi. 

O hospedador estava conservado em forniol a 10 e foi col- 
leccionado pelo Dr. R. von Ihering a quem muito agradecemos 
pelo material fornecido. 

HEXXEGIYA 1HERIXG1 n. sp. 

Eig. 1. 

Trophozoito desconhecido, sendo apenas conhecidos os espo- 
ros que foram coloridos pelo methodo de Leismann. Esporos al- 
Iongados com a extremidade anterior rhomba e a parte posterior 
afilando-se gradativamente; comprimento do esporo 22 micra por 
h micra de largura na parte mais ampla. As duas capsulas polares 
estão situadas no terço anterior do esporo, mais ou menos paralle- 
las porem uma delias é mais anterior. Medem as capsulas polares 
3,4 micra de comprimento por 2 micra de largura. 

Xucleo do esporoplasma de forma irregular e eolloeado nas 
proximidades das capsulas polares. 

Vaculo iodophilo quasi ini])erce])tivel nos exemplares corados 
pelo Eeishmann. 

Habitat: branchia ( ?) d e Serrasalmo spilopleura Kner. Peixe de 
agua doce do Rio Turvo. Pirangy. (Estado de São Paulo). Brasil. 



õ -(5 - 1928. 




SciELO 




15 16 1 




t-1 



BOLETIM BIOLOGICO 





Fig. 1. Esporo (U‘ Myxobolus nogu- 
chii n. sp. Augmentado 1.800 v ■- 
zes. Colorido pelo methodo de 
Lcishma nn. 




Fig. 2 & 3. Esporas de Myxobolus 
stokesi n. sp. Augmentados 1.800 
vezes. Coloridos pelo methodo 
de Giemsa. 





Eig. 4. Esporo de Henneguya iheringi n. sp. Augmentado 1.800 vezes. Colo- 
rido pelo methodo de Leihmann. 



C. Pinto. Myxobolus noguchii, M. stokesi e Henneguya iheringi, espe- 
cies novas de Myxosporideos de Peixes de agua doce do Brasil. 




BOLETIM BIOLOCICO 



45 



Trabalho do Laboratorio de Barasitologia da Faculdade de 
Medicina de São Paulo. Brasil. 

Prof. Cathedratico: LAURO TRAVASSOS — Assistente: _ CESAR PINTO 
Monitores: PAULO ARTIGAS, CLEMENTE PEREIRA, ZEFERINO VAZ e 

EDMUR WHITAKER. 



N." 47. 



TADDYELLA nom. nov. pro ROOSEVELTIELLA 

Eig. 1915. 



Pelo Dr. 



R. VON IHERING 



Ao classificar a cspecie de “piranha”, hospedadora da nova es- 
pecie de Myxosporideo, acima descripta, verifiquei, por indica- 
ção do Dr. Cesar Pinto, que o nome generico Rooseveltiella pro- 
posto pelo saudoso ichtyologo Prof. C. H. Eigemnann (Ann. Car- 
negie Museum, Yol. IX, N.° 3-4, Março de 1915) para um grupo 
de especies de peixes de subfam. Serrasalmonineos, está preoc- 
cupado pelo nome generico idêntico, Rooseveltiella Fox (Buli. of 
the Hygienic Laboratory, U. S. Public Health Service, Washington, 
Bul. N.° 97, pg. 7, Outubro de 1914), applicado a Siphonapteros. 

Esta duplicidade poude passar desapercebida, por não ter sido 
incluído no “Zoological Record” o novo nome generico do Sipho- 
naptero de Fox. 

Assim ficará: Taddyella nom. nov. pro Rooseveltiella Eig. 
líllõ, nec Fox 1914. 





4(i 



BOLETIM BIOLOGICO 



Trabalho do Laboratorio de Parasitologia da Faculdade de 
Medicina de São Paulo. Brasil. 

Prof. Cathedratico: LAURO TRAVASSCS — Assistente: — CESAIt PINTO. 

Monitores: PAULO ARTIGAS, CLEMENTE PEREIRA, ZEFERINO VAZ e 

EDMUR WHITAKER. 

N.° 48. 

GLANIDIUM CESARPINTOI n. sp. de Peixe de couro 
(fam. SILURIDAE sub-fam. AUCHENIPTERINAE). 

Pelo Dr. 

R. V O N I H E R I N G 

GLANIDIUM CESARPINTOI n. sp. 

Fig. 1. 

D. 1 -5; V. (5; A. 10. Comprimento da cabeça (até a base da 
peitoral) 5 vezes no comprimento total (excl. Caudal); maior al- 
tura do corpo egual á distancia da ponta do focinho até o re- 
corte posterior da abertura branchial. 

Bocca pequena, mandíbula não prognatha, apenas egualando 
o labio superior. Dentição do intermaxillar e da mandíbula for- 
mada por espiculas reunidas em faixas, cuja largura é egual a 12 
diâmetro ocular. Cabeça inteiramente coberta por pelle grossa, 
que não permitte perceber partes ósseas do craneo. Os dois pa- 
res de narinas formam um quadrilátero quasi perfeito (o par 
posterior um pouco mais afastado entre si que o primeiro); a 
distancia da narina anterior á posterior eguala á 12 da distancia 
que separa o 2.° par entre si ;estas acham-se situadas sobre a 
linha transversal entre os bordos anteriores dos dois olhos, ou 
seja na vertical sobre a commissura. Os barbilhões maxillares ul- 
trapassam a abertura branchial por um diâmetro ocular, encai- 
xando-se em uma dobra da pelle; os barbilhões mentaes medem 
2]3 da distancia internasal; os barbilhões postmentaes medem lj2 
interorbital. l.° raio da peitoral serrilhado nos dois bordos, com 
espinhos gradativamente maiores da base ao apice, onde os pos- 
teriores medem o duplo do comprimento dos anteriores. Compri- 
mento do l.° raio Peitoral egual á distancia que separa a base 
destas duas nadadeiras. Processo humeral fino, recto, semelhante 




BOLETIM BIOLOGICO 



47 



ao l.° raio da Dorsal e extendendo-se até a vertical desta. l.° raio 
da dorsal osseo, porem com o apice prolongado por mais uma ter- 
ça parte por uma porção membranosa; parte ossea serrilhada 
adiante, lisa atraz; seu comprimento egual á base da nadadeira; o 
ultimo raio da dorsal está no meio entre a ponta do focinho e a 
base da adiposa. A Adiposa começa na vertical sobre o fim da 
Anal. Esta é falcada no macho; na femea o bordo posterior é qua- 
si vertical. Caudal fortemente entalhada em V curvo. 

Colorido claro na parte ventral, plúmbeo no dorso; para os 
flancos a pigmentação se torna menos densa; algumas manchas 
irregulares nos seguintes pontos: sobre a cabeça, entre a dorsal 
e a peitoral, atraz da adiposa e um ocello de tamanho duplo do 
olho sobre o bordo basal superior da caudal. Só a nadadeira dor- 
sal tem um triângulo escuro entre a base e o l.° raio; as demais 
nadadeiras são incolores. 

Typo: 3 exemplares (de 105-95 mm.) de Cachoeira de Emas 
(Pirassununga) rio Mogy-guassú, Est. de S. Paulo. 

0 nome desta especie é dado em homenagem ao prezado eol- 
lega Dr. Cesar Pinto e em agradecimento aos muitos favores con. 
que nos tem auxiliado nesta pliase dos nossos estudos, realizados 
graças á hospitalidade do Laboratorio de Parasitologia da Facul- 
dade de Medicina de S. Paulo. 

Ao tempo da publicação da Monographia de A. Miranda Ri- 
beiro (Areh. Mus. Nac. Vol. XVI, 1912, pag. 358) só se conhecia 
a especie typica; hoje acham-se comprehendidas 5 especies bra- 
sileiras neste genero: Glanidium albescens Lütken, da vertente 
atlantica, do Rio de Janeiro ao Amazonas; Gl. ribeiroi Hasemann 
(Ann. Carnegie Mus. 1911, vol. 7, pag. 381, fig-) , Rio Iguassú; Gl. 
melanopterum Ribeiro (Rev. Mus. Paulista, 1918, \ ol. X, pag. 013) 
Piquete, vertente do rio Parahyba; Gl. piresi Ribeiro (Comm. Li- 
nhas Telegr. Estrat.; Zoologia, 1920, pag. 14, fig.) Rio S. Manuel, 
Matto Grosso; Gl. cesar pintoi R. v. Ih. 1928, Rio Mogyguassú, Est 
S. Paulo. 

As duas especies descriptas por A. Miranda Ribeiro diver- 
gem bastante da presente, evidenciando esta maior affinidade com 
G. albescens e ribeiroi. Desta ultima, alias mal caracterizada na 
diagnose original, Gl. cesarpintoi differe pelo perfil mais recto, 
cabeça menor, Anal anterior á Adiposa e talvez pela Dorsal ser- 
rilhada (o que o auctor não menciona) ; Gl. albescens teni. o 
aculeo dorsal serrilhado no bordo posterior, mandíbula progna- 
tha, etc. Característico é o desenho na base da Dorsal da presen- 
te especie. 



cm l 



SciELO 



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48 



BOLETIM BIOLOGICO 



GLANIDIUM CESARFINTOI n. sp. 

Fig. 1. 

D. 1-5; V. 6; A. 1U. Kopfliingc (bis zur Basis des Pektoralstachels) 5 mal 
in der Kórperlãnge (exel. Caudale) ; grôsste Kòrperhòhe gleich dem Abstande 
vom Kopfende bis zum hinterem Schnitte der Kiemenòffnung. 

Mund kiein, der Unterkiefer nieht vorstehend. Die Zahnbãnder, oben 
und unten in schmalem Streifen, walcher so breit ist wie der halbe Augen- 
durchmesser. Kopf oben vòllig mit dicker Haut überdeckt, so dass kein 
Schadelknochen zum Vorschein kommt. Die zwei Xasenlocher bilden fast 
ein Viereck (das hintere Paar steht nur um ein wenig weiter von einander 
ib ais das vordere); der Abstand der beiden Lòcher einer Seite gleicht 
beinahe der Hiilfte des Abstandes des hinteren Paares unter sich; diese 
befinden sieh auf der Querlinie der Vorderrãnder der Augen, welche ver- 
likal über der Mundspalte stehen. Die Lippenbarteln überragen die Kiemen- 
òffnung um einen Augendurchmesser, und sind in eine Furche gebettef; 
die kleinen Kinnbarteln gleichen 2]3 der Internasalweite; die seitlichen 
Kinnabarteln gleichen der li2 der Interorbitalweite. Der erste Pektoralstachel 
ist vorne und hinten gezahnt; an der Spitze sind diese Dornen am lãngsten 
und zwar die hinteren doppelt so lang ais die vorderen; die Liinge dieses 
Stachels gleicht dem Abstande zwischen den beiden Flossen. Der knócher- 
ne, freiliegende Humeralprocess ist schmal und gerade wie der erste Dor- 
salstachel, unter dessen Verticale er endet. Oberhalb der Spitze des ersten 
Dorsalstachels folgt noch 1 4 nieht verknôcherten Flossenstrahles; der Dorn 
ist vorderseits gazahnt, hinten glatt; seine Liinge gleicht der Basis der 
Flosse; der letzte Strahl der Dorsale befindet sich genau in der Mitte zwi- 
schen dem Kopfende und der Basis der Fettflosse. Diese ist kiein und be- 
findet sich senkrecht über dem Ende der Anale. Diese ist beim Mãnnchen 
am Hinterrande ausgebuchtet, beim Weibchen fast senkrecht abgestutzs. Cau- 
dale tief, V - fôrmig ausgeschweift. 

Farbe: Unterseite wisslich, Oberhâlfte bleigrau, dem Rücken entlang 
am dunkelsten; zu den Seiten hinab lòst sich das Pigment allmiihlich in 
vereinzelte Punkte auf; unregelmãssige grosse dunklere Flecken auf dem 
Kopfe, zwischen Rücken u. Brustflosse, und hinter der Fettflosse; an dei 
Basis der oberen Caudalstrahlen ein Ocellus, doppelt so gross ais das Auge. 
Flossen einfarbig hell. nur die Dorsale hat einen basalen Dreieck zwischen 
dem Knochenstrahle u. der Basis. 

Typus: 3 Exemplare (105 - 95mm.) von Cachoeira de Emas (Pirassu- 
nunga) Mogyguassú-Fluss, Staat S. Paulo, Brasilien. 




50 



BOLETIM BIOLOGICO 



Trabalho do Laboratorio de Parasitologia da Faculdade de 
Medicina de São Paulo. Brasil. 

Prof. Cathedratico: LAURO TRAVASSOS — Assistente: — CESAR PINTO. 

Monitores: PAULO ARTIGAS, CLEMENTE PEREIRA, ZEFERINO VAZ e 

EDMUR WHITAKER. 

N." 49. 

Fauna helminthologica dos Ophideos brasileiros (3.°). 

Por 

CLEMENTE PEREIRA 

Em 1896, West descreveu um Trematoide parasito da bocca 
t esophago de Philodryas schotti, com a denominação de Disto- 
mum philodriadum; em 1900, Luehe descreveu um Trematoide 
sob o nome de Opisthogonimus Ucithonotus, que foi pelo proprio 
autor mais tarde identificado ao Distomum pliilodryadum West, 
1896, que passou a pertencer ao genero Opisthogonimus: em 1011. 
Nicoll descreveu outro Trematoide, também do esopbago de Phi- 
lodryas shotti, como sendo differente generica e especificamente 
da espeeie de West, ao qual denominou de Opisthogenes interro- 
gativus; em 1924, Travassos fez ver cpie o genero de Nicoll não ti- 
nha razão para ser diverso do de Luehe, passando então essa es- 
pecie para o genero Opisthogonimus. Dessa maneira, o genero Opis- 
thogonimus ficou possuindo duas especies, o O. pliilodryadum 
(West, 1896), e o O. interrogativus (Nicoll. 1914), que se distin- 
guem com certa facilidade, attentando principalmente para o com- 
primento relativo dos cecuns, e para a situação do póro genital. 
Nas pesquizas cpie estamos levando a effeito sobre os helminthos 
de Ophideos, foi-nos dado encontrar não só as duas especies acima 
referidas, como também uma outra que consideramos nova, dis- 
tinguindo-se das duas outras especies principalmente pelo conside- 
rável diâmetro relativo do acetabulum, e que passamos a descrever 
sob o nome de 

OPISTHOGONIMUS MEGABOTHRIUM n. sp. 

(Figs. 1 a 8) 

As dimensões apresentadas foram tomadas em exemplares 
comprimidos. 




BOLETIM BIOLOGICO 



51 



Comprimento: oscilla entre 2.8 e 4,1 mm. 

Largura: oscilla entre 0,9 e 1.2 mm. 

Corpo alongado, com extremidade anterior arredondada e 
posterior afilada. 

Cutícula aspera, evidenciando espinhos na metade anterior do 
corpo. Ventosa oral deslocada para a face ventral, e medindo 
0,450 a 0,575 mm. de diâmetro; ventosa ventral sessil, bastante 
grande, estendendo-se desde a origem dos cecuns até á zona ova- 
riana, e medindo de 0,725 a 0,800 de diâmetro; a distancia entre as 
ventosas é de mais ou menos 0,325 a 0,450 mm.; pharynge esphe- 
rico e bastante desenvolvido, medindo de 0,175 a 0,225 mm. lon- 
gitudinalmente por 0,200 a 0,275 mm. transversalmente; esopha- 
go curto, variando suas dimensões de 0,100 a 0,275 mm.; cecuns 
longos, terminando de 0,500 a 0,833 mm. da extremidade posterior. 

Ovário arredondado, para-mediano, equatorial, no limite pos- 
terior da zona acetabular, e medindo de 0,125 a 0,300 mm. de 
diâmetro; testículos arredondados, equatoriaes, com os campos 
afastados, com zonas não coincidindo exactamente, geralmente in- 
tra-cecaes ou attingindo também a area extra-cecal, e cujo diâme- 
tro é de 0,275 a 0,500 mm.; póro genital mediano, na zona testi- 
cular; bolsa do cirrus longa, recurvada, indo da zona acetabular 
á zona testicular, e medindo de 1,075 a 1,250 mm.; vagina longa, 
estendendo-se da zona testicular á ovariana, e medindo de 1,333 
a 2,83 mm.; glandula da casca para-ovariana; vitellinos com folli- 
culos disseminados na area intracecal, e estendendo-se da zcna 
ovariana até bem para traz da zona testicular; o utero dirige-se da 
zona equatorial para traz, formando alças geralmente espessas, que 
diffieultam a visibilidade dos cecuns; ovos castanhos, operculados, 
medindo de 0.027 a 0,034 mm. de comprimento por 0,015 a 0.027 
mm. de largura. 

Ao longo do tubo digestivo, da cobra autopsiada foram encon- 
tradas muitas formas jovens do parasito em questão, e de algumas 
delias damos medidas e dezenhos: 



Exemplares . 
Figuras . 
Comprimento . 
Largura . 
Ventosa oral . 
Ventosa ventral. 



A 


13 


C 


D 


5 


6 


7 


8 


0,616 mm. 


0,870 mm. 


1,116 mm. 


1.268 mm. 


0,385 „ 


0,415 „ 


0,539 „ 


0,685 „ 


0,254 „ 


0,254 ,. 


0,323 „ 


0,284 „ 


0.184 „ 


0,223 „ 


0,323 „ 


0,308 „ 



cm l 



SciELO 



11 12 13 14 15 16 17 




BOLETIM BIOLOGICO 



0,038 „ 
0,084 
0,002 „ 


0,100 „ 


0,130 „ 
0,115 „ 
0,115 „ 


0,115 

0,107 

0,123 


0,095 „ 


0,040 „ 


0,064 „ 


0,068 


0,046 „ 


0,046 „ 


0,053 „ 


0,053 


0,046 „ 


0,061 „ 


0,130 „ 


0,115 



Esophago 
Cecuns . 

Ovário 
Testículos 

Bolsa do cirrus . 

Vagina 

f compri. . 

Ovos . 

\ larg. . . 

Habit: Esophago e bocca de Rhadinoea merremii e de Ophis 
merremii. 

Proveniência: Est. de S. Paulo. Brasil. 

Remettente: Instituto de Butantan. 



Fig. 1 
Fig. 2 
Fig. 3 



Fig. 4 

Fig. 5 
Fig. 6 
Fig. 7 
Fig. 8 



EXPLICAÇÃO DAS FIGURAS 

Opisthogonimus megabothrium n. sp., visto de frente. 

„ „ „ visto de lado. 

„ „ „ „ pouco desenvol- 

vido. 

„ „ „ „ bolsa do cirrus 

da fig. 1. 

„ ., „ „ exempl. jovem (A), 

„ „ „ „ (B). 



cm l 



SciELO, 



11 12 13 14 15 16 17 




BOLETIM BIOLOGICO 



55 



Algumas formigas do Museo Paulista. 



I’or 



TH. BORGMEIER 



Em outubro do anuo passado tive occasião de estudar du- 
rante algumas semanas a importante colleeção de formigas exis- 
tente no Museu Paulista. Entre o material montado encontrei 
varias espeeies novas, que em parte descrevo no seguinte, sendo 
que as outras serão descriptas opportunamente. 

Deixo aqui assignalados meus sinceros agradecimentos ao il- 
lustrado professor Affonso d’E. Taunay, actual director do Mu- 
seu Paulista, pela gentileza com que me franqueou a bibliotheca 
e as collecções daquelle estabelecimento, e me confesso não menos 
devedor de gratidão ao prezado amigo snr. H. Luederwaldt, che- 
fe da secção de invertebrados, pela extrema amabilidade com que 
me tratou durante os dias felizes em que pude trabalhar em sua 
companhia. As novas espeeies foram confirmadas pelo dr. C. Me- 
nozzi. 

ECITOX (ACAMATUS) TAUXAYI, n. sp. — macho. 

(F5g. 1) 

Macho — Comprimento total 10,8 mm. 

Cabeça pequena, sua largura (inclusive os olhos) exceden- 
do o duplo do comprimento no meio (até o bordo anterior do 
clypeo). Olhos pequenos fortemente convexos, occupando quasi 
toda a região lateral da cabeça e deixando sómente um pequeno es- 
paço entre a margem ocular anterior e a inserção das mandíbulas; 
os lados da cabeça não são prolongados para atraz dos olhos. 
Oeellos pequenos, distando os oeellos lateraes quasi duas vezes 
mais da margem ocular do que do ccello anterior. Lamellas fron- 
taes aproximadas entre si, prolongadas até o nivel do ocello an- 
terior e em seguida curvadas em direcção para os olhos, repre- 
sentando uma carena saliente obtusa e formando uma fovea pro- 
funda, circular, nas immediaçces da inserção das antennas. Entre 
as lamellas frontaes ha um profundo sulco longitudinal. Clypeo 
muito curto, achatado, margem anterior inerme, muito ligeira e 
largamente chanfrada em forma de arco concavo. Escapo um 



cm l 



SciELO 



11 12 13 14 15 16 17 




õC 



BOLETIM BIOLOGICO 



pouco mais comprido do que os lados da cabeça, não notavelmen- 
te engrossado, cylindrico, ligeiramente curvado; funiculo com- 
prido; primeiro articulo muito curto e um pouco adelgaçado, apro- 
ximadamente tão comprido como largo ou só pouco mais comprido 
do que largo; segundo articulo um pouco mais comprido do que 
largo; artículos 3-5 tornando-se progressivamente um pouco mais 
compridos; artículos 6-11 sub-iguaes; articulo terminal o mais 
comprido de todos, delgado, com a extremidade apical não apon- 
tada. Mandíbulas curtas e delgadas, não achatadas, no meio for- 
temente curvadas para dentro, com a extremidade apical apon- 
tada; bordo exterior convexo, bordo interior no terço basal com 
um denticulo muito pequeno e obtuso. 

Mesonoto distinctamente mais largo do que a cabeça (inclu- 
sive os olhos) e, visto de cima, cobrindo o pronoto. Epinoto, 
visto de perfil, com a face basal muito curta e a face declive, 
comprida, abrupta, muito ligeiramente côncava, os ângulos late- 
raes entre as duas faces arredondados. Estigma epinotal em forma 
de fenda. Peciolo de formação semelhante ao de Eciton spegaz- 
zinii Em. macho, mas anteriormente mais abruptamente trunca- 
do, distinctamente mais curto, visto de cima duas vezes mais 
largo do que comprido, ângulos anteriores visto lateralmente, no- 
tavelmente mais convexos do (pie em spegazzinii, face dorsal não 
escavada, ângulos posteriores não protrahidos. 

Abdomeil relativamente curto e pouco curvado, face dor- 
sal vista de perfil ligeiramente convexa, face ventral levemente 
côncava. Primeiro segmento gástrico um pouco mais comprido 
do que o segundo. Placa sub-genital formada mais ou menos co- 
mo em spegazzinii, mas atraz com chanframento semicircular 
mais estreito. Pernas curtas e delgadas. Unhas denticuladas. 

Inteiramente brilhante. Thorax com ponteação fina e densa- 
mente agrupada. Cabeça com pontos mais grossos, esparsos; re- 
gião genal mais densamente ponteada. Mandíbulas com pontos 
piligeros. 

Pellos erectos escassos e curtos na cabeça, mais compridos e 
mais abundantes nas mandíbulas e no escapo. Pubescencia ad- 
jacente do thorax semelhante á de spegazzinii, mas notavelmente 
mais curta, particularmente na face declive do epinoto. Peciolo 
na face ventral com pellos erectos, compridos. Abdômen com pu- 
bescencia adjacente muito curta, fina e pouco densamente agru- 
pada. Pernas com pubescencia densa, curta, obliqua. 

Cabeça, thorax e peciolo de coloração preta ou pardo-enne- 




BOLETIM BIOI.OGICO 



o/ 

grecida, abdómen vivamente vermelho-pardacento. Escapo preto e 
funiculo pardo-escuro. Patas ennegrecidas. extremidade distai das 
tibias e tarsos ferrugineos. 

Holotypo no Museu Paulista (Xr. 1ÍK587), proveniente de S. 
Paulo (Ypiranga), Luederwaldt leg. V — 1!)16, de manhan á beira 
do caminho. 

Xota — Esta especie nova é visinha de E. spegazzinii Em., de 
que possuo um exemplar macho proveniente de La Plata (ex coll. 
Wasmann). Mas E. taimayi é distinctamente menos comprido e 
differe também pela formação do peciolo e pela pubescencia me- 
nos abundante. 



Münnchen. — Gesamtlsinge cipca 10,8 mm. 

Kopf klein, mil den Augen mehr ais doppelt so brelt wie in der Mitte 
lang (bis zum Vorderrand des Clypeus) Augen stark konvex, klein. nur durei; 
cincn schmalen Zwisehenraum von der Insertion der Mandibeln entfernl. 
Kopfseiten hinter den Augen nicht verlãngert. Occllcn klein, der seitlichc 
Ocellus ist vom Augenrand fasl doppelt so weit entfernt wie vom 
vorderen Occelus. Stirnteistcn einander genaehert, bis zum Xiveau des vor- 
deren Ocellus verlãngert und dann seitlieh zu den Augen umgebogen, eine 
erhabene, abgerundete Leiste darstellend, welche um die Insertion der Fühler 
eine tiefe rundliche Grube bildet. Zwischen den Stirnleisten eine tiefe I.üngs- 
furche. Clypeus sehr kurz, abgeflacht; Vorderrand unbewehrt, sehr schwach 
und breit bogig ausgerandet. Schaft nur wenig langcr ais die Kopfseiten, 
nicht merklich verdickt, cylindrisch, leicht gebogen. Geissel lang, 1. Glied 
sehr kurz und etwas verdünnt, ungeführ so lang wie breit oder nur wenig 
liinger, 2. Glied ein wenig lânger ais breit, 3-5. Glied allmâhlisch lânger 
werdend. 6-11. Glied unter sich ungeführ gleichlang, 12. Glied am liingsten, 
schlank, am Ende nicht zugespitzt. Mandibeln kurz und dünn, nicht abgeflacht, 
auf der Mitte stark nacli innen gekrümmt, am Ende zugespitzt, Aussenrand 
konvex, Innenrand, auf dem basalen Drittel mit sehr kleinem, stumpfen Zahn. 
Mesonotum deutlich breiter ais der Kopf einschliesslich der Augen, vorn 
stark konvez und bei Dorsalansicht das Pronotum verdeckend. Epinotum im 
Profil mit sehr kurzer Basalfãche und lânger, steiler, sehr schwach konkaver 
abschüssiger Flüche, die Seitenecken zwischen beiden Flãchen abgerundet. 
Epinotalstigmcn sehlitzformig. Petiolus ühnlich gebaut wie bei spegazzinii 
Em., aber vorn steiler abgestutzt, deshalb kürzer, bei Dorsalansicht etwa 
zweimal so breit wie lang, Vorderecken im Profil deutlich enger abgerundet 
und stürker konvex ais bei spegazzinii, Dorsalseite nicht konkav, Hinter- 
ecken nicht ausgczogen. Gaster relativ kurz und gerade, Dorsalseite im Profil 
leicht konvex, Unterseite schwach konkav. Erstes Segment nur wenig liinger 
ais das zweite. Subgenitalplatte ühnlich geformt wie bei spegazzinii, aber 
hinten weniger weit ausgebuchtet. Beine kurz und zart. Klauen gezühnt. 

Ganz glünzend. Thorax dicht und fein punktiert. Kopf mit zerstreuten, 
groberen Punkten, Wangen dichter punktiert. Mandibeln mit haartragenden 
Punkten. Abstehende Haare spürlich und kurz ain Kopf, lünger und reichliche- 
an Mandibeln und Scapus. Pubescenz des Thorax ühnlich wie bei spegazzinii, 
aber bedeutend kürzer, besonders auf der abschüssigen Flüche des Epinotums. 
Petiolus auf der Ventralseite mit zieralich dichten, abstehenden Haaren. Gaster 
mit sehr kurzer, anliegender, seidenschimmernder Pubescenz. Beine mit dich- 
ter, schüger, kurzer Behaarung. Fürbung schwarz bis schwarzbraun, Gaster 




.'8 



BOLETIM BIOLOGICO 



lebhaft rótlichbraun, Schaft schwarz, Geissel dunkelbraun. Beine schwarzlich. 
aber distales Ende der Tibien und Ta r sen rotlich. 

Holotype ini Museu Paulista (Nr. 19687), Luederwaldt leg. V. 1916. Ypi- 
ranga (S. Paulo), des Morgens am NVege. 

Anmerkung: Die neue Art steht E. spegazzinii Em. am nãchsten, wovon 
ich ein Mannchen aus La Plata (e\ coll. Wasmann) besitze, ist aber deutlich 
kleiner und durch die Bildung des Petiolus und weniger reichlinche Behaa- 
rung leieht zu unterscheiden. 

EC1TOV (AC AM ATI S ) BALZAMI MIXEXSES n. sbsp. (operário). 



Comprimento total 3 — 4 1 1 mm. 

Cabeça sem as mandíbulas, aproximadamente tão comprida 
como larga (nos indivíduos menores um pouco mais comprida), 
posteriormente mais estreita do que anteriormente, regiões la- 
teraes arredondadas, lados visto de cima ligeiramente conve- 
xos, ângulos posteriores um pouco protrahidos, bordo posterior 
visto de cima ligeiramente concavo, na realidade porém profun- 
damente chanfrado. Olhos distinctos, collocados um pouco acima 
do meio dos lados da cabeça. Mandíbulas com o bordo exterior 
concavo, aplainadas na metade apical, bordo apical no meio com 
um denticulo distincto. Laminas frontaes curtas, atraz convergen- 
tes e muito aproximadas, para deante moderadamente elevadas 
e aguçadas, excedendo o bordo anterior da cabeça em forma de 
dois ângulos obtusos; anteriormente ellas são continuadas por 
uma quilha ou carena pouco elevada, que rodeia as foveas anten- 
naes; os braços lateraes desta carena convergem para traz e não 
alcançam o meio da fronte. Clypeo pequeno e delgado, mais ou 
menos triangular. Sulco frontal ausente. Escapo ligeiramente 
curvado na base, não alcançando o bordo occipital. Primeiro ar- 
ticulo funicular aproximadamente tão comprido como largo cu 
um pouco mais largo do que comprido, os demais artículos mais 
compridos do que largos, articulo terminal aproximadamente tão 
comprido como os dois artículos antecedentes juntos. 

Prothorax quilhado na margem anterior. Sutura pro-mesono- 
tal obsoleta. Pro-mesonoto visto de perfil, ligeiramente convexo. 
Constricçào epinotal moderadamente profunda. Epinoto um pou- 
co deprimido, aproximadamente = 23 do comprimento do pro- 
mesonoto; face basal vista de perfil, recta, não marginada, ân- 
gulos posteriores fortemente arréndondados; face declive curta, 
vertical, de perfil ligeiramente convexo. Peciolo visto de perfil, 
mais comprido do que alto, post-peciolo mais alto do que com- 
prido, ambos anteriormente na face ventral com um dente obtu- 
so. Vista de cima o peciolo é mais comprido do que largo, o 




BOLETIM BIOLOGICO 



59 



post-peciolo sub-trapeziforme, posteriormente mais largo do que 
anteriormente, em cima arredondado. 

Cabeça, thorax e peciolo moderadamente brilhantes, post- 
peciolo, pernas e abdómen com brilho mais forte. 

Cabeça com ponteação grossa mais ou menos abundante, re- 
gião genal finamente estriada, região frontal no meio densa e 
finamente reticulada, immediações dos ângulos posteriores ru- 
gosas. Mandíbulas finamente estriadas. Pro-mesonoto com pon- 
teação rugosa e reticulação fina. Epinoto e peciolo com rugas ir- 
regulares mais abundantes e mais densamente reticulados. Pleu- 
ras com finas rugas longitudinaes, densamente agrupadas. Post- 
peciolo e gaster glabros, com finos pontos piligeros. 

Corpo e pernas com pelios ereetos abundantes, curtos, ama- 
rello-esbranquiçados. 

Coloração: cabeça, thorax e peciolo escuros, pardo-averme- 
lhados, gaster e pernas amarello-vermelhos; funiculo ferruginoso. 

A descripção se baseia sobre numerosos exemplares prove- 
nientes de Pirapora (Minas Geraes), E. Garbe leg. 1914. 

Typos no Museu Paulista (Nr. 18146) e na minha colleeção. 
Cotypos nas collecções de Santschi e Wasmann. 

Nota : — Esta sub-especie encontrei entre as especies i. litt. 
do snr. H. Luederwaldt sob o nome de E. minense n. sp. O snr. 
Luederwaldt me confiou amavelmente a descripção desta novi- 
dade, que eu considero como sub-especie de balzani Em. (Buli. 
Soc. Ent. Ital. 26, 1894, 182) de que se distingue pela coloração 
mais escura, esculptura do promesonoto etc. 

Lãnge 3-414 mm. 

Kopf ohne Mandibeln beim maior umgefãhr so lang wie breit, beim mi- 
nor etwas liinger ais breit; hinten schmaler ais vorn, Seiten abgerundet, 
leicht konvex, Hinterecken ewas vorgezogen, Hinterrand bei Dorsalansicht 
leicht konkav, in Wirkliehkeit tief ausgebuchtet. Aiigen deutlich, etwas über 
der Mitte der Kopfseiten. Mandibeln mit konkavem Aussenrand, auf der a«pi- 
kalen Hiilfte abgeflacht, Kaurand in der Mitte mit einem deutlichen Zãhnchen, 
Stirnleisten kurz, nach hinten konvergierend und stark genâhert, nach vorn 
miissig erhòt und geschãrft, den Kopfvorderrand in Gestalt zweier stumpfer 
Ecken überragend; in unmittelbarer Verliingerung der Stirnleisten sind die 
Fühlergruben vorn und seitlieh von einer kielartigen, wenig erhabenen, ge- 
bogenen Leiste eingefasst; die Seitenkiele konvergieren nach hinten und en- 
den noch unter der Stirnmitte. Clypeus klein und schmal, mehr oder weniger 
dreieckig. Stimfurche fehlend. Fühlerschaft an der Basis schwach gebogen, 
nicht bis zuni Hinterrand reichend, etwa um die Hiilfte seiner Breite von 
demselben entfernt. 1. Geisselglied etwa so breit wie lang oder etwas breiter, 
die übrigen Glieder liinger ais breit, Endglied ungefãhr so lang wie die bei- 
den vorhergenden zusammen. Prothorax am Vorderrand gekielt. Promesono- 
talsutur fehlend. Promesonotum im Profil leicht und gleichmãssig konvex. 
Epinotaleinschnürung miissig tief. Epinotum etwas gesenkt, etwa — 2 1 3 der 
Lãnge des Promesonotums; Basalfliiche im Profil gerade, nicht gerandet, 
Hinterecken stark abgerundet; abschüssige Flãche kurz, vertikal, im Profii 




í)0 



BOLETIM BIOLOGICO 



leicht konvex. Petiolus ini Profil lãnger ais hoch, Post-petiolus hóher ais 
lang, beide ventral vorn mit einem stumpfen Zahn. Bei Dorsalansicht ist der 
1. Knoten etwas lãnger ais breit, der zweite annãhernd trapezfòrniig, hinten 
breiter ais vorn, ungefãhr so breit wie lang, oben abgerundet. 

Kopf, Thorax und 1. Stielchenglied massig stark glãnzend, Postpetiolus 
Beine und Gaster mit stãrkerem Glanz. Kopf mehr oder weniger dicht grob 
punktiert, ausserdem an den Wangcn sehr fein lãngsgestreift, in der Stirn- 
mitte dicht und fein genetzt und in der Nahe der Hinterecken gerunzelt. 
Mandibeln fein lãngsgestreift. Promesonotum grob punktiert und gerunzelt, 
zwischen den Punkten genetzt. Epinotum und Petiolus dichter unregelmãssig 
gerunzelt und genetzt; alie Pleuren mit feinen und dichten Lãngsrunzeln. 
Postpetiolus und Gaster glatt, nur mit feinen haartragenden Punkten.. Abste- 
hende Behaarung an Kòrper und Beinen reiehlich, kurz, weisslich gelb. Fãr- 
bung: Kopf, Thorax und 1. Stielchenglied m. o. \v. dunkel rotbraun, Postpe- 
tiolus etwas heller. Gaster und Beine rotgelb, Geissel rostfarben 

Beschrieben nach vielen Exempla ren aus Pirapora (Minas Geraes), E. 
Garbe leg. 1912. Typen im Museu Paulista (Xr. 18446) und in meiner Saniin- 
lung. Cotypen in coll. Santschi und Wasmann. 

Anmerkung: Diese Unterart fand sich im Museu Paulista unter den Arten 
in lit. des Herrn Luederwaldt. Die Tiere waren mit E. minense n. sp. 
bezettelt. Herr Luederwaldt hatte die Güte, mir die Beschreibung zu über- 
lassen. Ich halte sic für eine Unterart von balzani Em. (Buli. Soc. Ent. Ital. 
26, 1894, 182), wovon sie durch die dunklere Fãrbung und die Skulptur des 
Promesonotums leicht zu unterscheiden sind. Bei balzani sollen nach Emery 
die Augen fehlen (oculis nullis), was ich bezweifeln mõchte. 



GNAMPTOGENYS YPIHAXGEXS1S n. sp. — ( operário ) 

Operário: — Comprimento total 5,5 mm. 

Cabeça sem as mandíbulas, um pouco mais comprida do que 
larga, os lados ligeiramente convexos, ângulos posteriores arre- 
dondados, bordo posterior recto. Olhos convexos, collocados mui- 
to pouco a baixo do meio dos lados da cabeça. Mandíbulas um 
pouco mais delgadas do que em G. sulcata Smith, bordo apical 
com denticulos muito curtos. Clypeo mais largo do que compri- 
do, com o bordo anterior recto. Antennas robustas; escapo ligei- 
ramente curvado no terço basal, em seguida paulatinamente um 
pouco engrossado, ultrapassando os ângulos posteriores por um 
espaço igual á sua largura; primeiro articulo funicular um pou- 
co mais comprido do que todos os demais artículos, com excepção 
do articulo terminal, o qual é um pouoo mais comprido do que 
os dois antecedentes sommados. 

Thorax alongado, mais delgado do que em sulcata, com a 
região dorsal um pouco aplainada e os lados ligeiramente arre- 
dondados, sem suturas distinctas. Prothorax sómente um pouco 
mais largo do que o resto do thorax. O perfil do thorax é ligeira- 
mente convexo no pronoto, descrevendo em seguida uma linha 
quasi recta até a face declive do epinoto. Sutura pro-mesonotal 
completamente apagada, sutura meso-epinotal muito levemente 




BOLETIM BIOLOGtCO 



GI 



aecusada. Constricção lateral do epinoto muito fraca, face decli- 
%e curta, obliqua. Peciolo mais comprido do que largo, posterior- 
mente mais largo e mais alto do que anteriormente, ângulos pos- 
teriores arredondados, bordo anterior recto, bordos lateraes vis- 
tos de cima, divergentes para traz, ligeiramente convexos, atraz 
da largura maxima convergentes; visto de perfil, o peciolo é mais 
comprido do que alto. Abdómen mais esbelto do que em sulcata. 
Pernas delgadas. 

Todo o corpo com brilho forte. Cabeça com estrias grossas 
longitudinaes (aproximadamente 24 estrias entre os olhos), diver- 
gindo as estrias lateraes para os ângulos posteriores. Clypeo com 
estrias mais finas. Mandíbulas com pontos alongados. Todo o 
thorax com estrias grossas longitudinaes (aproximadamente 11 
estrias no dorso, na região da constricção epinotal) ; as estrias 
dorsaes são quasi todas parallelas, só de vez cm quando duas se 
reunem formando em seguida uma só estria; as estrias das pro- 
pleuras são posteriormente um pouco curvadas para cima, as es- 
trias da face declive do epinoto divergem muito ligeiramente per- 
to do bordo posterior. Peciolo anterior e posteriormente com es- 
trias arqueadas transversaes, lateralmente com estrias arqueadas 
longitudinaes; na face dorsal as estrias descrevem uma ellipse 
muito comprida (com forte e estreita convexidade anterior), di- 
latando-se progressivamente para baixo e tornando-se quasi re- 
ctas perto do bordo anterior (inferior) e lateral (interior). Pri- 
meiro e segundo segmentos gástricos com estriação mais fina 
do que o thorax, sendo as estrias regulares e longitudinaes; só- 
mente o primeiro segmento gástrico no meio do dorso perto do 
bordo posterior com algumas estrias curvadas transversaes. 

Cabeça, corpo e pernas com pellos erectos relativamente 
abundantes, finos, esbranquiçados amarellos. 

Coloração preta, nas articulações dos membros e nas imbri- 
cações dos segmentos de vez em quando com reflexos côr de fogo, 
mandibulas, antennas e artículos terminaes dos tarsos amarello- 
ferruginosos, pernas pardo-ennegrecidas. 

A descripção se baseia sobre dois exemplares do Museu Pau- 
lista (Nr. 1Õ736), provenientes de S. Paulo (Ypiranga), Lueder- 
waldt leg. 2, I. 1911. Typos no Museu Paulista e na minha col- 
lecção. 

Nota: — Esta especie característica é visinha de G. sulcata 
Smith, mas differe pela formação do thorax, esculptura mais 
grossa, formação do peciolo, etc. Confrontei-a com um exemplar 



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de G. sulrata v. lineata Mayr (Menozzi det.) existente na collecção 
do Museu Paulista (Luederwaldt leg., Ypiranga). 

— Gesamtlânge circa õ,5 mm. 

Kopf ohne Mandibeln ein wenig liinger ais breit, Seiten leich} konvex, 
Hinterecken abgerundet, Hinterrand gerade. Augen konvex, nur sehr wenig 
unter der Mitte der Kopfseiten, gelegen. Mandibeln etwas schmãler ais bei 
G. sulcata Sniith, Apikalrand mit sehr kurzen Zãhnchen. Clypeus breiter ais 
lang, mit geradcm Vorderrand. Antennen krãftig; Schaft auf dem 1. Drittel 
ein wenig gebogen, dann zum Apex allmahlich ein wenig verdickt, ungefãhr 
um seine Breite die Hinterecken übrragend; 1. Geisselglied etwas lãnger ais 
alie übrigen mit Ausnahme des Endgliedes, das etwas langer ist ais die bei- 
den vorhergehenden zusammen. Thorax liinglich, schlanker ais bei sulcata, 
dorsal etwas abgeflaeht und an den Seiten gerundet, ohne deutliche Suturem 
Prothorax nur wenig breiter ais der Rest des Thorax. Pronotum leicht konvex 
im Profil, im übrigen bildet das Dorsum eine gerade Linie bis zur abschüs- 
sigen FlUche des Epinotums. Promesonotalsutur vôllig ausgelòscht, Mesoepi- 
notalsutur sehr schwach angedeutet. Laterale Epinotaleinschnürung sehr 
gering. Abschüssige Flãehe des Eipinotums kurz, allmiihlich schief abfal- 
lend. Petiolus liinger ais breit, hinten breiter und hõher ais vorn, Hinterec- 
ken abgerundet, Vorderrand gerade, Seitenrãnder bei Dorsalansicht nach hin- 
ten divergierend, schwach konvex, hinter der grõssten Breite wieder auf eine 
kurze Strecke konvergirend; im Profil ist der Petiolus langer ais hoch. Gas- 
ter dünner ais bei sulcata, Beine schlank 

Der ganze Kôrper mit ziemlich starkem Glanz. Kopf grob liingsgestreift 
(etwa 24 Streifen zwischen den Augen); die Strcifcn divergieren an den Seiten 
zu den Hinterecken hin. Streifen des Clypeus feiner. Mandibeln mit lãngli- 
chen, grübchenartigen Punkten. Thorax in seiner ganzen Ausdehnung liings- 
gestreit (etwa 11 Streifen auf dem Dorsum in der Gegend der Epinotalkon- 
striktion), Streifen des Dorsums faste parallel (nur zuweilen vcreinigen sich 
zwei Streifen zu einem) Streifen der Propleuren etwas nach hinten aufwãrts 
gebogen, Streifen dtr abschüssigen Fliiche des Epinotums in unmittelbarer 
Xãhe des Hinterrandes schwach divergierend. Der Petiolus ist vorn und hin- 
ten bogig quergestreift, an den Seiten bogig liingsgestreift; dorsal vvird so eine 
sehr flache Ellipse gebildet (mit scharfer Kurve nach vorn), die Kurven er- 
weitern sich nach unten allmahlich, in der Nãhe des Unterrandes sind 
die Streifen vorn und an den Seiten fast gerade. Streifen des 1. und 2. 
Gastersegments feiner ais die des Thorax, regelmassig làngsgerichtet, nur 
das 1. Segment dorsal in unmittelbarer Nahe des Hinterrandes bogig quer- 
gestreift. Kopf, Kôrper und Beine mit ziemlich reiehlicher, feiner, wcissgelber 
abstehender Behaarung. Fiirbung pechschwarz, an den Gelenken und ara 
Gaste rende dunkelfeuerrot, Mandibeln, Antennen und Endglieder der Tarsen 
rostgelb, Beine schwarzbraun. — Beschrieben nach 2 Exemplarem aus dem 
Museu Paulista (Xr. 15736), Luederwaldt leg. S. Paulo (Ypiranga) 2, I. 1911. 
Typen im Museu Paulista und in meiner Sammlung. 

Anmerkung: Diese charakteristische Art ist verwandt mit G. sulcata Smith, 
unterscheidet sich aber durch schlankere Bildung des Thorax, gròbere Skulp- 
tur, Bildung des Petiolus etc. Sie wurde mit einem Exemplar von G. sulcata 
v. lineata Mayr vergiichen (Menozzi det.), das sich in der Sammlung des 
Museu Paulista befindet (Luederwaldt leg., Ypiranga). 

EUPONERA ( TRA CHYMESOPUS) STIC, MA 
COMPRESSINODIS n. subsp. — ( operário ) 

Operário: — Comprimento total 4 mm. 

Cabeça sem as mandíbulas, muito pouco mais comprida do que 



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larga (1 mm. por 0,918 mm.), anteriormente um pouco estreitada, 
lados ligeiramente convexos, ângulos posteriores um pouco menos 
arredondados do que em stigma s. str., bordo posterior ligeira- 
mente concavo. Olhos muito pequenos, chatos, separados da in- 
serção mandibular por uma distancia aproximadamente igual 
ao seu diâmetro longitudinal. Mandíbulas com 7 dentes. Episto- 
ma com quilha longitudinal distincta e a margem anterior arre- 
dondada. O escapo alcança exactamente o bordo posterior. La- 
mellas frontaes um pouco menos convergentes do que na especic 
typica. Pronoto mais largo do que comprido. Mesonoto mais lar- 
go do que comprido (relativamente um pouco mais largo do que 
em stigma s. str.), visto de cima aproximadamente semicir- 
cular, margem posterior recta (num exemplar de stigma s. str.. 
Museu Paulista Nr. 11372. proveniente das Antilhas, o bordo, pos- 
terior é ligeiramente convexo e os bordos lateraes são mais 
convexos do que na nova sub-especie). Epinoto anteriormen- 
te entre os estigmas tão largo como posteriormente (em sti- 
gma s. str. distinctamente estreitado anteriormente), sómente 
no melo um pouco comprimido; face basal com o perfil li- 
geiramente convexo, um pouco mais comprida do que a face 
declive. Peciolo, em comparação com a especie typica, nota- 
velmente mais comprido em sentido longitudinal e mais delga- 
do, principalmente perto do bordo superior arredondado. 

Clypeo, mandíbulas, face declive do epinoto e peciolo (prin- 
cipalmente na face posterior) brilhantes, cabeça quasi mate, tho- 
rax com brilho ligeiro, gaster um pouco mais brilhante. Mandí- 
bulas lisas, com pontos piligeros esparsos, perto da base fina- 
mente estriadas. Cabeça densamente ponteada, thorax e gaster 
com ponteação menos densa. Pubescencia da cabeça abundante, 
sedosa, menos densa no thorax e no gaster. Pellos erectos espar- 
sos e moderadamente compridos, clypeo de cada lado com 1 cer- 
da comprida. 

Coloração preta; mandíbulas, clypeo, metade anterior do me- 
sonoto, bordo posterior do pronoto, face declive do epinoto, me- 
tade inferior das pleuras, peciolo, face anterior e extremidade do. 
gaster vermelho-pardos, claros ou escuros; antennas e pernas 
mais amarello-pardas, com excepção dos quadris anteriores que 
são vermelho-pardos. 

Holotypo 1 — no Museu Paulista (Nr. 9966), Luederwaldt 
leg. 30. IX. 1907, Raiz da Serra, S. Paulo. 



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Arbeiter. — Lãnge 4 mm. 

Kopf ohne Mandibeln nur sehr wenig lãngcr ais breit (I mm.: 0,918 mm.) 
vorn etwas schmaler ais hinten, Seiten leicht konvex, Hinterecken etwas 
weniger breit abgerumlet ais bei stigma s. str., Hinterrand mit schwacher 
konkaver Ausbuchtung. Augen sehr klein, flach, ungcfahr um ihren Langs- 
-durchmesser von der Mandibelinsertion entfernt. Mandibeln mit 7 Zühnen. 
Epistom mit deutlichem Mittelkiel und abgerundeten Vorderrand. Fühler- 
schaft genau bis zum Hinterrand reichend. Stirnleisten iiber den Fühler- 
gruben relativ etwas weniger stark konvcrgierend und nicht so weit gc- 
niihert wie bei der typischen Art. Pronotum breiter ais lang. Mesonotum 
relativ etwas breiter ais bei stigma s. str., breiter ais lang, bei Dorsalansicht 
ungcfahr halbkreisfôrmig, Hinterrand annãhernd gerade (bei einem Exem- 
plar von stigma des Museu Paulista, Nr. 11372, aus Westindien ist der 
Hinterrand etwas nach vorn konvex und die Seitenrãnder sind starker kon- 
vex ais bei der neuen Unterart). Epinotum vorn zwischen den Stigmen so 
breit wie hinten (bei stigma s. str. vorn deutlich schmaler und nach hinten 
ullmahlich verbreitert), nur in der Mitte seitlich ein wenig zusammenge- 
drückt. Basalflache im Profil leicht konvex, etwas lãnger ais die abschüssi- 
ge Flíiche. Stielchenknoten im Langssinne deutliche mehr zusammengedriickt 
ais bei stigma s. str., besonders in der Nãhe des abgerundeten Randes viel 
diinner. 

Mandibeln, Clypeus. abschiissige Flíiche des Epinotums und Petiolus (be- 
sonders auf der Hinterseite) glãnzend. Kopf fast matt, Thorax mit schwa- 
chem Glanz, Gaster etwas mehr glãnzend. Fiihler schwach glãnzend. Kopf 
<licht punktiert, Thorax und Gaster weniger dicht. Mandibeln glatt, mit zer- 
streuten haartragenden Punkten, in der Nãhe der Basis fcin gestreift. Anlie- 
gende Pubescenz am Kopf sehr richlich, seidenschimmernd, weniger dicht 
an Thorax und Gaster. Abstehende Behaarung zerstreut und mãssig lang. Cly- 
peus jederseits mit 1 auffallenden, langen Borste. Fãrbung schwarz; Mandi- 
beln, Clypeus, vordere Halfte des Mesonotums, Hinterrand des Pranotums, 
untere Hâlftc aller Pleuren, abschiissige Flãche des Epinotums, Stielchen, 
Vorder-seite und Hinterende des Gasters hell rotbraun bis dunkel rotbraun; 
Fiihler und Beine mehr gelbbraun, mit Ausnahme der Vorderhüften, die rot- 
braun gefarbt sind. — T>pe 1 Arbeiter im Museu Paulista (Nr. 9963), Luc- 
derwaldt leg. 30, IX. 1907, Raiz da Serra, S. Paulo. 

IR1DOMYRMEX RIOGRANDEXSIS n. sp. — ( operário ) 

Comprimento total 2 11 mm. 

Cabeça sem as mandíbulas, um pouco mais comprida do que 
larga, anteriormente estreitada, lados distinctamente convexos, 
angufos posteriores- largamente arredondados, bordo posterior re- 
cto ou ligeiramente concavo. Olhos chatos, collocados no primeiro 
terço dos lados da cabeça. Mandíbulas com 1 dente apical e ou- 
tro sub-apieal e 3 — 1 denticulos curtos. Clypeo visto de perfil, li- 
geiramente convexo, bordo anterior aproximadamente recto. La- 
minas frontaes curtas. Antennas delgadas. Escapo ultrapassando 
o bordo posterior por um pouco menos do que um terço do seu 
comprimento. Todos os artículos do funiculo distinctamente mais 
compridos do que largos; segundo articulo um pouco mais com- 
prido do que o terceiro. 

Thorax mais robusto do que em leucomelas Em. Pronoto 




BOLETIM BIOLOOICO 



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visto de perfil, convexo. Sutura pro-mesonotal distincta. Mesono- 
to visto de perfil, uma linha recta. Constricção epinotal modera- 
damente profunda. Face basal do epinoto muito ligeiramente con- 
vexa, um pouco menos comprida do que a face declive, a qual é 
bastante abrupta e ligeiramente marginada. 

Ligeiramente brilhante. Corpo e appendices em toda a par- 
te muito finamente reticulados, ponteados. Pubescencia muito cur- 
ta, densamente agrupada. 

Coloração sujo-amarella ou ferruginosa, cabeça e gaster ge- 
ralmente mais escuros, pernas e antennas mais pallidas. Meus 
exemplares estiveram durante 14 annos conservados em álcool; in 
natura a coloração talvez seja mais escura. 

A deseripção se baseia sobre numerosos exemplares prove- 
nientes de Neu Wuertemberg (Rio Grande do Sul), E. Garbe 
leg. X, 11414. 

Typos no Museu Paulista (Nr. 19113) e na minha colleção. Co- 
typos na collecçáo de Santschi. 

Xota: — Esta especie é visinha de L. leucomelas Em. (in v. 
Ihering, Berl. Ent. Zeitschr. 39, 1894, 378 nota), mas se distingue 
pelo thorax mais robusto, epinoto menos convexo, sutura epino- 
tal menos profunda e coloração differente. 



Lãnge 2 14 mm 

Kopf ohne Mandibeln etwas lãnger ais breit, vorn verschmãlert, Seiten 
deutlich konvex, Hintereeken breit abgerundet, Hinterrand gerade, oder 
schwach ausgebuchtet. Augen flach, ungefiihr am 1. Drittel der Kopfseiten. 
Mandibeln mit 1 apikalen und 1 subapikalen Zahn uud 3-4 kurzen Zãhnchen. 
Clypens im Profil leicht konvex, Vorderrand annahernd gerade. Stirnleisten 
kurz. Fühlcr schlank. Scliaft um etwas weniger ais 1|3 den Hinterrand über- 
ragend. Alie Geisselglieder deutlich lãnger ais breit, 2. Glied etwíís lãnger 
ais das dritte. Thorax krãftiger gebaut ais bei leucomelas Em. Pronotum im 
Profil konvex. Pro-mesonotalsutur deutlich. Mesonotum im Profil eine ge- 
rade Linie. Epinotalsutur mãssig tief. Basalflâche sehr schwach konvex, etws 
kiirzer ais die steile anschüssige Flãche, die schwach gerandet ist. 

Mãssig glãnzend. Uberall sehr fein genetzt punktiert. Anliegende Pubes- 
cenz ãusserst kurz und fein, dicht. Fãrbung hell schmutzig gelb oder mehr 
rostgelb, Kopf und Gaster gewòhnlich dunkler, Beine und Fühler blasser. 
Meine Exemplare lagen 14 Jahre inAIkohol; in natura diirfto die Fãrbung 
dunkler sein. 

Zahlreiehe Exemplare aus Xeu Würtemberg (Hio Grande <lo Sul), E. 
Garbe leg. X. 1914. Tytpen im Museu Paulista (Nr. 19113) und in meiner Sarnm- 
lung. Cotypen in coll. Santschi 

Anmerkung: Verwandt mit I. leucomelas Em., aber Thorax robuster, 
Epinotum weniger tief. Audi die Fãrbung verschieden. 

NEOCOLOBOPSIS nov. subg. 

Este novo sub-genero de Camponotus reune em si caracteres 
de Hypercolobopsis For. (fosselas para alojamento do escapo) e 







BOLETIM BIOLOGICO 



Manniella Wheel. (truncamento da fronte), mas possúe vários ca- 
racteres negativos que o differenciam nitidamente desses dois sub- 
generos. E’ claro que o novo sub-genero por emquanto só tem valor 
nominal. Typo representado pela seguinte especic nova. 

Diese neue Untergattung von Camponotus vereinlgt in sich Charaktere 
von Hypercolobopsis For. (Furchen für Aufnahnie des Fühlerchaftes) und 
.Manniella Weel. (Abstutzung der Stirn), besitzt aber sogenannte negative 
Merkmale, die sie deutlieh von diesen beiden Untergattungen untercheidet. 
Es ist klar, dass die neue Fntergattung vorlãufig nur nominellen Wert besitzt. 
Typus ist die folgende neue Art. 

CAMPONOTUS < NEOCOLOBOPSIS ) SCRÒBIFER n. sp. 

( Fig . 2-4) 

— Comprimento total 8,5 mm. 

Cabeça <Fig. 4) sem as mandíbulas, tão comprida como larga, 
anteriormente disfinctamente estreitada, bordos lateraes convexos, 
principalmente em baixo tios olhos, ângulos posteriores arredon- 
dados, bordo posterior ligeiramente convexo. A cabeça é anterior- 
mente truncada obliquamente, mais ou menos até o nível da me- 
tade dos olhos; a parte truncada tem os bordos lateraes arredon- 
dados (não aguçados), passando superiormente entre as lamel- 
las frontaes (no nivel dos olhos), com forte convexidade para a 
região occipital; ao lado do clypeo a parte truncada é ligeiramente 
impressa. Olhos ovaes, chatos, separados da margem superior, in- 
distincta da parte truncada, por uma distancia aproximadamente 
igual ao seu diâmetro transversal. Mandíbulas moderadamente 
fartes, fechadas, com 4 dentes visíveis. Clypeo não impresso, tra- 
peziforme, um pouco mais comprido do que anteriormente lar- 
go, bordo anterior aproximadamente recto, bordos lateraes intei- 
ramente rectos, com quilha longitudinal distincta, com as meta- 
des lateraes ligeiramente declives em forma de telhado. Area 
frontal pequena, triangular. Sulco frontal presente, no principio 
ligeiramente accusado, um pouco acima da inserção das anten- 
nas ligeiramente aprofundado, no nivel dos olhos apagado. La- 
mellas frontaes ligeiramente em forma de S, fracas deante da in- 
serção das antennas, em seguida formando uma crista aguçada, 
acompanhada lateralmente por uma profunda fosseta para aloja- 
mento do escapo, divergindo para traz e exténdendo-se até além 
do nivel da margem ocular superior. Como o truncamento da fron- 
te vae superiormente até além da inserção das antennas, as fosse- 




BOLETIM BIOLOGICO 



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tas antennaes também são convexas, vistas de perfil. Escapo ul- 
trapassando os ângulos occipitaes pelo dobro da sua largura, cur- 
vado no primeiro terço, lateralmente um pouco comprimido, li- 
geiramente engrossado no terço distai. Funieulo delgado; o com- 
primento relativo dos artículos é representado na photomicro- 
graphia (Fig. 2). 

Thorax moderadamente robusto. Pronoto arredondado nos 
lados, aplainado na região dorsal. Sutura pro-mesonotal distincta, 
convexa para deante. Mesonoto mais comprido do que largo, de 
perfil ligeiramente convexo. Metanoto curto, distinctamente li- 
mitado. Sulco epinotal distincto. Face basal do epinoto, vista de 
perfil, convexa, face declive obliqua, um pouco menos comprida 
do que a face basal. Peeiolo distinctamente mais alto do que 
comprido, em cima mais largo do que na base, com os bordos 
superior e lateraes arredondados. Abdómen relativamente curto. 
Femures comprimidos lateralmente. 

Cabeça e pernas ligeiramente brilhantes, o resto do corpo mais 
ou menos mate. Cabeça densa e finamente reticulada, parte trun- 
cada com pontos piligei'os esparsos. Mandíbulas ponteadas e mui- 
to finamente estriadas. 

Cabeça com abundantes pellos erectos, curtos, amarellados; 
os pellos da região truncada são muito curtos. Dorso do thorax, 
peeiolo e abdómen com pellos erectos abundantes, moderadamen- 
te compridos; adbomen também com pubescencia adjacente es- 
parsa. Pernas (particularmente os quadris anteriores) com abun- 
dantes pellos erectos.. 

Coloração pardo-avermelhada, peeiolo e gaster mais escuros, 
pardos. Mandíbulas e funieulo pardo-escuros, escapo mais claro. 

Obreira. — Comprimento total 5 - 5,5 mm. 

Cabeça, sem as mandíbulas, distinctamente mais comprida do 
que larga, anteriormente um pouco menos larga do que atraz dos 
olhos , relativamente muito convexa em sentido longitudinal, bor- 
dos lateraes atraz dos olhos fortemente convexos, e, quando vistos 
de cima, formando quasi um semicírculo com o bordo posterior. 
Olhos convexos, collocados mais ou menos no segundo terço. Man- 
díbulas com (i denticulos. Clypeo em forma de telhado, com aresta 
obtusa. Area frontal ligeiramente impressa. Sulco frontal repre- 
sentado por uma crista fina, curta, pouco saliente, terminando 
ainda entre as lamellas frontaes, as quaes são fracas e curtas. Es- 
capo ultrapassando por mais da metade o bordo posterior. Su- 
tura meso-epinotal quasi apagada. Peeiolo conico, um pouco mais 
alto do que comprido. 



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BOLETIM BIOLOGICO 



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Quasi mate, mandíbulas, antennas e pernas ligeiramente bri- 
lhantes. Cabeça com reticulação extremamente fina. Pubescencia 
adjacente abundente no corpo e relativamente comprida. Pellos 
erectos no clypeo e entre as lamellas frontaes, no dorso do thorax. 
no peciolo, nas pernas e mais abundantes no abdômen. 

Coloração amarello-ferruginosa, ás vezes mais escura. Man- 
díbulas e antennas pardacentas. 

iA descripção se baseia sobre 1 soldado e 5 operários provenien- 
tes de Guarujá (Est. de S. Paulo), Herm. v. lhering leg. 28. VIII. 
1910, em madeira. (Museu Paulista Nr. 15864). 

Nota: — Da mesma especie vi ainda um soldado (comprimen- 
to 7,5 mm.) de S. Paulo (Matto do Governo), Luedenvaldt leg. 8. 
X. 1906 (Museu Paulista Nr. 5595), o qual não foi tomado em con- 
sideração na descripção acima, por discordar em vários pontos, 
ao que me parece de importância secundaria, do exemplar de 
Guarujá. 



— Lãnge 8,5 mm. 

Kopf ohne Mandibeln so lang wie breit, vorn deutlich verschmãlcri, 
Seitenrãnder besonders unterhalb der Augen konvex, Hinterrand schwach 
konvex. Der Kopf ist vorne bis oberhalb der Fühlergruben (ungefãhr bis 
zum Niveau der Augenmitte) schrãg abgestutzt; die abgestutzte Flãche ist 
an den Seiten stumpf (nicht scharf) gerandet und geht auf der Stirn in der 
Hohe der Augen mit starker Konvexitiit allmãhlich in die Occipitalregion 
iiber; seitlieh des Clypeus ist sie bis etwas oberhalb der Fühlergruben schwach 
eingesenkt. Augen' oval, flach, etwa um ihren Querdurehmesser vom 
undeutlichen Rande der Stutzflãche entfernt. Mandibeln massig stark, ge- 
schlossen, 4 Ziihne sichtbar. Clypeus nicht eingesenkt, trapezfórmig, etwas 
lãnger ais vorn breit, Vorderrand annãhernd gerade, Seitenrãnder ganz ge- 
rade, in der Mitte mit deutlichem Lãngskiel, die beiden Seitenhãlíten sanft dach- 
fõmig abfallend. Stirnfeld klein, dreieckig. Stirnfurche vorhanden, anfangs 
schwach oberhalb der Fühlergruben zu einer schwachen Liingsgrube vertieft, 
bald darauf (auf dem Niveau der Augen) ausgelôscht. Stirnleisten leicht S 
— fórmig, vor den Fühlergruben schwach, darauf eine scharfe Leiste dartel- 
lend, welche die tiefe Fühlerrinne z. t. überwòlbt, nach hinten divergierend 
und bis oberhalb des Niveaus des Augenhinterrandes reicheml. Da die Stutz- 
flãche 1: is deutlich oberhalb der Fühlergruben reicht, sind die Fühlerrinnen 
auch im Profil konvex. F'ühlerschaft um das Doppelte seiner Breite die Hin- 
terecken überragend, auf dem 1. Drittel gebogen, im ganzen seitlieh etwas 
zusammengedrückt, am letzten Drittel etwas verdickt. Geissel schlank, die 
relative Liinge der Glieder ist aus der Photographie ersichtlich. Thorax nnis- 
sig kriiftig. Pronotum dorsal etwas abgeflacht, an den Seiten abgerundet. 
Promesonotalsutur deutlich, nach vorn konvex. Mesonotum lãnger ais breit. 
im Profil sehr schwach konvex. Metanotum kurz, deutlich abgegrenzt. Epi- 
notalfurche deutlich. Basalflãche des Epinotums im Profil konvex, abschüs- 
sige Flãche schief, etwas kürzer ais die Basalflãche. Stielchenknoten deutlich 
hôher ais lang, oben breiter ais an der Basis, Ober — und Seitenrand abge- 
rundet. Hinterleib ziemlich kurz. Schenkel seitlieh zusammengedrückt. 

Kopf und Beine mit sehwachem Glanz, der übrige Kórper mehr oder 
weniger matt. Kopf dicht und fein genetzt, die Stutzflãche ausserdem mit 
zerstreuten haartragenden Punkten. Mandibeln punktiert und sehr fein lángs- 
gestreift. Kopf mit reichlichen abstehenden, kurzen, gelblichen Haaren, 




BOLETIM BIOLOGlCO 



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die der Stutzflache sehr kurz. Thoraxrücken, Stielchen und Gaster mit reich- 
lichen abstehenden, mãssig Iangen Haaren; Gaster ausserdem mit zerstreuter 
anliegender Pubescenz. Beine reichlich abstehend behaart, besonders die Vor- 
<lerhüften. Fiirbung ròtlieh-braun, Stielchen und Gaster dunkler, braun. Man- 
dibeln und Geissel dunkelbraun, Schaft heller. 

Kopf ohne Mandibeln deutlich liinger ais breit, vorn etwas schmaler ais 
hinten, im Lãngssinne ziemlich stark konvex, Seitenrãnder über den Augen 
stark konvex, bei Dorsalansicht mit dem Hinterrand fast einen Halbkreis 
bildend. Augen ungefahr am zweiten Drittel, konvex. Mandibeln mit 6 Zãhn- 
chen. Clypeus dachfòrmig, stumpf gekielt. Stirnfeld etwas eingesunken. Stirn- 
furche kurz. durch eine feine, wenig erhabene Leiste reprasentiert, die noeh 
zwischen den schwachen und kurzen Stirnlisten endet. Fühlerschaft um mehr 
ais die Hãlfte den Hinterrand überragend. Mesoepinotalsutur fast ausgelòscht. 
Schuppe konisch, etwas hoher ais lang. 

Fast matt, Mandibeln, Antennen und Beine schwach gliinzend. Kopf 
iiusserst fein genetzt punktiert. Anliegende Pubescenz überall reichlich und 
ziemlich lang. Abstehende Haare auf Clypeus, zwischen den Stirnleisten, 
am Thoraxrücken, Stielchen, reichlicher am Gaster; auch die Beine abste- 
hend behaart. Fãrbung rostgelb, zuweilen etwas dunkler. Mandibeln und 
Fiihler braunlich. 

Beschrieben nach 1 Soldat und õ Arbeitern aus Guarujá (Staat S. Paulo), 
Herm. v. Ihering leg. 28. VIII, 191U, in Holtz (Museu Paulista X. 15864). 

Anmerkung: Von derselben Art lag mir noch ein Soldat vor (Lãnge 

7.5 mm.) aus S. Paulo (Matto do Governo), Luederwaldt leg. 8. X. 1906 (Mu- 
seu Paulista Xr. 5595), der in der obigen Beschreibung nicht berücksichtigt 
wurde, weil er in mehreren Punkten, wie mir scheint von untergeordneter 
Bedeutung, von dem Exemplar aus Guarujá abweicht. 

Ao/a: — As photomicrographias que acompanham o presen- 
te traballio, foram tiradas com a objectiva de Zeiss “Planar” 1 : 

1.5 mm. (Figs. 1, 3 e 4: F = 3,5 cm.; Fig. 2: F — 2 cm.) e chapas 
sensíveis para eòres (Color-Platten de Westendorp & Wehener, 
Colonia). Usou-se o écran verde. 



Rio de Janeiro, Abril de 1928. 






BOLETIM BIOLOGICO 



Fig. 1 — Eciton (Acamatus) taunayi 
n. sp. macho. 



rig. 2 — Camponotus (Neocolobo- 
psis) scrobifer n. sp. soldado, 
antenna. 



Fig. 3 — Camponotus (Neocolobo- 
psis) scrobifer n. sp. soldado. 



Fig. -! — Camponotus (Neocolobo- 
psis) scrobifer n. sp. soldado, 
cabeça de frente. 



Borgmeier. Algumas formigas do Museu Paulista. 



Th 



SciELO 




BOLETIM BIOLOGICO 



71 



Trabalho do Laboratorio de 1’arasitologia da Faculdade de 
Medicina de São Paulo. Brasil. 

Prof. Cathedratico : LAURO TRAVASSOS — Assistente: — CESAR PINTO. 

Monitores: PAULO ARTIGAS, CLEMENTE PEREIRA, ZEFERINO VAZ e 

EDMUR WHITAKER. 

N." 50. 

Nematoides de Invertebrados (VI). 

Por 

PAULO ARTIGAS 

HYSTRIGNA THUS POLITUS n. sp. 

Fig. ir-t 2. £ 3 

Estudando a fauna de Passalideos provenientes do interior do 
Estado, encontramos pela primeira vez isolada uma especie de 
Hystrignathus, que é a que agbra descrevemos. E’ a nona especie 
que incorporamos ao genero, mas somente desta especie é que 
vamos descrever tanto a femea como o macho, pois habitualmente 
estes nematoideos se encontram em franca promiscuidade no di- 
verticulos intestinaes dos seus hospedadores de maneira a não 
ser possível a diagnose especifica dos machos; foi esta, como dis- 
semos, a primeira opportunidade qiíe tivemos de observar um Hi/s- 
trignathus isolado. 

Femea. — Comprimento 1,8 mm. Largura 0,14 mm. Cutieula 
inerme, com estriaçáo transversal. Lábios pouco aparentes e co- 
locados sobre uma expansão cephalica característica; vestíbulo 
bem differenciado com 0,004 mm.; esophago com uma porção an- 
terior cylindrica de 0,3 mm., uma porção intermediaria estreitada 
de 0,035 mm. e um bulbo posterior de 0,064 de diâmetro; intestino 
rectilineo, anus a 0,33 da extremidade posterior; cauda forte e su- 
bulada. Apparelho genital monodelpho e prodelpho; ovário, ini- 
ciando-se anteriormente, dirige-se para traz; utero orienta-se para 
diante, contem poucos ovos; vagina regularmente longa; vulva col- 
locada a 0,82 da extremidade caudal e formando uma ligeira sa- 
liência sobre a cutieula. Ovos medindo no utero 0,092 mm. por 
0,0 17 mm. 

Macho. — Comprimento 0,72 mm. Largura maior 0,075 mm. 




BOLETIM BIOLOGICO 



72 

Cutícula lisa; lábios não aparentes. Ha uma expansão cephalica 
de pequeno desenvolvimento. Esophago apresentando uma por- 
ção anterior que tem de comprimento 0.135 mm. e um bulbo pos- 
terior piriforme com diâmetro maior medindo 0,042 mm. Intesti- 
no rectilineo; cloaca sub-terminal a 0,091 da extremidade caudal; 
cauda muito curta, truncada. Não ba um verdadeiro apparelho es- 
picular, existe porém uma formação chitinósa unica com a forma 
de um bastonete alongado que dá uma maior resistência á porção 
terminal. I ubo testicular sem inflexão nenhuma. Ha uma papilla 
impar preanal e uma outra ad-anal pouco evidente. 

Habitat: Diverticulos do intestino de Passalideos. 

Provenicia: Bofete (E. de São Paulo). 

LEPIDONEMA TARDA n. sp. 




Nas nossas pesquizas de nematoideos parasites de invertebra- 
dos não se nos deparara até a presente data nenhum Lepidonema: 
Genero creado por Cobb em 1898, tendo como especie typo L. bi- 
furcata, encontrada em uma larva de insecto. A publicação de Cobb 
loi feita no Agric. Gaz. N. S. \V., Sydney, ix, 315; consistia a des- 
cripção unicamente de uma legenda e figura com a formula que 
adopta aquelle notável helminthologista. Encontramos agora um 
nematoideo que, a nosso ver, deve ser um novo Lepidonema; em- 
bora, pela nossa observação, os dados morphologicos não se su- 
perponham com exactidão aos dados descriptivos que Baylis Ç 
Daubney enumeram no seu catalogo de famílias e generos de ne- 
matoideos. 

O nematoideo que vamos descrever foi encontrado nos mes- 
mos hospedadores de H. politus: os dois generos Lepidonema e 
Hysrignathus são muito proximos, mas Lepidonema de prompto 
se isola pela duplicidade do utero. Descrevemos apenas a femea, 
accidentalmente foram destruídos os exemplares masculinos que 
possuímos, pelo que temos que esperar por uma nova opportuni- 
dade para descrever o macho de L. tarda. 

Comprimento; 2,82 mm. Largura maxima 0,27 mm. Cutícula 
com estriaçào transversal, apresenta na região anterior fileiras de 
espinhos que deixam de existir ao nivel do bulbo do esophago. 
Tres lábios pouco salientes; pharinge mal differenciado; esophago 
tendo uma porção anterior de 0,8 mm. e terminando por um bulbo 




BOLETIM BIOLOGICO 



75 




Fig. 2 




Artigas, Paulo. Nematoides de Invertebrados (6.°). 



,r> 





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BOLETIM BIOLOGICO 



Contribuição para o conhecimento do apparelho reproductor 
e da reproducção dos Blattideos. 

Por 

S. DE TOLEDO PIZA JUNIOR 

O apparelho reproductor de Leucophaea surinamensis acha-se 
localisado posteriormente, na região ventral do abdômen. 

Os tubos ovarianos (ovariolos) , ao contrario do que acontece 
com Periplaneta em que o seu numero é normalmente constante, 
variam, não só de indivíduo para indivíduo, como em um mesmo 
indivíduo, de ovário para ovário. Os limites dessa variação não se 
acham ainda fixados, pois as minhas observações foram feitas 
em um numero relativamente pequeno de femeas. Nestas, comtu- 
do, tive a opportunidade de encontrar de 12 a 23 ovariolos para 
cada ovário, sendo, por conseguinte, provável, que uma ootheca 
possa conter até 46 embryões, embora a maior por mim encontra- 
da contivesse apenas 36. 

Cada ovário se continua por um oviduclo que se reune ao seu 
congenere dando origem a um tubo ovariano impar (gonoducto ) , 
o qual depois de um pequeno percurso, dilata-se para constituir o 
uterus. Este se communica com uma grande bolsa genital onde se 
dá o desenvolvimento do embryão. Esta bolsa é formada por um 
sacco de paredes finas, que, quando o numero de embryões é gran- 
de e o seu desenvolvimento adeantado, póde distender-se até oc- 
cupar toda a cavidade abdominal, comprimindo os orgãos e o 
tubo digestivo de encontro á parede dorsal do abdômen. 

Os embryões se dispõem transversalmente na bolsa genital, em 
duas camadas, sendo ahi reunidos em um capsulo ou ootheca. 

Em minhas observações nunca tive a opportunidade de encon- 
trar uma ootheca fóra do organismo materno; também, não foi 
dado observar o nascimento das larvas. Entretanto, pude, em va- 
rias dissecações praticadas, constatar, na ootheca, embryões em 
adeantado estado de desenvolvimento, e em dois casos, pequenas 
larvas com todos os seus appendices já formados, prestes a nascer. 
Isso leva-me a crer que Leucophaea seja uma barata ovo-vivipara, 
quer dizer, que toda a ontogenese se passe no organismo materno, 
nascendo as larvas no momento da expulsão da ootheca. 




BOLETIM BIOLOGICO 




Os receptáculos seminaes ( receptuculiim seminis, spermathe- 
ca) são bem desenvolvidos e se apresentam sol) fôrma de dois lon- 
gos tubos espiralados, terminados na extremidade livre por uma 
empola oviforme, inseridos symetricamente sobre a parede dor- 
sal do oviducto eommum. Sob este ponto de vista Leucophaea dif- 
fere grandemente de Periplaneta na qual se observa uma unica 
spermathcca relativamente muito menor, que se abre dorsalmente 
na ])arede superior da bolsa genital, na placa ebitinosa correspon- 
dente ao IX sternite. 

A presença de duas spermathecas tão desenvolvidas dá a es- 
pecie em questão uma organisação muito mais adequada á repro- 
ducção sexuada do que a de qualquer outro Blattideo. Entretanto, 
não é isso o que se verifica. Na Europa e na America do Norte onde 
os estragos causados ás plantas de estufa têm chamado a attenção 
para esse insecto nocivo, bem como entre nós, não se conseguiu, 
até boje, assignalar a presença de um só macho. E’ possível, entre- 
tanto, que este venha um dia a ser encontrado nos climas tropicaes. 
Leucophaea surinamensis é, pois, dotada da faculdade de se re- 
produzir por partheuogenesis (Ihehjlokia) . As criações isoladas 
feitas com o fim de verifieár 'experimentalmente esse modo de 
reproducçâo, não me deram nunca resultados completos. Assim 
é que todas as femeas obtidas de larvas enclusuradas, morreram 
antes do nascimento das novas larvas. Apezar de não haver po- 
dido conseguir larvas vivas por esse modo, pude, com tu do, cons- 
tatar, extrahindo a ootheca das femeas que morriam em eapti- 
veiro, a presença de embryões em avançado estado de desenvol- 
vimento e mesmo a de larvas já perfeitamente constituídas e 
prestes a nascer. As minhas observações bastam, portanto, para 
demonstrar que a segmentação do ovo c o consequente desenvol- 
vimento do embryão se dão sem que o ovulo haja sido fecundado. 

Piracicaba. Junho 





78 



BOLETIM BIOLOGICO 




Apparelho reproductor de Leucophaea surinamensis: ov, ovários (ovariolos', 
ovi, oviducto, gdi, gonoducto impar; ut, uterus; sp, spermatheca; gla, 
glandulas annexas; b, bolsa genital e ootheca. 

































































































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. 



































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2 3 4 5 



7 SCÍELO) 71 12 ]_ 3 14 15 16 




BOLETIM BIOLOGICO 



Brasil. 



S. Paulo, 22 de Setembro de 1928. 



Fascículo 13. 



Um caso de coccidiose intestinal humana por ISOSPORA 
BELLI, observado em S. Paulo 

Pelo 

Prof. Dr. A . C A R I N I 

Nas fezes de uma menina, que nos foram trazidas ao La- 
boratorio, em 22 de junho p.p., para exame microscopico, tive- 
mos oecasião de encontrar oocystos de eoccidios, pertencentes á 
especie Isospora belli. 

Poucos dias depois pudemos examinar a criança e recolher 
a observação. N. Sc. de 4 annos de idade, nascida em S. Paulo 
de paes italianos. E’ um pouco franzina, mas de desenvolvi- 
mento regular. Nada de notável ao exame clinico. 

Contou-nos a mãe que em fins de Maio a menina teve um 
pouco de febre e como estava pallida e com pouco appetite foi 
chamado um medico. Este tendo examinado a urina c encon- 
trado uma pequena quantidade de pús, receitou urotropina. 

Passados alguns dias, os paes administraram-lhe um ver- 
mífugo, que determinou a espulsão de um grosso Ascaris. Dias 
depois, a menina queixava-se de ligeiros desarranjos intestinaes 
(dores abdominaes, evacuações irregulares, ás vezes diarrhéa, 
presença de filamentos de muco nas fezes) e a familia nos pediu 
o exame das fezes, para verificar se haviam ainda vermes no 
intestino. 

As fezes eram pastosas, de cor café com leite, com poucas 
mucosidades. 0 exame microscopico revelou a presença de al- 
guns oocystos de Isospora belli, raras Amebas moveis da dy- 
senteria, raríssimos flagellados e poucos ovos de Trichuris tri- 
chiura. 

A conselho do seu medico a menina foi submettida a tra- 
tamento durante algum tempo, o exame das fezes repetido depois 



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BOLETIM BIOLOGICO 



varias vezes não revelou mais a presença dos coccidios, emquanlo 
continuavam, embora raras, as Amebas, e os ovos de Trichuris. 

Tivemos occasião de ver a menina algumas semanas depois 
e ella vae bem. 

Os oocystos não eram numerosos nas fezes, mas nas pre- 
parações encontrava-se um exemplar cada 10 a 12 campos mi- 
croscópicos. Apresentam forma oval, medindo 28 a 31 micra de 
cumprimento por 10-12 de largura. A membrana é fina, lisa, re- 
sistente. O protoplasma occupa a parte central apresentando-se 
sob a forma de uma esphera granulosa, ainda não segmentada. 
Nas fezes conservadas, nota-se a segmentação do protoplasma. 
Para melhor seguir a evolução dos oocystos, guardamos um 
pouco de fezes, diluidas em sôro physiologico com addição de 
solução de acido chromico a 10 ” °. Pudemos assim constatar que 
o protoplasma vae alongando-se até dividir-se em dois, cada um 
dos quaes transforma-se em um esporo, ligeiramente ovalar de 
cerca 10 micra de diâmetro. No fim de poucos dias, no interior 
de cada esporo vem formando-se quatro esporozooitos, ficando 
também um corpo residual granuloso. Nos oocystos maduros os 
esporozooitos são alongados, vermiformes. 

Nada podemos dizer a respeito do papel pathogeno do coc- 
cidio no nosso caso, visto como os ligeiros desarranjos intestinaes 
podem ser attribuidos á contemporânea presença de outros pa- 
rasitos pathogenos. 

E este o segundo caso de coccidiose intestinal humana ob- 
servado no Brasil, tendo sido o primeiro assignalado em 1925 por 
Cesar Pinto e Genesio Pacheco (1) do Instituto “Oswaldo Cruz’*. 
Este coccidio foi encontrado por Wemjon durante a grande 
guerra, no Oriente, onde é relativamente frequente. Em seguida 
foi achado em quasi todos os paizes. 

Na America do Sul, foi encontrado também em Buenos Aires 
por Castex e Greenway. (2) 



(1) Cesar Pinto e Genesio Pacheco — Sobre a presença da Isospora 
belii Wenyon no Brasil — Sciencia Medica — 1925 n." 7. 

(2) Mariano Castex e Greenway — Coccidiosis humana por Isos- 
pora Belii. La Prensa Medica Argentina — Agosto de 1923. 




BOLETIM 1BIOLOGICO 



81 



CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DOS HEMOPARA- 
SITOS DOS OPHIDEOS 

I Nota: — Nova especie de Trypanosoma parasita do 
Philodryas nattereri 



Dr. SAMUEL PESSÔA 
(Assistente do Instituto de Hygiene) 

Em laminas de sangue de um ophidio terrestre do Brasil, 
Philodryas nattereri , fixadas e coradas pelos methodos de Giemsa 
e Pappenheim, encontramos alguns Trypanosomas, que cremos 
tratar-se de uma nova especie, pois differem quanto a sua mor- 
phologia, dos outros até agora descriptos no sangue dos ophidios. 

Eneontramol-os em numero de 3 a 4 para cada lamina exa- 
minada; variam pouco quanto ás dimensões e não apresentam o 
dimorphismo tão commum nestes protozoários. 

Dimensões: — Em vários organismos medidos encontramos 
as seguintes dimensões medias: 

Comprimento do corpo, flagello, inclusive 16 a 51,8 micra 

Largura do corpo no maior diâmetro — 7 a 9 micra 
Comprimento do flagello livre — 6 a 11 micra. 

adherente — 31 a 37 micra 

Distancia da extremidade posterior ao blepharoplasto — 1,4 
a 1,7 micra 

do blepharoplasto ao núcleo — 17,8 a 20,6 micra 
Núcleo — 3 micra x 2,7 micra. 

O Trypanosoma estudado apresenta um aspecto geral do Try- 
panosoma rotatorium. 

Em esfregaços seccos este parasito enroia-se sobre si mesmo 
tomando uma forma circular, como nos representam as figuras 
juntas. A membrana ondulante, que é larga, cora-se em violeta 
muito pallida. O protoplasma é muito granuloso e vacuolisado, 
cora-se em azul escuro e não apresenta differenças de coloração 
entre as partes situadas acima do núcleo ou abaixo delle, como 



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BOLETIM iBIOLOGICO 



no caso do Trypanosoma mega da rã. O núcleo arredondado acha- 
se regularmente collocado no centro do parasita e bem visivel» 
assim como um pequeno centrosoma. 0 blepharoplasto é muito 
pequeno, arredondado, pois mede 0,3 a 0,5 de micron, acha-se 
sempre situado a pequena distancia da extremidade posterior. 
O flagello livre é pequeno e tinge-se fracamente pelos corantes 
mencionados, sahindo direetamente do blepharoplasto. 

Propomos a esta nova especie o nome de Trypanosoma phy- 
lodriasi. 






BOLETIM BIOLOGICC 



83 



UMA NOVA ESPECIE DE HYMENOPTERO NAS 
SEMENTES DE ANONACEA 



Por 



GREGORIO BONDAR 



Ultimamente o Dr. A. de Costa Lima, Lente da Escola Su- 
perior de Agricultura no Rio de Janeiro, publicou na Revista 
“Chacaras e Quintaes” a descripção de uma nova especie de Mi- 
crohymenoptero Prodecatoma spermophaga C. Lima, da super- 
familia des Chalcidideos, familia de Eurytomideos, cuja larva se 
desenvolve nas sementes de araçá (Myrtacea) e Canavalia (Le- 
guminosa) . 

Xo município de Joaseiro, Estado da Bahia, nas sementes de 
uma Anonacea selvagem, de fructas vermelhas encarnadas quan- 
do maduras, encontramos uma outra especie nova, cuja descri- 
pção constitue objeeto desta communicação. O insecto eviden- 
temente deposita os ovos nos fructos da Anonacea quando o en- 
voluero da semente ainda está molle. A larva desenvolve-se dentro 
da semente, comendo os cotyledoneos. Os adultos se formam e 
sabem antes da frueta amadurecer ou no momento da matura- 
ção, fazendo um orifício circular nas sementes e na casca da 
frueta. As fructas parasitadas as vezes mostram deformações, 
quando as sementes tinham sido atacadas muito novas e abor- 
taram em consequência do bicho. Na maior parte, porém, as 
fructas não mostram signal algum da presença do bicho antes 
de ellc sahir. 



Prodecatoma limai n. sp. 

Fe mea. Comprimento 6 mm.; côr geral uniforme ochraeeo 
amarellada; entre os ocellos ha uma mancha acastanhada escura, 
e uma outra na inserção do pescoço; as antennas um pouco mais 
coloridas do que o resto do corpo, com o segundo segmento 
basal quasi preto; o pedunculo abdominal preto. A cabeça e o 
thorax pontilhados de covinhas mais ou menos hexagonaes; do 
fundo de cada covinha sae um pello curto e ruivo. Azas claras, 
com a nervura estigmal mais escura. Patas uniformamente 
«chraceas. 



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BOLETIM BIOLOGICO 



Ú1 

A éspecie differe da Prodecatoma spermophaga Costa Lima, 
pelo tamanho duas vezes maior, pela falta de coloração no 
thorax, abdomem e nas patas traseiras. 

Dedicamos a especie ao Dr. A. de Costa Lima, notável scien- 
tista brasileiro e nosso distincto amigo. 

Typo dois exmeplares de femeas remettemos ao Dr. Costa 
Lima para serem incorporados as collecções do Museu Nacional 
do Rio. 




BOLETIM BIOLOGICO 



85 



Trabalho do Laboratorio de Parasitologia da Faculdade de 
Medicina de São Paulo. Brasil. 

Prof. Cathedratico: LAURO TRAVASSOS — Assistente: — CESAR PINTO. 
Monitores: PAULO ARTIGAS, CLEMENTE PEREIRA, ZEFERINO VAZ e 

EDMUR WHITAKER. 



N." 52 

Sobre a presença do CIMEX FOEDUS (Stal, 1854) 

no Brasil 



Dr. C E S A R PINTO 

Em 1854 Stal descreveu sob o nome de Acanthia foeda um 
percevejo proveniente de Columbia. 

Em 1873 Stal (Enum. Hemipt. t. 3 pp. 104) deu uma diagnose 
incompleta deste parasita dizendo que “a especie é semelhante 
ao Cirnex lectularius, sendo o processo apical da cabeça mais es- 
treito, não ampliado. Thorax mais estreito. Abdômen na parte 
superior glabro. Cerdas dos bordos lateraes do pronoto e dos 
elytros mais esparsas e mais curtas”. 

Rothschild (1912. Novit. Zool. t. 19. pp. 94-5 fig. 7 e 8) es- 
tudou o apparelho genital do macho e em 1913-4 (Buli. of Entom. 
Res. t. 4. pp. 345) apos exame do exemplar typo diz que são ne- 
cessários novos estudos para firmar-se a especie ( foedus ) como 
differente de Cimex hemipterus. 

O Prof. A. da Costa Lima obteve um exemplar de C. foedus 
proveniente de Xicteroi no Est. do Rio que lhe foi entregue por 
um seu discípulo na Escola Superior de Agricultura e Medicina 
Veterinária. 

Infelizmente o colleccionador não disse onde havia captu- 
rado o exemplar, ignorando-se qual o habitat do Cimex foedus. 

O exemplar classificado pelo Prof. Costa Lima e por nós foi 



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SC 



BOLETIM 'BIOLOGICO 



gentilmente emprestado para uma diagnose mais detalhada que 
daremos abaixo. 



CIMEX FOEDUS (ST AL, 1854) 

Fig. 3, 4, 6 

Syn.: Acanthia foeda Stal, 1854 

Clinocoris foedus Roth., 1912 et 1913-4. 

Exemplar femea montado em balsamo. Comprimento 5 mm.; 
largura do corpo na parte mais ampla 2,1 mm.: 

Comprimento da cabeça: 575 micra. 

Largura ” ” sem os olhos: 525 micra. 

” ” ” com ” ” : 725 ” 

Comprimento dos olhos: 175 micra. 

Largura ” ” : 100 ” 

Cabeça revestida de cerdas finas que recobrem igualmente 
os olhos. 

As cerdas do clypeo medem 77 micra de comprimento e as 
do labro 53-69 micra de comprimento. 

As cerdas que revestem a cabeça medem 61 micra de com- 
primento. 

Entre a origem das antennas e os olhos existem cerdas lar- 
gas, implantadas no bordo anterior da cabeça que medem cerca 
de 72 micra de comprimento. 

O l.° articulo antennal é curto (150 micra de comprimento 
por 100 micra de largura), ligeiramente mais largo do que o 2." 
articulo e revestido de cerdas que medem cerca de 46 micra de 
comprimento. 

O 2." articulo antennal é mais comprido e mais estreito do 
que o l.° medindo 539 micra de comprimento por 38 micra de 
largura. O 2.° articulo é revestido irregularmente de cerdas que 
medem cerca de 46 micra de comprimento. 0 3.° e o 4.° artículos 
estão mal conservados ou faltam no exemplar que estudamos. 

Rostro recto com tres artículos medindo o primeiro cerca 
de 192 micra de comprimento; o segundo articulo 231 micra de 
comprimento e o terceiro articulo 207 micra de comprimento. 
Clypeo sob a forma de um cone truncado (fig. 3 - 4), com a 
extremidade apical mais aguda do que em Cimex hemipterus e 
C. lectiilarius. 




BOLETIM BIOLOGICO 



87 



Pronoto com a morphologia mais ou menos idêntica á do 
Cimex hemipterus, medindo cerca de 525 micra de comprimento 
por 1 mm. de largura, revestido irregularmente de cerdas pon- 
teagudas, as dos bordos lateraes do pronoto são mais largas, ge- 
ralmente recurvadas, com 53-61 micra de comprimento e as ex- 
tremidades apicaes bifidas ou com tres pontas. 

Mesonoto tendo cerdas finas apenas na parte posterior me- 
dindo estas cerdas cerca de 61 micra de comprimento. Metanoto 
com um grupo de cerdas medindo cerca de 58 micra de compri- 
mento, afiladas e agglomeradas principalmente na porção me- 
diana. 

Elytros (fig. 6) medindo cerca de 746 micra de largura. 
As cerdas dos elytros são pequenas do lado da linha mediana e 
augmentam progressivamente em comprimento nos bordos la- 
teraes onde são mais agglomeradas, mais largas e com as extre- 
midades bifidas. As cerdas lateraes dos elytros medem 53-61 micra. 

Primeiro annel abdominal revestido de cerdas em dois terços 
da sua largura; no centro deste annel as cerdas medem cerca de 
58 micra de comprimento, são afiladas e agglomeradas como no 
metanoto. As cerdas não agglomeradas dispõem-se na parte pos- 
terior do annel. 

Os anneis restantes são revestidos de cerdas eollocadas na 
parte posterior dos respectivos anneis. 0 ultimo segmento abdo- 
minal é completamente revestido de cerdas mais longas (100 
micra de comprimento) do que as outras cerdas abdominaes. 

Orgão de Ribaga e Bcrlese collocado iateralmente entre os 
anneis 4.° e 5.“ medindo cerca de 300 micra de largura por 115 
micra de comprimento. 

Femures dos tres pares com 325 micra de largura na parte 
mais ampla. 



Tibia do l.° par com 875 



micra de comprimento 



” ”2° ” ” ()7õ ” ” ” 

” ” 3.“ ” ” 1 mm. e 300 ” 

Tarsos com tres articules. 

Todos os femures, tibias e tarsos são revestidos de cerdas es- 
parsamente dispostas com cerca de 56 micra de comprimento e 
as extremidades apicaes ponteagudas ou bifidas. 

Habitat: desconhecido. 

Distribuição geoyraphica: Columbia e Brasil (Xicteroi, Es- 
tado do Rio de Janeiro). 



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BOLETIM BIOLOGICO 



cl. 





Fig. 1 — Cabeça e pronoto da femea de Cimex lectularius L. 

Fig. 2 — Cabeça e pronoto da femea de Cimex hemipterus (Fabr.). 

Fig. 3 — Cabeça e pronoto da femea de Cimex foedus (Stal). Todas as 
figuras na mesma escala. Original.. 

cl. clypeo; o. olho; c. cabeça; p. pronoto. 




BOLETIM BIOLOGICO 



89 




Fig. 4 — Femea de Cimex foedus (Stal, 1854). Augmento de 80 diâmetros. 
Original. 

C. Pinto. Sobre a presença do Cimex foedus no Brasil. 



V*. 



Foderman, phot 





v 






Fig. 5 — Femea de Cimex hemipterus (Fabr. 1803). Augmento de 60 dia- 
melros. Origina] 

C. Pinto. Sobre a presença do Cimex foedus no Brasil. 

Federman, phot. 



SciELO 



BOLETIM íBIOLOGICO 




BOLETIM EIOLOGICO 



UI 




Fig. e 





Elytro da femea de Cimex foedus (Stal, 1854). Original. 




Fig. 7 — Elytro da femea de Cimex hemipterus. Augmento de 110 dia- 
metros. Original. 

C. Pinto. Sobre a presença do Cimex foedus no Brasil. 






Federman, phot. 




02 



BOLETIM BIOLOGICO 



CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DOS HEMOPARA- 
SITOS DOS OPHIDEOS 

II Neta: — Formas schizogonicas, no sangue peripherico de 
uma hemogregarina do Oxyrhopus trigeminus 

Figs. 1 — 11 
Pelo 

Dr. SAMUEL B . P E S S ô A 
(Assistente do Instituto de Hygiene) 



Em geral a schizogonia das Hemogregarinas se passa no in- 
terior de certas vísceras dos animaes parasitados. E’ mesmo, ex- 
cepcional, o encontro desta forma de divisão no sangue peri- 
pherico. Wenyon, na sua Protozoolcgia, diz: — “Quanto á re- 
currencia de schizontes em fôrma de divisão multinuclear ou 
segmentar no sangue peripherico, devemos lembrar (pie, quando 
este processo se manifesta nos globulos vermelhos, as cellulas 
contendo os schizontes em multiplicação, são geralmente retidas 
nos vasos dos orgãos internos antes do inicio da multiplicação 
cellular. Entretanto, ás vezes as cellulas contendo os schizontes 
podem apparecer no sangue peripherico como se dá no caso do 
Plasmodium falciparum. 

Examinando uma lamina com esfregaço de sangue periphe- 
rico de um ophidio do Brasil, o Oxyrhopus trigeminus, corada 
pelo methodo de Pappenheim, encontrámos formas que, pensa- 
mos constituírem phases de divisão de uma hemogregarina, pa- 
rasita desta serpente. 

Provavelmente a schizogonia se processa da maneira se- 
guinte: O parasita antes de se dividir curva-se fortemente em U; 
suas bordas se juxtapõem, e se fusionam formando uma massa 
ovoide. O núcleo que se conserva na peripheria entra em divisão, 
e o mesmo se dá com o protoplasma formando-se deste modo 
dois e muito excepcionalmente tres novos indivíduos. 

A capsula do parasita continua unica durante todo processo 
divisionário. Não é raro encontrarem-se globulos albergando tres 
indivíduos. 

Tivemos occasião de observar na nossa preparação as phases 
principaes do processo, e cremos, não seria muito temerário sup- 




BOLETIM 1BIOLOGICO 



93 



por tratar-se de uma especie de hemogregarina que apresenta o 
cyclò schizogonico no sangue peripherico. 

As figuras que acompanham esta nota mostram algumas das 
principaes formas encontradas. 

EXPLICAÇÃO DAS FIGURAS 
Fig. 1 — Globulo normal. 

Fig. 2 — ” parasitado per uma Hemogregarina. 

Fig. 3 — ” ” ” duas Hemogregarinas. 

Figs. 3 e 4 — Hemogregarinas em V. 

Fig. 5 — Principio da Schizogonia. 

Fig. 6 — Divisão dando 3 indivíduos. 

Fig. 7 — Globulo parasitado por 3 Hemogregarinas. 

Fig. 8 — Forma mais adiantada da divisão. 

Figs. 9, 10 e 11 — Ultima phase do processo. 



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Pessoa, S. Contrib. ao estudo dos Hemoparasitos dos Ophideos. II.* Xota. 




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Trabalho do Laboratorio de Parasitologia da Faculdade 
de Medicina de São Paulo. Brasil. 

Prof. Cathedratico: LAURO TRAVASSOS — Assistente: — CESAR PINTO. 

Monitores: PAULO ARTIGAS, CLEMENTE PEREIRA, ZEFERINO VAZ 
e EDMUR WHITAKER. 

N.° 53 

NOTAS HELMINTHOLOGICAS (I) 

POR 

CLEMENTE PEREIRA 

SOBRE O MIN U TOR CHIS SANGI INEUS LINTON, 1928. 

Em “Proeeedings of the United States National Museum”, 
vol. 73, Art. I, pp. 24-25, figs. 35-56, sob o titulo geral de “Notes 
on Trematode parasites of Birds”, Linton descreve a especie e 
genero novos, Minutorchis sanguineus Linton, 1928, de Laras atri- 
cilla, proveniente de Massachussets (E. U. A.). 

Em 1921 Travassos teve occasião de publicar no "Brasil- 
Medico”, Anno 35.“, Vol. II, n.° 22, pag. 337, duas novas especies 
de Opistorchidae parasitos de Aves, uma das quaes, o Pachytrema 
magnum Trav. 1921, de Sterna maxima, proveniente do Rio de 
Janeiro (Brasil), é de tal maneira semelhante á especie de Lin- 
ton, que achamos conveniente considerar Minutorchis sanguineus 
Linton, 1928 synonimo de Pachytrema magnum Trav. 1921, bem 
como o genero Minutorchis Linton, 1928 synonimo de Pachytrema 
Looss, 1907. 



Odhner, referindo-se, em nota, ao Minutorchis sanguineus (Arkiw for 
Zoologi, Band 20 B, X.” 2), acha que esta especie é idêntica ao Pachitrema 
calculus Looss, 1907. 

De facto, são especies muito próximas; mas deixando de lado os va- 
lores absolutos, porque as medidas em questão se referem a exemplares 
cie talhe differente, temos ainda uma differença sensível no tamanho re- 
lativo das ventosas: em P. calculus, o acetabulo é maior que a ventosa oral, 
ao passo que em M. sanguineus essa relação é inversa. 

Póde-se invocar ainda um argumento de ordem zoogeographica em 
favor da diversidade das duas especies, qual seja o pertencer o hospedador 
do P. calculus á fauna Palearctica, ao passo (jue M. sanguineus-Pachitrema 
magnum, é encontrado em aves das faunas Neotropiea e Nearctica. 




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Brasil. S. Paulo, 4 de Dezembro de 1928. Fascículo 14. 



Trabalho do Laboratorio de Parasitologia da Faculdade 
de Medicina de São Paulo. Brasil. 

Prof. Cathedratico : LAURO TRAVASSOS — Assistente: — CESAR PINTO. 

Monitores: PAULO ARTIGAS, CLEMENTE PEREIRA, ZEFERINO VAZ 
e EDMUR WHITAKER. 

N.° 60 

OS OVULOS E A DESOVA DOS PEIXES D’AGUA 
DOCE DO BRASIL 

PELOS 

DR. RODO L P HO VON IHERING 
(da Secção de Caça e Pesca, da Secret. da Agricultura) 

JOÃO DE CAMARGO BARROS e NELSON PLANET 
Académicos de medicina 

Um dos objectivos prineipaes da Conimissão designada pelo 
Exmo. Sr. Dr. Fernando Costa, digno Secretario da Agricultura do 
Est. de São Paulo, para estudar a “piracema” de 1927-28, no rio 
Mogy-Guassú, foi a observação da biologia dos peixes dessa re- 
gião. Como para a piscicultura todos os peixes, considerados do 
ponto de vista economico, têm funcções assignaladas : — a) pei- 
xes de boa carne; b) peixes que servem de alimento áquelles e c) 
peixes nocivos, — o biologo deve a todos elles prestar egual atten- 
ção. Os resultados de taes estudos deverão servir de base aos tra- 
balhos práticos, orientando-os pela feição mais concorde com a 
indole natural de cada especie. 

Infelizmente os trabalhos da commissão só puderam forne- 
cer, neste particular, as poucas observações que adeante relatare- 
mos; durante todo o tempo de nossa estadia na Cachoeira de Pi- 
rassununga só havia peixes com óvas imaturas e a melhor epoca, 
a da desova, (que nesse anno, de todo anormal, se deu em Feverei- 
ro), não nos foi permittido assistir. Interessantíssima é a tabella 
referente á contagem dós ovulos de 22 especies de peixes, trabalho 
este executado com toda meticulosidade e, que estamos certos, é o 
primeiro passo dado no Brasil para a orientação segura da de- 
feza dessa grande riqueza natural, que povoa os nossos rios. Fi- 




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BOLETIM BIOLOGICO 



camos assim sabendo, á mão de dados exactos, quanto será facil 
garantir a proliferação dos nossos melhores peixes — pois é certo 
que a mais rudimentar intervenção racional conseguirá pôr a salvo 
uma fracção bem maior do total de ovos do que a que evolue nor- 
malmente dessa quantidade phantastica — 2.619.000 ovulos de um 
só dourado — da qual certamente nem 1/10.000 se salva ao léo 
da natureza. 

Repassando, além disto, a bibliograpbia que elucida questões 
referentes á desova dos peixes brasileiros, pudemos accrescentar 
ás observações próprias as que anteriormente haviam sido publi- 
cadas sobre o mesmo assumpto. E’ pouco, pouquíssimo. Quasi 
tudo, pois, está por estudar e só em plena natureza, á beira dos 
rios, na epoca própria, taes estudos poderão dar os resultados 
desejados. 

I)o catalogo dos peixes de agua doce do Brasil, que está sendo 
organizados por um de nós (R.v. Ih.) , vê-se que o total de 1.380 
especies dos nossos peixes de vários systemas hydrographicos se 
enquadra pela maior parte nas 2 grandes famílias Characideos e 
,V ematognathas, que abrangem, respectivamente 540 e 570 espe- 
cies; afora o pirarucu e outras famílias monotypicas, as 3 famílias 
menores ( Cichlidae , Gynmotidae, e Poecilidae) não merecem 
relevo, pois não encerram peixes de valor economico immediato. 

Deixamos, aqui, de parte as especies puramente marinhas, das 
quaes um ou outro representante se adaptou á agua doce (raias, 
pescadas, etc.) . 

XEMATOGXATHAS — (peixes de couro). 

Bagres — O Dr. 11. von lhering observou no Rio Grande do Sul 
a uesóva dos bagres marinhos, que sóbem pelas embocaduras dos 
rios, nos mezes de Novembro, Dezembro e Janeiro. E’ o seguinte o 
resumo dessa observação, feita no rio Camaquam; 

Bagres ferneas de ( Arius commerssonii) Xetuma barbus 
(Lac.) pegados em Setembro, estavam com os ovários bem desen- 
volvidos, com ovulos quasi maduros; pela contagem foi verificado 
o total de 118 ovulos (sendo 57 de um e 61 de outro lado). A 
desova dá-se em Novembro, Dezembro e Janeiro; os machos pe- 
gam os ovos depois de fecundados e guardam-nos na cavidade 
bucal, em numero de 36 a 48. Esses ovos medem 18 mm. de dia- 
metro e em começo de Fevereiro o embryão já mede 60 mm. de 
comprimento, com o corpo enrolado sobre o sacco vitelino. Só 
raramente também as ferneas incubam taes ovos na bocca e tanto 




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é assim que só excepcionalmente se pegam machos no espinhei, 
pois estes, com a bocca cheia, não pegam na isca. 

Lembra o Dr. Ihering que, em taes circumstancias deve ser 
facil promover a criação artificial dos ovos em aquario, tornando 
assim racional o aproveitamento dessa grande abundancia de ba- 
gres, depois tia epoca da desova; no emtanto, essa pescaria, como 
ainda hoje ella é praticada, conduz ao depauperamento de uma va- 
liosa fonte de renda. 

Porém, certamente nem todas as especies de bagres procedem 
do mesmo modo; ha uma especie australiana que deita seus ovos, 
de 3 mm. de diâmetro, em ninhos cuidadosamente preparados no 
leito dos rios. Devemos ainda lembrar que Schomburgk mencio- 
na até a viviparidade de um Arius como tendo sido observada na 
Guyana, porém os auctores posteriores sempre têm posto em du- 
vida tal indicação e até agora não houve demonstração positiva 
desse facto. 

Nenhuma observação documentada nos consta a respeito da 
desova de nossos bagres e mandys d’agua doce. A’ vista de vários 
exemplos de peixes de couro exoticos, mais ou menos correlatos 
( Glanis da Europa, Ameiuriis dos Estados Unidos) é provável 
que também entre nós haja especies que, como aquellas. depositem 
seus ovos em camas cuidadosamente preparadas, incumbindo de- 
pois ao macho a guarda, a defeza e também a constante limpe- 
za da ninhada. 

Devemos, porém, chamar attenção para os dados anatómicos 
encontrados nos machos de duas especies, que serão descriptos em 
nota a parte. Em um delles ( Pseudo pimelodus zunyaro — bagre 
sapo), ba como que um orgão genital externo; no outro, (bagri- 
nho — Traehycoristideo), o canal ejaculador se prolonga em or- 
gão externo, atravessando o 1." raio da nadadeira anal. 

Mandys — (Pimelodinae) . Ha uma só obsrevação positiva em 
especie desta subfamilia: Conorrhynus nelsoni, de Jucantan, que 
méde quasi 50 cms. de comprimento e corresponde mais ou menos 
ao nosso mandy do gen. Iheringichthys, também com focinho 
curvo, dos tributários do rio Paraná. 

Em dois exemplares machos daquella especie foram encon- 
trados ovos na bocca, sendo que um retinha um só ovo, ao passo 
que no outro exemplar foram encontrados 39 ovos, bem desenvol- 
vidos, também na bocca. 

Mandy Serra — (ou “ Cuyú-cuyú' ou "Abotoado” — familia 
Doradinae) . E’ sabido que varias especies desta familia peram- 



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bulam por terra, em viagens emprehendidas em procura de aguas 
mais abundantes (ao contrario das trahiras que, em analogas cir- 
cumstancias de seccas prolongadas, se enterram no lodo). Para 
taes marchas por terra, esses peixes não estão tão mal apparelha- 
dos como poderá pensar quem não lhes conhecer a estructura. 
O peito e o pedunculo caudal são protegidos por uma couraça 
idêntica á dos "cascudos” (Loricariidae ) ; as aberturas branchiaes 
são estreitas e varias modificações especiaes que se notam em seus 
orgãos internos, tendem também a permittir a esses peixes demo- 
rada permanência fóra d’agua. A marcha effectua-se da seguinte 
forma: o peixe ergue a parte anterior do corpo sobre as nadadei- 
ras peitoraes e, tendo-se curvado em semi-circulo e firmando-se 
sobre o pedunculo caudal, projecta-se para a frente. Tão rudi- 
mentar processo de locomoção ainda assim lhe permitte acom- 
panhar um homem que ande de vagar e as distancias assim venci- 
das attingem ás vezes alguns kilometros. De certa especie de 
Mandy Serra ( Doras hankocki) da Guyana sabe-se que o casal pre- 
para cuidadosamente o ninho, feito de folhagem e no qual ficam 
guardados os ovos, cobertos por matéria vegetal. Tanto o macho 
como a femea montam guarda e corajosamente atacam quem se 
approximar de seu tesouro. 

Tamboatá (ou “Camboatá”; familia Callichtlujclae) — Estes 
peixinhos são do typo dos “cascudos”, mas sua armadura é forma- 
da por duas series de aduelas parallelas; algumas das especies 
andam por terra quando querem mudar de aguas. 

Temos noticias referentes á desova de 2 especies desta familia: 
Hoplusternum littorale, peixinho de um palmo de comprimento; 
foi observado construindo um ninho de um palmo de diâmetro, e 
que em parte se eleva acima da flôr d’agua; o material empre- 
gado consiste em folhagem fresca, que os peixes arrancam da ve- 
getação da margem, bem como muita espuma. A femea junta as 
duas nadadeiras ventraes, formando assim como que uma con- 
cha, na qual recolhe os ovos, ao mesmo tempo que o macho lhes 
faz chegar o esperma. Depositados os ovos no ninho, são elles en- 
tregues á guarda do macho que tão bem os defende, que nem á 
própria esposa permitte approximar-se. 

Outra observação relata como dçsova certa especie do ge- 
nero Corydoras. Uma femea é acompanhada por tres ou cinco 
machos e um destes, depois de prolongados preâmbulos, atira-se 
á companheira, segurando-a pelos bigodes, üs ovulos e o leite 
são apanhados na concha formada pelas nadadeiras ventraes da 



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femea; só poucos ovos são assim fecundados de cada vez, uma 
duzia no máximo, e logo depois são levados para uma pedra, que 
a mãe limpou previamente com cs beiços; a substancia viscosa 
que envolve os ovos, os faz colar fortemente. A mesma scena se 
repete talvez 40 ou 50 vezes no mesmo dia, ou sejam 250 ovos col- 
locados em vários sitios; parece que ninguém fica encarregado 
da respectiva guarda. 

Cascudos ( Locariidae ) — A primeira documentação refe- 
rente á desova dos cascudos foi a que L. Agassiz transmittiu de 
Manáos a M. Edwards. Communicava Agassiz ao seu amigo que o 
cascudo-espada ( Loricaria ) guarda seus ovos nas dobras dos bei- 
ços e que outros cascudos (Hy posto mus) chocam sua ninhada 
como as aves. O primeiro desses factos, ainda que confirmado pelo 
Conselheiro Steindarhner, foi comtudo posto em duvida por outros 
auctores. Por nossa parte (R. von 111.) podemos, porém, confir- 
mal-os em absoluto, pois lembramos ter examinado cascudos (Gen. 
Loricaria) com uma grande carga de ovos de talvez 2,5 mm. de 
diâmetro, colladas aos largos beiços desse peixe. 

Aliás a contagem dos ovulos dos cascudos, como ficou do- 
cumentado em nossa tabella (115 a 118 ovos por exemplar) já in- 
dica que qualquer providencia muito especial garante a eclosão tal- 
vez da totalidade desse reduzido numero de ovos. 

Rabeca (Bunoce phalidlae) — São pouco numerosas as espe- 
cies aqui comprehendidas; de 1 delias, do gen. Aspredo, è conhe- 
cida a biologia e esta é das mais surprebendentes. A femea, de- 
pois de ter posto os ovos sobre uma lage e ter aguardado a fe- 
cundação, comprime-os contra o peito, para que a substancia pega- 
josa que envolve os ovos, os faça collar fortemente á pelle; as ve- 
zes toda a face ventral do peixe fica assim pontilhada de ovos. 
Talvez em consequência de uma irritação provocada por esses 
corpúsculos, a pelle cresce formando pedúnculos, de modo que, 
por fim, a face ventral do peixe se apresenta como que coberta 
de cogumelos, cujas cabeças seriam os ovos, assim perfeitamente 
defendidos e abrigados. 

São apenas estas as modalidades de desova conhecidas no 
amplo grupo dos Scmatoynathas, que abrange 6 famílias, subdi- 
vididas em 10 subfamilias, com 570 especies. Mais limitadas ainda 
são as observações colhidas na 



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Fam. CHARACIDAE 

Agrupam-se aqui, por suas affinidades naturaes 540 espe- 
cies brasileiras, pertencentes a (5 famílias, com 25 subfamilias, ou 
sejam, pela nomenclatura popular: a) Corumbatás, b) Piavas, 
cbimborés, ferreirinhas, c) Lambarys e piracanjubas, d) Peixe 
cachorro e dourado, e) Piranhas e pacús, f) Trahiras. 

Ora, de todo esse conjunto, só duas especies foram, ao que nos 
consta, estudadas positivamente durante sua desova: a tabarana 
e a trahira. 

Da Tabarana ( Salminus hilarii) tivemos occasião de conhe- 
cer a desova ha cousa de 15 annos, no Ypiranga; as respectivas 
notas e desenhos talvez ainda estejam archivados no Museu Pau- 
lista. Reproduziremos de memória os detalhes interessantíssimos 
que tivemos occasião de observar. 

Após vários dias de chuvas prolongadas, as varzeas do rio Ta- 
manduatehy, entre as estações de Ypiranga e São Caetano esta- 
vam alagadas; certa noite, alguns moradores da região, que an- 
nualmente aproveitavam a piracema, cercaram os peixes, que 
haviam sahido do rio para os campos alagados. Esbarrando con- 
tra as redes e tapumes, não podiam as tabaranas voltar ao leito 
do rio e assim a pescaria rendeu algumas centenas de kilos de 
peixe. Seja dito de passagem que, ainda mezes depois, pudemos 
comer dessas tabaranas, que, passadas na gordura e bem acondi- 
cionadas se conservaram optimamente e com excellente sabor. 

Nos dias subsequentes á piracema, ao sol quente, vadeamos 
pela agua morna da varzea, em procura de ovos; mas já fomos 
achar minúsculos peixinhos no capim alagado. Levamol-os para 
o laboratorio em um aquário improvisado, mas por falta de ap- 
parelhamento necessário, não podiamos manter a agua em tem- 
peratura conveniente (não dispúnhamos nem de gaz nem de ele- 
ctricidade) e assim os peixinhos amanheciam mortos, quasi todos. 
Além disso, notavamos um cannibalismo feroz nos pequenos re- 
cipentes, provavelmente por falta de plâncton mais abundante. 

O comprimento dos peixinhos orçava por alguns millime- 
tros apenas; porém, desde que algum delles excedia aos outros 
por uma fracção do comprimento total, logo se atirava ao com- 
panheiro menor e o fazia caber no seu estomago. Tanto era assim, 
que o numero de alevinos diminuía rapidamente, sem deixar ves- 
tigos e emquanto os mal alimentados permaneciam pequenos, os 
cannibaes dobravam de tamanho. Pudemos por essa occasião 
acompanhar o crescimento dos orgãos internos, observando-os ao 




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microscopio. 0 corpo translúcido permittia ver as pulsações do 
vaso sanguíneo, que, representando artéria e veia ao mesmo tempo, 
abrangia a principio apenas metade do comprimento da colum- 
na dorsal; depois, a olhos vistos, o sangue ampliava seu trajecto e 
ião rapidamente, que mal dava tempo para esboçar as figuras 
das suceessivas phases. Certamente são os peixes desta categoria, 
isto é, os que desovam na varzea, que têm alevinos de crescimen- 
to mais rápido, nesta quadra inicial. E' evidente que a natureza 
apressa de tal forma o desenvolvimento do alevino, para lhe per- 
mittir que em poucos dias adquira o desembaraço e a resistência 
necessários para acompanhar as aguas, quando estas voltam ao 
leito do rio. Suppomos que a esta mesma categoria de desovado- 
res da varzea, como a tabarana, pertencerá também boa parte dos 
demais Characidae, taes como o dourado ( Salminus maxillosus 
Cuv. e Vai.) e os lambarys (Tetragonopterinae) . 

A Trahira foi estudada durante sua desova pelo Sr.Carlos 
Moreira; a esse collega deve nossa literatura a primeira contri- 
buição sobre piscicultura no Brasil, com a minuciosa observação 
que passamos a resumir. 

“A trahira ( Hoplias malabaricus) começa a desova em Julho 
e esta se prolonga até Março do anuo seguinte. Esses peixes na 
epoca própria, se reunem aos casaes e preparam o seu ninho no 
fundo do rio, lago ou açude, em que vivam, preferindo porém, 
pequenas profundidades (25 a 30 ems.). Escolhido o logar, este 
é limpo, até ficar somente areia, na qual fazem uma pequena de- 
pressão. Macho e femea se conservam nas proximidades do lo- 
gar da desova, até o momento da femea desovar, o tpie ella faz não 
de uma só vez, mas por parcellas de 2.500 a 3.000 ovules e de 15 
em 15 dias, até o exgottamento dos ovários; o macho fecunda os 
ovulos de cada desova, assim que esta se faça. Depois, a femea se 
reiira, ficando o macho encarregado de guardar os ovos, fazen- 
do-o, porém, machinalmente, pois se estes são retirados, elle ain- 
da se conserva ao lado do ninho vazio, e si collocado em um aquá- 
rio, onde previamente tenham sido postos os ovos epie estavam can- 
fiados á sua guarda, elle os devora sem reeonhecel-os. 

Os ovos da trahira medem de 2 a 2,5 mm. de diâmetro e são 
de côr amarello-topazio; a incubação desses ovos dura d dias, 
findo os quaes nascem os alevinos, que medem 6 a 8 mm. de com- 
primento. A principia os alevinos mantêm-se com movimentos 
limitados, mas á proporção que a vesícula umbelical vae sendo ab- 
sorvida, elles vão nadando mais livremente, até que ao fim de 



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10 ou 11 dias, aquelle reservatório foi completamente exgottado. 
Nessa occasião têm os peixinhos de procurar alimentos por conta 
própria e o piscicultor vê-se então seriamente embaraçado para 
sustentar os alevinos, que regeitam os alimentos mais commu- 
mente usados nesta phase, para peixes de outras especies, taes 
como: gemma de ovo cosido, figado de boi, farinha de trigo e de 
mandioca, etc. Neste caso torna-se então necessário crear os ale- 
vinos da trahira em cubas, ditas fluctuantes, no proprio meio em 
que vivem e á custa do plâncton local. 

Pacú — Podemos accrescentar ainda a seguinte observação 
infelizmente apenas parcial, referente ás primeiras phases de cres- 
cimento do Pacú do rio Mogy-Guassú. Esta especie attinge no má- 
ximo 2(5 cm de comprimento, medindo então a altura do corpo 14 
cm.. O colorido é quasi inteiro branco prateado; o macho apre- 
senta larga malha de côr de tijolo sobre a linha lateral. Como fi- 
cou assignalado na tabella de contagem dos ovos, o ovário desta 
especie contêm ovulos de variadíssimas dimensões, o que indica 
que o peixe faz a desova por pareellas. Nas nossas pescarias com 
redinhas finas de filó, em busca de plâncton, pudemos obter bom 
numero de alevinos desta especie e todos elles encontrados sob rai- 
zes de aguapé da margem do grande rio, sendo pois quasi certo 
que o pacú desova entre estas plantas aquaticas. Como um de nós 
mostrará em outro capitulo, estas primeiras phases são interes- 
santissimas. O menor alevino que pudemos colher, mede 12,3 mm. 

Resta-nos lembrar a historia, de modo algum comprovada, 
dos ninhos de piranha, á qual os naturalistas ainda hoje allu- 
dem, apezar de não haver melhor documentação a respeito, se- 
não um artigo publicado pelo Dr. Holder em um “magazine” 
de 1883. 

Tal narrativa é acompanhada de um desenho, que mostra 
um ninho, semelhante a um côco, íluctuando na agua e preso a 
um ramo; duas piranhas montam guarda. São horas, afinal, de 
verificar como se multiplica essa praga das aguas, o mais feroz 
de todos os peixes. 

Fam. CICHLIDAE — "Acarás” ou “Papa-terra”, “Joanni- 
nhas” ou “Guensas”, "Tucunaré” e " Jacundá”) — A não ser o tu- 
cunaré e especies aliadas ao gen. Cichla, que attinge 1/2 metro de 
comprimento, não ha propriamente outros peixes, nesta familia, 
que mereçam destaque pelo valor eeonomieo. A especie mais com- 




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muni das aguas da vertente atlantica do Brasil meridional, o Aca- 
ra ( Geophagus brasiliensis ) . apenas attinge um palmo de compri- 
mento; porém como diz seu nome generico e também um seu.ap- 
pellido “papa-terra”, sua carne tem gosto de lodo. Uma enorme 
variedade de espeeies semelhantes abunda nos pequenos rios e 
apenas pela belleza de seu colorido despertam elles o interesse 
dos amadores de aquarios; na Europa os negociantes, que se de- 
dicam a essa especialidade, cultivam numerosas variedades de 
Cichlideos. 

Hensel e o Dr. H. von Ihering, ambos no Rio Grande do Sul, 
deram as primeiras noticias mais detalhadas sobre a procreação 
do Geophagus. 

Os machos enfeitam-se com lindas cores para attrahir a pre- 
ferencia da femea; uma vez acasalados, preparam os dois uma 
cama no leito do rio e ahi os ovos são como que aninhados, perma- 
necendo os paes de vigia. Logo que os filhotes começam a nadar, 
o pae, .principalmente, os obriga a se manterem reunidos em gru- 
pos e se por acaso um dos peixinhos se afasta e não quer tornar 
logo para junto dos demais, o velho o abocanha e o cospe entre os 
irmãos. 

Em caso de perigo, o peixe abre a bocca e abriga tcda a filha- 
rada na ampla cavidade. Como se vê, são assim os acarás os pei- 
xes mais interessantes para divertidas observações em aquarios. 

Agassiz, porém, affirma que em peixes de outras espeeies 
desta familia , encontrou os ovos na bocca, adherentes ás guelras 
e portanto temos assim a certeza de uma nova modalidade de in- 
cubação. 

Farn. POECIL1DAE — (Guarú-guarús ou Barrigudinhos). 
— Algumas espeeies desta familia se destacam pelo seu valor 
como elementos saneadores das pequenas aguas. Em media, es- 
tes peixinhos não ultrapassam poucos centímetros de comprimen- 
to e algumas espeeies mal attingem 20 mm. As espeeies carnívo- 
ras dão caça ás larvas de insectos, mesmo nos menores filetes de 
agua, onde aliás vivem de preferencia e em muitos dos quaes são 
os únicos representantes de sua classe. Assim devemos tel-os em 
conta de nossos melhores auxiliares na lucta contra a multiplica- 
ção dos pernilongos. Com o costumeiro enthusiasmo pelas novi- 
dades exóticas, muito se tem apregoado entre nós a utilidade das 
espeeies norte americanas do genero Gambusia, esquecida, ou 
antes, ignorada como anda a fauna nacional, rica em mais de 40 



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especies desta família. Das 4 subfamilias aqui comprehendidas e 
que têm representantes na nossa fauna, só uma, Fundulinae, é 
ovipara; as outras, Cyprinodontinae, Anablepsieninae e Poecili- 
inne são todas oviparas e como o diz seu nome vulgar, a femea 
sempre tem o ventre crescido, abrigando ahi dezenas e por vezes 
até uma centena de embryões. O primeiro raio da nadadeira anal do 
macho soffreu uma transformação em orgão intromissor, deno- 
minado “gonopodio”. 

Com relação á desova dos grandes peixes amazônicos “pira- 
rucu’ ( Arapaima gigas) e “aruaná” ( Osteoglossum bicirrhosum), 
encontram-se indicações reunidas por A. Miranda Ribeiro (Ar- 
chivos do Museu Nacional, Vol. XII, 1903, observações de A. Ro- 
drigues Ferreira, pag. 156 e Comm. Linhas Teleg., publ. n. 58, 
1920) bem como na “Pesca na Amazónia”, de José Veríssimo, 
pags. 39 e 190. 



Contagem dos ovulos de especies de 
peixes d’agua doce do Rio Mogy-guassú 



Nome do peixe 


Comp. 
do peixe 


Peso do 
peixe 


_ a 
o > 

t n o 
© _ 
Q--S 


Ovos por 
gramma 


Total 
de ovos 


1 Dourado . . 


_ 




720 


1.326 


954.720 


la „ ... 


860 


9.000 


900 


1.281 


1.152.900 


1 b 


— 


10.000 


1.153 


1.028 


1.186.284 


1 c „ ... 


£51) 


12.000 


980 


1.211 


1.186.780 


1 <1 


— 


9.000 


1.070 


1.126 


1 .204.820 


1 e „ ... 


1.030 


18.500 


2.071 


1.247 


2.582.537 


1 f ... 


1.000 


14.000 


1.940 


1.350 


2.619.000 


2 Plracanjuba . 


690 


4.000 


490 


1.142 


568.716 


2 a 


— 


— 


588 


1.206 


709.128 


2 b 


— 


— 


— 


— 


928.125 


2 c „ . . 


660 


6.000 


590 


1.788 


1.054.920 


2 d 


570 


5.500 


905 


1.177 


1.065.185 


3 Piapara 


— 


1.900 


248 


3 . 567 


884.616 


4 Piabussú . 


— 


1 .435 


217 


3.500 


759.500 


5 Piavinha . 


360 


885 


138 


2.996 


413.448 


6 Curumbatá 


— 


670 


70,5 


1.305 


92.002 


7 Peixe Cigarra 


— 


— 


29,8 


2.367 


70.536 


7 a „ „ 


230 


160 


21,2 


2.072 


64.646 


8 Solteira 


290 


318 


44.5 


1.856 


82.592 


9 Tabarana . 


330 


260 


23,1 


2.356 


54.423 


9a „ ... 


360 


556 


59,05 


885 


52.259 




BOLETIM BIOLOGICO 



107 



9 b 


Tabarana . 


310 


432 


50,7 


754 


38.227 


10 


Peixe Cachorro- 
Agulha (1) . 


250 


145,5 


15,7 


1.939 


30.442 


11 


Mandy-juba . . 


300 


213 


7,3 


3.154 


23.024 


12 


Mandyzinho . 


— 


11,7 


1,15 




4.056 


12a 


»* • 


— 


13,3 


0,250 




1.350 


13 


Mandy Branco . 


110 


8 


0,725 





4.102 


14 


Lambary . 


120 


22,3 


2.7 


10.120 


27.324 


15 


Canivete . 


200 


20 


2,82 


3.266 


9.210 


lã a 


... 


110 


11,8 


0,9 


— 


3.064 


líi. 


Pacú . ... 




325 


11 


631 


6.941 


17 


Tambihú . . 


— 


23 


1,1 




7.336 


18 


Saguirú 


— 


49,3 


1,7 




7.040 


19 


Ferreirinha . 


150 


37 


2,9 


1.608 


4.663 


20 


Cascudo (4.625). 


120 


20 


0,75 


— 


118 


20 a 


»» • 

i 


- 

J 


20 


0,4 


— 


115 



(1) Esta contagem não poude ser rigorosa, por se ter dado a fixação dos 
ovulos em bloco, de difficü desagregação. 



Infelizmente ainda não nos foi possivel classificar o material de peixes, 
obtido no rio Mogyguassú, devendo assim ficar para um dos proximos nu- 
meros deste Boletim a identificação dos nomes vulgares dos peixes desta lista. 

Estudos futuros deverão ultimar nossas observações, comple- 
tando detalhes relativos á medição, desenho da micropyle, etc. 
Por ora só podemos accrescentar á contagem dos ovulos as anno- 
tações que abaixo enumeraremos de accordo com a tabella. 

Todos os peixes de escama (Characideos) que observamos, á 
excepção do pacú e da trahira, devem desovar de uma só vez, 
pois sempre constatamos que os ovulos de ambos os ovários se 
desenvolvem todos por egual, á excepção, naturalmente, de al- 
guns poucos ovulos esporádicos, abortivos. Nas duas espeeies aci- 
ma apontadas como excepção, e que adiante descreveremos, a 
desova deve se dar parcelladamente, facto que também é de pre- 
ver para o mandy. 

ü ovário do dourado, quando ainda immaturo, é verde claro 
(quasi còr de abacate) ; á medida que os ovulos se desenvolvem, até 
adquirem uma pigmentação inteiramente differente, castanho- 
avermelhada; esse colorido não surge simultaneamente em toda 
a extensão do ovário, dando occasião de se ver na mesma ova 
as duas tonalidades mencionadas, formando um curioso mosaico 
geral. 




BOLETIM BIOLOGICO 



iÕ* 

O peso de cada ovulo, quando maduro, deve ser approxima- 
damente de um milligrammo. (Não se deve tirar a media das va- 
rias contagens por grammo, mas sim tomar em consideração o 
total minimo constatado). Assim podemos prever que no ovário 
maduro do dourado haverá menos de 1.000 ovulos por grammo. 

Nossa tabella nos permittiu calcular, de accordo com 7 con- 
tagens completas, que, em media, o dourado gera 140.000 ovulos 
por kilo do seu peso, o que aliás também confere bem para nos- 
sos dois exemplares extremos, de peso minimo (4 kls.) e máximo 
(18 kls.) e assim não será de estranhar que se verifique em dou- 
rados de 25 kilos de peso, um total de ovulos superior a 3 milhões. 

Estes dois dados positivos são valiosos para os futuros traba- 
lhos practicos de piscicultura. 

Os ovulos da piracanjuba apresentam uma còr verde escura, 
esmeraldina; suas dimensões são approximadamente as do dou- 
rado. O total minimo por grammo verificado foi de 1.142 e a jul- 
gar pela media de tres boas observações, a piracanjuba deve ter 
180.000 ovulos por kilo de seu peso, ou seja um total máximo de 
quasi 2 milhões nos exemplares bem desenvolvidos. 

Grande variedade de dimensões apresentaram sempre os 
ovos do mandy, cascudo e pacú. 

No fim da contagem do conteúdo do ovário do mandy, restava 
sempre um tecido de pequena cohesão, no qual nada se podia 
perceber a olho nú e que, ao mieroscopio, revelava grande nume- 
ro de ovulos em crescimento. 

Caracteres interessantes verificamos nos ovos do pacú, pro- 
porcionalmente pouco numerosos, de grande fragilidade, de di- 
mensões variadíssimas, attingindo os seus maiores exemplares, 
o maior volume por nós observado em ovos de peixe e apresen- 
tando uma bellissima còr de ambar levemente avermelhada. 

Essas verificações parecem indicar que não serão o mandy 
e o pacú especies, ás quaes possam ser facilmente adaptados os 
processos culturaes, tão commodos na maioria dos outros peixes. 

Nos “cascudos”, muito á semelhança do que observamos nos 
raandys, os ovulos são de tamanho variado e também se verifi- 
ca que a maturação é desegual, achando-se os ovulos menores, 
em formação, envolvidos por um tecido relativamente espesso. 
Já referimos no texto anterior a razão ecologica que permitte aos 
cascudos esta grande reducção do numero de ovulos e lembrare- 
mos o facto analogo, registrado com relação aos bagres marinhos. 

Pela protecção, por assim dizer absoluta, que os guarús, ba- 




w 



BOLETIM BIOLOGICO 



109 



gres e cascudos dispensam ao embryão, podem esses peixes redu- 
zir o numero de ovulos quasi ao mínimo necessário para a manu- 
tenção da especie. Inversamente, os peixes que soltam os ovos 
ao léo da sorte, vêem-se obrigados a elevar o numero de ovos a 
um máximo por assim dizer fantástico. 

Mas, é ahi, justamente, que se torna ao mesmo tempo neces- 
sária e facil a intervenção do homem: pela fecundação artificial 
desapparecerá a parcella maxima do desperdício que se verifica, 
á lei da natureza, pois que todos os ovulos tratados entrarão em 
segmentação. Em seguida ha duas modalidades a seguir, confor- 
me os intuitos do piscicultor. Pretendendo-se criar os peixes de 
forma a mantel-os ao alcance, até que attinjam dimensões ade- 
quadas ao consumo, impõe-se todo o rigor dos cuidados de uma 
cultura artificial. 

Se, ao contrario, se trata, sómente, de repovoar os rios, não 
se torna necessário um grande apparelhamento para essa cria- 
ção. Logo que os alevinos, decorridos poucos dias, iniciam sua 
vida livre, serão elles soltos em aguas adequadas do rio, em pe- 
quenas parcellas; ainda que uma grande fracção se perca, victi- 
ma da perseguição por parte de seus inimigos naturaes, a acção 
do repovoamento terá sido feliz e ao mesmo tempo pouco dis- 
pendiosa. 

A tendencia natural dessa intervenção será para augmentar 
o numero dos peixes mais recommendaveis para o mercado (dou- 
rado, piraeanjuba, piapára, piavussú) ; mas é preciso não esque- 
cer que, augmentando o numero dos grandes peixes carnívoros, 
cumpre também manter na proporção correlata os peixes cpie de- 
verão servir de pasto áquelles (eorumbatá, saguirú, ferreirinha, 
solteira, etc.). 




cm 1 



SciELO 



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110 



BOLETIM BIOLOGICO 



SOBRE O COMPORTAMENTO DE SUSPENSÕES E 
SOLUÇÕES DE CONCENTRAÇÃO OSMOTICA 
DIFFERENTE INTRODUZIDAS NO SACCO 
LYMPHATICO CRÂNIO - DORSAL DA RÃ. 

J A Y M E R . PEREIRA 



A questão da circulação lymphatica nos batrachios comquan- 
to apresente grande importância, sobretudo no ponto de vista 
physiologico e pharmacologico, pelo uso corrente desses animaes 
nos laboratorios, tem sido mais ou menos descurada. Sabe-se que 
o apparelho circulatório lymphatico comprehende um certo nu- 
mero de espaços denominados saccos ou seios lymphaticos espa- 
lhados principalmente á superfície do corpo, logo abaixo da pel- 
le e que se communicam uns com os outros, mantendo ainda com- 
iiiunicações com o systema circulatório sanguíneo por meio de 
orgãos especiaes chamados corações lymphaticos. Estes são em 
numero de quatro, situados dois na parte anterior e dois na parte 
posterior do corpo animal. 

A lympha é impulsionada para a torrente sanguínea, por in- 
termédio desses orgãos que representam verdadeiras bombas de 
sucção (diástole) e propulsão (systole), aspirando a lympha dos 
espaços lymphaticos e jogando-a no systema circulatório sanguí- 
neo atravez das veias jugular interna, na parte anterior e eschia- 
tica, na parte posterior. (1). 

A pulsação desses corações lymphaticos não tem, segundo 
Gaupp (2), nenhuma relação com a do coração sanguíneo; nem 
ha também synchronismo entre os batimentos dos corações lym- 
phaticos de um lado com os do lado opposto. 

Quanto á direcção da corrente lymphatica, quasi nada se 
sabe, segundo a affirmação de Holmes. (3). 

Na rã, é o sacco lymphatico cranio-dorsal a melhor via para 
a administração das drogas em solução, não só pela grande faci- 
lidade na sua utilização, como também pela rapidez de absorpção 
que é notável. E sendo este animal dos mais usados nos labora- 
torios de pharmaeologia e physiologia, util será qualquer contri- 
buição no sentido de solver o problema do funccionamento do 
seu systema lymphatico ainda tão obscuro. 




BOLETIM BIOLOGICO 



111 



O sacco cranio-dorsal da rã se communica directa e indire- 
ctamente com muitos outros espaços lymphaticos, e quanto á sua 
communicação com o systema venoso, ella se faz por intermédio 
dos seios lymphaticos basillar e illiaco, onde se acham situados os 
corações lymphaticos anteriores e posteriores respectivamente 

(fig. D- 




4 



Fig. 1 

Sacco cranio-dorsal. 

Seio basillar. 

Coração lymph. anterior. 
Veia jugular interna. 



Fig. 1 a 

Sacco cranio-dorsal. 
Sacco illiaco. 

Coração lymph. posterior. 
Veia eschiatica. 



A’ primeira vista, o caminho a ser percorrido tpor uma solu- 
ção qualquer introduzida no sacco cranio-dorsal, seria muito sim- 
ples, podendo a solução ganhar o systema circulatório sanguíneo 
pelas vias comprehendidas nos esehemas acima. Nem sempre, as 
cousas se passam desta maneira e as experiencias por nós reali- 
zadas, mostram que a via de penetração depende de factores in- 
herentes ás próprias soluções injectadas, e esta diversidade evi- 
dencia, por outro lado, a existência, na rã pelo menos, de um 
mechanismo de defeza contra as suspensões e soluções de concen- 
tração osmotica superior a do sangue deste animal, que passadas 
direetamente ao meio interno poderiam provocar distúrbios no 
seu metabolismo normal. 

Nossos estudos neste terreno tiveram sua origem em uma ob- 
servação feita pelo nosso distincto collega prof. Miguel Osorio 
de Almeida, que tendo injectado no sacco cranio-dorsal de uma 
rã (1) uma solução de assucar, viu apparecer sob a lingua deste ani- 
mal uma tumef acção accentuada a que elle chamou de edema 
sub—lingual. Esta observação a nós communicada levou-nos a 
realizar uma serie de experiencias só agora terminada e cujos 
resultados vão ser aqui relatados. 

Nossas experiencias, como era natural, começaram com injec- 

(1) Leptodactylus ocellatus L. 



cm 1 



SciELO 



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112 



BOLETIM BIOLOGICO 



ções de soluções de assucar de eanna que provocaram sempre 
o apparecimento do phenomeno acima descripto. Quanto ao tem- 
po que decorre entre o momento da injecção e a formação do 
edema ('), elle é variavel conforme a concentração da solução 
e as condições actuaes do animal. No mais das vezes a formação 
se opera dentro de 1 ou 2 minutos. 

O liquido retirado por puneção da tumefacção sub-lingual 
revelou-se o mesmo injectado no sacco cranio-dorsal e as expe- 
riências practicadas com outros assucares, taes como a glycose, 
a lactose e a levulose, permittiram a observação de idênticos re- 
sultados. 

Em algumas rãs, após a formação da collecção liquida sub- 
lingual. verificamos no conteúdo do estomago e das primeiras 
porções do intestino a presença de assucar por meio do reactivo 
de Febling, o mesmo resultado sendo obtido na agua distillada 
com que se lava a bocca desses animaes. Em rãs normaes de con- 
trole, esses materiaes jamais reduziram aquelle reactivo. Parece- 
nos, por conseguinte, que as soluções de assucar collectadas de- 
baixam da lingua passam por um processo de diffusão ou de os- 
mós, ou, o que é mais provável, atravez de communicações dire- 
ctas para a cavidade buccal e dalii para as porções mais profun- 
das do tracto digestivo. Movimentos de deglutição são de facto 
observados, não podendo estes ser confundidos com os da respi- 
ração, porque envolvem movimentos de abertura e fechamento 
do maxillar inferior. 

A injecção dessas soluções praticadas nos saccos lymphati- 
cos femoraes não provoca a tumefacção sub-lingual, distribuindo- 
se os líquidos pelos saccos visinhos, como os cruraes e os latc- 
raes. 

Após essas experiencias realizadas com soluções assucaradas, 
injectamos soluções e suspensões diversas taes como, sòro phy- 
siologico (6,5°/ 00 ), liquido de Ringer, suspensão de amido de mi- 
lho e sangue citratado de carneiro, observando então que as duas 
ultimas eram capazes de provocar o phenomeno descripto, ao 
passo que as soluções salinas eram desprovidas desta propriedade. 
Por vezes observamos a passagem do amido para a cavidade buc- 
cal e para o estomago, sendo a sua presença ahi revelada por 
meio da reacção característica que esta substancia dá com o 
iodo. A passagem do sangue foi verificada por inspecção directa. 

O oleo de oliva também por nós experimentado em uma úni- 
ca rã, não passou para debaixo da lingua. No dia immediato ao 




w 



BOLETIM BIOLOGICO 



113 



desta experiencia, o sacco cranio-dorsal da rã se apresentava bas- 
tante tumefacto e cheio de liquido. Grande parte deste foi reti- 
rado por puncção, constatando-se então, ao ado de um liquido 
opalescente, grande quantidade de oleo. Na porção opalescente 
constatamos, por meio do azotato de prata, a presença de chlo- 
retos. Injectamos então nesta mesma rã uma solução de saccha- 
rose corada pela eosina que passou immediatamente para o es- 
paço sub-lingual carregando comsigo algumas goticulas de oleo. 

Dada a ausência de tumefacção sub-lingual após a injecção 
de soluções salinas, resolvemos investigar o comportamento de so- 
luções idênticas, mas de concentração osmotica differente e das 
experiencias realizadas neste sentido pudemos observar que as 
soluções de chloreto de sodio hypotonicas e isotonicas (em rela- 
ção ao sangue da rã) não passam para o espaço sub-lingual, em- 
quanto que as soluções hypertonieas abi veem ter immediatamen- 




cm 1 



SciELO 



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lli 



BOLETIM BIOLOGICO 



te. Us mesmos resultados foram obtidos empregando-se solu- 
ções de glycose de concentrações differentes. 

São estes os factos. (2) 

Investigando as relações que existem entre os diversos espa- 
ços lymphaticos da rã, verificamos em dados colhidos no livro 
de Gaupp, que o saeco cranio-dorsal mantem relações directas e 
indirectas com muitos outros espaços lymphaticos, o que se pode 
ver facilmente no eschema seguinte, projectado de aeCordo com 
os dados acima referidos. 

1 — Sacais craniodorsalis. 

2 — Sinus suppraorbitalis. 

3 — Saccus lateralis. 

4 — Sinus basilaris. 

5 — Saccus iliacus. 

6 — Saccus interfemoralis. 

7 — Sinus ceratohyoideus. 

X — Sinus subscapularis. 

Representados por círculos e linhas cheios, estão os espaços 
lymphaticos e respectivas communicações comprehendidos no 
trajecto seguido pelas soluções hypertonicas e suspensões, desde 
o saeco cranio-dorsal onde são injectadas, até os seios basi-hyo- 
dèo e sub-lingual que ficam situados debaixo da lingua. 

O edema ou tumefacção sub-lingual de que temos falado não 
representa senão a passagem do liquido injectado no saeco cranio- 
dorsal para os dois seios lymphaticos alojados sob a lingua. 

Nem Gaupp, nem outro autor qualquer, tanto quanto sabe- 
mos, tem-se referido ás communicações directas dos seios basi- 
hyoidêo e sub-lingual com a cavidade buccal, communicações 
estas que se evidenciam agora claramente com a faeil passagem 
de soluções e suspensões collectadas naquelles seios para dentro 
desta cavidade. 

Taes observações põem ainda em evidencia a existência na 
rã de um mechanismo de defeza que poderiamos classificar de es- 
pecifico, visto como elle se exerce tão somente contra as soluções 
hypertonicas e as suspensões cuja passagem immediata para a 



í) — Sinus sternalis. 

10 — Sinus temporalis profundus. 

11 — Sinus parahyoideus. 

12 — Sinus sublingualis. 

11 — Sinus mandibularis profundus. 

15 — Sinus ceratohyoideus. 

16 — Sinus basihyoideus. 



(2) Algumas dessas experiencias foram repetidas com outras especies 
de rãs (Rana catesbiana, R. esculenta dos Est. Unidos da A. do Xorte, e no 
Brasil em Leptodactylus pentadactylus). 




BOLETIM BIOLOGIGO 



115 



torrente sanguínea perturbaria o equilíbrio funcrional do animal 
em questão. 

Apezar das communicações provavelmente directas entre os 
espaços lymphaticos comprehendidos no trajecto seguido pelas 
soluções e suspensões que vão ter aos seios sub-linguaes, parece 
ainda evidente quo o transporte destes líquidos se processa em 
virtude de um phenomeno biologico, uma vez que elle não pode 
ser explicado nem por effeito da gravidade e nem pelo da capil- 
laridade, porque neste caso todas as soluções seriam indistincta- 
mente transportadas para aquelles seios, o que não acontece 
Contra a hypothese da acção da gravidade ha ainda a notar que 
a posição da cabeça, nas rãs, é sempre voltada para cima e os lí- 
quidos injectados no sacco-cranio-dorsal se collectam sempre na 
parte posterior e inferior deste espaço lymphatico. 

CONCLUSÕES: 

Nem todas as soluções injectadas no sacco cranio-dorsal da 
rã passam direetamenle ao sangue. Isto só se verifica quando 
estas soluções teem uma concentração osmotica idêntica ou infe- 
rior á do sangue do animal. As soluções hypertonicas e as sus- 
pensões se dirigem para outros saccos lymphaticos e sobretudo 
para os seios basi-hyoidêo e sub-lingual de onde se passam para 
a bocca e porções inferiores do tracto digestivo. 

0 oleo de oliva quando injectado no sacco cranio-dorsal ahi 
permanece, provocando uma chamada de liquido (lympha ou sòro 
sanguíneo) para este sacco. 

A corrente lymphatiea que percorre os espaços lymphaticos, 
possivelmente dirigida, em condições normaes, num determinado 
sentido, pode seguir caminho differente sob a acção de soluções 
hypertonicas e suspensões. Esta variação parece traduzir um 
mechanismo de defeza do animal contra estas soluções e suspen- 
sões que não poderiam passar directamente ao sangue, sem per- 
turbar o equilíbrio orgânico e funccional do animal em questão. 

REFERENCIAS 

(1) John Priestley: Jour. of Physiol. 1878. Vol. I, pag. 16. 

(2) Qaupp: Anatoniie des Froshes. Vol. IV, pag. 442. 

(3) Holmes: Biology of the frog. Pag. 281. 




1 li? BOLETIM BIOLOGICO 

GORGULHO 

STERNECHUS UNCIPENNIS Boh. 
nas vagens de CANAVALIA. 

I’OR 

GREGORIO BONDAR 



Os adultos têm hábitos nocturnos; de dia conservam-se na 
planta, agarrados fortemente, para este fim lhes servem os 
ganchos duplos das tibias. De noite, de madrugada e, no 
tempo nublado, durante o dia, alimentam-se nas vagens verdes, 
porém já crescidas de leguminosas Canavlia sp.. fazendo umas fe- 
ridas redondas, situadas do lado dorsal da vagem (do lado da 
dehiscencia) ; o diâmetro das covas é de 8 a 10 mm. O insecto 
róe até chegar ao endocarpo da fructa, uma especie de membrana, 
que o insecto deixa intacta. Furando esta membrana, no meio 
da cóva o insecto introduz embaixo delia um ovo de dois mm. 
de comprimento, sobre um de largura, de eòr amarclla. O ovo e 
posto no meio de polpa, que envolve as sementes, e nunca nas 
sementes, directamente. A larva que nasce 1 a õ dias depois, ali- 
menta-se no principio de polpa da vagem, e depois ataca os ca- 
roços. 

As covinhas de desova, que serviam primeiro para alimentação 
do adulto, são feitas symetrieamente uma contra outra de dois 
lados da vagem, e os ovos postos, um de cada lado, acham-se por 
conseguinte alojados um perto do outro. O caso normal é dois 
ovos em cada vagem. Acontece, porém, que as vagens faltam, e 
as femeas apressadas em postura, aproveitam as vagens já ser- 
vidas para pôr mais ovos. As feridas, são, neste caso feitas aci- 
ma das primeiras, que sempre estão na ponta da vagem. 

A vagem dá bem para alimentar duas larvas, as outras tor- 
nam-se victimas das mais fortes. A postura é feita na ponta da 
vagem, em baixo, para que a larva alimentando-se possa progre- 
dir facilmente de baixo para cima, sem ser incommodada pelos 
detrictos, que assim, á medida da subida delia, accumulam-se em 
baixo. A vagem de Canavalia explorada, contém em media 10 
caroços, cabendo para cada larva cinco caroços. As larvas depois 
de esvasiarem a vagem, consumindo a sua ração, o que vale cerca 
de um pouco mais de um mez, furam a parede edeixam-se eahir no 




BOLETIM BIOLOGICO 



117 



chão; afundam-se na terra uma dezena de centímetros e fazem 
um alojamento em que passam em repouso vários mezes, trans- 
formando-se depois em nymphas e adultos. O cyclo evolutivo é 
um tanto longo, ao menos de 6 mezes (e pode ser de 1 anno), 
passados na maior parte na terra. As larvas quando attingem o 
seu máximo crescimento, medem de 22 a 25 mm. de comprimen- 
to, sobre 8 mm., de diâmetro. São branco-amarelladas, cabeça es- 
cura, com a linha mediana de sutura mais clara, e duas faixas 
obliquas claras. No 1." annel ba uma faixa transversal amarella. 
O adulto é um gorgulho robusto, de 12 a 15 mm., de comprimen- 
to, sobre 7 a!) mm., de largura; a còr do corpo é castanho-escura, 
vedada porém, pelas escamas ferrugineo grisalhas, mais ou menos 
densas; cabeça, tliorax e elytros fortemente rugosos; nos elytros 
ba estrias com covinhas grosseiras, irregularmente distribuídas. 
No hombro de cada elytro ba uma bossa e um corno, situado la- 
teralmente; na parte ante-apical uma bossa em cada elytro. Na 
extremidade de cada tibia ba duas fortes espinhas, que servem 
para o insecto agarrar-se ás plantas em repouso. 

A especie foi identificada pelo Dr. Guy A. K. Marchall, dire- 
ctor do Imperial Bureau of Entomology, em Londres. 

Além do interesse especulativo, o conhecimento da biologia 
deste gorgulho poderá ter interesse practieo, pois atacando as 
Canavalias selvagens poderá passar ás plantações da especie 
cultivada Canavalia ensiformis, conhecida entre nós como fei- 
jão hollandez, feijão de porco, etc., cuja cultura no Brasil terá 
seu futuro. 

1 de Outubro de 1928. 




11S 



BOLETIM BIOLOGICO 





Sternechus uncipennis Boh. nas vagens de Canavalia sp. 

a) Vagem de Canavalia sp. atacada pelo gorgulho; o) orificio tapado, por 
onde foi introduzido o ovo; f) feridas symetricas (de cada lado da vagem) 
onde o insecto se alimentou, b) Ovos; c) larva; d) cabeça da larva, vista 
de frente; e) adulto. Figuras b, c, d, e, augmentadas duas vezes, (orig. do 
Autor). 




BOLETIM BIOLOGICO 



119 



Nota previa sobre alguns phorideos que parasitam formigas 
cortadeiras dos generos ATTA e ACROMYRMEX 

POR 

FREI T H O M A Z B O R G M E I E R O . F . M . 

(Do Instituto Biologico de S. Paulo.) 



A maioria dos phorideos myrmecophilos até agora conheci- 
dos do Brasil parasitam formigas de correição do genero Eci- 
ton. Visto que, a par dos Ecitonini, as formigas cultivadoras de 
fungos dos generos Atta e Acromyrmex (Tribus Atíini) consti- 
tuem, quanto ao numero dos indivíduos, o principal contingente 
da fauna myrmecologica do Brasil, era de esperar que também 
cilas fossem parasitadas por grande numero de phorideos. São, 
entretanto, poucos os casos que constam até hoje na literatura. 

Os primeiros phorideos attophilos foram descriptos por mim 
em 1925. Trata-se de Neodohrniphora acroinijrmecis Borgm. (1925, 
p. 216) e Procliniella hostilis Borgm. (1925, p. 267). Posterior- 
mente pude accrescentar mais tres especies: Allochaeta longici- 
liata Borgm. (syn. A. propinqua Borgm., 1926, p. 46), Apocepha- 
ius lamellatus Borgm. (1926, p. 49) e Stenoneurellys laticeps 
Borgm. (1927, p. 507). 

A especie Lépido phoromyia zikani Borgm., mencionada por 
Schmitz (Natuur-hitor. Maandblad, 1928, p. 66), do Bio Grande 
do Sul, sem duvida não passa de um hospede occasional de Acro- 
myrmex. Recebi, é verdade, também algumas femeas dessa es- 
pecie de Campo Bello (Itatiaya), que foram capturadas sobre 
Acromyrmex subterranus For. (J. F. Zikán, l;eg. 21-X-1926), mas 
esses phorideos se encontram geralmente em substancias podres, 
particularmente em cadaveres de cupins, e segundo já observa 
Schmitz, nada têm que vêr com formigas ou cupins. 

São esses os únicos casos mencionados na literatura sobre 
phorideos encontrados com formigas cortadeiras. 

Dado o grande prejuizo material causado annualmente nas 
culturas brasileiras pelas formigas dos generos Atta e Acromyr- 
mex {saúva e quem-quem), a investigação exacta de seus para- 
sitas tinha, além do interesse scientifico, um interesse eminente- 
mente pratico. Por isso pedi aos meus collecionadores prestassem 




BOLETIM BIOLOGICO 



120 

at tenção particular para com os phorideos tjue vivem com for- 
migas cortadeiras. Minha esperança não foi desilludida. Se bem 
que o material de phorideos attophilos reunido na minha collec- 
ção até hoje esteja longe de ser completo, fiz ultimamente uma 
revisão do mesmo, depositando os resultados dos meus estudos 
num artigo illustrado que será publicado na Allemanha. Como a 
impressão desse trabalho ainda vae demorar, resolvi publicar a 
presente nota prévia, enumerando todas as as especies tratadas 
no referido artigo e caracterisando ligeiramente as especies novas. 

Com excepção de Allorhaeta lonçjiciliata Borgm.. todas as es- 
pecies aqui mencionadas são parasitas inimigos de Atta ou Acro- 
myrmex, os quaes pairam a pequena altura sobre as formigas, 
aproximando-se-lhes por detraz, afim de lhes injectar um ovo 
por entre as imbricações dos segmentos abdominaes. 

ALLOCHAET A LOXG1C1LIATA Borgm. 192(5 

Os exemplares typieos desta especie são provenientes de Pe- 
tropolis e foram encontrados com Acromyrmex muticinodus For. 
subsp. h o mal o ps For. Com a mesma formiga C. Prade colleccio- 
nou um par in copula (31-X-1926), cujo macho foi reconhecido 
como idêntico a A. propinqua Borgm., nome esse a passar para 
a synonymia. 

Provavelmente esses phorideos procuram as formigas carre- 
gadeiras para lhes mendigar uma gotta de alimento, quando ellas 
descem pela arvore carregando recortes de folhas; pois, segundo 
uma obser\ação interessante de C. Prade, feita em Petropolis 
(23-XII-1926), os phorideos pousavam sobre as folhas tacteando 
com as antennas a região buccal das formigas. Semelhantes cos- 
tumes foram observados na Europa em Meto pina (ormicomen- 
dicula Schmitz com relação a Solenopsis fuyax. 

Si Allochaeta longiciliata passa o cyclo evolutivo dentro do 
formigueiro, é ainda cousa a averiguar-se. 0 certo é que o ovi- 
positor das femeas não é muito chitinisado e se acha desprovi- 
do de ferrão, pelo que é incapaz de perfurar a membrana inter- 
segmental afim de injectar um ovo nu abdômen das formigas, 
como se da com as demais especies attophilas enumeradas neste 
trabalho. 

XEOUOII RXIPHORA DECLIXATA Borgm. 1925 

Este phorideo é um dos principaes parasitas inimigos da 




BOLETIM BIOLOGIOO 



121 



saúva, portanto insecto utilíssimo. Encontrei uni exemplar desta 
espeeie na eollecção do Museu Paulista, que foi capturado em 
21-XI-lí)(l(i, por H. Luederwaldt, em São Paulo, na entrada de um 
ninho de Alta laevigata Fred. Smith. 

Uultimamente (10-XI-1927), meu confrade e amigo Caetano 
Prade encontrou centenas desses phorideos em Bom Retiro ( S. 
Catharina, Município Herval), perseguindo a Atta sexdens L. 
Transcrevo aqui o trecho respectivo da carta que acompanhou a 
remessa do material: 

"Os phorideos que estão no vidrinho A pertencem ás formi- 
gas do vidro grande marcado com a mesma lettra. As formigas 
deste vidro são todas provenientes do mesmo ninho. Com ellas 
encontram-se phorideos em abundanda. Só que é muito custoso 
pegal-os, porque as formigas são muito ferozes e onde estão co- 
brem o sólo. Si não fosse isso, dava para pegar centenas. Segun- 
do me parece, são todos da mesma espeeie, mas o Sr. poderá ver. 
Esses phorideos perseguem as formigas bem de perto até que che- 
gam a tocar o abdómen das formigas, dando-lhes uma espeeie 
de cutueão. Então o phorideo fóge de repente, e a formiga dá uns 
movimentos como para defender-se. E’ o que observei só a res- 
peito desses phorideos.” 

NEODOHRX1PH ORA ACROM YRMECIS Borgm. 1925 

Os typos desta espeeie são provenientes de Rio Negro (Paraná), 
e foram encontrados por W. Frey sobre um ninho de Acromyr- 
mex sp. (28-11-1924). 

XEODOHRNIPHORA WASMAXXI n. sp. 

Em Junho deste anno o rev. Dom Bento Piekel encontrou em 
Tapera (Est. Pernambuco), sobre Atta sexdens var. rubropilosa 
Foi\, duas femeas de N eodohrniphora, que constituem uma nova 
espeeie, a qual é visinha de acromymecis, differindo, porém, pelo 
ovipositor menos comprido e pela nervação das azas; também o 
tarso anterior é relativamente mais curto. 

Comprimento total 2,8 mm. 

A PO CE PH A L L JS LAMELLATUS Borgm. 1926 

Os typos desta espeeie foram encontrados pelo autor em Pe- 
tropolis na entrada de um ninho de Acromyrme x muticinodns 
ssp. homàlops For. (20 XII-1921). 




122 



BOLETIM BIOLOGICO 



APOCEPHALUS ATTOPHILUS n. sp. 

Desta nova espécie recebi uma femea de Bom Retiro (S. Catha- 
rina), C. Prade leg. 1!)27, sobre Attu sexdens L. Ella se distingue 
facilmente das demais especies brasileiras pela formação do ovi- 
positor que é espatulado, com as margens lateraes ligeiramente 
convexas. Comprimento da aza, 1,8 mm. Nervura costal 0,16 do 
comprimento da aza. Balancins amarellos. 

Comprimento total 2,7 mm. 

APOCEPHALUS RIOXEGRENSIS n. sp. 

Esta nova especie c visinha de A. peniculatus Borgm. 1025, da 
qual differe pela formação do ovipositor e pela nervação das azas. 

O ovipositor é menos largo, relativamente mais comprido e 
com as margens lateraes ligeiramente côncavas. Comprimento da 
aza 1,34 mm. Nervura costal 0,58 do comprimento da aza, por- 
tanto distinctamente mais comprida do que em peniculatus. 

Comprimento total 2.1 mm. 

Holotypo 1 femea (em álcool) de Rio Negro (Paraná), \V. 
Erey leg. 13-111-1921 sobre Acromyrmex subterrâneas var. brun- 
neus For. 

APOCEPHALUS DUBITATUS n. sp. 

Possuo um exemplar proveniente de Minas Geraes, amavel- 
mente cedido pelo prof. A. Reiehensperger (Bonn) e que possivel- 
mente constitue a femea desconhecida de .4. obscuras Borgm. 
1021. Mas encontram-se algumas differenças que põem isto em 
duvida. As tibias medias são mais delgadas e o esporão terminal é 
relativamente mais curto. Também a segunda divisão da nervu- 
ra costal é mais curta. 

Holbtypo 1 femea de Minas Geraes, Fuja leg. IX. 1 1)23 sobre 
Acromyrmex subterrâneas var. brunneus For. 

M YRMOSICA RIUS nou. yen. 

Pertencente á sub-familia Metopininae. 

Cabeça mais larga do que o thorax. Cerdas supra-antennaes 
em anteversão. Terceiro articulo antennal oval, no macho alon- 
gado, arista subapical. Palpos curtos, com poucas cerdinhas como 
em Pseudacteon. Sexto tergito abdominal no meio do bordo ante- 
rior com pequeno orifício glandular semicircular. Ovipositor chi- 
ünisado, tubiforme. Hypopygio curto e baixo, segmento anal em 




BOLETIM BIOLOGICO 



123 



forma de bainha, inoderadamente comprido. Patas delgadas, sem 
cerdas isoladas. Tarso anterior da femea de articulação indistin- 
cta. Pretarso anterior ou medio geralmente muito adelga- 
çado. Aza do typo de Megaselia, nervura costal muito abreviada, 
approximadamente 1/3 do comprimento da aza. 

Typo do genero: Myrmosicarius gracilipes n. sp. 

CHAVE DAS ESPECIES 

] — Terceiro articulo antennal approximadamente de compri- 
mento normal — 2. 

— Terceiro articulo antennal distinctamente alongado — õ. 

2 — Tarso posterior na face antero-ventral com cerdas micros- 

cópicas — tarsipennis n. sp. 

— Tarso posterior com pubescencia normal — 3. 

3 — Tarso anterior exactamente do comprimento da tibia — cru- 

delis n. sp. 

— Tarso anterior distinctamente mais comprido do que a ti- 
bia — 4. 

1 — Ovipositor na extremidade apical forquilhado. Sexta ner- 
vura longitudinal ligeiramente em forma de S — gracilipes 
n. sp. 

— Ovipositor na extremidade lanceolado. Sexta nervura na 
metade distai recta — cuspidatus n. sp. 

5 - — Arista menos comprida do que o terceiro articulo antennal. 
Quarta nervura quasi recta — grandicornis n. sp. 

— Arista 1/3 mais comprida do que o tercereiro articulo anten- 
nal. Quarta nervura ligeiramente côncava — catharinensis 
n. sp. 

MYRMOSICARIUS GRACILIPES n. sp. 
Comprimento total 1,8 — 2 mm. 

Typos 17 femeas (em álcool) de Rio Negro (Paraná), W. 
Frey leg. 13-111-1924 sobre Acromgrmex subterrâneas var. brun- 
neus For. 

MYRMOSICARIUS CRUDELIS n. sp. 

Comprimento total 1,4 -1,7 mm. 

Holotypo 1 femea (em álcool) de Bom Retiro (Santa Catha- 
rina), C. Prade leg. 1927 sobre Atta sexdens L. Paratypos 6 femeas 




12 -! 



BOLETIM BIOLOGICO 



da mesma localidade, C. Prade leg. 29-VIII-1927 com Snlenopsis 
naevissima ( ?) . 

MYRMOSICARIUS CATHARIXEXSIS n. sp. 

Esta especie é visinha de M. crudelis, mas differe delia pelo 
terceiro articulo antennal que é mais comprido, e pela nervação 
das azas. 

Comprimento total 1,4 mm. 

Holotypo de Bom Retiro (Santa Catharina) , C. Prade leg. 
28-XI-1927 sobre Acromyrmex sp. (prope diabólicas Santschi). 

Nota — A esta especie me parece pertencer um exemplar ma- 
cho apanhado por C. Prade na vidraça da janella (30-11 1-1927). 

MYRMOSICARIUS GRAXDICORXIS //. sp. 

Comprimento total 1,7 mm. 

Esta especie é visinha de .V. catharinensis, mas o terceiro ar- 
iiculo antennal é ainda mais comprido e tarnbem a nervação das 
azas é differente. 

Comprimento total 1,36 mm. 

Holotypo 1 femea de Raiz da Serra (Est. do Rio de Janeiro), 
\Y. S. Bristowe leg. Agosto de 1923, “flying over saúva”. 

MYRMOSICARIUS TARSIPEXXIS n. sp. 

Esta especie é visinha da especie typica crudelis, mas o tarso 
anterior é mais curto e o metatarso posterior apresenta na face 
antero-ventral cerdinhas microscópicas. (Fig. 1-2). 

Comprimento total 1,8 mm. 

Holotypo 1 femea (em álcool) de Petropolis, C. Prade leg. 
23-XII-1926 sobre Acromyrmex muticinodus ssp. homalops For. 
Pa ratypo 1 femea da mesma localidade, A. Wiltuschnig le« 
Abril 1927. 

MYRMOSICARIUS CUSPIDATUS n. sp. 

Esta especie é muito visinha de gracilipes, mas a formação 
do ovipositor é differente. 

Comprimento total 1,7 mm. 

Typos: 1 femea (em álcool) de Petropolis, C. Prade leg. III- 
1926 sobre Acromymex muticinodus ssp. homalops For. Além 




BOLETIM BIOLOGICO 



125 



disso 1 femea (conservada a secco) da mesma localidade, C. Pra- 
de leg. 12-1 1 -11)23. 

STENONEURELLYS LAT1CEPS Borgm. 11)27 

O holotypo desta especie é proveniente de Petropolis, C. Pra- 
de leg. 23-XII-1926, sobre Acromyrmex miiticinodus ssp. ho maio ps 
For. 

PROCLIMELLA HOST1LIS Borgm. 11)25 

Esta especie foi encontrada na mesma localidade e com a 
mesma formiga, B. Ronchi leg. 14-XII-1921. 

ZUSAMMENFASSUNG 

Diese Arbeit enthâlt eine vorlâufige Notiz iiber Phoriden, die 
bei Blattschneiderameisen schmarotzen. Meine Untersuchung 
c-rgab 1(5 sichere Arten, die sich auf 6 Gattungen verteilen. Mit 
Ausnahme von Allochaeta longiciliata Borgm. sind alie feind- 
iiche Verfolger von Ai ta oder Acromyrmex, welche dicht iiber den 
Ameisen schweben und sich denselben von binten náhern, um ih- 
nen mittels des cbitinosen Ovipositors ein Ei zwischen die Hinter- 
leibstergite einzuspritzen. Fünf weitere Arten (1 Neodohrni- 
phora sp., 3 Myrmosicarius ssp. und 1 nov. gen.) bleiben vor- 
lâufig unbeschrieben. 

In Wirklichkeit dürfte die Anzabl der bei Attta und Acro- 
myrmex parasitisch lebenden Phoriden noch erheblich grósser 
sein. 

BIBLIOGRAPHIA 

Borgmeier, Th. 1924, Novos generos e especies de Phorideos do 

Brasil. Boi. Mus. Nac., Rio, vol. I, pags. 
1(58-202, 23 figs. 

” 1925, Novos subsídios para o conhecimento da 

familia Phoridae. Arch. Mus. Nac. Rio, vol. 
25, pgs. 85-281, (51 figs. no texto, Est. I-XYII. 

” 192(5. Phorideos novos ou pouco conhecidos do 

Brasil. Boi. Mus. Nac. Rio, vol. 2, fase. 5, 
pgs. 39-52. Est. I-III. 

" ” 1927, Zwei neue myrmecophile Phoriden aus 

Brasilien. Eos, Madrid, vol. 3, pgs. 505— 
511, 3 figs. no texto, 1 est. 




126 



BOLETIM BIOLOGICO 




1) Myrmosicarius tarsipennis n. sp. Tarso posterior x 200. 

(Object. Zeiss 10 mm., Ocul. Homal. I). 

2) Myrmosicarius tarsipennis n. sp. pata posteriox x 70. 

(Object. Bausch & Lomb, 32 mm., Ocul. Zeiss Homal. I). 





BOLETIM BIOLOGICO 



127 



Trabalho do Laboratorio de Parasitologia da Faculdade 
de Medicina de São Paulo. Brasil. 

Prof. Cathedratico: LAURO TRAVASSOS — Assistente: — CESAR PINTO. 

Monitores: PAULO ARTIGAS, CLEMENTE PEREIRA, ZEFERINO VAZ 
e EDMUR WHITAKER. 

N." 61 

EIMERIA CARINII nova especie. Parasita de 
MUS (E.) NORWEGICUS do Brasil. 

PELO DR. 

CESAR PINTO 

Examinando fezes de ratos (Mus ( E .) norwegicus) colhidas 
pelo prof. A. Carini, tive a opportunidade de encontrar grande 
numero de esporos maduros de uma Eimeridia pertencente ao ge- 
nero Eimeria que me parece ser uma especie nova. 

O nome especifico é dado em homenagem ao prof. Carini que 
foreueceu o mterial contendo esporos do Protozoário abaixo des- 
cripto. 

EIMERIA CARIS II n. sp. 

Fig. 1 

Hospedador: Murideo (Mus (E.) norwegicus) proveniente da 
cidade de São Paulo, Brasil. 

Localisação : esporos maduros encontrados nas fezes. 

Diagnose: oceysto maduro (Fig. 1), arredondado tendo de 
diâmetro 22 a 23 micra ou ligeiramente irregular tendo 22,1 mi- 
cra por 23,8 micra. Membrana do oocysto tendo 1,7 a 2 micra 
de espessura e muito característica pelo facto de possuir peque- 
nas estriações transversaes. A parede que reveste o oocysto é lisa 
não se notando pequenas depressões como acontece com a Eime- 
ria intricata Spigl. 

Oocysto maduro contendo no seu interior quatro esporos sem 
reliquat oocystico. Os esporos são arredondados ou ovalares e 
medem lti a 18 micra de comprimento por 9-10 micra de largura. 
No interior de cada esporo existem dois esporozoitos e um reli- 
quut esporai constituído por grânulos refringentes irregularmen- 
te esparsos. 




12$ 



BOLETIM BIOLOGICO 




Fig. 1. Oocysto madura de Eimeria carinii n. sp. x 1.800 diâmetros. 




BOLETIM BIOLOOICü 



129 



Trabalho do Laboratorio de Parasitologia da Faculdade 
de Medicina de São Paulo. Brasil. 

Prof. Cathedratico: LAURO TRAVASSOS — Assistente: — CESAR PINTO. 

Monitores: PAULO ARTIGAS, CLEMENTE PEREIRA, ZEFERINO VAZ 
e EDMUR WHITAKER. 

N." 62 

Sobre uma especie do genero RICTULARIA 
Froelich (Nematoda). 

POR 

LAURO TRAVASSOS 

O material que forneceu assumpto para esta nota faz parte 
de uma collecçào de helminthes de Chiropteros que nos deu o dis- 
tincto collega Dr. Samuel Pessoa, do Instituto de Hygiene de São 
Paulo, a quem muito agradecemos. 

Em trabalho posterior daremos conta, com mais detalhe, das 
especies de helminthes encontradas nesse material. Agora nos 
occuparemos exclusivamente de uma especie do genero Rictu- 
laria. 

Ha na literatura apenas referencias de uma especie de Rict ti- 
laria. da fauna de Nematodeos do Brasil, a qual se refere a um pa- 
rasito descripto por Diesing em 1851, do Oxymycterus rufiis (Ro- 
dentia). Este parasito foi incluído por Hall em genero aparte: 
Rictularioides Hall, 1916, Diesing inicialmente denominou-o 
Ophiostoma amphicantha e só é conhecido pela descripção de 
Diesing, que, como todas as descripções antigas, é insufficiente. 
Hall baseou-se na extranba estructura eephaliea, descripta e re- 
presentada por Diesing para o estabelecimento de novo genero. 
Não obstante vir a descripção acompanhada de figura, parece- 
nos ser prudente uma certa reserva sobre a interpretação a dar á 
descripção e figuras da extremidade eephaliea desta especie que 
bem pode ser resultado de uma má fixação ou qualquer outro de- 
feito do material. 

Por diversas vezes temos encontrado Rietularias parasitando 
morcegos, mas nunca tivemos opportunidade de estudal-as e des- 
crevel-as. Esse nosso material anterior está no Instituto Oswaldo 
Cruz não nos sendo possível agora estudal-o. 




130 



BOLETIM BIOLOGICO 



O genero Rictalaria foi por Hall, em 1913, separado em uma 
sub-familia que indevidamente subordinou aos Stroiujyloidea. 
Ralliet, em 1916, separou em familia aparte que justamente in- 
cluiu nos Spiruroidea. Realmente as Rictularias teem todas as 
características de Spiruroidea desde a capsula buccal, morpbolo- 
gia do esophago, extremidade caudal dos machos, e mesmo as 
formações cuticulares. 

Yorke & Maplestonc. 1926, em sua formidável monographia 
dos nematodeos dos vertebrados acceitam a orientação de Railliet 
mantendo os Rictulariidae nos Spirudoidea. Incluiram nesta fa- 
milia 5 generos: Rietularia, Rictularioides, Echinomena, Espinitec- 
tus e Pneumonema. Sobre Rictularioides já nos referimos atraz, 
manifestando a opinião de ser prematuro o estabelecimento de 
genero para especie ainda mal conhecida. Quanto á Pneumone- 
ma e Echinonema não me parecem bem situados aqui, sobretudo 
Echinomena, embora não possamos indicar melhor collocaçáo. 
Espinitectus, porém, deve ser afastado desta familia. Sobre a si- 
tuação desse genero trataremos em trabalho que está no prélo, 
feito em collaboração com P. Artigas e C. Pereira e que appare- 
cerá nos Archivos do Instituto Biologico de São Paulo. 

Baylis & Daubney incluiram este genero como appendice dos 
Thelazinae, sem reconhecer para elles qualquer grupo autonomo, 
opinião que não é acceitavel. 

Resumindo, consideraremos do modo seguinte os Rictula- 
riidae Railliet, 1916: — Uma só sub-familia Rictulariinae Hall, 
1913 com os generos: Rietularia Froelich, 1802; Rictularioides 
Hall, 1916. Pneumonema Jonhston, 1916 e Echinonema v. Linstow, 
1898 poderão ficar apenas como generos parecidos no aspecto ex- 
terior, parecendo-nos que Echinonema se approxima mais dos 
Ascaroidea. Pneumonema é evidentemente um Spiruroidea, mas 
cuja situação ainda não pode ser estabelecida. 

RIETULARIA ELEGASS n. sp. 

(Fig. 1-6) 

Comprimento: femea — 1,6 mm. Macho — 2,3 mm.; largura: 
femea — 0,21 mm.; macho — 0,13 mm. Corpo mais attenuado an- 
teriromente e com cutícula estriada transversalmente, apresen- 
tando duas series longitudinaes de formações chitinosas caracte- 
rísticas. Essas formações são situadas ventro-lateralmente e teem 
inicio anteriormente, ao nivel do principio do esophago e posterior- 



cm l 



SciELO 



11 12 13 14 15 16 17 




BOLETIM BIOLOGICO 



131 



mente, perto da extremidade posterior, á 0,42 mm. nas femeas e 
0,19 m. nos machos, desta extremidade. 

São dispostas aos pares e bastante approximadas uma das 
outras; modificam-se gradualmente de diante para traz; a prin- 
cipio augmentam as dimensões até mais ou menos o nivel da ter- 
minação do longo esophago e dahi para traz diminuem progres- 
sivamente. Damos figuras de 2 typos principaes destas forma- 
ções : as observadas na figura 2 são situadas antes da terminação 
do esophago e teem 1 aculeo curvo e raiz larga, medem mais ou 
menos 0,077 mm. de comprimento, sendo 0,030 mm. para o aculeo, 
e de largura 0,030 mm. As formações representadas na figura 3 
são situadas atraz do esophago e medem 0,092 mm. de compri- 
mento, sendo 0,038 para a lamina, por uma largura de 0,15 mm. 
Como se vê, são mais longas e mais estreitas. 

A extremidade anterior apresenta uma ampla capsula buc- 
cal que não é situada obliquamente como em muitas especies, mede 
cerca de 0,038 por 0,038 nas femeas e 0,030 por 0,030 mm. nos ma- 
chos, isto é, teem secção mais ou menos quadrada. Não pudemos 
observar bem os lábios, comtudo nos pareceu serem em numero 
de 2. A cutícula em torno da extremidade cephalica estava extre- 
mamente dilatada, mas evidentemente, devido a defeito de fixação. 
O esophago é extremamente longo e quasi cylindrico, mede cerca 
de 1,3 mm. de comprimento na femea e 0,67 mm. no macho por 
uma largura respectivamente de 0,061 e 0,046 mm. Aunei nervoso 
na extremidade anterior do esophago, a cerca de 0,15 mm. da ex- 
tremidade anterior do corpo, nos dois sexos. O póro excretor não 
pôde ser observado. 

Femeas com a vulva situada a cerca de 2,1 mm. da extremi- 
dade anterior, sendo o apparelho genital de lypo pro-delpho; o 
ovejector se dirige para traz, os úteros ficam em continuação ao 
ovejector e vão até o nivel do anus onde curvam-se para a frente 
de tal modo que os ovários ficam ao nivel do ovejector. Os ovos 
são relativamente grandes e de casca extremamente espessa, me- 
dem cerca de 0,012 mm. de comprimento por 0,018 a 0,023 mm. 
de maior largura. A extremidade posterior é cónica, ficando o 
anus a cerca de 0,10 mm. da extremidade. O anus é precedido de 
um longo recto, extremamente delgado e talvez mesmo cego. 

Machos com a extremidade posterior curvada em arco e com 
azas muito estreitas. Apresentam cerca de 8 pares de papillas 
sendo seis post-anaes mais ou menos em dois grupos, e dois pares 
pré-anaes; notámos ainda uma papilla pré e outra post-anal, im- 




132 



BOLETIM BIOLOGICO 



pares. Os espiculos são desiguaes, medindo cerca de 0,046mm. e 
0,107 mm. respectivamente. 

Habitat: — Eiimusospes perotis Wied. 

Proveniência: — Engenheiro Gomide, Est. de São Paulo. 

Como vimos, essa especie foi colleccionada pelo Dr. Samuel 
Pessoa, sendo o morcego determinado peio Sr. João Lima, do Mu- 
seu Paulista. 

No mesmo material encontramos também um exemplar ma- 
cho de Haplostronyylus paradoxus (Trav., 1918). 

EXPLICAÇÃO DAS FIGURAS 

Fig. 1 — Extremidade anterior e capsula buccal. 

Fig. 2 — Formações cutilares da femea, perto da termina- 
ção do esophago, vistas ventralmente. 

Fig. 3 — Idem, ao nivel da porção anterior do intestino, vis- 
tas também ventralmente. 

Fig. 4 — Extremidade posterior da femea, vendo-se o recto 
rudimentar. 

Fig. 5 — Extremidade caudal do macho, vendo-se as forma- 
ções cuticulares de perfil. 

Fig. 6 — A mesma, mas augmentada, para mostrar os espi- 
culos e as papillas. 



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BOLETIM BIOLOGICO 



135 



Contribuição para a biologia de CENTRIS SPONSA e 
ACANTHOPUS EXCELLENS (Hymen.) 

POR 

BENTO PICKEL 

A biologia dos Podaliriidae é pouco conhecida até hoje, ao 
que parece, porque compulsando as obras referentes a este ponto 
em o nosso paiz, encontrei somente algumas notas sobre o modo 
de vida destas abelhas solitárias. R. v. Ihering, em sua Biologia 
das abelhas solitárias do Brasil (1), fornece valiosos apontamen- 
tos sobre a nidificação do Podalirideo Ptilothrix plumata Sm. 
que se cria em casa dc cupim no Estado de São Paulo. F. Silves- 
tri (2), achou outra abelha, a Centris thoracical Lep., nu Estado 
de Matto Grosso, também em cupinzeiros de duas especies. A. 
Ducke, finalmente, também assignala os ninhos de cupim como 
criadouro das abelhas grandes de Centris. 

Embora Ihering tenha encontrado vários criadouros para os 
differcntes generos de Podoliriidae, parece entretanto, que as es- 
pecies de Centris se criam exclusivamente em casas de cupim. 

As minhas pesquizas confirmam plenamente esta supposi- 
ção para outra especie de Centris que ha dois annos tenho encon- 
trado em casas de cupim, no Estado de Pernambuco, na Fazen- 
da da Escola S. de Agricultura de Tapera. 

Examinando os cupinzeiros da região em busca de termito- 
philos encontrei sempre casulos vazios e cheios de uma cupi- 
neira que extrahi e criei no laboratorio, podendo estudar-lhe al- 
guns traços biologicos de que tratam as linhas abixo. 

O termitophilo c um bellissimo insecto, determinado pelo 
Dr. Costa Lima como Centris (Melanocentris) sponsa Sm., e o 
cupim, em cujas casas vive, foi determinado por F. Silvestri como 
Microcerotermes bouvieri Desn. Deixo consignado neste logar os 
meus agradecimentos aos dois sicentistas pela determinação do 
material. 

As casas de cupim, preferidas pela Centris sponsa, são muito 
duras porque são construídas de argilla, tendo a côr da terra 
donde porvem. Encontram-se sempre por cima da terra coitadas 



(1) Revista do Museu Paulista, vol. 6. 

(2) E. Wasmann. Das Gesellschaftsleben der Ameisen, I. Band. 




13í> 



BOLETIM BIOLOC.ICO 



em paus ou rochedos desde poucos cm. acima do solo até á al- 
tura de cinco e mais metros. Nunca encontrei casulos desta es- 
pecie de Centris em cupinzeiros de especie differente, de sorte 
que se póde admittir um caso de symbiose constante e regular 
entre os dois insectos. 

A Centris sponsa é de côr preta com pubescencia dourada nos 
tres primeiros tergites abdominaes e no torax, excepto o photho- 
rax e uma área quadrada mesonotal com o escutello. A pubes- 
çencia tio terceiro tergite abdominal não é constante, pois, ás ve- 
zes é fraca e póde mesmo faltar. As azas são preto-azuladas. Os 
exemplares da collecção da Escola têm 3 cms. de comprimento 
por 1 cm. de largura. Não capturei o macho, embora criasse vá- 
rios especimens de material colhido nos cupinzeiros; todos os in- 
divíduos eram femeas, das quaes encontrei uma perfurando a 
casa de cupim em busca da liberdade e outras em nidificação. 

A Centris sponsa tem metamorphose interessante, cujas pha- 
ses pude seguir e estudar. O ovo é roliço e tem forma oblonga e 
curva com 5 mm. de cumprimento (Fig. 1-A). As larvas obde- 
eem a quatro typos, cujos instars suppõem varias ecdyses, não se 
encontrando porém as exuvias, a não ser a ultima pelle larval. 
O primeiro instar é uma larva curva e enrugada que se encontra 
deitada sobre a massa alimentícia accumulada no fundo do al- 
véolo. A lama recem-nascida tem 6 mms. de comprimento e attin- 
ge em pouco tempo 3 a 4 cm. de cumprimento (Fig. 1-B). O se- 
guinte instar é uma larva roliça e lisa com 1 cm. de comprimen- 
to por 1 cm. de largura. Neste periodo de maior crescimento a 
larva consome todo o alimento que consiste de pollen e mel, de- 
nominado vulgarmente “saburá”. (Fig. 1-C). O outro instar é uma 
larva com os somites encolhidos e enrugados, tendo 3,5 cm. de 
comprimento. Nas pleuras começa esboçar-se a divisão tergo- 
sternal. (Fig. 1-D). Durante este tempo a larva principia a tecer 
o casulo revestindo o alvéolo internamente com uma camada lisa 
e forte de textura pergaminhosa. Depois da formação do casulo 
ha mais um instar larval muito encolhido e quasi immovel, tendo 
de comprimento 3 cm. mais ou menos. (Fig. 1-E). Parece que a 
Centris "hiberna” neste estádio até effectura-se, em Maio e Ju- 
nho, a transformação em nympha. As larvas são apodas e cegas, 
sempre de côr branca e com dez estigmas nos lados. A nympha 
é de côr branco-suja, excepto no thorax e na cabeça que são es- 
curos, quasi pretos. 



cm l 



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BOLETIM BIOLOGICO 



137 




Fig. 1 



O tempo de evolução dura provavelmente uns 9 mezes, em 
condições normaes. Surprehendi as femeas na nidificação e pro- 
creação desde Julho até Outubro. As imagos apparecem de Ju- 
nho a Outubro. Segundo H. Luederwaldt (in litt.) , no Estado de 
Maranhão, a Centris sponsa, representada por tres exemplares (1 
macho e 2 femeas) no Museu Paulista, apparece em Setembro. 
As larvas adultas que se conhecem pela presença de forte casulo, 
encontrei desde Setembro até Julho. As nymphas achei tão so- 
mente nos mezes de Junho e Julho. 

Os alvéolos, sempre sobrepostos em numero de dois a quatro, 
raro havendo um só, são tão bem construídos no interior das ca- 
sas de cupim, que estes isopteros não os podem perfurar. Acon- 
tece, porém, que alguns alvéolos novos occupados pelo cupim que 
mata o inquilino. Nunca os alvéolos se encontram no núcleo in- 
terno, muito duro, que constitue o reducto da mestra, mas sem- 




138 



BOLETIM BIOLOGICO 






o fc m 4if. 



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Fiff. 2 

pre na peripheria mais molle. Mais para o centro do cupinzeiro 
só sáo encontrados alvéolos antigos que são cheios das galerias 
do cupim ou habitados por formigas do gen. Camponotus de va- 
rias especies. Os alvéolos têm a mesma forma descripta e figura- 
da por Ibering, mas são bem maiores, tendo 2,5 cm. de compri 
mento e 2 cm. de largura maior no bojo, ficando mais estreitos 
perto da tampa. A superfície externa é aspera e adherente firme- 
mente ás galerias do cupim, a interna é alizada e lustrosa. 0 al- 
véolo novo é quebradiço, apezar da parede grossa, formada do 
material do cupinzeiro, e se desmancha no álcool em uma mas- 
sa amorpha, ao passo que o velho é resistente, graças ao casulo 
forte que o forra. 0 fundo é arredondado e contém o alimento 



cm l 



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BOLETIM BIOLOGICO 



139 



da larva. Este material que tem cheiro agradavel, no principio é 
liquido em cima e mais solido em baixo, ficando enxuto mais 
tarde. A tampa do alvéolo é chata, provida internamente de uma 
cicatriz característica e serve de supporte ao alvéolo seguinte. A 
posição da larva é erecta, com a cabeça inclinada para o fundo, 
ao passo que a joven larva é deitada sobre o saburá. A sabida da 
imago se effectua pelos lados e não pela tampa como pensa Ihe- 
ring. Encontrei varias vezes cupinzeiros com uma, duas e até qua- 
tro perfurações superpostas, e até quinze em um unico, por onde 
tinham escapado as imagos e dois indivíduos surprehendi neste 
trabalho. E por este motivo que também os alvéolos deitados são 
abertos na parede lateral, quando se criam no laboratorio (Fig. 3). 




Fig. 3 



A nidificação é muito interessante. As femeas que encontrei 
fazendo os alvéolos perfuraram a casa de cupim na base ou de 
lado, excavando uma galeria ascendente que, dando uma volta 
larga, findou num canal descendente em prumo (mais ou menos), 
onde no fundo havia os alvéolos com saburá e um ovo, o ultimo 
sem tampa ainda. O trabalho da nidificação parece ser pouco 
demorado, porque as larvas da mesma ninhada ordinariamente 
apresentam poucas differenças na idade. Achei porém também 




I4(> 



ROLETIM RIOLOGICO 




Fig. 4 

Junto com a Centris criei também o seu parasita, Acantho- 
I >us excellens Schr. A còr deste insecto bellissimo concorda muito 
bem com a descripção de Schrottky (3). Assim, |>ois, está prova- 
do que este Nomadideo queA. Ducke (1) considera como for- 
ma geographica de A. splendens F. occorre também em Pernam- 



(3) Revista do Museu Paulista, vol. õ. 

(4) Commissão de linhas telegraphicas estratégicas de Matto tirosso 
ao Amazonas. Annexo X." 5 Hymenopteros. 



cm l 



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ninhadas cujo alvéolo mais antigo (o inferior) encerrava uma lar- 
va adulta, ao passo que os outros superiores continham larvas 
m uito jovens. Esta demora na construcção dos alvéolos se expli- 
ca pelos hábitos pacíficos do cupim. Ordinariamente o cupim obs- 
true o canal aberto pela Centris, fechando o rombo, de sorte que 
desapparece todo o vestígio da presença de inquilinos. A Centris 
perturbada assim no seu trabalho é obrigada a construir n’outro 
logar. Em cupinzeiros, todavia, que em parte são deshabitados, 
encontrei intacto o canal aberto pela Centris e também os bura- 
cos de sahida. (Fig. 4). 




BOLETIM BIOLOGICO 



141 



buco. Entretanto, esta raça foi encontrada até agora (ao que pa- 
rece) somente nos Estados de São Paulo e Matto Grosso. 

0 unico exemplar que possuo, é femea, tendo 2.5 cm. de 
comprimento e 0,9 cm. de largura. De Agosto a Novembro en- 
contrei também as larvas deste parasita dentro do alvéolo de Cen- 
tris. O ovo de Acànthopus é roliço, oblongo, curvo e finamente 
granuloso, provido de um risco longitudinal e tem 6 mms. de com- 
primento. Na tampa de um alvéolo encontx - ei grudado um ovo 
vazio, cuja larva tinha perecido. Pude constatar tão somente tres 
instars larvaes, acredito porém que tem mais. A larva reeem- de- 
salagada, de Omni. de comprimento, traz na cabeça pardacenta 
mandíbulas fortes e curvas da mesma còr e, no prothorax dois 
pseudopodes. Também os outros somites são bastante prolonga 
dos a ponto de servirem para a locomoção. Encontrei uma des- 
sas larvas que viajava no interior do alvéolo em procura do ovo 
de Centris arrastando atraz de si o chorion o que ainda não ti- 
nha abandonado. (Fig. 1-F). O seguinte instar é uma larva seme- 
lhante ao typo D de Centris, mas desta differe pela presença dc 
patas e a fórma das mandíbulas etc., illustrada pela F. 2, os ca- 
differença dos estigmas desses dois typos larvaes, a presença de 
patas e a fórma das mandíbulas etc. illustrada pela Fig. 2 os ca- 
racteriza sufficientemente. Summamente interessante na larva 
de Acànthopus deste instar é a existência de palpos. O palpo la- 
bial é triartieulado, sendo o articulado basal largo ou folhoso. 
(Fig. 2-N). Os palpos existentes na base das mandíbulas, no lado 
externo da cabeça, são biarticulados e certamente devem ser re- 
lacionados com as maxillas, embora que estas faltem na larva. 
(Fig. 2-0). (No adulto estes palpos são ausentes ou reduzidos a 
tubérculos). Facto interessante para o hymenaptero é o appare- 
eimento de dejecções da larva. Depois de consumido o saburá, 
apparecem os excrementos filamentosos que são aproveitados no 
forro do alvéolo. Mas encontrei também uma larva que princi- 
piou a excretar antes de ter consumido o alimento. Em seguida se 
dá a muda, desta larva, que tem 3 cm. de comprimento. A larva, 
do ultimo instar provavelmente, é fulva e tem a derme bastante 
dura e quebradiça, com conteúdo quasi leitoso. Possue patas em 
fórma de mamillos, mantem posição recta no alvéolo e tem 1,3 
cms. de comprimento e fórma característica. (Fig. -H). 0 estigma 
do mesothorax é muito pequeno em comparação com os outros, 
ao todo em numero de nove. No fundo do alvéolo encontra-se a 
pelle molle que traz impressões do trabalho das mandíbulas. An- 




142 



BOLETIM BIOLOGICO 



tes de nymphar esta larva tece casulo bem como a Centris. mas 
o tempo da construcção varia um pouco, sendo feito em geral 
pela larva do segundo instar, emquanto se póde encontrar lar- 
vas do terceiro instar sem o casulo. Não encontrei a nympha. 
Abrindo os cupinzeiros achei também uma imago desfeita em pe- 
daços que provavelmente foi morta pela Centris dentro do alvéo- 
lo surphendida em flagrante na violação do lar pagando o de- 
licio com a vida. 

Quadro symbiotico entre CENTRIS e ACANTHOPUS cujas larvas foram 
encontradas em um cupinzeiro unico, aberto em 1 de Outubro. 




Nota: — As lettras significam os instar da Fig. 1 e os algarismos 1 a 14 
o numero de ninhadas, sendo o alvéolo 1.” o inferior de cada ninhada. 

O significa morto pelo cupim. B* é uma larva em desalagamento. 

A symbiose entre o cupim e Centris se limita á occupação 
por meios violentos de uma parte do cupinzeiro pela abelha, sem 
que esta entre nos canaes e sem viver á custa do primeiro. Vivem 
juntos em compartimentos separados e sem communieação entre 
si. A Centris é apenas invasora, apoderando-se de um logar pe- 
queno para a cria e abandona o cupinzeiro. 

F. Silvestri creou para este caso de symbiose da Centris o 
nome de termitophilo alloicoxeno (5). Deve, porém prevalecer 
o termo de termitophilo metoico, creado por Wasmann em 
1895 (6) para designar aquelles hospedes que vivem na visinhan- 
ça ou dentro do ninho de formigas ou térmitas, sem relações di- 



ta) F. Silvestri. Boll. Mus. Torino, 1902. X.“ 419. Cit. in (2). 

(6) E. Wasmann, Die Myrmecophilen und Termitqphilcn. Leyden, 1896. 



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BOLETIM BIOLOGICO 



143 



rectas com os hospedeiros, dos quaes recebem tratamento paci- 
fico ou hostil. 

O caso de symbiose do Acanthopus com a Centris é verda- 
deiro parasitismo, mas com relação ao cupim o primeiro também 
é metoico no mesmo sentido como a Centris sponsa Sm. 

Escola S. de Agricultura "São Bento’, em Tapera, 24 de Ou- 
tubro de 1928. 




-(O)- 





REDACTORES: 

ARTHUR NEIVA, L. TRAVASSOS, CESAR PINTO, 

E. SOUZA CAMPOS, FLAVIO DA FONSECA e PAULO ARTIGAS. 

Auxiliam a publicação deste Boletim as seguintes pessoas: 

Professores E. de Souza Campos, Pedro Dias da Silva. Dr. João Daudt D'01iveira, 
Prof. Aguiar Pupo, Prof. A. Carini, Dr. Julio de Mesquita Filho, Dr. Jesuino Maciel, 
Dr. Navarro de Andrade, Dr. J. C. N. Penido, Prof. R. Briquet, Dr. Ayres Netto, 
Prof. Cantidio de Moura Campos, Dr. André Dreyfus, Prof. Sérgio Meira Filho. 
Dr. Abilio M. de Castro, Cel. Eugênio Artigas, Dr. Julio Schwenck, Dr. Genesio 
Pacheco, Dr. Paulo Galvão, Dr. J. Ferreira de Andrade, Clemente Pereira, Zeferino 
Yaz, Francisco de Paula Rodrigues, Carlos Leoncio de Magalhães, Prof. Franco da 
Rocha, Dr. Itagyba Villaça, Prof. Almeida Prado, Prof. Enjolras Vampré, Dr. Otto 
Bier, Dr. Adolpho Penha, Dr. Celso Rodrigues, Prof. Carmo I.ordy, Dr. José Oria, Prof. 
Flaminio Favero, Dr. Floriano P. de Almeida, Dr. Renato Locchi, Dr. Paulino Longo. 



1929 — Fascículos 15-16 



S. Paulo — Brasil 

Lab. de Microbiologia da Faculdade de Medicina. 




ADVERTÊNCIA: 0 Boletim Biologico é uma publicação exclusivamente 

votada á divulgação de trabalhos originaes de sciencia pura, mantido 
por iniciativa particular, sem preoccupação commercial, não sendo, 
portanto, aeceitos annuncios ou pedidos de assignatura. Sua distribuição 
fica a critério da Redacção, que o remetterá aos especialistas e Insti- 
tutos scientificos interessados, acceitando, entretanto, propostas de 
permuta com publicações congeneres. 

Não terá, outrosim, caracter dc pcriodico, aparecendo lógo que 
haja matéria a publicar. 

A correspondência deverá ser dirigida ao Laboratorio de Micro- 
biologia da Faculdade de Medicina de São Paulo. Rua Theodoro Sam- 
paio, 11. S. Paulo. Brasil. 

AVERTISSEMENT: Le “Boletim Biologico” est une publication vouée 

exdusivement à la divulgation des travaux originaux de Science pure, 
soutenue par initiative privée, sans aucune préoccupation commerciale; 
toute demande d’anuonces ou d’abonnements ne peut étre par consé- 
quent acceptée. 

La distribution du “Boletim” reste á la charge de la Rédaction qui 
Tenverru aux spécialistes et aux Instituts scientifiques intéressés. La 
Rédaction acceptera des permutations avec d’autres publications si- 
milaires. 

Le “Boletim” n'aura pas, en outre, caractère de périodique, ne 
paraissant, pour ce motif qifaussitôt qu’il y aura matière ã publier. 

Toute correspondance devra être adressée au Laboratoire de Mi- 
crobiologie de la Fac. de Méd. de São Paulo. Rua Theodoro Sam- 
paio, 11. São Paulo. Brésil. 

NOTICE: The "Boletim Biologico” is a publication entirely dedicated to 
the divulgcnce of original works of pure Science, maintained by a 
private initiative without any commercial intercst, so that ajvertise- 
ments and subseriptions are not received. It is distributed by the edi- 
torship who will send it to the specialists and scientific institutes wh o 
intercst themselves in these researches, accepting, however, proposals 
of exchange with fellow-publications. 

Moreover, this paper will not be published periodically, apperaing 
as soon as there is subject-matter. 

The correspondence must be addressed to the Laboratorio de Mi- 
crobiologia da Faculdade de Medicina de São Paulo. Rua Theodoro 
Sampaio, 11. São Paulo. Brasil. 



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BOLETIM BIOLOGICO 



índice dos fascículos 15 e 16. 

ÍNDICE ALPHABETICO DAS MATÉRIAS. 



Anatomia Pathologica 



Helminthologia 
Hematologia . 
Mycologia. 
Pbarmacodynamica. 
Prolozoologia . 


A 


. . 1, 16, 81 e 

. . ‘>0, 23 e 

. . . 18. 28 e 


Acção do veneno de 
respectivo. 


sapo sobre o appareibo 


cardio vascular 



Alterações pathologicas do tecido adiposo na moléstia de Cha- 
gas congénita experimental ■ • 

Amazona aestiva (Sobre os granulocytos eosinophilos do san- 
gue circulante da) . 

Arduenninae de Bradypus tridactylus I 

B 

Blastomycose experimental 

Blastomycose no Brasil (Incidência da) 

Bradypus tridactylus ( Arduenninae de) • 

C 

Cephalobium nitidum n. sp 

Coccidioidico (Estudo sobre o parasito do granuloma) . 
Corpos intranucleares nas cellulas do retículo endothelial do 
gânglio Iymphaticc parasitado pelo Trypanosoma cruzi . 
Crabro tabanicida n. sp 

E 

Experimental (Blastomycose) 

Experimental (Trypanosomiase americana congénita) . 



99 

85 

1)2 

17 

97 

65 

.36 

65 

75 

47 

1 

20 

23 

1 

81 

97 

99 

13 

20 

28 



BOLETIM BICLOGICO 



Estudos sobre o parasito do granuloma coccidioidico . . .97 

F.citophilo (Um novo histerideo) 85 



Ganas pis carnalhoi n. sp. (Uni novo parasita da mosca das 

fructas) 70 

Gânglio lymphatico parasitado pelo Trypanosoma cruzi (Cor- 
pos intranucleares nas ecllulas do reticulo endothelial do) 99 



incidência da Blastomycose no Brasil 23 

Infecção do camondongo branco com a Leishmania brasiliensis 
Vianna, 1911 (Possibilidade de) . . 18 



Leishmania brasiliensis Vianna, 1911 (Possibilidade de infec- 
ção do camondongo branco com) 18 

Leiuris Leuckart, 1850 

Leiuris leptocephaliis (Rud. 1819) 

. gracilis (Rud. 1819) 

Limacoccus n. gen 

Limacocens serratus n. sp 



M 



Moléstia de Chagas congénita experimental (Alterações patho- 

logieas do tecido adiposo na) 75 

Mosca das fructas (Um novo parasita da) .... . 70 

N 

Nova especie de nematoideo do genero Cephalobium . . 81 

Novas especies de r I rypanosomas de peixes brasileiros de agua 

doce ru; 

Novo hymenoptero destruidor de motucas 

Novo genero e nova especie de pulgões da Bahia 
Novo parasita da mosca das fructas . . 



cm l 



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BOLETIM BIGLOGICO 



Paraleiuris n. gen 4 

Paraleiuris loechii n. sp 4 

Parasito da mosca das fructas (Um novo) 70 

Parasito do Granulo ma coccidioidico (Estudos sobre o) 97 

Possibilidade de infecção do camondongo branco com a Leish- 

mania brasiliensis, Vianna, 1911 j ^ 

Pulgões da Bahia (Um novo genero e nova especiè de) . 59 



Strongi/loides ophidiae n. sp. 



16 



Trypanosomiase americana congénita experimenta! . ... 2 K 

Trypanosomas de peixes brasileiros de agua doce (Novas espe- 

cies de) 

Trematoide parasito do intestino de cobra 
Trypanosoma chetostomi n. sp. . 

„ larai n. sp 

„ piracicabae. 

Travtrema travtrema n. g. e n. sp. . 

Trypanosoma cruzi (Corpos intranucleares nas cellulas do gân- 
glio lymphatico parasitado pelo) 99 



X 



Xenister n. gen 

Xenister schivartzmaieri n. sp. 



cm 1 



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AVISO IMPORTANTE 

A reforma por que acaba de passar a Faculdade de Medicina 
de S. Paulo determinou ficasse interrompido por dois annos o cur- 
so de Parasitologia, cuja cadeira foi transferida do l.° para o 3.° 
anuo. Seu Cathedratico, o Prof. Lauro Travassos, aecedendo ao 
convite de “Instituí fiir Schiffs-und Tropenkrankheiten”, de Ham- 
burgo, para abi realizar um curso de Helminthologia, conservar- 
se-ha afastado de nosso paiz por lapso de tempo superior a um an- 
uo. Seu Chefe de Laboratorio, o Prof. Cesar Pinto, acaba de ser 
nomeado para reger a cadeira de Hygiene da “Escola Superior de 
Agricultura e Medicina Veterinária do Rio de Janeiro”. 

Emquanto perdurar esta situação, passará o “Boletim Biolo- 
gico” a constituir publicação da Cadeira de Microbiologia da mes- 
ma Faculdade, continuando a Redacção a ser formada pelos mes- 
mos elementos, accrescidos da pessoa do Prof. Ernesto de Sousa 
Campos, Cathedratico de Microbiologia. 

A lista de collaboradores, incluindo os Redactores ausentes, os 
Profs. Lauro Travassos e Cesar Pinto, não soffrerá, porém, a mí- 
nima alteração para menos, o mesmo succedendo á orientação da 
Revista, que não será absolutamente modificada. 

A Redacção roga aos que teem a gentileza de enviar-lhe publi- 
cações, remettel-as para o NOVO ENDEREÇO DO BOLETIM BIO- 
LOGICO: 

LABORATORIO DE MICROBIOLOGIA DA FACULDADE DE 
MEDICINA DE S. PAULO. 

R. THEODORO SAMPAIO N. ü 11 — S. PAULO BRASIL 



cm 1 



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IMPORTAXT NOTICE 

Tlie change through which the “Faculdade dc Medicina de São 
Paulo” has just passed, determined tliat the course of Parasitology 
should be interrupted for 2 years, because the subject was trans- 
ferred from the lst. to 3rd. year. Its Professor, Lauro Travassos, 
acceding to the invitation of the Tustitut f. Schiffs. u. Tropenkran- 
kheiten”, of Hamburg to realize a course of Helminthology there, 
will be away from our country for more than 1 year, and the Chief 
of the Laboratory, Cesar Pinto, has just been nominated to take 
charge of the subject of Hygiene of the “Escola Superior de Agri- 
cultura e Medicina Veterinária do Rio de Janeiro”. 

While this situation lasts, the “Boletim Biologico” will be pu- 
blished by the Chair of Microbiology of tlie same Faculty, the edi- 
torship continuing to be formed of the same elements, with the ad- 
dition of Prof. Ernesto de Souza Campos, Professor of Microbiology. 

The list of collaborators, including the absent coadjutors, Prof. 
Travassos and Prof. Cesar Pinto, will not, however, suffer any al- 
teration at all, nor will the scientifie direction of the Magazine be 
changed in any away. 

The editorship asks those who have the kindness to semi them 
publications to direct them to the new address of the Boletim Bio- 
logico ” : 

Laboratorio de Microbiologia da Faculdade 
de Medicina de São Paulo 
RUA THEODORO SAMPAIO, 11 
São Paulo — Brasil 



cm l 



SciELO 



11 12 13 14 15 16 17 





Trabalho do Laboratorio de Microbiologia da Faculd. de Medicina de S. Paulo. 

Prof. Cathedratico Dr. ERNESTO DE SOUSA CAMPCS. l.° Assistente Dr. 

FLAVIO DA FONSECA. 2." Assistente Dr. FLORIANO PAULO DE ALMEIDA. 

N.° 21 

ARDUENNINAE de BRADYPUS TRIDACTYLUS L. 

POR 

ZEFERINO VAZ e CLEMENTE PEREIRA 

() material que forneceu assumpto ao presente trabalho, é pro- 
veniente de dois exemplares de Br adi/ pus tridactylus I.., sacrifi- 
cados no Laboratorio de Anatomia da Faculdade de Medicina de 
S. Paulo, pelo digno Assistente dessa cadeira, Dr. Renato Locchi, 
a quem muito agradecemos o ter-nos cedido o optimo material 
encontrado; nossos agradecimentos são extensivos ao Dr.-Floriano 
de Almeida, Assistente da Cadeira de Microbiologia, da mesma 
Faculdade, que teve a gentileza de colher parte do alludido ma- 
terial. 

Tivemos occasião de encontrar as duas especies do genero 
Leiuris Leuckart, 1850, revalidado por Travassos. 1028. que tor- 
namos a descrever, bem como uma nova especie, para a qual acha- 
mos conveniente creàr um novo genero, que descrevemos em 
seguida. 

Leiuris Leukart, 1850. 

Ardueiminae; capsula buceai chitinosa, constituída por duas 
porções, das quaes uma anterior, em forma de taça, guarnecida de 
saliências chitinosas em forma de dentes, e outra posterior, cylin- 
drica, tendo a estructura que caracterisa as Ardunenninue ; cristas 
rutilares longitudinaes simples. Parasites do intestino delgado de 
Bradypodidae. 

Especie typo: L. leptocephalus (Rud., 1810). 




o 



BOLETIM BIOLOGICO 



Leiuris leptocephalus (Riul., 1819) 

(Figs. 1 - 8) 

Comprimento: macho 22,5 mm.; femca, 35 mm.. 

Largura: macho, 0,5 mm.; femca. 0,57 mm.. 

Bocca hexagonal, circumdada por laminas chitinosas de bor- 
dos livres denteados, e que são dispostas em dois grupos lateraes, 
constituídos cada um por tres laminas largas, grupos esses que 
talvez representem vestígios de antigos lábios, e que são separa- 
dos entre si por uma ou duas laminas estreitas e medianas, possi- 
velmente vestígios de inter-labios ancestraes (fig. 3) ; essa bocca 
dá entrada a uma capsula relativamente grande, na qual se en- 
contram dois pares de formações chitinosas medianas, sendo uir. 
par de forma quadrilatera e outro bifida; em seguida a essa ca- 
psula encontra-se um vestíbulo que parece constituído por uma 
pilha de anneis chitinosos e que mede 0,323 mm. de comprimento 
no macho e 0,37 na femea; pharynge com 0,4(5 mm. de compri- 
mento no macho e 0,49 na femea; o esophago posterior ou pro- 
priamente dito mede 2,25 mm. de comprimento no macho, e 2,87 
mm. na femea; anus a 0,23 da extremidade posterior no macho, 
o a 0,28 na femea. 

Macho com a extremidade posterior enrolada, o que lhe de- 
termina ligeira asymetria, com azas caudaes cuja maior largura 
c de cerca de 0,05 mm.; nfssa extremidade notam-se quatro pares 
de papillas pedunculadas bre-anaes, dispostas em dois grupos, dos 
quaes um é mais proxinío e outro é mais distante do anus; no- 
lam-se ainda sete pares tíe papillas sesseis post-anaes, sendo dois 
pares de papillas alongadas immedialamente apoz o anus, um 
par de papillas lateraes sesseis, e tres pares de minúsculas papil- 
las para-medianas; espiculos desiguaes, medindo o maior cerca 
de 1,61 mm. de comprimento, e o menor 0,46 mm.. 

Femea com vulva a cerca de 13,7 mm. da extremidade ante- 
rior, ou seja, um terço do comprimento do corpo; ovejector longo, 
apresentando um cotovello no seu percurso, até o qual méde 
0,73 mm.; apparelho genital didclpho e amphklelpho; ovos em- 
bryonados. medindo cerca de 0,053 por 0,030 mm. 

HABITAT — Intestino delgado de Bradypus tridactylus. 

PROVENIÊNCIA — Estado de S. Paulo, Brasil. 




2 3 4 



5 6 7 



11 12 13 14 15 16 17 



f 




BOLETIM BIOLOGICO 



3 



Leiuris gracilis (Rud., 1819) 

(Figs. 9 - 16) 

Comprimento: macho, 7 mm.; femea, 9 a 10 mm.. 

Largura: macho. 0,20 mm.; femea, 0,37 mm.. 

Abertura buceal oblonga, com o maior eixo no sentido dorso- 
ventral, dando entrada a uma cavidade buceal relativamente pe- 
quena, que anteriormente é delimitada por delicada membrana, 
que é sustentada por quatro raios chitinosos, sendo dois lateraes 
(na continuação das linhas lateraes), e dois medianos, (na conti- 
nuação das linhas ventral e dorsal) ; a capsula buceal mede 0,032 
por 0,032 mm. no macho, e 0,048 por 0,018 mm. na femea; em 
seguida, surge um vestíbulo, que parece ser constituído por uma 
serie de auneis chitinosos superpostos, e que mede 0,152 mm. de 
comprimento por 0,028 mm. de largura no macho e 0,160 a 0,168 mm. 
de comprimento por 0,032 mm. de largura na femea; pharynge 
medindo 0,28 mm. de comprimento por 0,028 de largura no macho 
e 0,32 mm .de comprimento na femea; o esophago posterior, ou 
esophago propriamente dito, mede 1,16 mm. de comprimento por 
0,056 mm. de largura no macho e 1,52 mm. de comprimento por 
0,096 mm. de largura na femea. 

Macho com cauda ligeiramente enrolada e um pouco asyme- 
írica, com azas caudaes de pequeno desenvolvimento; notam-se 
quatro pares de papillas pedunculadas pre-anaes, dispostas em 
dois grupos, sendo um mais proximo e outro mais distante do anus; 
em seguida ao anus veem-se dois pares de papillas gesseis alonga- 
das; quasi na extremidade posterior ha um grupo de minúsculas 
papillas; anus a 0,1 1 mm. da extremidade posterior; espiculos des- 
iguaes. medindo o maior cerca de 0,69 mm. de comprimento e o 
menor 0,21 mm.. 

Femea com vulva de 1,015 a 4,29 mm. da extremidade ante- 
rior; ovejeetor relativamente longo, apresentando um cotoveilo 
no seu percurso; apparelho genital didelpho e amphidelpho; ovos 
embryonados, medindo de 0,046 a 0.048 mm. de comprimento, por 
0,023 a 0,021 mm. de largura. 

HABITAT — Intestino delgado de Bradypus tridactylus. 

PROVENIÊNCIA — Estado de S. Paulo, Brasil. 

Não foi sem alguma relutância que nos resolvemos a inluir 
esta especic no genero em que se acha, pois a estruetura da por- 
ção anterior da capsula buceal apresenta differenças sensíveis en- 
tre esta especie e a especie typo do genero; entretanto, a organisa- 




4 BOLETIM BIOLOGICO 

cão geral nas duas especies é tão concordante, que só um estudo 
acurado deste interessante grupo poderia fornecer dados que nos 
informassem com segurança sobre o valor systematico dos seus 
elementos morphologicos. 

Paraleiuris n. gen. 

Arduenninae; capsula buccal chitinosa, constituída por duas 
partes, das quaes uma anterior, simples, sem formações chitino- 
sas em forma de dentes, e outra posterior, cylindrica, tendo a es- 
tructura característica dos Arduenninae : Parasitos do estomago 
de Bradypodidae. 

Especie typo : P. locchii n. sp. 

Paraleiuris locchii n. sp. 

(Figs. 17 - 26) 

Comprimento: macho 10,8 mm. a 12, 75 mm.; femea 14,9 mm. 
a 18 mm.. 

Largura: macho, 0,11 a 0,17 mm.; femea, 0,15 a 0,20 mm.. 

Corpo longo e muito fino, attenuado anteriormente, e termi- 
nado posteriormente por curta cauda cónica. Bocca simples, dan- 
do entrada a um vestíbulo, que se inicia caliciforme, cálice esse 
que mede de 0,013 a 0,015 mm. de comprimento, continuando de- 
pois uniformemente cylindrico, e parecendo ser constituído por 
anneis chitinosos superpostos; seu comprimento é de cerca de 0,13 
mm. por cerca de 0,10 mm. de largura; esophago com 0,5 a 0,7 
mm. de comprimento total por 0,02 a 0,04 mm. de maior largura; 
é dividido em duas porções, das quaes uma anterior, menor (pha- 
rynge), com cerca de 0,15 mm. de comprimento, e outra posterior 
ou esophago propriamente dito; recto curto; póro excretor a 0,17 
mm. da extremidade anterior; na intersccção do terço anterior 
do pharyngc com seus dois terços posteriores, desembocam duas 
glandulas unicellulares, medindo cerca de 0,17 mm. de compri- 
mento. 

Macho: possúe na extremidade posterior azas caudaes, me- 
dindo cerca de 0,03 mm. de largura por 0,4 de comprimento, e 
quatro pares de papillas pedunculadas pre-anaes, cujos pedún- 
culos medem 0,01 mm. de comprimento, mais dois pares de pa- 
pillas sesseis alongadas, immediatamente post-anaes, e terminal- 
mente, mais quatro pares de pequenas papillas sesseis, rodeando 



cm l 



SciELO 



11 12 13 14 15 16 17 




BOLETIM BIOLOGICO 



unia ligeira depressão; anus a cerca de 0,11 mm. da extremidade 
posterior; espiculos notavelmente desiguaes, medindo o menor 
cerca de 0,19 mm. a 0,2(5 mm., e o maior, de 2,04 a 2,15 mm. de 
comprimento; gubernaculo pouco chitinisado. 

Femea: anus a cerca de 0,12 a 0,13 mm. da extremidade pos- 
terior; vulva anterior, situada a cerca de 3,4 mm. da extremidade 
anterior, ou seja, approximadamente, na união do quarto ante- 
rior com os tres quartos posteriores do corpo; ovejector extrema- 
mente longo, apresentando um eotovello na união do seu primeiro 
terço com os dois restantes, até o qual méde cerca de 0,96 mm.; 
apparelho genital didelpho e amphidelpho, com úteros a principio 
parallelos e depois divergentes; ovários relativamente curtos; ovos 
já embryonados, medindo cerca de 0,053 mm. de comprimento 
por 0,023 mm. de maior largura. 

HABITAT — Estomago e diverticulo de Bradijpus tridactylus. 

PROVENIÊNCIA — Estado de S. Paulo, Brasil. 

Dedicamos esta especie ao Dr. Renato Loechi, digno assistente 
da Cadeira de Anatomia da Faculdade de Medicina de S. Paulo, 
que gentilmente nos facilitou, a pesquiza dos helminthos que cons- 
tituiram objecto do presente trabalho. 

Explicação das figuras 



Fig. 


1 — L. 


leptocephalus — extremidade anterior, de face. 


99 


9 

99 


99 


— armadura buccal, de face. 


99 


3 — „ 


99 


- — armadura buccal, de frente. 


9 » 


4 — „ 


99 


— macho, total. 


99 


5 — „ 


99 


- — cauda do macho, de face. 


99 


6 — „ 


99 


— extremidade caudal do macho. 








face. 


99 


7 — „ 


99 


— ovejector. 


99 


8 — „ 


99 


— cauda da femea. 


99 


9 — „ 


(jrcicili. s 


extremidade anterior, de face. 


99 


19 — „ 


99 


armadura buccal, de face. 


99 


H — „ 


99 


— bocca. de frente. 


99 


12— „ 


99 


— azas lateraes. 


99 


13 — „ 


99 


— cauda do macho, de face. 


99 


14 — „ 


99 


— extremidade caudal do macho. 


99 


15 — ,, 


99 


— ovejector. 


99 


1(5 — „ 


99 


— extremidade caudal da femea. 


99 


17 — P. 


locchii 


extremidade eephalica. 



de 




BOLETIM BIOLOGICO 



•9 


18 — 


99 


99 


— extremidade eephalica, de perí 


>9 


19 — 


99 


99 


— armadura buccal. 


99 


20 — 


99 


99 


— femea, total. 


99 


21 — 


99 


99 


— vulva. 


99 


22 — 


9? 


99 


— joelho do ovejector. 


99 


23 — 




99 


— cauda da femea, de face. 


99 


24 — 


99 


99 


- extremidade posterior, de face. 


99 


25 — 


99 


99 


— azas caudaes do macho. 


99 


26 — 


99 


99 


— extremidade caudal do macho 






Entregue para publicação a 2. VI. 929. 



SciELO 






11 12 13 14 15 16 17 




BOLETIM BIOLOGICO 



7 






mi# 















81811STHECV 

Í2í!1£ 

JFF.TaleFo FF. 



Fig. 3 




SciELO 





0.2 mm. 



BOLETIM BIOLOGICO 




cm l 



2 3 4 5 



7 SClELO 77 72 73 74 75 16 77 




BOLETIM BIOLOGICO 





I 

o, 2 mrn . 

Fig. 14 Fig. 12 

' Toledo dei. 








BOLETIM BIOLOGICO 



11 





Fig. 13 Fig. 13 




BOLETIM BIOLOGICO 



l‘i 




Fig. 20 



JFF.TnledD dei. 




16 



BOLETIM BIOLOGICO 



Trabalho do Laboratorio de Microbiologia da Faculd. de Medicina de S. Paulo. 
Prof. Cathedratico Dr. ERNESTO DE SOUSA CAMPOS. 1.” Assistente Dr. 
FLAVIO DA FONSECA. 2.” Assistente Dr. FLORI AN O PAULO DE ALMEIDA. 

N.° 22 

STRONGYLOIDES OPHIDIAE n. sp. 

POR 

CLEMENTE PEREIRA 

Ao que parece, é esta a primeira vez que se assignala a pre- 
sença de representantes do genero Strongyloicles em Ophideos, 
sendo mesmo que Yorke & Maplestone (“The Nematode parasites 
of Vertebrates”, 1926), ao darem a diagnose deste genero, consi- 
deram-no como parasitando unicamente o intestino de Mammife- 
ros. Vamos descrever unicamente a forma parasita: 

Comprimento: 2,7 a 3,6 mm.. 

Largura (proximo á vulva) : 0,04 mm.. 

Corpo delgado, afilando-se um pouco anteriormente, e termi- 
nando com uma cauda cônica. Extremidade anterior truncada, com 
pequenino orifício buccal. Esophago alongado, mais diiatado em 
sua porção posterior, e medindo de 1,05 a 1,13 mm. (grosseira- 
mente 13 do comprimento do corpo), e tendo de largura, poste- 
riormente, cerca de 0.03 mm.. 

Vulva saliente, na reunião dos 2i3 anteriores com o terço pos- 
terior do corpo, distando da extremidade posterior, de 0,8 a 1,2 
mm.; ovejector curtíssimo; apparelho genital didelpho e amphy- 
delpho, com úteros divergentes, contendo de 6 a 7 ovos, com um 
ou dois blastomeros apenas; oviductos na continuação dos úteros, 
e seguidos dos ovários, que se reflectem sobre os oviductos, indo 
em direcção á vulva, sendo que o posterior pára a maior distan- 
cia da vulva que o anterior; o ramo anterior do apparelho genital 
chega a cerca de 0,03 mm. do esophago, e o ramo posterior vae 
de 0,06 a 0,1 mm. de extremidade posterior do corpo. 

Anus, de 0,07 a 0,1 mm. da extremidade posterior. 

Ovos, com cerca de 0,038 mm. de comprimento por 0,015 a 
0,023 de largura maxima. 

HABITAT: Intestino de Drymobius bifossatus Raddi. 

PROVENIÊNCIA: Estado de S. Paulo, Brasii. 



Entregue para publicação a 2. VI. 929. 





C. PEREIRA — Strongyloides ophidiae n. sp. 



cm 1234567 SClELO 11 12 13 14 15 16 17 



BOLETIM BIOLOGICO 





18 



BOLETIM BIOLOGICO 



Trabalho do Laboratorio de Microbiologia da Faeuld. de Medicina de S. Paulo.. 
Prof. Cathedratico Dr. ERNESTO DE SOUSA CAMPOS. 1.” Assistente Dr. 
FLAVIO DA FONSECA. 2.° Assistente Dr. FLORIANO PAULO DE ALMEIDA. 

N.° 23 

Possibilidade de infecção do camondongo branco com a 
LEISHMANIA BRASILIENSIS Vianna, 1911 

PELO DR. 

FLAVIO DA FONSECA 

As verificações de Gonder, Row, Sergent, Pavoni e Laveran 
sobre o possibilidade de infectar camondongos brancos com a 
Leishmama tropica (Wright, 1903) levaram-nos a tentar a obten- 
ção dos mesmos resultados com a Leishmania brasiliensis Vianna, 
1911. 

Embora as tentativas levadas a effeito por Wenyon e Wagner 
e Koch tivessem dado resultado negativo, foi-nos entretanto pos- 
sível obter em um caso inoculação positiva. 

O numero de animaes inoculados, por via dermica, periio- 
neal ou testicular. elevou-se a 10. 

O material utilisado foi ora virus (humano ou de cão infecta- 
do experimentalmente), ora germens de cultura de varias amos- 
tras por nós isoladas de doentes do interior do Estado de São 
Paulo. As culturas tinham numero variavel de repicagens, varian- 
do egualmente o numero de dias de desenvolvimento cultural. As 
inoculações foram, de regra praticadas uma só vez; em alguns 
casos, porém, repetimol-as até õ vezes, como aconselha Row para 
o successo das inoculaçães com L. tropica. 

No unico caso positivo por nós observado, o animal fòra ino- 
culado com cultura de 1.* repicagem, com 11 dias, da nossa amos- 
tra A T , a qual, portanto, só mostrava fôrmas jovens, não apresen- 
tando ainda os corpos redondos que Row affirma serem os únicos 
infectantes na L. tropica, os quaes são também vistos na L. bra- 
siliensis. 

Morto espontaneamente o animal 70 dias após a unica ino- 
culação que soffreu, praticada no recesso vagino-peritoneal, como 
o aconselha Laveran, foi verificada a presença de Leishmanias de 
aspecto typico, inclusive rhizoplasta, em esfregaços do figado, não 
tendo sido encontradas nos do baço. 




BOLETIM BIOLOGICO 



19 



xV pequena infectuosidade da L. brasiliensis para o camun- 
dongo, em contraste com elevada percentagem, obtida principal- 
mente por Laveran, com a L. tropica, póde ser attribuida a diffe- 
rença biologica entre as duas espeeies congeneres, o que, todavia, 
não affirmamos, podendo correr por conta de decréscimo de vi- 
rulência do germen cultivado em meio de cultura relativamente 
pobre como o cie Noguchi, que utilisamos para a conservação de 
nossa collecção, ou ainda ser interpretada como devida a diffe- 
renças raciaes entre os camondongos por nós utilisados e os em- 
pregados por pesquizadores que obteem facilmente a infecção 
desse animal. 

Entregue para publicação a 5. VI. 929. 




20 



BOLETIM BIOLOGICO 



Trabalho do Laboratorio de Microbiologia da Faculd. de Medicina de S. Paulo. 
Prof. Cathedratico Dr. ERNESTO DE SOUSA CAMPOS. l.° Assistente Dr. 
FLAVIO DA FONSECA. 2." Assistente Dr. FLORIANO PAULO DE ALMEIDA. 

N.° 24 

BLASTOMYCOSE EXPERIMENTAL 

PELO DR. 

FLORIANO PAULO DE ALMEIDA 

O presente trabalho refere-se a uma serie de experiencias que, 
em animaes do laboratorio, vimos fazendo, com material prove- 
niente de casos de Rlastomycose observados em São Paulo. 

Em Setembro de 192(1 iniciamos, no Laboratorio de Microbio- 
logia da Faculdade de Medicina de São Paulo, as nossas experi- 
mentações que têm proseguido sem interrupção até a presente 
data em virtude da relativa frequência da Rlastomycose neste 
Estado. Em nossos trabalhos servimo-nos frequentemente de pús 
proveniente de lesões humanas ou animaes, algumas vezes de cul- 
turas e poucas vezes de outros productos de lesões blastomyce- 
ticas. Os animaes utilisados são o cobayo.e o camondongo branco, 
e até o presente foram inoculados õ6. sendo 45 cobayos e 11 ca- 
mondongos brancos. 

Varias foram as vias utilizadas para a introducção do para- 
sito. Assim usamos a via peritoneal, a testicular e a cutanea. Em 
vista dos resultados obtidos com a inoculação testicular é ella que 
ultimamente vem sendo preferida. Segundo a via de inoculação, 
acham-se os cobayos distribuídos do seguinte modo : 



VIA TESTICULAR 



\ pús — 20 
31 cultura — 10 

j filtrado de cultura 



— 1 



VIA PERITONEAL 



\ pús — 6 
10 cultura — 3 

I material de amygdala 



— 1 



cm l 



SciELO 



11 12 13 14 15 16 17 




BOLETIM BIOLOGICO 



21 



VIA CUTANEA (dermica) 4 



^ pús — 2 
í cultura — 2 



total 45 

Dos 31 cobayos inoculados no testículo, 20 o foram com pús 
proveniente de indivíduos doentes ou de outros cobayos. 

Em 14 desses 20 casos o pús contava menos de 10 dias de ex- 
traeção menos de 10 dias, portanto, de permanência em geladei- 
ra a 8’C, visto ser elle abi conservado. Em 4, o pús contava de 10 
dias a 10 mezes. E nos 2 últimos o material injectado provinha de 
gânglios suppurados conservados em líquidos fixadores: Klotz e 
formol a 10 0 |“. O material conservado em liquido de Klotz con- 
tava 4 annos e 5 mezes e o de formol 2 annos. 

Em 10 dos casos de inoculação testicular injectamos culturas 
de varias edades. Em um ultimo caso utilisamos um filtrado, em 
vela Berkfeld, de 6 amostras de culturas. 

As inoculações peritoneaes foram feitas, com pús — 0, com 
culturas — 3 e com producto de amygdala — 1. 

Em 4 cobayos fizemos escarifieação na face externa das coxas 
posteriores e abi depositamos uma gotta de pús ou de cultura, 
sendo que em 2 foi feita uma única escarifieação e eollocada a 
gotta de pús, ou de cultura em meio liquido. 

Em outros 2 fizemos durante 8 dias escarificações diarias e 
de cada vez depositavamos uma gotta de pús ou de cultura. Em 
dos cobayos que recebeu uma unica escarifieação foi, tempos de- 
pois, injectado subcutaneamente na face externa da outra coxa 
com um pouco de pús, formando-se no local um abcesso muito 
rico em parasitos. 

Os resultados obtidos são os que passamos a expòr. 

Dos 14 cobayos inoculados no testículo com pús tendo menos 
de 10 dias de geladeira, 10 apresentaram orchite especifica, o que 
nos dá 78,5 °|° de resultados positivos. 

Das 4 inoculações com pús de mais de 10 dias obtivemos ape- 
nas um resultado positivo — 25 °j°. 

Os 2 casos, em que o material provinha de gânglios conser- 
vados em liquidos fixadores, foram negativos. 

Para o caso das inoculações com culturas, necessitamos uma 
exposição mais minuciosa. Referiremos os numeros dos cobayos 
e das amostras utilisadas. 




22 



BOLETIM BIOLOGICO 



Cobayos 
30 e 30-a 
101 
102 



121 



102 

207 



Cultura 

amostra 1 — resultado negativo 
„ 1 — „ positivo 

cultura proveniente do cobayo 33 inoculado com 
pús do doente O. M. que deu amostra 2. Esta cul- 
tura vinha sendo mantida na estufa a 37°C. Resul 
tado negativo. 

inoculado com uma cultura obtida de gânglio (in- 
tacto) conservado em liquido de Klotz, 4 annos e 
5 mezes, cultura que foi considerada como sendo 
de um OIDIUM (Dr. Olympio da Fonseca, filho) 
e marcada por nós com o n.° 11, resultado negativo, 
amostra 3 — resultado negativo 
3 ,, ,, 



214 


„ 5 — 


99 


positivo 


250 


„ 3 - 


99 


99 


368 


„ 11 — 


99 


negativo 


Obtivemos 1 


5 resultados positivos 


ou seja 30 



O ultimo caso de inoculação testicular foi um filtrado, 
ferido acima. 



já re- 



Das inoculações peritoneaes por nós feitas em numero de 10 
resultaram todas negativas; 0 foram feitas com pús, 3 com sus- 
pensão de culturas e 1 com material retirado de amygdala, por 
meio de tampão de algodão e suspenso em solução physiologica. 

Os 11 camondongos brancos foram inoculados com pús, ora no 
testículo, ora no peritonee e nem uma unica vez obtivemos resul- 
tado positivo. 

Dos cobayos inoculados no testículo temos um, cujo resultado 
só poderá ser obtido neste mez, porquanto a inoculação data de 
25-5-1929. 

Entregue para publicação em 6-6-929 




2 3 4 



5 6 7 



11 12 13 14 15 16 17 



f 




BOLETIM RIOLOGICO 



23 



Trabalho do Laboratorio de Microbiologia da Faculd. de Medicina de S. Paulo. 
Prof. Cathedratico Dr. ERNESTO DE SOUSA CAMPOS. 1." Assistente Dr. 
FLAVIO DA FONSECA. 2.° Assistente Dr. FLORIANO PAULO DE ALMEIDA. 

N.° 25 

INCIDÊNCIA DA BLASTOMYCOSE NO BRASIL 

PELO DR. 

FLORIANO PAULO DE ALMEIDA 

No estudo que já ha algum tempo vimos fazendo sobre a Blas- 
tomycose, procuramos obter sobre os casos observados, publica- 
dos ou não, dados bastante amplos para a organização de uma es- 
tatística. E’ um ensaio desta (pie boje trazemos á publicidade. 

Foi-nos possível até o presente obter indicações, não poucas 
vezes incompletas, sobre 202 casos de Blastomycose occorridos em 



alguns Estados brasileiros. 

Desses, 188 indicavam a nacionalidade, o que nos permittiu 
organizar o quadro abaixo t 

Brasileiros 107 

Hespanhóes 27 

Japonezes 22 

Portuguezes 12 

Italianos 12 

Syrios 4 

Rumaicos 1 

Húngaros 1 

Allemães .... ... 1 

Francezes 1 

Total 188 

Em 174 casos encontramos referencia á côr dos indivíduos ata- 
cados, obtendo o seguinte: 

Brancos 129 

Amarellos 22 

Pardos 12 

Pretos 11 



Total 



174 




24 



BOLETIM BIOLOGICO 



Apenas 187 dos casos davam indicação de sexo, pertencen- 
do ao sexo masculino 173 e ao feminino 14. 

Consoante a edade, podemos apresentar o seguinte quadro : 

Menos de 10 annos 



10 a 20 annos . 


.... 23 


20 „ 30 


99 


.... 42 


30 „ 40 


99 


.... 33 


40 „ 50 


99 


.... 43 


50 „ 60 


99 • 


.... 26 


60 „ 70 


99 


.... 6 


70 „ 80 


99 


2 


Total 




.... 177 



Em 192 casos cuja procedência era conhecida, sobresáe o Es- 
tado de São Paulo com 141, seguindo-se o do Rio de Janeiro com 
27, o de Minas 13, Bahia 7, Matto Grosso 3 e Goyaz 1. 

Vejamos cada Estado em separado, verificando a nacionali- 
dade, sexo, edade e còr. Começaremos pelo de 



São Paulo: 



Brasileiros 63 

Hespanhóes 25 

Japonezes 22 

Portuguezes 8 

Italianos 8 

Syrios 3 

Rumaicos 1 

Húngaros 1 

Allemães 1 

Francezes 1 



Total 133 

Pertenciam ao sexo masculino 125 e ao feminino 12. 
Segundo a còr dos doentes, temos a seguinte divisão: 

Brancos 94 

Amarellos 22 

Pardos 6 

Pretos 4 



Total 



126 



cm l 



SciELO 



11 12 13 14 15 16 17 




BOLETIM BIOLOGICO 



Considerando a edade dos pacientes, foi-nos possiveJ organi- 
zar a tabella abaixo: 



Menos 


de 10 


annos 


. . 0 


De 10 


a 20 annos . 


. . 24 


„ 20 


„ 30 


99 ... 


. . 32 


„ 30 


„ 40 


99 ... 


. . 23 


„ 40 


„ 50 


99 ... 


. . 20 


„ 50 


„ 00 


99 ... 


. . 18 


„ 00 


„ 70 


99 ... 


õ 


„ 70 


„ 80 


99 ... 


. . 1 




Total 




. . 129 



Hio de Janeiro : 

No Estado do Rio de Janeiro foram observados 30 casos. In- 
cluímos aqui 2 procedentes de Matto Grosso e 1 de Goyaz. Vários 
outros casos originários do Estado de Minas vão na relação que 
desse Estado damos mais abaixo. Ainda outros casos foram publi- 
cados, sem que no entanto apresentassem indicação alguma. 

Encontramos referencia á nacionalidade em 29 casos e assim 
distribuída : 



Brasileiros 21 

Portuguezes 4 

Italianos 3 

Hespanhóes 1 



Total 29 

Quanto á côr, eram 

Brancos 24 

Pardos 3 

Pretos . 2 



Total 29 



Todos os casos eram do sexo masculino. 

De accordo com a edade, temos o seguinte: 




BOLETIM BIOLOGICO 



27 

No Estado de São Paulo o numero de casos não publicados é 
extremamente elevado, como nos foi dado observar percorrendo 
os registos de vários Laboratorios e as notas de alguns clínicos. 
Quer nos parecer que nos restantes Estados o mesmo se verifica, 
de onde se pode suspeitar que o numero dos nossos dados está 
muito aquem da realidade. 

Entregue para publicação a 5. VI. 929. 




28 



BOLETIM BIOLOGICO 



Trabalho do Laboratorio de Microbiologia da Faculd. de Medicina de S. Paulo. 
Prof. Cathedratico Dr. ERNESTO DE SOUSA CAMPOS. I.” Assisíente Dr. 
FLAVIO DA FONSECA. 2 .° Assistente Dr. FLORIANO PAULO DE ALMEIDA. 



N: 26 

TRYPANOSOMIASE AMERICANA CONGÉNITA 
EXPERIMENTAL 

PELO DR. 

ERNESTO DE SOUZA CAMPOS 

Em Outubro do anno passado entregamos uma nota para ser 
publicada no 3." Volume dos Annaes da Faculdade de Medicina, 
sob o titulo "Transmissão intrauterina do Trypanosoma cruzi” e 
em 17 de Fevereiro do corrente anno fizemos uma communicação, 
sobre o mesmo assumpto, perante a Sociedade de Medicina e Ci- 
rurgia de São Paulo, dando conta de alguns resultados das expe- 
riências que vimos realizando sobre a transmissão congénita da try- 
panosomiase americana. Assignalamos então os primeiros resul- 
tados obtidos com uma cadella que infectada aos nove mezes de 
idade e depois de entrar em periodo chronico, não mais apresen- 
tando parasitos no sangue circulante, transmittiu a moléstia aos 
seus descendentes, nas suas duas únicas gestações, a primeira sete 
mezes depois da data em que foi inoculada e a segunda 1!) mezes 
a contar da mesma epoca. 

Em ambos os partos os filhotes nasceram a termo, vivendo, 
pouco tempo, de õ a 15 dias de vida extrauterina, os que apresen- 
taram o sangue parasitado e estando ainda vivos e em observação 
os que tinham o sangue negativo. Os primeiros foram sacrifica- 
dos e submettidos a exanie histo-pathologico. Este exame revelou, 
nos dois casos, o mesmo processo histo-pathologico, encephalo- 
myelite, myorardite, nephrite, etc., como também foi observado 
no primeiro cão adulto que serviu de ponto de partida para esta 
serie de experiencias. 

Resultado analogo conseguimos com outro animal, inoculado, 
com resultado positivo, em 10 de Abril do anno transado, com 
sangue do 1." caso de infecção congénita. Este animal, mais de um 
anno mais tarde, quando tinha o sangue negativo (30 de Maio de 
1920) deu 3 crias, todas victimas da infecção congénita. Também 




BOLETIM BIOLOGICO 



2!) 



neste caso encontramos lesões no systema nervoso central, cora- 
ção, etc., idênticas ás dos casos anteriores. 

Nas duas series de experieneias as femeas não tinham mais 
parasitos no sangue peripherico por occasião do parto. Pelos re- 
sultados obtidos, parece demonstrado que os protozoários, aloja- 
dos na intimidade dos tecidos da mãe, passaram aos fetos atravez 
da placenta ou do ovário. Preferimos não sacrificar ainda as duas 
cadellas, esperando obter outros resultados que confirmem e am- 
pliem os aetuaes. 

Resumimos, em seguida, o protocollo das experieneias, do- 
cumentando-o com algumas microphotographias dos aspectos mais 
interessantes. 

RESUMO DAS EXPERIENCIAS 

I. Cão 130 (1) — (Rol. Biologico, São Paulo, 1927, fase. 9, pg. 
153). Macho adulto. Inoculado em 30 de Junho, 1927, por via intra- 
peritoneal, com sangue contendo Trypanosoma cruzi de or‘gem 
humana, mantido em cobaya e proveniente do Instituto Oswaldo 
Cruz (Manguinhos). Exames feitos desde 15 de Julho até 2 de Agos- 
to demonstraram numerosos parasitos no sangue circulante. 

Symptomas de paralysia eram evidentes alguns dias antes da 
morte occorrida em 2 de Agosto. 

Este animal serviu de ponto de partida para esta serie de ex- 
periências. O seu sangue foi inoculado em cobayas e na eadella 
137, cuja historia é adiante descripta. 

Exame histo-pathologico : 

Medulla espinhal — Extenso processo inflammatorio, em fo- 
cos circumscriptos e esparsos, tanto na substancia cinzenta como 
na substancia branca, contendo numerosas formas aflagelladas do 
protozoário. (V. Figs. cit. no Boletim). 

Bulbo raehidiano — Focos inflammatorios semelhantes na 
substancia branca. 

Protuberância annular — Salpicando a substancia branca v.u 
lam-se diversos focos de infiltração cellular, contendo ou não pa- 
rasitos. O centro de uma dessas zonas inflammatorias (Fig. 1) é 
inteiramente occupado por um grande agglomerado de parasitos 
onde se vêm diversos núcleos vesiculares e isolados, sendo diffi- 
cil determinar se os germens estão contidos ou não dentro de cel- 



(1) Numeração geral do Laboratorio. 




SciELO 



11 12 13 14 





30 



BOLETIM BIOLOGICO 



lulas soldadas ou superpostas porque os limites eellulares não são 
visíveis. Na zona peripherica do fóco encontram-se alguns ele- 
mentos eellulares, com contornos bem visíveis, tendo eytoplasrna 
relativamente abundante e ligeiramente ramificado (microglia de 
Hortega?), contendo 5 a 10 fôrmas de leishmania. 

Nos núcleos cinzentos nota-se apenas uma ligeira infiltração 
perivascular. 

Cerebello — Apenas na camada mollecular foram encontra- 
dos alguns pontos lesados. 

Cerebro — O processo inflammatorio é mais extenso no cere- 
bro, abrangendo tanto a substancia branca como a cinzenta, em 
focos múltiplos. 

Coração — O arcabouço conjunctivo do. orgam mostra uma 
infiltração eellular dispersa em vários pontos, principalmente em 
torno dos vasos sanguíneos. No musculo cardíaco encontram-se nu- 
merosas fibras repletas de parasitos, com ou sem reacção em torno. 

Rim — No tecido renal o processo é intersticial attingindo, em 
maior ou menor grau, não só a substancia medullar e cortical como 
o tecido adiposo do liilo do orgam e o systema vascular. (V. Annaes 
da Faculdade de Medicina, Vol. 3, 1929, em via de publicação). 

Testículo — O tecido intersticial mostra zonas inflammato- 
rias mais ou menos extensas onde se notam as cellulas descriptas 
por Gaspar Vianna, como “cellulas de tamanho gigantesco, hos- 
pedeiras de parasitos que, em seu interior, podem ser encontrados 
por centenas.” 

Estas cellulas são ás vezes cercadas por laminas eonjunctivas 
t não raro situadas junto ; membrana basal dos tubulos semini- 
feros, comprimindo-a e fazendo saliência no interior do tubulo. 

II. Cadella 137 — Nascida em 17 de Outubro de 1926, no canil 
da Faculdade de Medicina e de paes normaes. Seis dias depois foi 
inoculada com trypanosoma de velha cultura, sem virulência, e 
nada de anormal apresentou. Em 18 de Julho, 1927, foi inoculada 
com sangue do cão 130. Apresentou parasitos no sangue e sym- 
: tomas do periodo agudo da moléstia até Setembro do mesmo 
anno. Desde essa epoca o animal ficou apparentemente são, sen- 
do sempre negativos os exames de sangue. O primeiro cio foi mui- 
to tardio sendo o animal coberto por um cão também infectado 
pela mesma raça de trypanosoma e outro normal. 

Em 11 de Fevereiro de 1928 pariu 6 filhotes apparentemente 
normaes. Em 20 de Março morre um dos eãezinhos e em 25 dois 
outros, sem exame. Appareccndo outro animal doente, verifica- 



cm l 



SciELO' 



11 12 13 14 15 16 17 



BOLETIM BIOLOGICO 



31 



ram-se numerosos trypanosomas no sangue circulante. Foi sacri 
ficado e sua historia será descripta sob o numero 220. Dois cãe- 
zinhos restantes estão ainda vivos. Sómente um anno mais tarde 
a cadella apresentou o segundo cio, apezar de viver em plena li- 
berdade, sendo então fecundada por um cão normal. Em 8 de 
Fevereiro, 1929, nasceram 5 cãezinhos a termo e de aspecto nor- 
mal, tendo, um dellcs, numerosos trypanosomas no sangue cir- 
culante. Foi sacrificado e registrado sob o numero 137-a. 

III. Cãozinho 220 — Nascido em 11 de Fevereiro 1928, da pri- 
meira gestação da cadella 137. Foi sacrificado um mez e meio 
mais tarde (26 Março), tendo numerosos trypanosomas no sangue 
circulante. O sangue foi inoculado em 2 cobayos e 1 cão, com re- 
sultado positivo, 8 dias depois para as cobayas e 15 dias para o 
cão. Foram também isolados trypanosomas em meio de cultura 
N. N. N. O sangue da mãé, examinado no mesmo dia e subsequen- 
tes, foi sempre negativo. 

Exame histo-palhologieo : 

Mediilla espinhal — Todo o tecido medullar está invadido 
por múltiplos fócos inflammatorios, alguns contendo cellulas com 
parasitos. 

Cerebro — Processo inflammatorio idêntico, porém com 
maior intensidade. 

Coração — O tecido nobre do orgam, onde se notam nume- 
rosas fibras parasitadas, está suffocado pela tumultuosa infiltra- 
ção cellular diffusa do seu arcabouço conjunetivo. Em alguns pon- 
tos mal se distingue o tecido muscular tão intenso é o processo 
inflammatorio intersticial. No endocardio, muito espesso e séde 
de forte reacção inflammatoria, encontram-se, também, numero- 
sos trypanosomas. 

Rim — Lesces idênticas ás que vão descriptas nos Annaes da 
Faculdade de Medicina, Vol. III, 1929 e que em ultima analyse, 
constam de processo inflammatorio intersticial diffuso, contendo 
parasitos. 

Figado — Discreta infiltração cellular ao longo dos espaços 
e fissuras interlobulares, com raros parasitos. 

Baço — Tecido byperplastico contendo numerosos trypano- 
somas dispostos em grupos e dispersos no seio do tecido. 

Gânglio lymphatico — Gânglios intracavitarios muito augmen- 
íados de volume. Os abdominaes formam massa relativamente 
vultuosa, pesando 10 grammas. Parasitos em grande numero, for- 
mando especie de cystos como no tecido splenico. 




32 



BOLETIM BIOLOGICO 



IV. Cãozinho 137-a — Nascido em 8 de Fevereiro de 1929. O 
exame de sangue feito 3 dias depois revelou abundantes trypano- 
somas no sangue peripherico. Com este material foram inocula- 
dos 5 camondongos brancos, 2 cobayos e 1 cão, todos com resulta- 
do positivo. Foram também obtidas culturas em N. N. N. Em 13 
de Fevereiro, encontrado quasi agonisante, foi sacrificado. 

Exame histo-pathologico : 

O exame histo-pathologico da medulla espinhal, cerebro, co- 
ração, rim, gânglio lymphatico, demonstrou lesões idênticas ás que 
foram descriptas nos tecidos do cão 220. Outros orgams não fo- 
ram examinados. 

V. Cadella 230 — Peso: 3Kg.680. Em 10 de Abril de 1928 foi 
inoculada com sangue proveniente da infecção congênita do cão- 
zinho 220 e passado uma só vez pela cobaya. O sangue só se mos- 
trou positivo a partir de 26 do mesmo mez, mantendo-se assim até 
7 de Julho e dahi por diante, sempre negativo. Desde essa epoca até 
o momento actual o animal vem mantendo aspecto normal e em 
30 de Maio do corrente anno deu 3 crias. Dois dias depois um dos 
filhotes, muito doente, foi examinado, encontrando-se trypanoso- 
mas no sangue. Morreu na noite seguinte, sendo necropsiado no dia 
seguinte e registrado sob numero 230-a. 

Nos outros dois filhotes só foram encontrados trypanosoma» 
nos dias 3 e 5 de Junho. O cão 230-b, no dia 6, amanheceu agoni- 
sante, foi sangrado para culturas e inoculação em outros animaes 
e sacrificado. O outro cãozinho está ainda vivo. 

VI. Cãozinho 230-a — Nasceu em 30 de Maio de 1929 c mor 
reu em 2 de Junho, tendo parasitos no sangue. 

Exame microscopico : 

Tecido nervoso central — Ligeira reacção inflammatoria com 
raros parasitos. 

Coração — Raras fibras cardíacas mostram pequeno numero 
de parasitos, que foram observados apenas em numero de 3 a 5. 
A reacção do tecido conjunctivo é também muito pouco accentuada. 

Rim — Capsula conjunctiva muito espessada com vasos san- 
guíneos enormemente dilatados e cheios de sangue. No exame de 
uma unica íamina não encontramos parasitos. 

Pulmão — Foram encontrados parasitos no seio de tecido pul- 
monar. Outros orgams não foram ainda examinados. 

VII. Cãozinho 230-b — Nasceu também em 30 de Maio de 1929 
e foi sacrificado para exame histologico ainda não realizado. 



cm l 



SciELO' 



11 12 13 14 15 16 17 




BOLETIM BIOLOGICO 



33 



EXPLICAÇÃO DAS FIGURAS 

Fig. I — Cão 130 — Agglomerados de parasitos na protuberância 
annular. Para maior documentação V. figs. 1, 2, 3, 4, neste 
Boletim, Fase. 9, 1927, pgs. 170 a 173. 

Fig. II — Cão 220 — Infecção congénita — Focos inflammatorios 
na medulla espinhal. 

Fig. III — Cão 137-a — Infeção congénita — Sangue peripherico 
com trypanosomas. 

Fig. IV — Cão 137-a — Infecção congénita — Medulla espinhal 
com um fóeo inflammatorio ao lado do canal ependymario. 

Fig. V — Cão 137-a — Infecção congénita — Musculo cardíaco com 
fibras parasitadas. 

Fig. VI — Cão 230-a — Infecção congénita — Fóco de parasitos 
no cerebro. 

BIBLIOGRAPHIA 

Nathan Larrier. 1921. Buli. Path. Exct. T. 14, p. 232. 

„ „ 1928. Buli. Acad. Med. 3 Serie. T. 99, pag. 97 

Villela E. A. 1923. Folha Medica. Anno 4. N. (5, p. 41. 

Entregue para publicação a 10. VI. 929. 






Fig. 4 




Fig. 4 



Fig. <> 

Cão 137-a — Medulla espinhal. 
„ „ — Musculo cardíaco. 




36 



BOLETIM BIOLOGICO 



Trabalho do Laboratorio de Microbiologia da Faculd. de Medicina de S. Paulo. 
Prof. Cathedratico Dr. ERNESTO DE SOUSA CAMPOS. 1.” Assistente Dr. 
FLAVIO DA FONSECA. 2 .° Assistente Dr. FLORIANO PAULO DE ALMEIDA. 

N." 27 

NOVAS ESPECIES DE TRYPANOSOMAS DE PEIXES 
BRASILEIROS DE AGUA DOCE 

(2.“ Nota prévia) (1) 

PELOS 

DE. FLAVIO DA FONSECA e ZEFERINO VA Z 

Em Dezembro de 1928 fomos convidados pelo notável zoolo- 
go patricio Dr. Rodolpho von Ihering a tomar parte em uma se- 
gunda excursão destinada a estudos de piscicultura, da qual f« - 
ram respectivamente organisador e patrocinador aquelle eminente 
scientista e o Snr. Rodolpho de Lara Campos. 

Teve essa excursão logar no salto do Rio Piracicaba, na cida- 
de de Piracicaba, Estado de S. Paulo. Por occasião dessas pesqui- 
zas tivemos opportunidade de verificar a presença de Trypano- 
somas no sangue de varias especies de peixes, constituindo o pre- 
sente trabalho uma nota prévia onde são descriptos esses para- 
sitos. 

Em homenagem á comprehensão do valor scientifico de taes 
pesquizas e ao espirito emprehendedor e altamente patriótico do 
patrocinador dessa excursão, o Snr. Rodolpho de Lara Campos, 
abrimos excepção na norma até hoje por nós seguida para a de- 
nominação das novas especies dedicando-lhe uma d'ellas, o Try- 
panozoma larai n. sp., parasito de Corimbatà-uvü (n. vulg.). 

Tninanozoma chetostomi n. sp. 

(Figs. 1 e 2) 

Hospedador: Chetostomus sp. 

Foram vistos dois typos facilmente identificáveis, differindo 
principalmente pela largura. 

Typo I (fig. 1) 

Foram medidos 1 exemplares que forneceram as seguintes 
medias : 



(1 ) 1.“ Xota a sahir no 3." volume dos Annaes da Fac. de Med. de S. Paulo. 




BOLETIM BIOLOGICO 



37 



Comprimento sem flagello livre 29,6 
Largura 

Núcleo 



| comprimento 
I largura .... 
Distancia do núcleo á extremida- 
de posterior 

J comprimento 
Blepharoplasto > , 

| largura . . 

Distancia do blepharoplasto á ex- 
tremidade posterior .... 



te proximo á extremidade anterior e gradualmente na posterior, 
terminando geralmente em ponta rhomba. 



29,6 


micra 35 


micra 27 micra 




„ 2,5 


99 


2 „ 


3,1 


„ 3,5 


99 


3 ,. 


2,3 


,, 2,5 


M 


2,2 


16,5 


„ 18 




11 


0,7 


„ 1 


9* 


0,6 „ 


0,5 


„ 0,8 


99 


0,4 ., 


15 


„ 17 


99 


14 


ornas 


que se afilam 


bruscamen- 



PROTOPLASMA. Protoplasma granuloso, descorado em cer- 
ios pontos, inclusive na zona do blepharoplasto, parecendo ás ve- 
zes apresentar vacuolos; corado em azul-violeta pelo Leisbmann. 



NÚCLEO. Descorado, roxo pallido, tocando os bordos, de li- 
mites pouco nítidos. 

BLEPHAROPLASTO. Alongado ora no sentido longitudinal, 
ora no transversal : sub-terminal nitido em alguns e duvidoso em 
outros exemplares. Corado em vermelho vivo. 



MEMBRANA ONDULANTE. Visivel em todos os exemplares, 
tomando bem os corantes. 

FLAGELLO ADHERENTE. Visivel nos pontos em que é ap- 
parente a membrana ondulante, em alguns exemplares. 

FLAGELLO LIVRE. Visivel, tomando, porém, mal os corantes. 



Typo II (fig. 2) 



Deste typo apenas foi possível encontrar um exemplar cujas 
dimensões são dadas abaixo. 



Comprimento sem flagello livre 
Largura 



Núcleo 



| comprimento 

\ largura 

Distancia do núcleo á extremidade posterior 



30,5 micra 

1 

3.5 

3.5 

15 




38 BOLETIM BIOLOGICO 

Blepharoplasto í comprimento °’ 5 " 

| largura 0,6 

Distancia do blepharoplasto á extremidade posterior 0,8 

Flagello livre — (Impossível medir) 

ASPECTO GERAL. Mais largo que o typo precedente; extre- 
midade posterior bruscamente afilada e posterior gradativamente. 

PROTOPLASMA. Finamente granuloso, corado em azul-vio- 
leta pallido, com zonas descoradas, mais denso que o typo prece- 
dente. Zona cio blepharoplasto descorada. 

NÚCLEO. L m pôuco mais nitido que o do typo precedente, 
de cor arroxeada, com chromatina accumulada na peripheria. Não 
toca os bordos do Trypanozoma. tendo forma elliptica e orienta- 
ção diagonal. 

BLEPHAROPLASTO. Sub-terminal, vermelho intenso, alon- 
gado transversalmente, e de situação lateral. 

MEMBRANA ONDULANTE. Yisivel negativamente sempre 
que atravessa o corpo. 

FLAGELLO ADHERENTE. Invisível. 

FLAGELLO LIVRE. Yisivel nos pontos em que não é coberto 
pelo corpo. 

Trypanozoma piracicaboe n. sp. 

(Figs. 3 e 4) 

Hospedador: Loricaria piracicaboe Ihering 
Apresenta-se com dois typos bem differenciados. 

Typo I (fig. 3) 

Só num dos exemplares encontrados foi possível fazerem-se 
medidas. 

Comprimento sem flagello livre 42 micra 

Largura 2.1 

. I comprimento 1 „ 

Núcleo , 

| largura 1 „ 

Distancia do núcleo á extremidade posterior .... 28 ,, 

Blepharoplasto I “"'Pnn.enlo 0.11 .. 

| largura 0,3 

Distancia do blepharoplasto á extremidade posterior . 0 

Flagello livre invisível 



cm l 



SciELO 




BOLETIM BIOLOGICO 



39 



ASPECTO GERAL. Longos e muito finos, apresentando-se sem- 
pre enrolados sobre si mesmos, o que impossibilitou a medida de 
vários exemplares encontrados. Corpo afilando-se gradualmente 
para ambas as extremidades. 

PROTOPLASMA. Finamente granuloso, irregularmente co- 
rado em azul-violeta pelo Leishman, apresentando a extremidade 
posterior descorada. 

NÚCLEO. De forma variavel, com chromatina granulosa, 
bem corado em vermelho, não tocando os bordos lateraes do Try- 
panozoma. 

BLEPHAROPLASTO. Terminal, muito pequeno, redondo, e 
intensamente corado em vermelho. 

MEMBRANA ONDULANTE, FLAGELLO ADHERENTE E 
FLAGELLO LIVRE. Invisíveis. 



Typo II (fig. 4) 

Foram medidos 4 exemplares, que deram as medias abaixo: 



Comprimento sem flagello livre . 


38 


micra 40 micra 


36 micra 


Largura 


2,4 


„ 2,4 „ 


2,3 


. [ comprimento . 

Núcleo 1 . 


4 


„ 4 


4 


j largura .... 


. 2,5 


„ 2,7 „ 


2,3 . 


Distancia do núcleo á extremida- 








de posterior . 


26,5 


,; 28 „ 


26 


' comprimento . 
Blepharoplasto 1 

laraura . 


. 0,8 
. 0,7 


„ . 1 

„ 1 


0.6 

0,6 



Distancia do blepharoplasto á ex- 



tremidade posterior 0 

Flagello livre invisível 

ASPECTO GÈRAL. Exemplares distinguindo-se dos do typo 
precedente principalmente por serem mais largos e apresentarem 
um blepharoplasto mais volumoso, de regra afilando gradualmen- 
te para a extremidade posterior e bruscamente para a anterior. 

PROTOPLASMA. Finamente granuloso, com zonas de colo- 
ração mais intensa que outras e de regra descorado na zona do 
blepharoplasto. 

NÚCLEO. Pouco intensamente corado, chromatina finamente 
granulosa, homogeneamente esparsa, tocando os bordos lateraes 
do Trypanozoma. Em um dos exemplares achava-se no terço pos- 




40 



BOLETIM BIOLOC.ICO 



terior do corpo, ao contrario do que se observa nos restantes, quf 
o apresentam no terço anterior. 

BLEPHAROPLASTO. Terminal, relativamente grande, inten- 
samente corado em vermelho vivo. 

MEMBRANA ONDULANTE, FLAGELLO ADHERENTE E 
FLAGELLO LIVRE. Invisíveis. 



Trypanozoma larai n. sp. 

Hospedador: Prochilodus sp. (Corumbatá uvú, n. vulg.) 
Apresenta-se este Trypanozoma com dois typos, differindo 
principalmente pelo tamanho. 

Typo I (fig. 5) 

As medidas correspondem a 3 exemplares. 



Largura. 

Núcleo 



j comprimento 
\ largura. 



Distancia do núcleo á extremida- 
de posterior 

< comprimento . 



Blepharoplasto 



> largura 



34,6 


micra 


38 micra 


32 


micra 


1,66 


** 


2 


1,5 




4 


99 


4 


4 


9* 


1,7 


99 


2 


1,5 


99 


21 


'9 


22 

““ 99 


20 


„ 


0,87 


99 


1 


0,7 


99 


0,66 


99 


0,7 „ 


0,6 




1,66 


99 


2 


1,5 


99 


16 


um só 


exemplar) 





Distancia do blepharoplasto á ex- 
tremidade posterior .... 

Flagello livre 

ASPECTO GERAL. Trypanozomas longos e muito finos, quer 
em relação ao comprimento, quer de modo absoluto, cujo corpo, 
de regra, se afila gradualmente na extremidade posterior e brus- 
camente na anterior. 

PROTOPLASMA. Coloração irregular, ora homogenea, ora 
com zonas mais intensas; finamente granuloso, corado ora em 
azul-vioietta, ora em arroxeado, pelo Leishman, com a zona do 
blepharoplasto sempre descorada. 

NÚCLEO. Bem corado, de limites nitidos, de aspecto pouco 
homogéneo, tocando os bordos do Trypanozoma. 

BLEPHAROPLASTO. Redondo ou longitudinalmente alonga- 
do, sub-terminal, intensamente corado. 

MEMBRANA ONDULANTE. Invisível. 



FLAGELLO ADHERENTE E FLAGELLO LIVRE, 
visíveis. 



De regra 



cm l 



SciELO 



11 12 13 14 15 16 17 





Entregue para publicação a 10. VI. 929. 




42 



BOLETIM BIOLOGICO 







1 4\00 

F. Fonseca & Z. Vaz — Novas espeeies de Trypanosomas de peixes brasileiros 
de agua doce. 




SciELO 



11 12 13 14 




6 17 




BOLETIM BIOLOGICO 



.43 



DE UM NOVO HYMENOPTERO DESTRUIDOR 
DE MOTUCAS. 

POR 

CARLOS R. FISCHER 
Trabalho do Instituto Biologico de S. Paulo 

NOTA PREVIA 

De Novembro de 1 027 até Março de 1928 tivemos opportuni- 
dade de acompanhar o modo de se comportar de um hymenoptero 
caçador de tabanideos cuja biologia foi objecto de estudos que 
mais tarde serão dados á publicidade nos Archivos do Instituto 
Biologico de S. Paulo. 

Na presente nota previa descrevemos o novo hymenoptero 
acompanhado de uma lista das especies de motucas por aquelle 
capturadas. 



CR ABRO TABAMCIDA n. sp. 

FEMEA. Niger, den.se punctata et fliwo-einereo pilosa; seapo 
antennarum, mandibiilis ex parte, linea transversa pronoti pun- 
etoque utrinque lateraliter, maeulis 2 scutelli, abdominis segmen- 
tis 2 o - 6/n, tibiis e.r parte tarsisque flavis; abdomine leniter pun- 
ctato; alis fumato-hgalinis, stigmato ochraceo, nervis f aseis. 

Long. 11-12 milim. 

Cabeça pouco lustrosa, fina e densamente pontilhada, cober- 
ta de pubescencia flavo-einerea; parte inferior das orbitas e ely- 
peo revestidos de pubescencia prateada, apresentando-se dourados 
conforme a incidência da luz; fronte ligeiramente exeavada. Bor- 
dos posteriores (e superiores) dos olhos situados numa linha recta 
que passa pelo centro da cabeça; ocellos collocados em curva, os 
2 posteriores situados exactamente sobre a linha imaginaria acima 
referida guardando a mesma distancia entre si e da extremidade 
do olho. Clypeo, earenado no centro, densamente coberto de pêlos 
prateados ou dourados conforme a luz. Ü espaço entre os olhos, 
no angulo anterior inferior, tem a largura que corresponde foi- 




44 



BOLETIM BIOLOGICO 



gadamente ao comprimento do segundo e terceiro segmentos an- 
tennaes reunidos. Mandíbulas bifurcadas na extremidade possuin- 
do um grande dente collocado no lado interno e quasi no meio. 

Thorax pouco lustroso e densamente pontilhado com pubes- 
ceneia esparsa flavo-cinerea. 0 pronoto é atravessado transver- 
salmente por uma linha saliente que se inclina para os lados. Se- 
gmento mediano apresentando leves rugosidades transversaes na 
parte anterior e também encontradas no apice que possue na base 
fino sulco mediano e longitudinal. Area basal limitada por sulcos 
curvos. Pleuras pontilhadas e com rugas longitudinaes na parte 
superior. 

Abdómen lustroso e finamente pontilhado; segmento apical 
terminando em ponta chanfrada, comprimida e ligeiramente le- 
vantada. Area pygidial levemente convexa e pontilhada. 

A nervura cubital transversa attinge a cellula justamente na 
parte mediana. 

O esporão da ultima tibia alcança a metade do metatarso. 

MACHO. Menor e mais delgado. Antennas com mais 1 segmen- 
to do que a femea, com 13 artículos excluindo a radicula. A parte 
glabra da fronte é mais larga no macho. Faltam as manchas ama- 
rellas das mandíbulas e do escutello. O contrario dá-se nas pernas, 
onde o amarello cobre parte do femur nos tres pares. As rugosi- 
dades do thorax são mais accentuadas. 

A descripção da femea foi baseada em 3 femeas em excellente 
estado de conservação. A do macho foi sobre um exemplar reti- 
rado de uma nympha. 



Cotypos na minha collecção e na do Instituto Biologico. 



cm l 



SciELO 



11 12 13 14 15 16 17 




BOLETIM BIOLOGICO 



45 



Damos cm seguida a lista dos tabanideos encontrados nas cel- 
lulas de incubação do Crabro tabanicida. São 11 especies bem dis- 
tinctas. Dos representantes do genero Neotabanus não foi possí- 
vel a determinação de tres especies. O macho da especie n.° 5 era 
desconhecido até agora. 





* 


! Machos 

1 


Femeas 


Total 


1 


/ 

Poecilosoma quadripunctata (F.) 


10 


1 


11 


2 


Neotabanus modestas (Wied.) 


1 


3 


4 


3 


Neotabanus sp. 


3 


1 


4 


4 


Neotabanus triangulum (Wied.) 


2 


- 


2 


5 


Acanthocera coarctata (Wied.) 


1 


— 


1 


(5 


Dichelacera alcicornis (Wied.) 


1 


— 


1 


7 


Poecilosoma punctipennis (Mcqt.) 


\ — 


1 


1 


8 

9 


Neotabanus sp. 

Neotabanus obsoletas (Wied.) ou 


1 




1 




especie affim. 


— - 


1 


1 


10 


Neotabanus comitans (Wied.) 


1 


1 


1 


11 


Neotabanus sp. 


1 


1 


1 




TOTAL 


19 


9 


28 



São Paulo, 15 de Junho de 1929 





cm l 



FISCHER, C. R. — De um novo hymenoptero destruidor de motucas. 
CRABRO TABANICIDA n. sp. 



BOLETIM BIOLOGICO 




BOLETIM BIOLOGICO 



47 



Trabalho do Lab. de Histologia e Embryologia da Fac. de Med. de S. Paulo. 
Prof. Cathedratico Dr. CARMO LORDY. 1.» Assistente, Dr. ANDRÉ DREYFUS. 

2." Assistente, Dr. JOSÉ ORIA. 

SOBRE OS GRANULOCYTOS EOSINOPHILOS DO 
SANGUE CIRCULANTE DA “AMAZONA AESTIVA”.. 

Nota preliminar de um estudo sobre os elementos figurados do sangue 

circulante e dos orgãos hematcpoieticos em Papagaios brasileiros, 

POR 

J . ORIA 

Os estudos systematicos sobre os componentes do sangue cir- 
culante e dos orgãos hematopoietieos nos Vertebrados inferiores 
(Aves, Reptis, Batrachios e Peixes), são relativamente numerosos, 
comparados com os escassos estudos systematicos hematologicos 
sobre Mammiferos. 

Todavia, ha naquelles estudos, muitos pontos que ainda per- 
manecem pouco claros e que não estão totalmente resolvidos. As- 
sim, relativos ao sangue e hemaíopoiese das Aves, podemos citar 
alguns dos factos que, ultimamente mais têm prendido os AA„ 
por exemplo: a renovação sanguínea segundo o rythmo annual das 
estações, a origem das cellulas fusiformes, a eosinophilapoiese e 
o méeanismo de formação dos granulocytos eosinophilos. etc.. 

Aproveitando o material de Aves e preferentemente uma es- 
pecie brasileira de Papagaio, (A. aestiva), é opportuno revelar aqui 
o valor intrínseco dos estudos morphologicos em representantes da 
nossa fauna, cuja riqueza constitue um campo illimitado de pes- 
quizas. 

E’ nosso intuito fazer pois, uma tentativa de systematização dos 
elementos figurados do sangue e dos orgãos hematopoietieos nesta 
especie e, dizemos tentativa, porque apenas estamos iniciando um 
trabalho (pie requer grande numero de observações e emprego de 
technica apropriada. Por outro lado, a exiguidade do material bi- 
bliographico com que pode contar nosso meio, não nos permitte 
ainda formar completo juizo comparativo entre nossos achados e 
os existentes na literatura. 

Nesta nota preliminar, exporemos sem maiores detalhes do que 
os trazidos por uma observação apenas esboçada, o que nos occor- 




48 



BOLETIM BIOLOGICO 



reu dum primeiro estudo sobre os granuloeytos eosinophilos do san- 
gue circulante da A. aestiva. 

Antes de relatarmos nossos achados, referiremos o que foi pos- 
sível obter de um apanhado geral da bibliographia relativa somen 
te aos granuloeytos eosinophilos das Aves. Em vista das difficul- 
dades expostas, nossas consultas por emquanto não puderam ser 
bem completadas e só em parte foram directas: entretanto, obriga- 
mo-nos, na apresentação do trabalho definitivo, a fornecer todas as 
citações opportunas. 

LITERATURA — As primeiras observações sobre granuloey- 
tos eosinophilos de Aves foram feitas por EHRLICH e SCHWARZE. 
que nelles descreveram especiaes granulações alongadas como agu- 
lhas, e que por isso, denominaram, “granulaçães crystalloides”. 

Essa forma granular, foi ainda depois observada por vários 
AA. em outros Vertebrados inferiores e reobservadas nas Aves por 
BIZZOZERO e TORRE (1880). 

GRUENBERG (1901), descreveu no sangue circulante da Galli- 
nha e do Pardal, entre os diversos typos leucocytarios, duas varie- 
dades de granuloeytos- eosinophilos: granuloeytos com crystalloi- 
des e granuloeytos com granulações esphericas. Além disso, este A. 
notou presentes no interior dos crystalloides, alguns grânulos es- 
phericos incluidos na peripheria daquelles e salientando-se pela sua 
refringencia e sua tingibilidade em azul pela coloração de Mi- 
chaelis. 

Os estudos ulteriores individualizaram as duas variedades de 
granuloeytos eosinophilos e estabeleceram que, os granuloeytos com 
crystalloides seriam os representantes maduros na evolução dos 
granuloeytos com granulações esphericas, (CULLEN, 1903; DANT- 
SCHAKOFF, 1909; LOEWENTHAL, 1909; KARASINOFF, 1910; 
JOLLY, 1911; LAUNOY, 1914). 

DANTSCHAKOFF (1909) e WERZBERG (1911), verificaram 
na medulla ossea das Aves, a existência de cellulas mononuclea- 
das — grandes e pequenos lymphocytos, que reconheceram como 
cellulas primarias de origem dos elementos eosinophilos. 

DANTSCHAKOFF ainda, descreveu nos fócos hematopoieti- 
cos do embryão de Gallinha, um terceiro typo de granulocyto eo- 
sinophilo, pequeno elemento com crystalloides e com o núcleo po- 
lymorpho: granulocyto eosinophilo embryonario. 

Segundo WERZBERG, para se chegar aos granuloeytos eosi- 
nophilos, partindo-se dos lymphocytos da medulla ossea, ter-se-ia 
primeiro a formação de um pequeno elemento com grânulos es- 




BOLETIM BIOLOG1CO 



I!) 



phericos acidophilos e com o núcleo redondo ( promyelocyto) . Em 
seguida, deste ultimo, derivariam dois differentes elementos de 
maior talhe (myelocytos) , dos quaes, um com grânulos crystalloi- 
des, outro com grânulos esphericos, e ambos com o núcleo ainda 
não polymorpho. Com a segmentação nuclear, estariam esses ele- 
mentos integralmente formados e desse modo se observariam nor- 
malmente no sangue circulante das Aves e dos Reptis. 

Occorre dizer que para WERZBERG, as granulações crystal- 
loides poderiam soffrer modificação de forma, taes de serem re- 
ductiveis a granulações esphericas no granulocyto maduro, em- 
quanto que estas, uma vez formadas, nunca se transformariam 
em crystalloidês. 

O eschema de WERZBERG foi modificado por KOLLMANN 
(1912). Este A. na medulla ossea de vários Sauropsideos e, dentre 
as Aves inclusive uma especie próxima a nossa ( Melopsittaciis un- 
dulatus), reconheceu o granulocyto com crystalloidês, como sendo 
o unico representante terminal dos elementos granulosos. 

Para KOLLMANN, a cellula estipite dos granulocytos eosino- 
philos, seria o grande lymphocyto, muito abundante na medulla 
ossea e rara no sangue. Afim de dar o elemento maduro formar- 
se-iam primeiramente os myelocytos, também numerosos na me- 
dulla ossea: são elementos possuidores de algumas granulações 
perfeitamente esphericas de diâmetro pouco variavel e de affini- 
dade amphophila; pelo triacido de Ehrlich, assumiriam estas, uma 
côr apenas avermelhada ou mesmo violaeea. Corar-se-iam ainda 
pelos corantes básicos e seriam metachromaticas. 

A medida de sua evolução, o “myelocyto” tenderia a perder 
sua affinidade amphophila para alquirir uma eosinophila. Para 
KOLLMANN, a granulação acidophila espherica formar-se-ia no 
seio da própria granulação amphophila: eis para o A., um facto 
contrario á theoria da especificidade leucocytaria de EHRLICH. 
Nos myelocytos mais maduros, a principio, existiriam granulações 
amphophilas e acidophilas, para com o tempo prevalecerem as 
ultimas. Os myelocytos eosinophilos puros, por sua vez, assumi- 
riam progressivamente os crystalloidês: em um mesmo elemento 
sei ia possível verificar granulações esphericas ao lado de crystal- 
loides e mais tarde, na evolução completa, ter-se-iam só os crys- 
talloides. 

0 núcleo por sua vez, de redondo que era nos myelocytos será 
polymorpho nos leucocytos maduros. Todavia, a maturação nu- 
clear não caminharia ao par da granular: encontrar-se-iam granu- 




50 



BOLETIM BIOLOGICO 



locytos contendo erystalloides, mas com o núcleo ainda não se- 
gmentado. 

Os erystalloides, uma vez presentes na cellula, seriam irredu- 
ctiveis de forma: segundo KOLLMANN, nunca passariam a gra- 
nulações esphericas, contrariamente ao supposto por WERZBERG. 

Uma particularidade interessante observada ainda por KOLL- 
MANN. vem a ser a pers:'stencia da substancia amphophila no in- 
terior dos erystalloides. Por meio de technica apropriada de modo 
a evitar as alterações que soffre o material na sua colbcita, este 
A., em alguns casos, na medulla ossea dos Sauropsideos, conseguiu 
ver granulações esphericas amphophilas como que sendo expul- 
sas do interior da massa eosinophila do crystalloide. Essa persis- 
tência da substancia amphophila nos erystalloides, seria indice do 
processo de maturação granular dos leucocytos e, uma prova de 
que essa maturação faz-se por substituição de uma substancia 
por outra. 

Finalmente, MAY (1925), demonstrou como positiva a “reac- 
çâo da oxydase” nos granulocytos eosinophilos das Aves. 

MATERIAL E TECHNICA — Para nosso estudo preliminar 
sobre os eosinophilos do sangue da A. aestiva valemo-nos de 9 
exemplares, material procedente de S. Paulo e fornecido pelo Prof. 
S. Meira que, entre nós, vem effectuando pesquizas nesse grupo 
de Aves. 

Não pudemos por ora, levar em conta as condições em que se 
achavam esses animaes no momento de exame, como sejam, as 
fornecidas pelas variações sexuaes periódicas, as possíveis modi- 
ficações no sangue circulante e orgãos hematopoieticos dependen- 
tes do rythmo annual das estações. Do mesmo modo, nada pode- 
mos adiantar quanto a eventuaes condições pathologicas: parasi- 
tos e certas affecções peculiares a essas Aves. 

O sangue foi colhido por puneção dos vasos axillares. Utiliza- 
mo-nos de methodos corantes diversos, dos quaes, importantes 
para o estudo dos granulocytos são: a Hematoxylina-eosina, como 
metliodo de orientação; o Azul de Toluidina, para reconhecimento 
de possíveis granulações basophilas; as misturas corantes de uso 
corrente — Leishmann, Romanowsky-Giemsa e Pappenheim, para 
ponto de partida de nossas observações. Como methodo especifi- 
co, empregamos a Fuchsina dc Altmann, (pie nos serviu para ve- 
rificação de um achado que julgamos de interesse no estudo dos 
granulocytos, isto é, presença de granulações fuchsinophilas no in- 
ferior dos erystalloides acidophilos. Por outro lado a Fuchsina sim- 



cm l 



SciELO' 



11 12 13 14 15 16 17 




BOLETIM BIOLOGICO 



.')! 



pies ou em mistura com o Orange não revelam ditas granulações 
especificas. 

Fizemos ainda, o methodo da reacção da peroxydase, segun- 
do Good-pasture. 

O desenho (L. Ebstein), é de preparação de sangue circulante 
do exemplar VII. 

OBSERVAÇÕES PRÓPRIAS — Os granulocytos eosinophilos 
são os únicos representantes dos leucocytos granulosos do sangue 
circulante da A. aestiva. Até agora, nesta especie, não verificamos 
a existência de granulocytos basophilos, contrariamente ao que se 
observa em outras Aves e nos Reptis e Amphibios. 

Na A. aestiva, ha duas variedades de granulocytos eosinophi- 
los: granulocytos com granulações crystalloides — crystalloidoey- 
tos — e granulocytos com granulações esphericas. Accresce referir 
a existência de formas intermediarias, isto é, leucocytos com as 
duaes especies de granulações, formas raras porém, no sangue cir- 
culante da A. aestiva. 

a) — Crystalloidoeytos — Os crystalloidoeytos se observam 
na maioria dos exemplares, e em quasi todos, representam o 100 °j° 
de granulocytos. São elementos de cerca de 15 p. de diâmetro, com 
o núcleo de contorno pouco nitido, geralmente polymorpho. Este, 
não affecta estructura característica: é pobre em chromatina e se 
córa em violeta-pallido. 

O cytoplasma encerra crystalloides, quasi sempre alongados e 
com as pontas agudas, medindo 2 a 3 a de comprimento; ás vezes, 
são riais curtos e tem as pontas rhombas, como “em grão de trigo” 
Como quer que sejam, se dispõem sem regularidade, e são muito 
abundantes num mesmo elemento, podendo até se superporem 
ao núcleo. Coram-se em vermelho pela Eosina e pela Fuchsina, em 
alaranjado pelo Orange; não demonstram nenhuma tonalidade 
basophila pela Toluidina. Por vezes, coram-se mal pelas cores aci- 
das ou não se coram de todo, como que fossem dissolvidos sob a 
acção dos reactivos. Neste ultimo caso, nos granulocytos assim alte- 
rados apparece a imagem negativa dos crystalloides num fundo 
levemente roseo. 

Pelo methodo panoptico, na maioria dos crystalloides, além 
do mais, observamos granulações esphericas dispostas justamente 
no interior do crystalloide, como que incrustadas em sua massa. 
Geralmente, taes incrustações acham-se repellidas para as extre- 
midades daquelle, e raramente oecupam sua parte central. 
Reconhecem-se pelo seu brilho especial e pela maior refringencia 




52 



BOLETIM BIOLOGICO 



e, pela còr roxa adquirida com o May Grümvald-Giemsa, contras- 
tando no fundo vermelho do crystalloide. 

Além disso, obtivemos a coloração especifica desses grânulos 
em todos os crystalloidocytos .do sangue circulante da A. aestiva, 
empregando a Fuchsina de Altmann com previa fixação em álcool 
methylico. Desse modo, emquanto os crystalloides se coram em 
roseo, deixam ver em seu interior, sobretudo em suas extremida- 
des as incrustações esphericas vivamente coradas em purpura. 

Este facto merece aqui registo especial: ao que parece, foi 
pela primeira vez realizada por nós, a observação de grânulos 
fuchsinophilos com tal disposição, nesta variedade de granulocy- 
los do sangue circulante do Papagaio. 

Referiremos ainda, termos obtido reaeção positiva para a per- 
oxydase dos crystalloidocytos na especie considerada. 

b) — Granulocytos com granulações esphericas — Os granu- 
locytos com granulações esphericas são menos frequentes no san- 
gue da A. aestiva. No entretanto, em o exemplar II, nós os obser- 
vamos como predominantes em numero, muito embora não se 
apresentem sempre com seus caracteres morphologicos nitidos. As- 
sim, raramente as granulações esphericas ficam bem coradas pela 
Eosina: sua côr é debilmente alaranjada. Pouco refringentes, têm 
quasi sempre contorno mal discernivel. Maiores do que as eom- 
muns granulações dos eosinophilos sanguíneos dos Mammiferos, 
são porém, pouco abundantes num mesmo elemento, ainda que se 
possam achar superpostas ao núcleo. 

Na maioria das vezes as granulações esphericas só podem ser 
demonstradas negativamente; o cytoplasma tem então um aspe- 
cto alveolar ou de rèdc, cujas malhas claras circulares desenham 
o molde das granulações. A rède eytoplasmatica assim constituí- 
da, se tinge em roseo pelas cores acidas; pelos meíhodos de Pap- 
penheim, Leishmann, etc., verificamos esparsas aqui e alli, nas 
suas trabéculas, escassos e minúsculos grânulos corados em viole- 
ta. Ditas inclusões granulosas seriam provavelmente da mesma 
natureza do que as observadas no interior dos crystalloides. 

O núcleo desta variedade de granulocytos, quasi sempre bilo- 
bado, é rico em chromatina disposta em blocos, que pelos metho- 
dos usuaes se tinge intensamente em roxo, mais intensamente do 
que a dos crystalloidocytos. 

As formas de transição entre granulocytos com granulações 
esphericas e granulocytos com crystalloides, são muito raras no 
sangue circulante da A. aestiva. Todavia, no exemplar IX, a for- 



em 1 



SciELO' 



11 12 13 14 15 16 17 




BOLETIM BIOLOGICO 




ma granular predominante é a dita em "grão de trigo”, isto é,. 
nienos alongada e menos ponteaguda do que a forma crystalloide. 

CONSIDERAÇÕES GERAES — A observação classica de duas 
variedades de granulocytos eosinophilos do sangue circulante das 
Aves, é ainda confirmada por nós no sangue circulante da A. aes- 
tiva. Das duas variedades, os elementos portadores de crystalloides, 
como para cutros AA., são para nós as formas typicas, visto os ter- 
mos observado como predominantes na maioria dos exemplares. 
Admittindo-se o que os AA. estabeleceram como bem definido, se- 
riam essas portanto, as formas evoluídas da serie granulocytaria. 

Por sua vez, os granulocytos com granulações esphericas, de 
observação accidental no sangue de Papagaio, correspondem ás 
formas ditas immaturas. Nem por isso, taes formas podem deixar 
de existir prevalentemente em percentual como numa de nossas 
observações. Esta differença individual, é até certo ponto, ntil de 
se referir: differenças individuaes no âmbito da formula granu- 
locytaria do sangue de Aves, ao que parece, nunca foram bem le- 
vadas em conta pelos AA.. 

Para explicar a existência de maior quantidade de granulocy- 
tos com granulações esphericas no sangue circulante das Aves em 
geral, poder-se-á pensar: l.°) — numa reacção da medulla ossea 
e subsequente passagem para a torrente circulatória de elementos 
leucocytarios em phase anterior á maturação; 2.°) que os granu- 
locytos com granulações redondas sejam formas de alteração ou 
mesmo simples aspectos artificiaes dos communs crystalloidocy- 
tos; 3.“) que sejam formas evoluídas dos crystalloidocytos 
( WERZBERG) . 

A primeira hypothese é a mais cabivel no nosso caso como o 
c em todos os casos da maioria dos AA.. Também não é possível, 
que os elementos com grânulos espheroidaes sejam formas modi- 
ficadas dos communs crystalloidocytos: naquelles, o núcleo é es- 
tructuralmente definido e bem conservado; nestes, ao contrario, os 
phenomenos altcrativos nucleares denunciam formas já avançadas. 

As granulações esphericas dos granulocytos do sangue de Pa- 
pagaio, coram-se mal pela Eosina. Deduz-se dahi, que para passar 
á granulação crystalloide, a granulação espberica necessita assu- 
mir uma substancia acidophila. Do exposto por KOLLMANN, se- 
ria este, um dos processos realizados na maturação granular. 

Dos nossos achados, nada podemos adiantar da natureza chi- 
mica dessa forma granulosa, nem mesmo demonstrar o mecanis- 
mo de sua substituição pelo definitivo crystalloide. Entretanto, a 




54 



BOLETIM BIOLOGICO 



demonstração feita por nós de incrustações fuchsinophilas no in- 
terior dos crystalloides, poderia trazer alguma luz sobre o proble- 
ma da substituição da granulação espherica pelo crystalloide. Taes 
incrustações que ainda observamos por methodos habituaes, cor- 
respondem claramente ás granulações brilhantes que GRUNBERG 
observára no sangue de Gallinha; equivalerão ainda, ás granula- 
ções amphophilas persistentes em crystalloides, que KOLLMANN, 
de igual modo e com igual disposição, demonstrou nos respectivos 
elementos de medulla ossea em vários Sauropsideos. 

Outros processos corantes especiaes evidenciarão possivelmen- 
te as inclusões granulosas dos crystalloides dos granulocytos da 
A. aestiva. E’ o que procuraremos conseguir com o tempo. 

Finalizando, consideraremos a reacção da peroxydase: nos 
granulocytos da especie estudada, ella é positiva como o fòra para 
MAY em varias espeeies de Aves. 



CONCLUSÕES 



1 — Observamos no sangue circulante do Papagaio duas va- 
riedades de granulocytos eosinophilos: granulocytos com granula- 
ções esphericas, debilmente eosinophilas e granulocytos com crys- 
talloides fortemente eosinophilos. 

2 - — Os granulocytos com crystalloides são os prevalentes na 
taxa leucocytaria, o que não impede observarmos por vezes igual 
prevalência dos granulocytos com granulações esphericas. 

3 — Os granulocytos com granulações esphericas têm estru- 
ctura nuclear sempre bem manifesta. 

1 — A presença de granulocytos com granulações esphericas 
no sangue circulante da A. aestiva, decorreria da passagem de ele- 
mentos jovens da medulla ossea. 

5 — Os crystalloidocytos do Papagaio são elementos maduros: 
seu núcleo tem a estruetura habitual do de cellulas sanguíneas em 
phase final evolutiva. 

6 — O crystalloide não é homogeneo: possue uma incrusta- 
ção espherica refringente que se cora em violeta pelo May Griin- 
wald-Giemsa. 

7 — E’ de se suppor que pela primeira vez, foi obtida por nós 
a coloração especifica das incrustações dos crystalloides: coram- 
se e mpurpura pela Fuchsina de Altmann. 




BOLETIM BIOLOGICO 



55 

8 — Taes granulações fuchsinophilas poderiam estar ligadas 
aos phenomenos de maturação granular dos leucocytos. 

9 — A reacção da peroxydase, segundo Goodpasture é posi- 
tiva nos granulocytos eosinophilos do Papagaio. 

10 — Até agora, não verificamos a existência de granulocytos 
basophilos no sangue circulante da especie em estudo. 



LISTA BIBLIOGRAPHICA 

t — BIZZOZERO e TORRE, Arch. fiir med. Wissensch., 1880. 

2 — BIZZOZERO e TORRE, L’ematopoesi nei Vertebrati infe- 

riori. L Osservatore, Gazz. clellc cliniche, V. pg. 165-467, 1882. 

3 — CULLEN, John’s Hopldns Buli., 1903. 

4 — DANTSCHAKOFF, V., Untersuchungen ü. die Entwicklung 

des Blutes und Bindgewebes bei den Vôgeln; Anut. Hefte, 
vol. 37, 1908, Arch. f.'mikr. Anal., vol. 73, pg. 111, 1909. 

5 — DANTSCHAKOFF, V. Uber die Entwicklung des Knochen- 

marks bei den Vôgeln. Arch. {. mikrosk. Anal., vol. 74, pg. 
885, 1909. 

6 — DENYS, Sur la structure de la moelle des os et la genese du 

sang chez les oiseaux, La Cellule, V, 1887. 

7 — EHBLICH - SCHWARZE, cit. por LEVADITI. (Le Leucocyte 

et ses granulations, pg. 40, 1902). 

8 — GRUENBERG C., Beitrâge z. verg. Morph. der Leukozylen, 

Virchows Arch., vol. 163, pg. 303-342, 1901. 

9 — JOLLY, Cumpt. Reiid. Soe. Biol., 25-2-1911, cit. por Jolly 

(Traité). 

10 — JOLLY, Arch. cTAnat. Micr., XVI. 1915, cit. por Jolly (Traité). 

11 — JOLLY, Traité technique d’Hematologie, vol. I, pg. 226 Pa- 

ris, 1923. 

12 — KASARINOFF, Folia Haematologica, X, 1910. 




BOLETIM BIOLOGICO 



l 



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Sangue circulante da "A. AESTIVA”. (Exempl. VII). Fuchsina de Altmann; 
grânulos fuchsínophilos no interior dos crystalloides dos granulocytos. 
(Leitz, imm. 1 yT2; oc. 8 B' 




BOLETIM BIOLOGICO 



Brasil. S. Paulo, 20 de Dezembro de 1929. Fascículo 16. 



4 



UM NOVO GENERO E NOVA ESPECIE DE PULGÕES 
DA BAHIA. (Homoptera, Coccidae, Pseudococcinae) 

POR 

GREGORIO BONDAR 
Bahia 



Limacoccus n. gen. 

Larva — Antennas de 7 segmentos; extremidade posterior com 
vários pares de pêlos. 

Femea incluída em folliculo tenue, eeroso, de margem intei- 
ra, desprovido da franja marginai; a forma do folliculo mais ou 
menos circular ou alongada, convexa ou chata, adherente ao dorso 
da femea, deixando livre a extremidade do corpo, com orifício 
anal e genital, de forma que os ovos ou larvas, ao sairem, se acham 
em liberdade. 

A femea é desprovida de patas e antennas, ou estas ultimas 
são rudimentares. O ultimo segmento abdominal constitue uma 
placa saliente, destacando-se do resto do corpo; nella se acham os 
orifícios anal e genital; lateralmente a placa, ou pygidio forma lo- 
bos um de cada lado, bem chitinisados e providos de pêlos. 

No lado ventral posterior e lateralmente na margem ha glân- 
dulas cerigenas tubulares cylindricas. 

Por certos caracteres o genero é ligado ao grupo dos Asterole- 
canineos, outros caracteres, porém, não permittem incluir nessa 
sub-familia, razão porque ligamo-lo ao grupo polymorpho dos 
Pseudococcineos, ao lado do genero Antonina. 







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GO BOLETIM BIOLOGICO 

Tijpo - Limacoccus serratus n. sp. 

Denominamos o genero em homenagem ao distincto scientista 
brasileiro e nosso amigo Dr. A. de Costa Lima, em reconhecimento 
de valioso apoio que nos presta, na ardua tarefa de pesquisador. 

Limacoccus serratus, n. sp. 

Larva. Alongada, subovoidal, sem olhos visíveis; antennas de 
7 segmentos, delles o ultimo, o mais comprido, um pouco menor 
do que os tres penúltimos juntos, guarnecido de dois pêlos, um 
maior e outro menor; patas curtas, com a tibia e o femur muito 
mais finos do que os dois segmentos basaes; terminam em uma 
unha, acompanhada de 4 pêlos com bolinha na ponta; orifício anal 
arredondado, acompanhado de um par de pêlos curtos; posterior- 
mente ha oito pêlos; delles dois grandes e dois menores situados 
na margem posterior e dois pares também desiguaes na submargem. 

Ha no dorso glandulas discoidaes, pouco visíveis, isoladas ou 
grupadas em duas, tres e mais. 

Comprimento do corpo cerca de 638 micra. 

Largura „ „ „ » 328 „ 

Comprimento da antenna „ „ 90 „ 

Comprimento da pata „ „ 93 „ 

Folliculo da femea subcordato, cobrindo o corpo em uma pel- 
iicula f;na de substancia fibrosa insolúvel no xilol, formada pelos 
fios brancos pouco ligados entre si; o folliculo percebe-se mais 
pela margem grossa, que se desprendendo parece um tanto com 
um arco em roda do insecto. A margem inteira, o lado ventral e 
os lobos anaes são livres, não ha, portanto, ovisacco. 

Femea adulta de configuração subcordata ou subcircular, for- 
temente colorida em amarello-castanho, principalmente na mar- 
gem e na parte anal. Não se nota a divisão dos segmentos do cor- 
po; este é chato ou um tanto globoso quando cheio de ovos: an- 
tennas rudimentares, junto da margem, representadas por dois 
segmentos, delles o segmento basal curto e largo, e o terminal 
mais alongado e fino; patas faltam; o rostro é muito comprido, 
ultrapassando ou excedendo em comprimento o diâmetro do corpo. 

A margem em forma de serra, com dentes bem reforçados, le- 
vando cada um vários denticulos. O orificio anal e genital desem- 



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BOLETIM BIOLOGICO 



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bocam na margem posterior, formando uma placa alargada de 
cada lado em pequeno lobo, tudo fortemente chitinisado. 

Perto da abertura anal ha 8 pêlos, delles dois maiores, e nos 
lobos ba tres ou quatro pequenos pêlos em cada um; os lobos são 
dentilhados. Ha no dorso glandulas circulares formadas de vários 
discos, isolados ou em grupos de dois. tres e mais; estas glandulas 
são distribuídas em todo dorso principalmente na submargem; en- 
tre os dentes marginaes ha glandulas tubulares; na face inferior, 
principalmente nos sectores latero-posteriores ha numerosas glan- 
dulas tubulares cerigenas; ha dois pares de estigmas situados sy~ 
metricamente na metade posterior do corpo, formados de uma 
cavidade da qual sobresae uma especie de pincel de barba, com 
numerosíssimos poros miúdos; em roda dos estigmas as glandula? 
tubulares apparecem em facho. As glandulas tubulares pcC- 
duzem cera branca, filiforme, adherente á folha da planta, 
e que, sahindo do corpo do insecto, propulsiona o bicho 
para frente; as glandulas do estigma produzem cera flocculenta. 
Nas femeas adultas, ás vezes a cera tubular em vez de sahir numa 
direcção para o lado posterior sahe em todas as direcções, deixan- 
do assim o bicho immovel num logar e formando em roda delle 
camadas de cera branca vitrea ou um tanto floccosa, como acon- 
tece nos alcyrodideos. 

Os dentes marginaes, emquanto a femea está fechada dentro 
do folliculo ceroso — são voltados para cima, sobresahindo as ve- 
zes pelo folliculo em forma de tubérculos irregulares; a margem 
do insecto nesta phase é inteira e o folliculo forma uma carina 
circular em roda. Quebrando-se o folliculo os dentes se estendem 
lateralmente, dando aspecto característico a este insecto. 

As femeas maduras são repletas de ovos, que amadurecem no 
ovário, e as larvas fazem eclosão dentro da cavidade abdominal, 
de modo que a especie é vivipara, não necessitando do ovisacco. 
O insecto cria-se na palmeira Attalea, sp., no olho da planta; as 
larvas e femeas novas procuram introduzir-se nas folhas novas, 
ainda dobradas e entram ali. progressivamente empurradas pela 
cera sahida das glandulas tubulares, de modo que a femea, sendo 
ápoda, tem capacidade de progredir na direcção opposta á incli- 
nação dos tubos cerigenos. 

A presença do insecto na folha da palmeira nota-se de longe 
pelas manchas amarelladas, geralmente em forma de virgula, for- 
madas perto da margem nos foliolos das palmas. 



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Ü diâmetro das femeas maiores attinge 3 mm. em comprímen 
to, a maioria, porém tem cerca de 2 a 2,5 mm., o dente maginal 
mede 90 micra, a largura da glandula tubular abdominal 0 micra. 

Habitat — Colligimos o insecto no município de Viçosa, Es- 
tado da Bahia, em folhas da palmeira Attalea sp. 

Typo — Collecção do auctor, cotypos — Museu Nacional do 
Rio de Janeiro e Instituto Biologico de S. Paulo. 

Gregorio Bondar 



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Em folhas de Attalea sp. 

1) Manchas amarelladas, causadas 
em folha pela cocherrilha. 

2) Femea augmentada; a - cera em 
forma de camada fina de fios pa- 
rallelos, que impelle o hicho pa- 
ra frente; b - cera flocosa em 

roda da femea immovel. 

Original do auctor. 




Fig. B - Limacoccus serratus n. sp. 

1) Femea desprovida do folliculo; 

2) Antenna, muito augmentada. 

3) Segmento anal da femea, com 
augmento maior. 

Original do auctor. 



BONDAR, GREGORIO — Em novo genero e nova especie de pulgões da Bahia. 



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BOLETIM BIOLOGICO 




Fig. B — Limacoccus serratus, n. sp. 



1) Larva; 

2) Antenna da larva; 

3) Pata da larva; 

4) Femea adulta: a - arco formado pelo folliculo quebrado; b- estigmas; 
c - glandulas tubulares; d - ultimo segmento abdominal, formando placa 
saliente; e - orifício anal e genital desembocam nesta placa; f - ovos 

i - larvas prestes a sahir; g - glandulas discoidaes; j - antennas; 

5) Dentes marginaes e tubos cerigenos lateraes; 

6) Estigma, rodeado de glandulas tubulares; 

7) Glandula discoidal; 

8) Glandula tubular augmentada. 

Original do auctor. 

BONDAR, GREGORIO — Lm novo genero e nova especie de pulgões da Bahia. 




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BOLETIM BIOLOGICO 



05 



Trabalho do Departamento de Physiologia e Chimica Biológica da Faculdade 
de Medicina de S. Paulo. Prof. Cathedratico I)r. FRANKLIN DE MOURA 
CAMPOS. 1." Assistente Dr. J. A. ALBUQUERQUE CAVALCANTI, 2." Assistente 
Dr. J. DUTRA DE OLIVEIRA, 3." Assistente DR. OCTAVIO PAULA SANTOS. 



ACÇÃO DO VENENO DE SAPO SOBRE O 
APPARELHO CARDIO- VASCULAR RESPECTIVO (') 

PELOS 

PROF. F. MOURA CAMPOS e ACAD. P. J. TOLEDO 

Em experiências anteriores, um de nós, já teve occasião de 
provar que Vulpian não tinha razão quando affirmára que os te- 
cidos do sapo não eram sensíveis ao seu proprio veneno. Assim é 
que em uma serie de trabalhos do Laboratorio de Physiologia fo- 
ram os seguintes factos registados : 

a) — o veneno augmenta a excitabilidade muscular, diminuin- 
do o período latente e o tempo total de uma curva isotonica. (1) 

b) — - retarda o apparecimento da fadiga muscular e accelera 
o restauramento dos musculos fatigados. 

c) — diminue a chronaxia normal do nervo sciatico, ou a 
elevada pela acção da fadiga. (2) 

Os resultados adiante referidos trazem mais uma documen- 
tação do que affirmámos atraz. Elles dizem respeito á acção do 
veneno sobre o apparelho cardio-vascular. 

ACÇÃO SOBRE O CORAÇÃO 

Foi usada a technica da perfusão do coração como aconselha 
Tredlenburg. Era applicada uma canula de François-Frank no 
sinus venoso. Um dos seus ramos era ligado a um recipiente com 
Ringer e o outro a um vaso com Ringer mais veneno. Os batimen- 
tos cardiacos eram registrados por meio de uma alavanca cardíaca 
Harvard. 

Resultado — - A perfusão do liquido de Ringer mais veneno 



Communicado á Sociedade de Biologia de S. Paulo em 8-10-29. 



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i5<; 



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produzia um auginento immediato da amplitude dos batimentos 
cardíacos ( ç/raphicos n." 1 e n.° 2). 

ACÇÃO SOBRE O APPARELHO VASCULAR 

A canula era collocada no bulbo arterial e o escoamento do li- 
quido era feito por meio de uma incisão do sinus. Ficcu provada 
a accão vaso-constrictora do veneno. Assim tivemos: 



(irajjhicu n." 3. 



Perfusão de Ringer 
Perfusão de Ringer 
minuto. (II) 



1(5 gottas por minuto. (I) 
veneno 9 gottas — por 



Graphico n." 4. 



Perfusão de Ringer — 3(5 gottas por minuto. (I) 
Perfusão de Ringer veneno — 13 gottas por 
minuto. (!I) 



Graphico n.° õ. 



Perfusão de Ringer — 31 gottas por minuto. (I) 
Perfusão de Ringer 4- veneno — 23 gottas por 
minuto. (II) 

Perfusão de Ringer 4- veneno 16 gottas por mi- 
nuto. (III) 

Perfusão de Ringer + veneno (após 10 minutos) 
10 gottas por minuto. (IV) 



O veneno de sapo (Bufo marinus) produziu, assim, um augmen- 
to das contracções cardíacas e uma vaso-constricção no proprio 
animal. Agindo sobre dois dos mais importantes factores de ma- 
nutenção da pressão arterial podemos concluir, a priori, que elle 
eleva a sua pressão sanguínea. 

BIBLIOGRAPHIA 

(1) Campos (F. M.), e Santos (O. P.) — Acção do veneno 
de sapo sobre os musculos esqueleticos. Annaes da Faculdade de 
Medicina de S. Paulo. X. 3 - 1928 pag. 27. 

(2) Campos (C. M.) e Campos (F. M.) — Acção do ve- 
neno de sapo sobre a chronaxia. Trabalho apresentado ao Con- 
gresso da Academia Nacional de Medicina — 1929. 



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Gr. n.° 1. Xotar o augmento de amplitude dos batimentos cardíacos pela 
acção do veneno. 

Gr. n.° 2. Acção do veneno de sapo sobre o coração do mesmo animal. 

CAMPOS, F. M. e TOLEDO, P. J. — Acção do veneno de sapo sobre o appa- 
relho cardio vascular respectivo. 







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Gr. n.° 3. Acção vaso-constrictora no sapo. 

I = 16 gottas /min. 

II = 9 gottas /min. 



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Gr. n." 4. 1 — 36 gottas / min. 

II = 18 gottas /min. 

CAMPOS, F. M. e TOLEDO, P. J. — Acção do veneno de sapo sobre o appa- 
relho cardio vascular respectivo. 



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GANASPIS CARVALHOI n. sp 
(Hymenopt. — Cynipidae) 

UM NOVO PARASITA DA MOSCA DAS FRUTAS 
(Anastrepha fratercula Wied.) 

POR 



H. DETTMER S. 
Valkenburg, Hollanda 



J . 



FEMEA — Lisa. brilhante, preta. Mandíbulas e palas (inclu- 
sive os quadris) sujo-amarellas, ligeiramente transparentes. Pleu- 
ras, segmento mediano e particularmente os primeiros artículos 
antennaes tirando para vermelho. Abdómen pardo-vermelho-es- 
curo. No álcool a coloração é mais avermelhada. 

Cabeça tão larga como o thorax. Visto de deante, ella é mais 
alta do que larga; a distancia entre a base mandibular e a base 
das antennas e a distancia intra-ocular estão em proporção de 
33:20. Em baixo da base das antennas ha uma carena abreviada. 
O comprimento da região genal e o comprimento e largura do 
olho estão em proporção de 15:18:20. As proporções dos artículos 
antennaes (a partir do primeiro) são 11 (larg. 5) : 5 (4,5) : 12 (4,5) : 
9: 9:9:9:9:9:9:9 : 9 : 12 (6). A partir do terceiro articulo, 
a largura da antenna augmenta progressivamente um pouco. Os 
artículos 3-5 alcançam a maior largura na extremidade, os artí- 
culos 7-12 são ovaes com a extremidade truncada, o articulo 13 
c coniforme; os artículos 7-13 formam uma clava pouco accen- 
tuada; todos os artículos (os primeiros menos do que os demais) 
apresentam cerdas erectas, ligeiramente curvadas. Anteriormente 
no prothorax, a borda superior apresenta ao meio um entalho 
cordiforme. 

O escutello apresenta puncturas foveladas, os lados são ver- 
ticalmente abruptos; posteriormente elle excede ligeiramente o 
segmento mediano. A tigella, vista do lado, é bastante saliente, 
de maneira que a carena estreita entre as foveas escutellares li- 
geiramente obliquas, é bastante abrupta. A tigella é oval, ligei- 
ramente abaulada, lisa ou ligeiramente estriolada em sentido 
transversal, posteriormente com uma fovea circular relativamen- 



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le grande, deante da qual se acham de cada lado duas ou mais 
puncturas, grossas. Seu comprimento, desde a sutura mesonotal, 
é de 28. sua largura 28. a largura do eseutcllo (visto de cima) 22. 
A borda da tigella excede ligeiramente o escutello e é pallida. 

0 segmento mediano é densamente coberto de pellos que, con- 
forme a incidência da luz e o angulo de visão, ora são mais es- 
branquiçados, ora mais cinzentos. As carenas do segmento me- 
diano são fortes, delimitando quasi uma área rhomboidal. 

Azas ligeiramente tingidas de amarello, pubescentes, ciliadas. 
Cellula radial fechada na orla anterior. Nervuras fortes, amarel- 
las; aréola ausente; nervura cubital ligeiramente indicada. Com- 
primento da aza 170, comprimento das quatro divisões da ner- 
vura sub-costal relativamente õ7 : 20 : 0 : 40; as duas divisões da 
nervura radial estão em proporção de 20 : 31 ; a primeira divisão 
é ligeiramente curvada, a segunda quasi recta. A segunda divisão 
é um pouco prolongada na orla além do ponto de contacto com 
a orla. 

Comprimento relativo da tibia e dos 5 artículos tarsaes das 
patas posteriores 55 : 22 : 8 : 6 : 5 : 8 (inclusive a unha 10). 

A franja de pellos no abdômen é bastante densa, mais ou 
menos esbranquiçada como os pellos do segmento mediano. Se- 
gundo segmento abdominal na borda posterior finamente ponti- 
lhada. O comprimento do abdômen (até a extremidade da val- 
vula ventral) e sua altura e largura estão em proporção de 85 : 
60:35: comprimento do segundo segmento 70, de maneira que 
em exemplares desseccados somente a valvula ventral é proemi- 
nente na borda posterior. 

Comprimento da cabeça — 30, do thorax — 75. 

Comprimento total da femea 9,00 mm. Comprimento da an- 
lenna 1.90 mm. Comprimento da aza 2.70 mm. 

MACHO — Antenna filiforme, na extremidade ligeiramente 
attenuada. O comprimento e largura dos diversos artículos estão 
em proporção de 10 (largura 6) : 5 (5,5) : 21 (6) ; 19 : 23 : 22 : 
21:22 : 22 : 23 : 21 : 20 : 20 : 20 : 20. Segundo articulo quasi 
globular, terceiro articulo ligeiramente curvado e alcançando a 
maior largura na extremidade distai, artículos seguintes quasi cy- 
lindricos. Todos os artículos pubescentes, sem cerdas. 

Comprimento relativo da cabeça, do thorax e do abdômen 
30 : 80 : 83. Comprimento e largura do abdômen em proporção 



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72 BOLETIM BIOLOGICO 

de 60 : 1 1. O segundo segmento não cobre inteiramente os seguin- 
tes. 

No mais. não existe differença notável entre os dois sexos, a 
não ser que no macho o primeiro articulo antennal e abdómen 
são um pouco mais escuros, a franja abdominal um pouco mais 
estreita e a aza um pouco mais comprida. 

Comprimento total do macho 3,00 mm Comprimento da an- 
tenna 4,(50 mm. 

A descripção se baseia sobre 1 macho e 21 femeas. O macho 
e 10 femeas se acham na collecção do autor, 11 femeas foram de- 
positadas na collecção do Instituto Biologico, S. Paulo, Brasil. (1) 

Abstrahindo de ligeiras differenças no comprimento dos artí- 
culos antennaes e no comprimento total, não ha differença notá- 
vel entre os diversos exemplares. 

Todos os exemplares foram criados pelo snr. Miguel Carva- 
lho Leite, daetylographo do Instituto Biologico, de pupas de Anas- 
trepha fratercula Wied., parasitando goiabas ( Psidium guayava 
Raddi) provenientes de Casa Verde, S. Paulo, capital, 20-III-1B29. 

WEIBCHEX — Glatt, glaenzend, schwarz. Mandibeln und Beine mit 
Hueften schmutzig hellgelb, etwas durchscheinend. Die Rleuren, das Medi- 
anscgment, namentlich die ersten Fuehlerglieder ins Rote spielend. Hin- 
terleib dunketbraunrot. Im Alkohol scheint alies roter. 

Der Kopf ist so breit wie der Thorax. Von vorn gesehen, ist er raehr 
hoch ais breit, un zwar verhaelt sich die Entfernung von der Mandibel- 
basis bis zur Fuehlerbasis zur Entfernung von Auge zu Auge wie 33 zu 20. 
Unterhalb der Fuehlerbasis ist eine abgekuerzte Leiste. Die Lacnge der 
Wange verhaelt sieh zur Laenge und Breite des Auges bzw wie lã : 
28 : 20. Das Verhaeltnis der Laenge der Fuehlerglieder, angefangen beira 

ertsten, ist 11 (Dicke 5) : 5 (4,5) : 12 (4,5) :9:9:9:9:9:9: 
9 : 9 : 9 : 12 (16). — Vom 3. Gliede bis zuni Ende nimrat der Fuehler an 
Dicke allmaehlieh wenig zu. Glied 3-5 sind jeweils ara Ende ara dicksten, 
Glied 7-12 sind eifoermig mit abgestutztem Ende, Glied 13 ist kegeiig: 
Glied 7-13 bitden eine sehwach abgesetzte Keule; alie Gliederam wenigsten 
die ersten — sind mit abstehenden, wenig gekruemmten Borsten besetzt. 

Vorn ara Prothorax ist die Randung oben in der Mitte herzfoermig 
ausgeschnitten. Das Rueckenschildchen ist grubig-punktiert, seitlich steil 
abfallend, nach hinten das Mediansegment etwas ueberragen. Der Napf 
ist, von der Seite gesehen, ziemlich erhaben, deshalb ist die schmale Leiste 
swischen den twas schragen Schildchengruben ziemlich abschuessig. Der 
Xapf ist oval, schwach gweoelbt, glatt oder wenig quergestrichelt, hinten 
mit verhaeltnismaessig grossem, kreisrundem Gruebchen, davo- • «derseits 



(1) Fóra desses exemplares devolvidos pelo autor, se acham mais 18 
femeas na collecção tio Instituto Biologico (Frei Borgmeier). 



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mit 2 oder mehr groben Punkten. Seine Laenge, von der Xaht des Mesonotums 
ab gemessen, ist gleich 28, seine Breite 14, die Breite 14, die Breite des 
Schildchens, von oben gesehen, ist 22. Der etwas ueberragende Band des 
Napfes ist bleich. 

Das Mediansegment ist dicht mit Haaren besetzt, die je nach dem 
Lichte und dem Winkel, unter dem sie gesehen werden, mehr weisslirh 
oder mehr grau erscheinen. Die Leisten des Mediansegmentes sind stark, 
ein fast rhombisehes Feld umschliessend. 

Die Fluegel sind ein wenig gelblich getruebt, behaart, bewimpert. Radial- 
zelle ist am Vorderrande geschlossen. Die Adern sind scharf, gelb; die 
Areola fehlt; die Cubitalis ist eben angedeutet. Die Laenge des Fluegels ist 
gleich 170, die Laenge der 4 Absehnitte der Subcostalis ist beziehungsweise 
57 : 20 : 6 : 40; Laenge der 2 Absehnitte der Radialis ist beziehungsweise 
20 und 31; der 1. Abschnitt ist ein wenig gekruemmt, der 2.. fast gerade. 
Naehdem der 2. Abschnitt den Rand getroffen hat, ist er am Rande nor-h 
etwas verlaengert. 

Verhaeltnismaessige Laenge der Tibie und der 5 Tarsenglieder am Hin- 
terbein ist 55 : 22 : 8 : 6 : 5 : 8 (mit Klaue 10). 

Der Haarkranz am Hinterleib ist ziemlich dicht, mehr oder minder weiss 
erscheinend aehnlich den Haaren des Media nsegments. Das 2. Segment ist 
em Hinterrande fein punktiert. Die Laenge des Hinterleibes, his zur Spitze 
der Bauchklappe gemessen, verhaelt sich zu seiner Hoehe und Breite wie 

85 : 60 • 35; Laenge des 2. Segments ist gleich 70, so dass bei den einge- 

trockneten Exemplaren nur die Bauchplatte unter ihm hervorragt. 

Laenge des Kopfes — 30, des Thorax — 75. — Gesamtlaenge des 
Weibchens 9,00 mm. Laenge des F'uehlers 1,90 mm.; Laenge des Fluegels 
2,70 mm, 

MAEXXCHEX — Der Fuehler ist fadenfoermig, gegen Ende wenig an 
Dicke abnehmend. Die einzelnen Glieder verhalten sich an Laenge wie 10 
( (Dicke 6) : 5 (5,5) : 21 (6) : 19 : 23 : 22 : 21 : 22 : 22 : 23 : 21 : 20 : 20 ; 

20 : 20. Das 2. Glied ist fast kugelig, das 3. ist wenig gekruemmt und distai 

am dicksten, die folgenden sind fast zulindrisch. Alie sind behaart, nicht 
beborstet. 

Verhaeltnis der Laenge von Kopf, Thorax, Hinterleib ist beziehungsweise 
30 : 80 : 83. Am Hinterleib verhaelt sich die Hoehe zur Breite wie 60 : 44. 
Das 2. Segment bedeckt die folgenden nicht voellig. 

Sonst ist kaum ein nennenswerter Unterschied zwischen Maennchen und 
Weibchen, ais nur, dass bei dem Maennchen das 1. Fuehlerglied und der 
Hinterleib etwas dunkler, der Fluegel etwas laenger und der Haarkranz 
des Hinterleibes etwas schmaeler ist. 

Laenge des Maennchens 3,00 mm. Laenge des Fuehlers 4,60 mm. 

Beschrieben nach 1 Maennchen und 21 Weibchen. Davon befinden sich 
das Maennchen und 10 Weibchen in meiner Sammlung; 11 Weibchen im Insti- 
tuto Biologico S. Paulo, Brasilien. Abgesehen von kleinen Unterschieden in 
der Laenge der Fuehlerglieder und in der Groesse ist kaum ein Unterschied 
bemerkbar. 

Alie Stuecke wurden gezogen von Herrn Miguel Carvalho Leite, Dacty- 
lograph am Instituto Biologico, am 20-III-1929 aus Puppen von Anastrepba 
fratercula Wied., die Goiaba-Fruecte parasitierten und welche aus Casa 
Verde, S. Paulo Stadt, stammen. 




BOLETIM BIOLOGICO 



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Trabalho do Laboratorio de Microbiologia da Faculd. de Medicina de S. Paulo. 
Prof. Cathedratico Dr. ERNESTO DE SOUZA CAMPOS. 1.® Assistente Dr. 
FLAVIO DA FONSECA. 2.“ Assistente Dr. FLORIANO PAULO DE ALMEIDA. 

N.° 29 

ALTERAÇÕES PATHOLOGICAS DO TECIDO 
ADIPOSO NA MOLÉSTIA DE CHAGAS CONGÉNITA 

EXPERIMENTAL 

PELO PROF. DR. 

ERNESTO DE SOUZA CAMPOS 

Em estudo anterior sobre a histo-pathologia do rim, na try- 
panosomiase americana experimental (1), foram assignaladas al- 
terações pathologicas verificadas no tecido adiposo que preenche 
a cavidade do seio renal. Nessa região encontram-se parasitos, 
sob forma de leishmania e extensa proliferação de cellulas com 
os caracteres dos elementos da serie myeloide do sangue. Asses- 
tando-se no interstício das vesículas adiposas ou formando bainha 
que envolve as ramificações do systema vascular sanguíneo, estas 
cellulas neoformadas grupam-se em ilhotas esparsas, de grandeza 
variavel, ou constituem zonas mais consideráveis que assumem, 
desse modo, o aspecto da medulla ossea funccionante. 

Idêntico processo observamos em outros territórios do tecido 
gorduroso, contido na loja renal, principalmente no que se dispõe 
em torno da glandula suprarenal. Merece menção especial a dis- 
posição dos parasitos no tecido. Localisam-se ahi tanto na trama 
de fascículos conjunctivos que compõe o arcabouço de sustenta- 
ção das cellulas adiposas como no interior destes elementos. No 
esteoblasto occupam toda a massa peripherica de cytoplasma que 
contorna a gotta adiposa cujo volume é pouco inferior ao da cel- 
lula que a contem. São tão numerosos os parasitos nesta zona 
protoplasmatica que elles formam, em conjuncto, uma esphera 
oca que envolve completamente a gotta de gordura contida no 
seu interior. Como a vesícula adiposa attinge, em geral, grande 
volume, medindo seus diâmetros 20, 40, 100 micra, ou mais, não 
pode ser comprehendida, por inteiro, nos cortes micrometricos 
que são de 5 a 7 micra de espessura. Estas secções abrangem, por- 




76 



BOLETIM BIOLOGICO 



tanto, apenas uma parte destes volumosos elementos queãppa- 
recem, por isso, nos preparados histologicos sob formas diversas. 
Tomam o aspecto de calota espherica quando é interessada a ex- 
tremidade ou polo da cellula e a forma de segmento espherico 
quando a secção se approxima do seu plano equatorial No pri- 
meiro caso a gotta de gordura apparece circumdada por uma 
coroa de trypanosomas, sob a forma de leisbmania; no segundo, 
como um disco cheio destes parasitos. O centro e a peripheria 
deste disco não podem ser vistos com a mesma distancia focal 
em virtude da sua convexidade ou concavidade, conforme o lado 
em que a calota é observada. Estas duas imagens estão figuradas 
nas microphotographias nos. 1 e 2. 0 desenho da figura 3 demons- 
tra, mais nitidamente, o mesmo campo representado na micropho- 
tographia n.° 1. Nas tres gravuras nota-se a reacção myeloide do 
arcabouço conjunctivo. 

Estas pesquizas foram realizadas em material proveniente 
de um cãozinho — n.° 137 B — que adquiriu a infecção transmit- 
tida pela mãe que é portadora da moléstia em estado chronico. 
Sua historia será relatada em outra publicação. O animal, forte- 
mente parasitado, morreu no 2.° mez de vida extrauterina, apre- 
sentando lesões e parasitos, no cerebro, medulla espinhal, gânglio 
lymphatieo, rim, etc. 

EXPLICAÇÃO DAS FIGURAS 

Todas as figuras representam cortes histologicos do tecido 
adiposo que envolve a capsula suprarenal, sendo os preparados 
fixados em formol a 10% e corados pela hematoxylina-eosina. 
Neste tecido adiposo do cãozinho 137 B, que adquiriu a moléstia 
de Chagas por via intrauterina. notam-se parasitos dentro de es- 
teoblastos e reacção myeloide no arcabouço conjunctivo. 

Fig. I — Oc. áxB — Obj. 1 7a. 

Microphotographia mostrando o segmento esphe- 
rico de um esteoblasto com numerosas formas de 
leishmania no cytoplasma peripherico. Reacção 
myeloide. 

Fig. II — Oc. 85xB — Obj. 1 7a A.55. 

Microphotographia mostrando a calota espherica de 



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'O.T 












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\V 



esteoblasto com numerosos protozoários. Reac- 
ção myeloide. 



Fig. III — Desenho do campo microphotographado na fig. I. 



PATHOLOGICAL CHANGES IN THE ADIPOSE 
TISSUE IN CONGENITAL TRYPANOSOMIASES OF 
THE DOG. EXPERIMENTAL CHAGAS’ DISEASE. 



BY 



ERNESTO DE SOUZA CAMPOS, M. D. 

SUMMÂRY : In a case of congenital trypanosomiasis, caused 
by the Trypanosoma cruzi (Chagas’ disease) of a two months old 
puppy» the history of which will be described later. tbe A. has ob- 
served pathological changes in the fat areolar tissue of the túnica 
adiposa of the kidney, mainly around the suprarenal bodies. There 
were found numerous leishmania-like forms of the parasites in 
the loose connective tissue and inside the fat cells. In these cells 
the small amount of cytoplasm which still remains pressed against 
the cell wall is entirely full of the protozoa. 

As a matter of fact the spherical fat drop is completely cove- 
red by tbe organisms. In tbe sections of the cell near its equator 
(figs. I, III) one can see a ring of parasites surrounding the oil 
globule; in the sections taking the cell extremity (fig. II) the pa- 
rasites are seen all over the pole of the cell. 

The loose connective tissue shows also a very conspicucus mye- 
loid formation which follows also the vascular net-work. 

There are also numerous lesions with parasites in the other 
tissues of tliis puppy, as :n the brain, spinal cord, lymphgland, 
kidney, adrenals and so on. Its mother was experimentally infe- 
cted in July 18, 1927. and has delivered several infected puppies 
since then. 



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Fig. 2 



CAMPOS (E. DE SOUZA) — Alterações pathologicas do tecido adiposo na 
Moléstia de Chagas congénita experimental. 




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Trabalho do Laboratorio de Parasitologia da Faculd. de Medicina de S. Paulo. 
Prof. Cathedratico Dr. LAURO TRAVASSOS. 1." Assistente Dr. CESAR PINTQ. 

Uma nova especie de nematoideo do genero 
CEPHALOBIUM Cobb, 192 0. 

POR 

PAULO A R T I G A S 

Cobb. em 1920, estabeleceu o genero Cephalobiiim, baseado 
nos caracteres morphologicos apresentados por um nematoideo 
parasito de Gri/llideo. O genero creado por Cobb é extremamente 
interessante pela constituição pharyngiana que apresenta fórma 
ainda não notada por nós nos nematoideos de invertebrados que 
temos estudado. 

A característica essencial deste genero é apresentar o pha- 
rynge constituído por duas partes: uma anterior, cercada de um 
aunei cbitinoso, e uma posterior, também cercada de chitina, e 
possuindo uma formação typica a (pie dão o nome de “orgão glot- 
toide”. 

No proseguimento das pesquizas que v nhamos realizando no 
laboratorio do prof. Travassos, na Faculdade de Medicina de São 
Paulo, tivemos opportunidade de examinar namatoideos parasi- 
tos de grillos e que, sem hesitação, collocamos no genero a que 
estamos fazendo referencia. O material por nós examinado pro- 
vinha de Angra dos Reis, Estado do Rio e de Remedios, Estadp 
de São Paulo; encontramos nesse material de dupla procedência 
o mesmo parasito, que é o que descrevemos: 

CEPHALOBIUM NIT1DUM n. sp. 

Femeas: Comprimento 3 a 3.5 mms.; largura maxima 0,12 mm. 

Lábios imperceptíveis; bocca pequena; em continuação dire- 
cta com a capsula buccal nota-se o pharynge, com comprimento 
de 0,035 mm., apresentando uma porção anterior cylindriea, limi- 
tada por annel de chitina resistente, que por sua vez é rodeado 
por formações chitinosas discontinuas; após esta porção anterior 
lenlr-.s uma outra, separada da primeira por segmento curto des- 
provido de chitina; a porção posterior também é cercada de um 
annel chitinoso e apresenta um orgão que, em secção, se mostra 



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de aspecto cordiforme, é o orgão glottoide, provavelmente com 
funcção trituradora. Em seguida a este orgão vem o esophago, que 
em sua porção anterior é tubuliforme, apresentando posterior- 
mente ligeira dilatação bulbar, após esta dilatação ha parte es- 
treitada que liga esophago e intestino, mede esta porção delgada 
0,090 mm. de comprimento, a parte restante tem 0,34 mm. O tubo 
intestinal é simples e sem inflexões; o anus acha-se a 0,46 mms. 
da extremidade caudal; a cauda é longa e se afina gradualmente. 
Vulva mediana, estando localisada a 1,7 mm. do anus; ovários e 
úteros duplos, oppostos e parallelos, os ovários de direcção op- 
posta aos úteros correspondentes; typo amphidelpho; os ovos na 
cavidade medem 0,070 por 0,045 mm.. 

Machos : Os machos medem, mais ou menos, 1,65 mm. de com- 
primento e têm de largura maxima 0,12 mm. Apresentam uma 
formação bucco pharyngiana analoga a das femeas e o mesmo 
typo esophagiano. Tubo testieular simples, dirigindo-se de diante 
para traz, muito longo, tendo começo logo abaixo do esophago. 
Apresenta dois espiculos delgados e resistentes, sustentados por 
um gubernaculo reforçado. 

Apresentam um par preanal de papillas e mais seis pares pos- 
tanaes. sendo um isolado dos demais. 

Hahilat : Intestino de Gryllotalpa sp. Procedência: Angra dos 
Reis (Estado do Rio) e Remedios (Estado de São Paulo). 

Explicação das figuras: 

1 — Extremidade anterior, mostrando com detalhe a 

bocca e as duas porções características do pharynge. 

2 — • Femea, desenho total. 

3 — Cauda do macho, vista anteriormente. 

4 — Espiculos vistos com detalhe. 



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Trabalho do "Instituto Biologico de Defeza Agrícola Animal’ 
Director: DR. ARTHUR NEI\ A 

UM NOVO HISTERIDEO ECITOPHILO 



POR 



thomaz borgmeier o. 

(Do Instituto Biologico de S. Paulo) 



F . M . 



Os autores que, nos últimos annos, mais contribuiram para o 
conhecimento dos histerideos myrmecophilos da America do 
Sul, são REICHENSPERGER (Professor de zoologia na Universi- 
dade de Bonn) e BRUCH (Olivos, Argentina). Ambos descreve- 
ram um bom numero de generos novos, baseados sobre typos ás 
vezes muito curiosos e interessantes. Ainda assim, a fauna dos 
histerideos myrmecophilos da região neotropica está longe de ser 
bem conhecida. A maioria das formigas sul-americanas nunca fo- 
ram examinadas a respeito de hospedes (inquilinos), e também ha 
muitas especies do genero Eciton de que até agora não se conhece 
nenhum eoleoptero que viva em symbiose com ellas. Está neste 
caso, segundo me parece, Eciton schlechtendali MAYR de que des- 
crevo no seguinte o primeiro histerideo que vive em sua compa- 
nhia e que foi descoberto pelo rev. P. J. S. SCHWARZMAIER em 
Campinas, Est. de Goyaz. 

XENISTER nov. gen. 

Corpo grande, oblongo sub-oval, sub-convexo, posteriormente 
gibboso, ricamente pelludo. 

Cabeça moderadamente grande, retráctil. Fronte não separa- 
da do clypeo, com as bordas lateraes espessadas e ligeiramente 
elevadas, convergentes para deante (mais ou menos como em Ster- 
nocoelopsis) . Labro grande, mais largo do que comprido, sub-rec- 
tangular, borda anterior ligeiramente convexa, anteriormente um 
pouco obliquamente truncada. Mandíbulas curvas, com 1 dente 
apical aguçado e achatado e 1 dente interno obtuso e indistincto. 
Olhos grandes. Antennas articuladas em baixo dos olhos. Escapo 
ligeiramente curvo, espessado, anguloso, de forma pyramidal irre- 
gular, na face superior com pellos ruivos erectos. Funiculo 8 — 
articulado. Primeiro articulo um pouco mais comprido do que 



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BOLEI LM BIOLOGICO 



largo, mas distinctamente mais largo do que o segundo. Artículos 
2-7 Iransversaes, caliciformes, progressivamente dilatados. Clava 
uni-articulada, um pouco menos comprida do que os 6 articulos 
antecedentes addiceionados, oval, ligeiramente comprimida, fina 
e densamente pubescente. Foveas antennaes relativamente peque- 
nos, collocados directamente ao lado da chanfradura anterior do 
prothorax. 

Prothorax transversal, sub-rectangular, irregularmente gibbo- 
so, posteriormente um pouco estreitado, com os ângulos anteriores 
largamente arredondados, anteriormente no meio suavemente 
chanfrado, borda anterior notavelmente espessada e acompanha- 
da por uma linha marginal mais ou menos distincta que apresenta 
nas extremidades lateraes, uma fileira de pellos compridos, erectos, 
exsudatorios; atraz desta fileira se encontra uma carena obliqua 
pouco elevada com um tufo de pellos. Atraz da chanfradura ante- 
rior se acha de cada lado, numa ligeira depressão, um tubérculo 
com pellos, e um pouco mais para traz, no meio, ba uma carena 
transversal indistineta que apresenta em cada extremidade um 
tufinho de pellos. Atraz desta carena, mais ou menos no meio do 
prothorax (em sentido longitudinal) ha uma fileira transversal 
de 4 tubérculos equidistantes com tufos de pellos exsudatorios. 
Ao lado destes tubérculos, um pouco mais para traz, existe uma 
fovea estreita profunda da qual parte um sulco que vae em di- 
recção obliqua para a margem lateral, e outro que vae obliqua- 
mente para a borda posterior; os dois sulcos formam aproxima- 
damente um angulo recto; a área existente entre elles e a mar- 
gem lateral é ligeiramente elevada e gibbosa. Perto da borda pos- 
terior se acha ainda de cada lado, mais ou menos nas extremi- 
dades do terço medio, um forte tufo de pellos em linha transver- 
sal. Borda lateral sem linha marginal. 

Os elytros são pelo dobro mais largos do que o comprimento 
do prothorax (no meio), mais largos do que compridos, posterior- 
mente um pouco estreitados, atraz dos hombros um pouco gibbo- 
sos, atraz convexos, nas margens lateraes arredondados. Ha 1 li- 
nha sub-humeral bisinuada e 1 linha humeral distincta curvada 
e aprofundada na metade basal. Além disto, existem 5 linhas 
dorsaes distinctas, completas, brilhantes; os interstícios são mates, 
indistinctamente careniformes, e apresentam fileiras regulares de 
tufos soltos de pellos erectos. Na extremidade distai da quarta 
linha dorsal ha um fraco tubérculo alongado. 

Propygidio sub-hexagonal, coberto de tufos esparsos, soltos, 



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de ])cllos ruivos erectos, posteriormente de cada lado com um tu- 
bérculo coniforme. Pygidio igualmente pelludo. mais comprido 
do que largo, borda anterior recta, borda posterior convexa, um 
pouco atraz do meio com um tubérculo coniforme que é conti- 
nuado para traz por uma ca rena longitudinal arredondada, pou- 
co elevada, que não attinge a borda posterior. 

Prosterno anteriormente muito largo e deprimido, formando 
um sulco transversal profundo e largo que o separa da placa gut- 
lural; posteriormente fortemente convexo, gibboso e arredonda- 
do, sem linha marginal; a base é muito ligeiramente côncava, pra- 
ticamente truncada, e apresenta uma depressão chata coniforme. 
Placa guttural proeminente, conchoidal, transversal, com a borda 
anterior convexa e acompanhada por uma linha marginal dis- 
tincta. Mesoslerno muito curto e largo, muito saliente, formando 
uma carena arredondada, borda anterior ligeiramente biconcava, 
extremidades lateraes providas de um tufo de pellos erectos. Me- 
tasternd muito pouco abaulado, quasi plano, distinctamente des- 
tacado do mêsosterno, trapeziforme, posteriormente mais largo 
do que anteriormente, e distinctamente mais largo do que com- 
prido; linha mediana distincta; bordas lateraes aguçadas, sem 
linhas marginaes; perto dos ângulos anteriores se encontra de 
cada lado um tubérculo alongado, pouco elevado, ligeiramente 
obliquo, com tufos de pellos exsudatorios. Primeiro esternito ab- 
dominal curto e largo, trapeziforme. Além disto, mais l esternitos 
são visíveis. 

Pernas alongadas. Tibias comprimidas, na borda externa com 
espinhos curtos. Femures e tibias com pellos que são compridos 
na borda interna das tibias e na margem das fossetas tarsaes. Me- 
tade basal dos quadris ( coxae ) anteriores na face postero-ventral 
com tufo de pellos compridos densamente agrupados. Tibias me- 
dia e posterior nas bordas interna e externa com linha marginal 
mais ou menos distincta. Fossetas tibiaes e tarsaes presentes. 

Genotypo a seguinte especie: 

Xenister schwarzmaieri n. sp. 

Comprimento (sem cabeça) 4,8 mm., largura 2,6 mm. 

De eôr pardo-castanha. Fronte e face superior do escapo den- 
samente pontilhadas, asperas. Margem elevada da fronte, labro 
e mandíbulas finamente reticul- uas, mais ou menos brilhantes. 
Fronte no meio de cada lado com um grupo de poucos pellos cur- 



em 1 



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BOLETIM BIOLOGICO 



tos. Prothorax muito finamente chagrinado, semi-brilhante. Es- 
trias dos elytros mais ou menos brilhantes, muito finamente re- 
ticuladas; interstícios coriaceos, mates. Propygidio e pygidio 
igualmente finamente coriaceos, mates. Placa guttural e maior 
parte do prosterno brilhantes; parte posterior do prosterno e 
mesosterno finamente reticulados, e portanto menos brilhantes. 
Metasterno e primeiro esternito abdominal sub-mates, muito fi- 
namente reticulado-ponteados e longitudinalmente estriolados; 
metasterno com poucas puncturas mais grossas nas quaes se in- 
serem pellos extremamente curtos. No meio do mesosterno ha, na 
borda anterior, uma fileira transversal de pellinhos curtos. Todos 
os pellos exsudatorios (no prothorax, nos elytros, no propygidio, 
no pygidio, nos quadris anteriores, no meso e metasterno) são 
ruivos. Todas as pernas são mais ou menos pontilhadas. Pubes- 
cencia da clava amarello-esbranquiçada. 

A descripção se baseia sobre 1 exemplar (femea) proveniente 
de Campinas, Est. de Goyaz, e capturado no meio de um bando 
de Eciton schlerhtendali MAYR pelo rev. P. .1. S. SCHWARZ- 
MAIER, a quem dedico a especie. Holotypo na minha collecção. 

Este genero interessante que, sem duvida, representa um alto 
grão de adaptação myrmecophila (symphilia), reune em si cara- 
cteres de outros generos ecitophilos como sejam Ecitonister 
REICH., Sternocoelopsis REICH. (formação da fronte) e Synetis- 
ter REICH., mas differe de todos elles pela formação do prothorax, 
do prosterno, da placa guttural e pela esculptura dos elytros. 

0 dr. C. RRUCH que viu o exemplar typico, confirmou o ge- 
nero e teve também a gentileza de fazer as duas esplendidas mi- 
crophotographias que acompanham este trabalho. 



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Fig. 1 — Xenister schwarzmaieri. Borgm., ^sta dorsal 

(C. Brueh, phot.). 



BORGMEJER (THOMAZ) Um novo Histerideo ecitophilo. 




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15 16 1 





Fig. 2 — - Xenister schwarzmaieri Borgm., vista ventral. 

(C. Bruch. phot.). 



BORGMEIER (THOMAZ) — Um novo Histerideo ecitophilo. 





BOLETIM BIOLOGICO 



Í!1 




Fig. 3 Xenister schwarzmaieri Borgm., pro-, meso- c metasterno. 

pjg 4 Mem, f - fronte, b - borda lateral da fronte, o - olho, 1 - labio, 

m - mandíbula. 

Fig. 5 Idem, tíbia e tarso anterior, face anterior. (Original). 

BORGMEIER (THOMAZ) — Um novo Histerideo ecitophilo. 



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Trabalho do "Instituto Biologico de Defeza Agrícola Animal”. 

Director: DR. ARTHUR NEIVA 

TRAVTREMA TRAVTREMA n. gen. e n. sp., Trematoide 
parasito do intestino de cobra. (1) 

POR 

CLEMENTE PEREIRA 
Travtrema n. gen. 

Plagiorchidae: Corpo pouco alongado, com maior diâmetro na 
altura da união dos dois terços anteriores com o terço posterior; 
acetabulo pre-equatorial; póro genital lateral, pre-acetabular; bol- 
sa do cirro globosa e muito muscular, pre-acetabular, contendo 
vesícula seminal bem desenvolvida e parte prostatica alongada; 
cirro imperceptível; vagina piriforme e grande, apresentando uma 
luz notavelmente franjada; utero pouco espesso, descrevendo nu- 
merosas alças no terço posterior do corpo; ovário lateral, attingin- 
do o limite posterior da zona acetabular; testículos com campos 
afastados e zonas quasi coincidentes; vitellinos dispostos em dois 
grupos lateraes, constituídos cada um por cerca de uma dezena de 
acinos volumosos, cecaes, intra e extra cecaes, pouco excedendo os 
limites da zona testieular; cecos apenas attingindo o terço poste- 
rior do corpo. 

Especie typo: Travtrema travtrema n. sp. 

Habitat: Intestino de Reptis. 

Dedicamos os nomes de genero e especie ao nosso mestre, Prof. 
Lauro Travassos. 

Este genero se approxima notavelmente de Enodiotrema Looss, 
1900, delle se afastando, no entanto, principalmente pelo aspecto 
da vagina. 

Travtrema travtrema n. sp. 

Comprimento : 2,5 mm.. 

Largura: pouco accentuada anteriormente, augmenta logo apoz 



(1) Apresentado ao Congresso Medico do Centenário da Academia de 
Medicina em Julho de. 1929. 



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o plano equatorial, chegstndo a attingir um máximo de 1,6 mm., 
ao nivel da zona testicular. 

Cutícula lisa. Ventosa oral deslocada para a face ventral, me- 
dindo 0,35 mm. de diâmetro longitudinal por 0,4 mm. de diâmetro 
transversal; acetabulo muito maior que a ventosa oral, pouco an- 
terior ao plano equatorial, medindo 0,42 mm. de diâmetro longi- 
tudinal por 0,72 mm. de diâmetro transversal; a distancia entre as 
ventosas é de 0.32 mm.; á abertura oral segue-se um pharynge ap- 
proximadamente espherico e bem desenvolvido, medindo 0,17 mm. 
de comprimento por 0,15 de largura; esophago curto, com cerca 
de 0 7 mm. de comprimento, terminando por uma bifurcação, cujos 
ramos medem 0,030 a 0,038 mm. de comprimento; os cecos attin- 
gem quasi o limite dos dois terços anteriores do animal, distando 
da extremidade posterior cerca de 1 mm.. 

Ovário alongado, com cerca de 0.22 mm. de comprimento por 
0.11 mm. de largura, lateral, proximo a uma das areas eecaes, com 
zona parcialmente commum ás zonas acetabular e testicular, e com 
campo commum ao campo de um dos testículos; testículos de con- 
tornos irregulares, com 0,33 mm. de maior diâmetro por 0,19 mm. 
de menor diâmetro, com -os campos bem afastados um do outro e 
proximos ás areas eecaes correspondentes, intra-cecaes, com zonas 
não de todo coincidentes, mas que parcialmente se compenetram, 
de modo a constituírem uma zona unica, que limita anteriormente 
com a zona acetabular; póro genital lateral, na zona comprehen- 
dida entre a bifurcação do esophago e a zona acetabular; bolsa do 
cirro volumosa e globosa, com parede muscular forte, mostrando 
grande vesícula seminal e parte prostatiea alongada, medindo cer- 
ca de 0,40 mm. de comprimento por 0,20 mm. de largura, immedia- 
lamente pre-aeetabular; vagina piriforme, relativamente longa, to- 
da cheia de franjas internas, augmentando seu diâmetro em direc- 
ção ao utero para restringir-se bruscamente ao attingil-o, medindo 
cerco de 0,46 mm. de comprimento por 0,13 mm. de maior largura; 
glaudula da casca para-ovariana, alongada, medindo cerca de 0,12 
mm. de comprimento por 0,07 mm. de largura; vitellinos com folli- 
culos pouco numerosos, volumosos, medindo alguns até 0,115 mm. 
de maior diâmetro, eecaes, intra e extra-cecaes, oeeupando uma 
zona cujo limite posterior coincide com o limite correspondente 
da zona testicular, e cujo limite anterior coincide com o limite 
correspondente da zona ovariana; o utero é um tubo pouco espes- 
so e extremamente tortuoso, que se dirige da zona equatorial para 
traz, descrevendo numerosas alças que occupam quasi toda a me- 




94 



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tade posterior do animal, difficultando a visibilidade da extremi- 
dade dos cecos, e que, dirigindo-se novamente para diante, vae-se 
terminar proximo á zona acetabular; ovos castanhos, operculados, 
medindo cerca de 0.046 mm. de comprimento por 0,023 mm. de 
maior largura. 

Hospedeiro: Ophis merremii (Wagler, 1824). 

Local: Intestino. 

Procedência: Instituto de Butantan (S. Paulo). 

Especie typo: Na collecção particular do autor. 

A descripção desta especie é baseada em um unico exemplar, 
comprimido, que foi encontrado no decorrer de uma das 120 au- 
topsias de differentes especies de Ophideos, que tivemos occasião 
de fazer. 

A determinação do Ophideo em questão, nós devemos á bon- 
dade do Dr. Afranio Amaral, digno director do “Instituto de Bu- 
tantan”. 

EXPLICAÇÃO DAS FIGURAS 



Fig. 1 — Travtrema travtrema, visto de frente. 

„ , detalhe da bolsa do cirro e 

da vagina. 



Fig. 2 



LITTERATURA CONSULTADA 

Baer. J. C. 1924 — Description of a New Genus of Lepodermatidae 
(Trematoda) with a Systematic Essay on the Family. (With 
2 Text-figures). — in Parasitology, vol. 16, n.° 1, pag. 22. 

Looss. A. 1901 — Ueber Trematoden aus Seeschildkroten der regy- 
ptischen Küsten. — in Centralbl. f. Bakt. u. Parasit., vol. 30, 
Pag. 555. 

Pratt, H. S. 1902 — Synopsis of North American Invertebrates. — 
in American Naturalist. vol. 36. pag. 953. 

Travassos, L. 1928 — Fauna helminthologica de Matto Grosso. — 
in American Naturalist, vol. 36, pag. 953. 

Mem. Inst. Osw. Cruz. vol. 21, fase. II, pg. 309. 



cm l 



SciELO 



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Ti$- 1 



PEREIRA, CLEMENTE — Travtrema travtrema n. gen. e n. sp., Trematoide 
parasito do intestino de cobra. 







9 (; 



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PEREIRA, CLEMENTE — Travtrema travtrema n. gen. 
parasito do intestino de ccbra. 



e n. sp., 



Trematoide 




cm 



2 3 4 



5 6 




ciELO 






14 





17 




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Trabalho do Laboratorio de Microbiologia da Faculd. de Medicina de S. Paulo. 

Prof. Cathedratico Dr. ERNESTO DE SOI ZA CAMPOS. 1." Assistente Dr. 

FLAVIO DA FONSECA. 2.° Assistente Dr. FLORIANO PAULO DE ALMEIDA. 

N. u 30 

Nota previa 

ESTUDOS SOBRE O PARASITO DO GRANULOMA 

COCCIDIOIDICO^ (Studies of the parasit of Coccidioidal 

Granuloma) 

PELO DR. 

FI. ORIANO PAULO DE ALMEIDA 

Nos casos de Granuloma coccidioidico que temos tido occasião 
de observar no Brasil encontramos, aspectos morphologicos do 
parasito nos tecidos, localisações, portas de entrada, culturas e 
inoculações, que não correspondem aos descriptos nos Estados 
Unidos. 

No quadro incluso estabelecemos resumidamente as princi- 
paes características differenciaes que, a nosso vêr, permittem a 
separação do parasito dos casos brasileiros, da especie Coccidioi - 
des immitis. 



ESTADOS UNIDOS 
( pelle 

Porta de entrada ; . . 

I pulmces 



Í pelle - frequentes 
ossos - frequentes 
pulmões frequentes 
gânglios Iymphati- 

Í cos - pouco fre- 
quentes 

intestinos - desco- 
nhecidas 



Localisa- 
ções prin 
cipaes 



L5KAMU 

pelle 

bocca 

pelle - frequentes 
ossos - raras 
pulmões - raras 
gânglios lymphaticos - 
cipal localisação 
intestinos - frequentes 



prin- 



Dimensões do parasito 
a 80 micra 



De 3 



De 1 a 40 micra mais ou menos 



cm 1 



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Reproducção nos teciclos - For- 
mação e differenciação dos 
esporos no interior da cellu- 
la, ruptura desta para a li- 
bertação daquelles. 



Culturas - Facilmente obtidas 
nos meios communs de La- 
boratorio. Inicio no 2.° dia 
e rápido desenvolvimento. 
Formas filamentosas. Aspe- 
cto de flocos de neve. 



Inoculações - Resultados posi- 
tivos facilmente obtidos, em 
cobayos, por qualquer via de 
inoculação, generalisação das 
lesões. — • 



Não se nota uma nitida for- 
mação nem differenciação 
de esporos no interior das 
cellulas. Dehiscencia de pe- 
queninas formações (espo- 
ros) atravez a membrana, 
até exgottamento da cellula. 
(Brotamento múltiplo de 
muitos autores.) Differen- 
ciação chromatica nos pre- 
parados corados pelo meth. 
Goodpasture Mac-Callum. 

Difficilmente obtidas. Meios 
de Sabouraud os mais apro- 
priados, dando culturas com 
aspecto de pennugem branca 
ou cinzenta. Inicio da cultu- 
ra depois de 20 dias, desen- 
volvimento lento. Em caldo 
e agar simples pH 7,4 pre- 
dominam as formas espheri- 
cas eguaes ás encontradas 
nos tecidos. 

Resultados positivos difficil- 
mente obtidos sem ser pela 
via testicular. Não se obser- 
va generalisação das lesões, 
mas apenas lesões locaes. 



Levando em consideração as differenças assignaladas, e até 
que novos estudos venham a elucidar completamente a questão, 
propomos, para o parasito agente do Granuloma coccidioidico bra- 
sileiro, a denominação Coccidioides brasiliensis, aproveitando a 
designação de especie Zymonema brasiliense, dada em 1912 por 
Splendore. 

S U M M A R Y 

The A. have studied the parasite of the Coccidioidal Granuloma on the 
point of view of its portais of entry, localisations morphology, cultures and 
inoeulations, and found some differenees which permit to consider the ger- 
men of the Brazilian cases as distinct from the Coccidioides immitis. 

Considering these differenees and until new studies fully enlighten the 
question, the author proposes for the agent parasite of the Brazilian Cocci- 
dioidal Granuloma the denomination of Coccidioides brasiliensis, adopting 
for the species the designation of Zymonema brasiliense, given in 1912 
by Splendore. 



cm l 



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Trabalho do Laboratorio de Microbiologia da Faculd. de Medicina de S. Paulo. 
Prof. Cathedratico Dr. ERNESTO DE SOUZA CAMPOS. 1." Assistente Dr. 
FLAVIO DA FONSECA. . 2 ° Assistente Dr. FLCJIIANO PAULO DE ALMEIDA. 

N.° 31 

CORPOS INTRANUCLEARES NAS CELLULAS DO 
RETÍCULO ENDOTHELIAL DO GÂNGLIO 
LYMPHATICO PARASITADO PELO 
TRYPANOSOMA CRUZI. 

Nota previa. 

PELO PROF. DR. 

ERNESTO DE SOUZA CAMPOS 

Em estudo sobre a anatomia pathologiea do gânglio lympha- 
tico na trypanosomiase americana (moléstia de Chagas) experi- 
mental, do cão, observamos, nas cellulas do retículo endothelial, 
muito proliferadas, alterações pathologicas attingindo, principal- 
mente, o núcleo desses elementos do tecido. Examinamos apenas 
material proveniente de animaes até dois mezes de idade, tendo 
adquirido a infecção por via intrauterina ou por inoculação sub- 
cutânea de sangue de outros animaes infectados. Nestes casos, as 
cellulas do tecido reticular dos gânglios intracavitarios, muito hy- 
perplasticos, apresentam, no seu cytoplasma, numerosos parasi- 
tos, sob a forma de leishmania. 

0 núcleo dessas cellulas parasitadas assume aspecto parti- 
cular que coincide, em geral, com os caracteres morphologicos e 
tintoriaes descriptos em infecções causadas por virus filtráveis, taes 
como herpes, virus III, varicella, moléstia da glandula submaxillar 
da cobaya, cultura de tecido infectado com virus III, etc. Ima«ens 
estructuraes semelhantes encontram-se também nas illustrações de 
Magarino Torres, no supplemento das Memórias do Insti- 
tuto Oswaldo Cruz, figurando cellulas hepaticas em casos 
de febre amarella experimental do M. rhesus e M. cynomol- 
gus. Diversos outros pesquizadores também observaram taes 
alterações na syphilis congénita. Estas alterações consis- 
tem. em essencia, no apparecimento, no interior do núcleo e quasi 



cm 1 



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sempre na sua parte central, de uni corpúsculo (microphotogra- 
nliias, 1 e 2), de dimensões variaveis, porém, em geral, bem des- 
envolvido e fortemente chromophilo. Em torno desse corpo cen- 
tral fica um espaço ou halo claro entre elle e a membrana nuclear 
peripherica. Nesta membrana dispoe-se o resto da chromatina 
nuclear existente. O corpúsculo intranuclear é intensamente aci- 
dophilo ou oxyphilo nos preparados corados pela hematoxylina- 
eosina (fig. 1). Pelo methodo de Goodpasture ou de Goodpasture 
Mac Callum toma o tom violeta escuro e com a hematoxylina de 
Heidenhain a côr preta (fig. 2). 



INTRANUCLEAR BODIES IN EXPERIMENTAL 
TRYPANOSOMIASES OF DOGS (CHAGAS DISEASE). 

BY 



ERNESTO DE SOUZA CAMPOS, M . D . 

In the swollen lymphnodes of pupies infected congenitally or 
by inoculation of blood eontaining Trypanosoma cruzi, there is a 
proliferation of cells of the retículo endothelial tissue some of 
which show numerous leismania like forms of the parasites in its 
cytoplasm. The nuclei of these cells show characteristie changes 
vhich botli morphologically and tintorially are similar to the stru- 
ctures associated with some of the diseases caused by filterable 
viruses, as Iierpes, in man and rabbits, virus III, varicella, 
disease of the submaxillary glands of guinea pigs yellow 
fever. and so on. The some nuclear changes have been also descri- 
bed in congenital syphilis. These are round, oval or even slightly 
irregular mass (microphot. 1, 2) which lie in the central part of 
the nucleus staining very well by differents methods. The nucleus 
takes on a vesicular character so that there is a clear space bet- 
ween the central body and the limiting membrane which is dceply 
stained vith the basic dyes. Usually the inner surface of the mem- 
bran is irregular as though the basic staining material, were col- 
lected there. The central body is deeply stained by the eosin in 
the hematoxylin-eosin sections (fig. 1), violet by the Goodpasture 
or Goodpasture-Mac Callum method and blach by the Heidenhain’s 
iron hematoxylin. 




BOLETIM BIOLOGICO 



101 




Microphotographia I — Corte de gânglio lymphatico de cãozinho infectado 
pelo Trypanosoma cruzi. Coloração Goodpasture— Mac Callum. Ao cen- 
tro vê-se uma grande cellula endothetlial repleta de protozoários. O 
núcleo indicado pela setta tem um corpo central que toma quasi toda 
a sua superfície, sendo rodeado por um halo claro. Aug. Obj. Im. 1/12 
Oc. 8xb. 



SOUZA CAMPOS, PROF. E. — Corpos intranueleares nas cellulas do reticulo 
endothelial do gânglio lymphatico parasitado pelo Trypanosoma cruzi. 




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Microphotographia II — Corte do mesmo gânglio lyphatico da fig. I, corado 
pela hematoxylina ferrica de Heidenhain. 

1) Cellula do retículo endothelial muito augmentada de volume e repleeta 
de formas de leishumani do Tryp. cruzi. 

2) Núcleo. 

3) Corpo intranuclear intensamente corado em preto. 



SOUZA CAMPOS, PROF. E. — Corpos infranucleares nas cellulas do reticulo 
endothelial do gânglio lymphatico parasitado pelo Trypanosoma cruzi.